quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NUS E CRUS

Nus e crus

Os números são divulgados pelo Tribunal de Contas.
O deficit das contas públicas foi em 2009 de 9,3%.
Havia sido, no ano anterior, 2,9%. (grande êxito, recordamo-nos).
Esta derrapagem fica a dever-se (dizem-nos) à crise, essa coisa aberrante de que muitos falam e nem todos sofrem das consequências.
Acontece que só 22,9% (menos de 1/3) do valor desse deficit se devem às denominadas medidas de incentivo à economia.
Destas medidas, de incentivo à economia, 2/3 do valor do deficit foram para os bancos (estas pobres entidades que tanto têm sofrido com a crise).
Para ajuda ao emprego - 1%.

Perante isto ainda são precisas palavras?

Só se forem de espanto.

Porque no mesmo dia em que temos acesso a estes números, nus e crus, ficamos a saber que as sondagens indicam que aquela criatura, que não é político e não faz outra coisa há quase vinte anos, que diz que se não tivesse avisado seria pior e quando é pior foi por ter avisado, que entregava docilmente solenes declarações de bom comportamento aos carrascos do seu povo, que nada mais sabe que uma retórica estafada , que como outros tristes exemplos da nossa história recente e até bem contemporânea, gosta e adora o uso do título : «professor», que cada vez (e são muitas) que aparece na televisão percorre no ar um intenso e agressivo cheiro a naftalina… dizem-nos as sondagens, vai ganhar as eleições à primeira volta.

Por isso, só palavras de espanto aqui fariam sentido.
«Ai nós !!! Ai nós!!! Começa a ser difícil acreditar em nós».

Mas vou deixar para lá as magoas e vou poupar as palavras de espanto.
.
Apesar de tudo, pelos menos cultural e sociologicamente, é Natal, e assim sendo, um Bom Natal.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Contributos para (uma) psicologia

(cada um dá o que pode…)



Alguns traços comportamentais do empresário nacional:

Valores que caracterizam os seus traços comportamentais:

Patriotismo - Utiliza todos os ardis para fugir aos impostos. (cfr caso PT). Sempre que é contrariado ameaça ir embora e levar a sede da empresa (para a Holanda (cfr caso PT), para a Suiça, para o Bangladesch, para onde lhe der na real gana, (sim, também).

Responsabilidade - Por razões conjunturais da economia (o que eles gostam disto) é aconselhável rever a política de investimentos - então está na hora de comprar um novo ferrari. As razões conjunturais aconselham isso sim a reduzir os salários, não é???.

Cultura - Produto em que não gasta dinheiro. Charutos importados, uisques importados, sexo importado, são os pequenos desvios a esse principio (são cultura não são).

Responsabilidade social - Responsabilidade que tem para com a sociedade (accionistas).

Religião - uma coisa chata em que por vezes são forçados a pensar nos outros, Principalmente nos mais desfavorecidos (coitados) …eles até têm pena.
A pensar…mas só a pensar e uma a duas vezes por ano, no natal, na páscoa….até porque o padre, depois da missa e no jantar para aonde o convidam, até é um bom compincha (o que ele gosta da pinga e de…) e isso ajuda a aliviar a pressão.

Caridade - Ah. Sim. A caridade. Aquelas festas no casino, os flasches, as revistas e …

Será dotados destas qualidades, que discutirão hoje o valor do salário mínimo.

Mais 25 euros por mês? Não podes ser.
Ah, já tínhamos dito que sim???
Pois então, lá terá quer ser.
Mas nós dissemos que seria em 2011.
Então a 31/12/2011 ainda estamos em 2011.
Aumentemos a partir de 31/12/2011.


Se a conjuntura económica o permitir.

Sendo assim.
Se a conjuntura económica o permitir.
Um Bom Natal

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O ALTRUISTA

Espalhou o bem pelo mundo - diz ele.
Onde houvesse calamidade ele lá estava - diz ele.
Terramotos, inundações, epidemias, ele lá estava - diz ele.
Viu crianças a correr atrás de galinhas na esperança de estas largarem o pão que levavam no bico - diz ele.
Criou empregos, foi útil - diz ele.
E agora ele, quer cobrar.
Já não lhe bastavam as mordomias, os casinos, as festas de beneficência (caridade).
Ele tem mais para cobrar - diz ele.
E quem não tenha estado em Beirute, não tem qualquer hipótese. Não tem nada a cobrar - diz ele.
Mesmo que tenham sido esses que aqui tenham estado, agindo e lutando para que não hajam mais beirutes, nem crianças que tenham necessidade de correr atrás de galinhas na esperança de que estas deixem cair dos bicos, o pão, seco e bolorento, que bicaram algures.
Mesmo que tenham sido esses que ficaram, agindo e lutando para que todos os homens vivam em dignidade, para que o emprego e o trabalho sejam valorizados, para que haja verdadeira solidariedade e para que cada vez menos seja necessária a caridade.
Mesmo que tenham sido esses que aqui, agindo e lutando, o fizeram sem esperar retornos mediáticos,mordomias,casinos e festanças.
Os que agiram e agem por dever cívico e de consciência.
Os que esiveram e estão no lugar certo da vida em cada momento desta.

Senhor altruísta, há homens e mulheres que fizeram mais pelos seus semelhantes numa só hora das suas vidas do que o senhor fez ou fará no resto da sua vida.
Senhor altruísta, o que o senhor perversamente designou de perverso, foi a história de milhares de homens e mulheres que enquanto muitos se adaptavam (e o declaravam)eles tiveram a coragem para se erguerem do chão e lutar pela liberdade de todos.
A liberdade que hoje lhe permite a perversidade.
Sabe, não o negará, que nesse processo que perversamente o senhor chamou de perverso, muitos homens e mulheres perderam a vida e que muitos outros perderam anos das suas vidas nas masmorras das bestas que retiravam a liberdade a todos os homens e mulheres.
Senhor altruísta, o senhor não tem nada a cobrar.
Ficava-lhe melhor, um gesto, um qualquer gesto, de respeito e homenagem, por todos aqueles, muitos milhares, que construíram, constroem e defendem em cada dia , um país de liberdade e que querem solidário.
Basta de caridadezinha.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alegoria de uma cadeira vazia




Hoje, em Oslo, a cadeira do laureado fica vazia.
Em torno dela, produzem-se discursos e fazem-se elaborados apelos.
Obama, o homem que por acções anunciadas e que agora se confirmam não concretizadas, se sentou na cadeira em 2009, diz, com a eloquência com que diz, que o homem que nela devia estar sentado hoje, encarna valores universais.
O problema em Obama é que à eloquência do dizer não junta a coerência do fazer.
Porque ao «fazer» não atribui importância, não explicou a que valores universais se referia.
E como não o fez, interrogamo-nos se serão os mesmos que partilha (ou partilhou quando em vida de alguns deles) com outros laureados, como por exemplo: Jimmy Carter, Al Gore, Gorbachev, Rabin, Frederik de Klerk.
Incluirá nesses valores universais que referiu a perseguição sem quartel que move ou comanda quem move, contra Julian Assange?
A par da lauta festa de hoje em Oslo e das lágrimas de crocodilo que por lá serão vertidas, ficámos todos a saber que Sakineh afinal não foi libertada e que sobre ela continua a pairar a ameaça atroz de lapidação.
A esta alegoria para a cadeira vazia também associo a efeméride do dia.
Hoje é Dia Internacional dos Direitos Humanos.
E estes, de universais têm pouco.
Diria mesmo que são até muito restritos em número de «utilizadