sexta-feira, 30 de abril de 2010

CRISE?! Responsáveis e lágrimas de crocodilo



A monotonia da viagem é agravada pela acalorada discussão que tem lugar no banco do lado sobre o jogo do próximo domingo.
Vai ou não o Benfica ser campeão e festejar (já) no Porto? É o tema dominante da conversa dos meus acompanhantes de viagem.
Interrogo-me como é possível falar durante tanto tempo e parece que de forma tão entendida sobre futebol?
Como eu gostaria de ter capacidade semelhante para entender a economia, ou deverei dizer finanças, ou jogo especulativo? Enfim, para entender a «crise», esta instituição que nos trama.
Mas não percebo.
Acima de tudo para procurar isolar o problema, reflectir sobre as causas, punir os culpados e tomar medidas para evitar cair nos mesmos erros.
As causas parecem indiciar, no que às contas públicas dizem respeito, que assentaram em medidas de despesa que não tiveram em conta as capacidades de receita. Gastou-se mais do que o que tínhamos. Com quem? No quê?
Se há mais pobres e se aumentaram as desigualdades na distribuição da riqueza produzida é lícito supor para que áreas se canalizaram os dinheiros que tínhamos e não tínhamos.
E quem tomou essas medidas? Eu não fui! Assim como também não o foram a generalidade dos portugueses, mas é fácil saber quem foram.
Porque mantemos sempre as culpas nos anonimatos?
Sabe tão bem certamente aos verdadeiros culpados ouvir expressões do tipo: «os políticos são todos iguais». É que enquanto durar essa capa social, dificilmente lhes pedirão contas.
E se não apontarmos claramente os culpados, não poderemos puni-los.
E… sem isolarmos o problema, sem reflectir sobre as causas, sem punir os responsáveis…vamos continuar com tudo na mesma.
Como lhes convém.
É por isso que hoje, em mais uma saída da cartola, o coelho gémeo do coelho filósofo vem solenemente, em nome dos interesses do país, propor que se pague aos funcionários públicos o subsídio de férias com certificados de aforro.
Pena é que, grande número de funcionários públicos e dos outros trabalhadores deste país, ainda não tenham procedido ao pagamento a estes políticos todos iguais (os que tem estado no poder nos últimos 30 anos e respectivos herdeiros) na mesma moeda.
Eu por mim tenho pago.
Mas temos de ser todos a fazê-lo.
Porque todos nós somos a imensa legião das vítimas destes senhores.
Deveríamos pois pagar-lhe de forma equitativa.
Com certificados de incompetência.
Os que assim não procedem e lhe deram e porventura se preparam para lhe dar votos são tão responsáveis como eles.
Têm de passar a assumir as respectivas responsabilidades.
Não pode haver mais lugar para lágrimas de crocodilo.

PC.Evidentemente amanhã não haverá «post» porque faz anos que sou trabalhador: VIVA O 1º de MAIO,

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O homem novo? Está atrasado?



Por aqui vou-me cruzando com paisagens, amigos, memórias, vontades.
Exercito-me (deslocando-me entre carruagens) e penso (uma actividade nobre a que o ritmo dos dias de hoje reserva pouco tempo), consulto jornais, bebo café, trabalho, falo com amigos.
Maravilhosos dias. Espantosas tecnologias.
E os seus falhanços? clamorosos!
À nossa volta estoira a mais requintada invenção da modernidade. Aquela que determinou rumos, moldou as vidas de milhões de seres humanos.
E que a par das ilusões que criou - a abundância para todos - gerou os milhões daqueles que quase ou nada têm que hoje povoam o mundo.
São muitos os que dizem que estamos em pleno apogeu da queda do Capitalismo e do paradigma teórico que permitiu a sua aparição e êxito.
Foi-se refinando a individualização do homem. O seu isolamento em si era condição. Alguém disse que nunca o homem esteve tão só como neste tempo em que o aglomeraram em cidades e mega cidades.
As invenções tecnológicas contribuíam na mesma direcção.
Até os saberes foram fragmentados. Especialização, diziam.
Mas o homem, mesmo fragilizado por este processo, é um ser inteligente. Reagiu, reage e vai reagir.
Creio que cada vez com mais dinâmica.
É forte a turbulência.
Quando os homens, todos os homens, em todo o mundo, tomarem plena consciência que é possível um novo rumo e que eles podem ser senhores do seu destino:
Então, aí estará o homem novo.

PC1 - Da cartola saiu um coelho. Igual ao outro (o coelho filósofo) e aos outros. Apelou hoje, sem corar, que é preciso moderação por parte dos Sindicatos nas suas reivindicações. Quem comprou semelhante ovo de páscoa?

PC2 . O apelo do regresso à política a que de certa forma hoje dou continuidade, que ontem aqui fiz, foi também objecto de tratamento de outro blogue. Tive disso conhecimento no Público de hoje. Para que conste.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

É preciso voltar à política




Em Democracia é através dela que se Governa.
O que tem acontecido é que tem interessado a quem dela se serviu para chegar ao poder, que dela se digam agora «cobras e lagartos» para se perpetuar no poder.
E esclareça-se que o perpetuar no poder não tem a leitura simples que fazemos da expressão.
Perpetuar no poder é hoje ser ministro das obras públicas e amanhã administrador da CP, da Refer ou Lusoponte.
Perpetuar no poder é fazer escola na jota e com restos de cueiro ainda agarrados ao dito cujo ser nomeado administrador de uma grande empresa pública (ou privada porque nos negócios não há pudor e há favores a pagar).
Perpetuar no poder e passar a ter o descaramento para justificar os milhões embolsados como prémio por atingir objectivos e os trabalhadores da mesma empresa não poderem ser aumentados por causa do deficit, da crise, dos gregos, dos ratings.
Importa pois denegrir a política.
Vender a ideia que os políticos (o que não é a mesma coisa de entendidos em política) são todos iguais.
Querem é «mamar».
E vão mamando.
Uns, directamente na teta mãe e outros nas tetas secundárias.
Alternando-se só nas tetas, porque mamam sempre.
E têm nomes. Todos os conhecemos de ginjeira.
Agora o PS, amanhã PS com o CDS, depois PSD, depois PSD e CDS, e depois PSD e PS.
Há mais de trinta anos!
De facto são todos iguais.
Se do todos, excluirmos outros.
Façamos pois um esforço e voltemos à política. Procuremos analisar percursos, propostas, acções e escolhamos em consciência e não por arrastamentos provocados por modas.
O país precisa de nós.
Não para nos sacar mais impostos, impor-nos baixos salários, reduzir direitos.
Esse é o contributo que há trinta anos nos pedem.
O País precisa de nós mas para dizer: BASTA.
Não acham que foi comovente este encontro de hoje entre Sócrates e Coelho?
Assim à laia de «não nos podemos esquecer que estamos juntos nisto»
Por mim, há muito que BASTA.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Luta Continua



Foi linda a Festa.
Porque o povo encheu a Praça. E porque também foi afirmação e luta.
Mesmo depois de tudo ou até mesmo por causa de tudo é tão bom saborear cada trago desta doce Liberdade.
Agora continuamos. Nas lutas que nos esperam.
Na duradoura resistência de quem sabe que é justo o que pretende.
Já meti de novo os pés ao caminho.
Reinicio a minha viagem, percurso saltitante entre o presente, as memórias presentes e que não é mais que uma desculpa para me afastar das coisas da cidade.
Criticável esta minha atitude, mas não suporto mais hipocrisias, desresponsabilizações, lavagens pilateanas de mãos.
Pois que lá fiquem os carrascos e a plebe que os mimou e trouxe ao colo.
Sei que também ficam os que não tiveram culpa (muitos, muitos mil) mas esses sabem que mesmo com este aparente alheamento, ( e agastamento - evidente) eu farei o que puder…
E (re) inicio a viagem retendo, preocupado, preocupantes traços do declínio.
O rossio para onde, em tempos recentes, afluiu tanta esperança e tanta afirmação, virou parque de diversões decadentes e em manifesto fora de prazo para consumo.
A vala de água suja que fronteia o monte alentejano não é o que todos ficaram a pensar, pois não?
É que ela provem de uns tubos que saem das caravanas do circo…
Os jornais falam da incerteza em relação ao Projecto da Embraer - parece que haverá hoje uma reunião decisiva em Bruxelas - mas os vendedores de ilusões excelentes já por aqui ganharam as eleições acenando com os empregos e o desenvolvimento que gerariam.
E se alguma coisa agora correr mal?
Devolvem o voto ao povo?
Terão ao menos estatura para tal?
Não creio!
Mudando de linha.
Quando há um texto atrás dizia, que alguns que gostariam de estar connosco na Praça para comemorar Abril, não o poderiam já fazer, estava longe de pensar que o Albino seria um deles.
Soube hoje. Seca e inesperadamente.
Adeus Camarada.

sábado, 24 de abril de 2010

Vá camarada, mais um passo.


O casario branco que avistava era de facto Casa Branca.
Feito o transbordo e aproveitando por dias o funcionamento desta linha, que estupidamente vai fechar por um ano, estou de regresso.
Não tarda nada, aí estou.
Pelo tempo necessário para ir convosco à Praça de onde nos quiseram correr.
Não vou cumprir nenhum ritual. Vou à Festa.
Alguns já lá não estarão.
Não podem.
Mas nó vamos lembrá-los.
Eles merecem.
E estarei na Praça, sem melancolia.
È só mais um passo, de todos os outros dados antes e de todos os que ainda falta percorrer.
Dado com muita alegria e com os olhos no futuro.
Por isso, por hoje:
VIVA A LIBERDADE!
VIVA O 25 de ABRIL.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

ABRIL


Alheio-me por completo desta minha viagem.
Olho pela janela e não me consigo situar.Avisto ao longe uma aldeia. É cada vez mais nitido o seu casario branco. Será? Já? Hum...não sei.
E este alheamento fica a dever-se ao facto de por formas várias, que tecnologicamente estão a nosso dispor, ir recebendo notícias. E estas serem de forma a nela me concentrar.
Lá, na cidade, continua tudo como antes.
Os senhores da cidade não têm Abril como prioridade.
Mas a cidade não lhes corresponderá.
Espero lá estar, na Praça, para lho demonstrar.
Espero também encontrar-te lá, amigo. Tenho para mim a certeza que sim.
Quero falar-te do teu texto.
Claro que me identifico com o que dizes, mas...
Mas para mim Abril, é também memória,
E não sei, tal como tu também não sabes, se os entusiasmos então vividos são irrepetíveis,
Sei também que muitos dos que cantaram os hinos que recordamos, desafinam hoje as melodias que então cantavam. Mas eu recordo estas.
As solidariedades que afirmas que então pareciam não ter fim, não têm mesmo. Tal como ontem, hoje as proclamamos.
Não menosprezes os hinos, as bandeiras, as canções, a memória. São as nossas iconografias. São a parte que nos cabe, neste percurso inacabado.
Deixa-me lembrar o sonho.
Quero saboreá-lo, para o repetir, ou pelo menos deixar a receita para os meus filhos.
Deixa-me ficar com a poesia dos tempos poéticos.
Deixa-me lembrar que quando cantávamos: “Esta terra é hoje nossa”, ela o foi de facto.
Dizes que Abril é futuro.
Claro que sim.
Desde o segundo primeiro.
Sempre foi futuro porque fechou as portas do passado.
Mas é memória.
Não te esqueças amigo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Exercício



Aqui sentado, apreciando a paisagem através deste comboio em movimento, vendo que lá fora chove… de novo a chover, nesta Primavera molhada! proponho um desafio.
Imaginemos Portugal.
Há trinta e seis anos atrás, precisamente a 22 de Abri de 1974.
Uns, podem fazer esse exercício sem recurso à imaginação. Outros terão mesmo que se esforçar, para imaginar.
Não proponho nenhum exercício «negro», vereis que é uma reflexão…
Aos que tais recordações ainda causam dor, peço e sei que obtenho a vossa compreensão.
Dou para já o exemplo e inicio essa tenebrosa viagem de regresso a um tenebroso tempo.
Terei que o fazer na mais completa intimidade. Estamos no tempo em que as paredes têm ouvidos.
Há bufos, pides, policias, lambe botas, graxistas e toda uma sub espécie humana ansiosa por mostrar serviço.
E do seu «serviço» resultam sempre torturas, humilhações, prisões.
Decorre em Africa uma guerra para onde são enviados todos os que tenham mais ou aproximadamente 20 anos, sejam do sexo masculino, andem, mesmo que coxos e vejam, mesmo que míopes.
Nem todos regressam. E muitos, embora regressados estão marcados, física e psicologicamente para sempre.
Dizer ao patrão que acha justo mais salário, significa, no mínimo, despedimento e mais fome a acrescentar em casa.
FOME. Sim Fome, não escassez alimentar. Mas fome dura e cruel.
Uma fome que, no campo, arrastava os homem, durante a noite, para rabiscar azeitona, apanhar pequenas tiras de cortiça caídas durante o carrego. Roubar, berravam os vampiros. E mandavam a GNR espancar, prender, humilhar.
E havia homens e mulheres presos. Sem culpa formada, sem julgamento e sem prazo. Haviam tido a coragem de denunciar, de propor aos outros homens e mulheres que se levantasse e se erguessem contra a tirania e os monstros.
E na prisão eram torturados. E alguns assassinados.
Comunistas. Berravam os vampiros.
Querem pôr em causa a ordem e perturbar a paz no rebanho do senhor.
E a paz e a ordem no rebanho do senhor eram a censura, a repressão, a negação das mais elementares liberdades, a fome, a guerra, as prisões e as torturas.
Dou por terminado o exercício proposto e pergunto:
Os que, de entre nós, por vezes desanimam e afirmam que não há nada a fazer, que não vamos lá, imaginam como se sentiria o seu camarada nas masmorras fascistas a 22 de Abril do ano de 1974?
E no entanto três dias depois eles e todos estavam na rua, em liberdade, a cantar liberdade.
Aos outros. Aos que em determinado momento optaram convenientemente por colocar cravo vermelho na lapela e agoram assobiam para o lado e procuram esquecer, afirmamos a nossa vontade de juntar mais anos ,muitos mais a esta festa permanente da liberdade conquistada, mesmo perante a boçal neutralidade que proclamam.
Aos que estavam e estão do outro lado da barricada, afirmamos: podeis ter recuperado, o susto poderá ter passado, mas não voltaste e não voltareis a ser senhores.
Trinta e seis anos deste saboroso sabor a liberdade, alguns deles de sabor tão intenso, só podem fazer com que estejamos eternamente gratos a quem teve a coragem de iniciar o caminho.
Gratos e responsabilizados. Temos um testemunho para entregar.
Bem hajam.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

MANIFESTO


Por mero acaso e ainda reflectindo, sobre a citação ontem publicada no Público: “A viagem pode ser uma das formas mais satisfatórias de introspecção” Lawrence Durrel, que acho muito a propósito dos propósitos desta viagem, encontrei, quando depois de mais um desentorpecimento de pernas ao longo das carruagens, voltei ao meu lugar, um texto policopiado e que por me sentir identificado com o seu sentido, passo a transcrever:

Manifesto da Indignação
Ao Sr. Presidente da Câmara de Évora

Porquê o esquecimento?
Porquê este silêncio sobre o aniversário da Liberdade?
Esqueceste-vos que foi a liberdade que permitiu a vossa eleição e que sem liberdade não há eleições?
Já nem o cravo rubro quereis pôr na lapela?
Pois ficai sabendo que nós não esquecemos.
Que amámos e amamos a liberdade como condição de dignidade e de vida.
Que não há cansaço, nem ritualização, nem rotinas.
Que em cada comemoração, renovamos Abril e fortalecemos a liberdade.
Podeis só anunciar na véspera os vossos festejos, porque os nossos, esses estão de há muito agendados nos nossos corações.
Podeis estar certos que a Praça será do povo e que nela voltaremos a ostentar, como símbolo, os nossos cravos vermelhos e entoar em coro, como hino, a grândola vila morena.
Nós vamos comemorar de certeza.
Nós não traímos Abril.
Estamos fartos dos vossos churrascos e festanças pimbas.
E tomai nota deste protesto.
É livre, porque é de Abril.
E é um grito de revolta.
Um Manifesto de Indignação.
Estamos cansados do seu cansaço. Cansou-se V.ª Ex.ª, da vida democrática e optou pela naftalina dos que preferem a obscuridade.
Em contrapartida não se cansou da demagogia e das promessas eternamente repetidas.
Preside a uma cidade que definha, que perdeu o orgulho e que se arrasta sem rumo.
Concebe cultura como um negócio.
Planeamento é só um instrumento de estratégias eleitoralistas.
Ordenamento é em função de entendimentos enviesados e vai-se fazendo por medida e a pedido.
O Desenvolvimento, anunciou V.ª Ex.ª, levantou voo.
Gestão, só de expectativas.
Modernidade: Inovações alheias e Comboios de Alta Velocidade que por imperativos geográficos por aqui têm de passar.
Évora indigna-se, por enquanto em surdina, com a sua actuação Sr. Presidente.
Mas nós, os que subscrevemos este manifesto, estamos certos que em breve, dela sairão e proclamarão decisivamente a sua indignação.

Eu subscrevo

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Viagens



Desisto. Ainda procurei acompanhar o fio da meada, mas não fui capaz.
Como cantava Fernando Tordo há uns anos: “Talvez a Júlia ainda vá casar com o irmão dela…”. Não quero mais procurar saber o que se passou. Telenovelas…continuai caras amigas.
Recosto-me. A viagem ainda agora começou, mas já não tenho posição, já me dói o corpo todo.
Como compreendo o sofrimento de SESPRP. Foi certamente penosa a viagem.
De Praga a Estrasburgo mais ou menos 600 Kms, desta a Barcelona, mais de 1000.
Com carro cómodo e seguro, ar condicionado, motoristas, logística para as refeições, batedores de polícia, liberdade de circular ultrapassando os limites…
Foi grande o sofrimento.
O país parou para acompanhar a epopeia que terminou ontem a bordo do falcom em Barcelona.
Descansemos.
SESPR já está a salvo e seguro a descansar no palácio.
São conhecidas, não do grande público, porque não fazem manchete, as peripécias das longas viagens dos emigrantes portugueses. Noites e dias seguidos para evitar passar as férias na estrada, uma sandes comida ao volante, paragens breves para necessidades, cigarros atrás de cigarros para tentar manter os olhos abertos e tantas vezes… o acidente.
Viagens…
E assim dou por mim a pensar em como são frágeis os castelos blindados onde se acoitavam as técnicas até há pouco infalíveis.
Um vulcãozito, dizem que até nem muito bravo, manso mesmo (ufa, posso dizer manso?) e provoca todo este alarido.
Da Islândia, ultimamente…
E surge assim do nada.
Como do nada surgiram as aeronaves que derrubaram as torres (as reais que levaram consigo as vidas e as simbólicas da soberba e arrogância).
Como um parafuso na pista ceifa vidas e quase destrói os sonhos supersónicos e uma placa de isolamento faz implodir sonhos espaciais.
Do nada, surgem tufões, maremotos, terramotos que ceifam centenas de milhares de vidas.
O mar engole cidades ou acolhe os seus destroços trazidos nas enxurradas. E vidas.
Face a isto, os que podem e sabem devem parar para pensar sobre o fim das nossas certezas técnicas, sobre as consequência e acima de tudo , pensarem num novo caminho a percorrer.
Necessariamente mais interrogativo e menos convencido
Julgo mesmo que são estimulantes os desafios que se colocam aos que assim queiram proceder.
Mas por favor…
Não me venham fazer discursos formatados sobre o futuro, apresentando-o com um horizonte temporal sempre em números redondos (antes era 2000...agora 2050) e definindo-lhe contornos, tendências, actores e protagonistas.
Como pode, quem não sabe perceber o presente, vir-nos falar do futuro?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

NUVENS



Felizmente viajo de comboio.
Não há indicadores que este tipo de locomoção possa vir a ser afectado pelas nuvens vulcânicas provenientes da Islândia.
Em cada dia que passa, há sempre um episódio para lembrar ao homem arrogante da modernidade a falibilidade das suas técnicas.
Espero que não seja o caso e que esta máquina que nos desloca, uma velhinha máquina ainda a diesel, tenha a solidez técnica suficiente para não nos pregar nenhuma partida.
Julgo que a mesma esperança terão os interessados em ver (para que não se oiçam) destruídas as famosas gravações ocultas.
A TSF anunciava hà pouco que elas haviam sido destruídas.
Não haverá mesmo uma gravaçãozinha, mesmo que pirata?
Ficará sempre a dúvida, que juntamos às outras, essas bem mais inquietantes.
Estamos todos na expectativa dos procedimentos técnicos adequados a outras temáticas.
No caso Figo por exemplo.
No Free Port por exemplo.
Na compra da TVI por exemplo.
Nos projectos da Guarda, por exemplo.
No canudo, por exemplo.
A cadência deste pouca terra, pouca terra, empurrou-me para esta cadência de por exemplo, por exemplo.
Ainda graças ao rádio acompanha-me agora a preocupação sobre a incerteza que paira sobre o regresso de S.E.S.P.R.P que se encontra de visita a Praga.
As nuvens são ameaçadoras. Convém cautela.
Mas como quase todas as coisas têm um lado bom, não sendo possível o seu regresso hoje, terá assim S.E.S.P.R.P. mais tempo para defender com maior vivacidade o grande assunto de estado, que debateu com o seu homólogo:
O Santo António é português.
Pronto.
E já que estamos em maré de S.E.S.P.R.P. vi num relance que fiz sobre o jornal do vizinho do lado que o APDRQNEDP (sua Majestade) afirma que os custos com o funcionamento da PRP (Presidência da República Portuguesa) são cinco vezes superiores aos custos com o funcionamento com a Casa Real Espanhola.
Bela comparação. Para os lados de Borba há uma expressão que se adequa, mas que não reproduzo.
Mas este PR, bem ou mal, sou de opinião que muito mal, foi o resultado da escolha dos Portugueses e foram os portugueses que lhe definiram as funções.
O candidato ao reino que já não existe em que qualidade o é?

PC (Pós Comunicação)

SIGLAS:

S.E.S.P.R.P. : Sua Excelência Senhor Presidente da República Portuguesa.
A.P.D.R.Q.N.E.D.P. : Auto Proclamado Descendente do Reino Que Não Existe de Portugal .

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Actualidades



No banco da frente, deste imaginado comboio, desta imaginada viagem, segue animada a discussão sobre a qualidade das unhas de gel.
No outro lado do corredor discute-se com ardor as últimas e assertivas tácticas de futebol.
Já não avisto, por entre o montado, o rebanho.
Enfadado vou ao bar, peço uma água e folheio um jornal.
Fico a saber que a quando da próxima visita papal o governo decidiu conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos.
Rico e santo país.
Pode não haver dinheiro para os salários, mas gozamos.
Aguardo outras santas visitas, budistas, judaicas, muçulmanas, hindus (ajudem-me a encontrar mais p.f.) na esperança de talvez conseguir umas férias suplementares.
Nem de propósito, ao regressar ao meu lugar, a conversa das minhas companheiras de viagem do banco da frente, havia mudado de rumo. O profundo assunto das unhas de gel estaria por agora esgotado.
Aprofundavam a «desfaçatez» com que os jornalistas e outros… e outros…andam a tratar sua santidade.
Pedofilia??? Só invenções. Fizeram o mesmo com o primeiro-ministro, é só calúnias!
Que não tinha «engenharia» e outras coisas!!! Agora é isto…nem o papa escapa??? Para onde caminha o mundo???
Como se alguém acreditasse nestas coisas???
E com os meus botões penso nos milhões de pobres e sub nutridos, na fome que grassa e percorre transversalmente o mundo, nos milhões sem emprego, sem casa, sem roupa, nas vítimas das guerras dos senhores gananciosos, nas crianças maltratadas.
E penso em quanta insípida é acção da igreja neste vasto campo.
E quando falam de fome, fazem-no ecoando as suas gordas barrigas apertadas em aperaltadas vestes cobertas de adornos doirados.
E do alto dos seus púlpitos de talha doirada.
E sob os seus imponentes templos, reluzentes.
Levanto-me e vou dar circulação às pernas e à cabeça.
Quando volto, as unhas de gel falam de casos escabrosos de amores e traições.
Fico logo depois a saber e mais tranquilo, que é o enredo da última telenovela da TVI… ou da SIC?...ou da RTP?..baralham-me, não distingo as diferenças.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Rebanhos


Iniciada mais uma viagem imaginada, acomodo-me no imaginário banco de comboio e contemplo, vagarosamente a paisagem.
É plana. E agora, nesta Primavera timidamente anunciada, é verde, muito verde.
A sua planura permite que a vista se projecte até a um horizonte que acompanha sempre, com uma distância teimosamente permanente, a minha viagem.
É o caldo natural para a divagação.
Ao longe, por entre o montado avisto um rebanho. De ovelhas brancas, um branco sujo encaracolado, algumas, poucas, são castanhas, poucas crias porque a Páscoa foi recente, um pastor e um cão.
Quantas? Quatrocentas? Quinhentas? Menos?
Mas muitas.
Alinhadas, dóceis, ritmo cadenciado, silenciosas. Algum desalinhamento momentâneo é prontamente resolvido com um simples latido do cão.
Analogias com o comportamento humano são frequentes. A igreja nisso se tem empenhado.
Rebanho e pastor. Adoram.
Adoram e fazem questão que os homens sejam alinhados, dóceis, que sigam a ritmos cadenciados e silenciosos ao som dos seus latidos.
Mas contrariamente ao que avisto no rebanho por entre o montado, no rebanho humano há fome.
Também só avisto, por entre o montado, as personagens que descrevi.
No rebanho humano, avisto alguns, gananciosos que querem para si toda a pastagem.
Por entre o montado, o cão só de vez em quando solta um latido.
No rebanho humano, os cães são da mesma espécie humana e são ferozes.
Porque teima a igreja na analogia?
Porque teima o homem em ser dócil, alinhado, ritmar os seus passos cadenciados por força do rosnar dos cães bestas?
O homem é por natureza um ser livre.
Falta libertar-se.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Vou partir de novo



Nesta inconstância de textos errantes, que ora se elevam brusca e violentamente em espiral, ora de sossegam numa brisa quase imperceptível, concentro-me por vezes em questões muito próprias desta cidade que me acolhe.
Alguns textos só fazem mesmo sentido se lidos no enquadramento destas ruas sinuosas, destas casas, palácios e monumentos, que dão o encanto a Évora.
Vou partir de novo.
Há vida e inquietude bastante para além destes muros que me desafiam os sentidos.
Mas antes de partir…
Uma pergunta, uma corrente de perguntas, que se funde numa só:
Que se passa aqui?
Nos cafés, nos supermercados, nas festas de amigos, nas conversas de ocasião, nos centros de saúde, perdão, unidades de saúde familiar, na praça e nas praças é voz corrente e não contradita que a cidade definha.
Que aquilo a que assistimos é de um mau gosto dilacerante (daí, textos como o de ontem - o homem bala), que nos envergonhamos da cidade que antes nos enchia de prazer assumir como nossa, onde se acaba com o cinema, onde se promete em cada dia um dia que nunca mais acontece, onde se vendem ilusões, como quem vende algodão doce, fábricas, empregos, inovação, inteligência, excelência, excelência e onde não temos para onde ir…
E, mesmo assim…
Na hora da verdade…
Escolheram continuar assim.
Pois agora… aí tendes.
A cidade que definha tem o contributo daqueles que acreditaram (teimosamente) na cidade das maravilhas.
Quando passam pelo Salão Central não se sentem responsáveis? E pelo Eborim? E quando vão ao cinema ao Montijo porque aqui fechou? E quando passam pela cerca onde anunciam o complexo desportivo? E quando se encontram no Fórum…Almada - porque o de Évora «foi»?
Não sentem ao menos um pinguinho de culpa?
Se não sentem, deviam.
É tempo de passarmos a assumir plenamente as responsabilidades sociais e políticas dos nossos actos.
Chega de, primeiro votamos (porque é…talvez…chique) e depois, às vezes logo no dia a seguir, lamentamos…
Lamentemos sim as desgraçadas escolhas e corrija-se o rumo.
Mas… já se prenunciam novas seduções, novos erros e novas lamentações.
Um dia aprender-se-á.
Temo é que, com custos sociais muito elevados.

domingo, 11 de abril de 2010

O Homem Bala



Magnifica cidade.
Excelente cidade.
Cidade de excelências.
Em que outro lugar do mundo podemos desfrutar do maravilhoso homem bala?
De que ponto do globo se pode disparar semelhante inovação? Quem mais se pode dar a este luxo?
E como é bom adormecer (tentar) ao som (berrante) de uma harmoniosa música (pimbalhada grosseira).
E despertar ao som dumas cornetas roufenhas, não é bom? Estas não fazem mais que anunciarem-nos o espectáculo: o homem bala.
À tarde podemos ir ao cinema, para relaxar…ou ao complexo desportivo…assistir à conferência sobre…no moderno pavilhão de congressos, enquanto aguardamos pelo aguardado concerto à noite.
Oh, como é bom viver nesta cidade excelente.
O que seria de nós sem suas excelências?!!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Batido



Apressadamente, li o título e conclui ainda de forma mais apressada, que o homem havia tomado consciência social e que levantava a sua voz em defesa dos que vivem do salário pago pela força do seu trabalho.
Enganos.
Ele (o homem que mede a eficácia numa relação directa com os milhões de prejuízo da TAP e que considera que as greves são coisa do século passado) referia-se à obscenidade das remunerações dos nossos (salvo seja) gestores e proclamava que é preciso ter cuidado quando mexemos nos salários…
Julgo que saberá a diferença entre salário e remuneração e assim sendo…porque insiste em falar de salário?
Tratar-se-á de outra antiguidade ou quer tomar-nos por tolos?
Outro guru utilizando o mesmo deturpado conceito afirma que as criticas aos exorbitantes montantes são demagogia barata.
Para o descaramento não consigo encontrar qualificativos.
Que coisa é esta que nos corrói e cujos ideólogos se denominam de experts em Economia?
E apresentam receitas.
O senhor milhões edp ditou: «é decisivo misturar a economia com a arte e a ciência».
Primeiro, se este senhor diz que é decisivo não há volta a dar: é decisivo.
Se diz que é para misturar, misturemos.
E que misturas têm sido feitas até hoje?
Com que misturaram economia cujo resultado foi a quase implosão do sistema económico?
Com que misturas geraram mais desigualdades e mais miseráveis?
O que misturaram para gerar milhões de desempregos?
Avanço com um palpite:
Misturaram doses incomensuráveis de ganância com quantidades apreciáveis de mau carácter e de desrespeito pela vida humana, depois de bem batidos estes ingredientes obtiveram uma massa de gente dependente, aqueceram em banho maria com muitas pitadas de políticos corruptos a que acrescentaram pingos de traição de vendedores de lentilhas e obtiveram o bolo que como brutos que são, devoram animalescamente.
Acompanham com incompetência pesporrente.
Mais cedo que tarde vão apanhar uma indigestão, só esperamos que não nos vomitem para cima.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Coisas soltas por um fio



Barracas ou tendas … mistério esclarecido:

Salvo erro, a 27 de Dezembro do ano passado, já aqui havia abordado a importante temática das barracas ou tendas que proliferavam então na cidade.
Chegada a Páscoa eis que de novo assistimos ao ressurgimento do fenómeno.
A história recente da cidade parece inevitavelmente marcada por barracas…ou tendas.
A inovação expressa-se pois desta forma e quase sempre com a presença de sua excelência o primeiro excelente.
Cada cidade tem o que merece.
Na Guarda têm os projectos de grande profundidade estética e funcional assinados altruisticamente pelo senhor engenheiro.
Évora tem excelentes barracas ou tendas, inauguradas por sua excelência o primeiro excelente.

O senhor esteves:


No tempo do país amordaçado - agora vivemos no país açaimado - existia um senhor a quem chamavam o senhor esteves do qual nunca se sabia onde ia, simplesmente se ficava a saber onde tinha estado.
Agora neste país açaimado, onde se pode ladrar, mas onde é impedido morder, há de novo um senhor esteves…
Esteve hoje em Évora… a inovar

Os sobre dotados:

Juntamente com o senhor esteves, esteve cá o senhor sobredotado que amealha milhões por, diz ele, terem sido ultrapassados os objectivos e daí terem resultado benefícios para a economia.
Evidentemente que quem traçou os objectivos e quem definiu que os mesmos haviam sido ultrapassados não foram a mesma pessoa…credo, vá-se lá pensar tal coisa.
Benefícios para a economia, qual?
Participação de outros no atingir desses objectivos? Quais?
Só a dor de corno nos impede de ver os sobredotados que proliferam na sociedade portuguesa.
Ganham mais que qualquer outro, em qualquer outra parte do mundo.
Somos grandes de novo, o mundo está de novo a nossos pés.
Porque teimamos em não ver tal desígnio?
Uma cambada de invejosos é o que há mais por aí e depois querem que o país avance…
O homem e os outros que tal, valem milhões, pronto.
Reduzamo-nos à nossa insignificância, pobres mortais.

sábado, 3 de abril de 2010

Excelentes...barracas



Proliferam de novo.
Em cada praça da nossa cidade.
Ei-las.
Logo que se avizinha uma festa e assim que nos aprontamos para receber visitas eis que elas acorrem a ocupar os lugares que perigosamente já parecem ser seus por direito.
E nós que vivemos numa cidade de excelência, excelentemente interrogamos cada excelência, que em excelência nada nos sabem dizer.
O que fazem elas nas nossas praças?
Mas não há crise, está tudo bem…
De certo que há uma razão excelente.
Sua excelência tem certamente uma excelente razão.
Sim, porque não se pode colocar um mostrengo destes na nossa sala de visitas sem uma excelente razão.
Na praça de sua excelência também fica muito bem a que lá surgiu…com rio subterrâneo e tudo. Excelente,
Uma outra, numa outra praça, esconde o Teatro.
Acho bem.
Não há crise, está tudo bem.
Juro que era para estar sossegado nesta Páscoa que por empréstimo cultural também comemoro, mas estas aparições…
Excelentes!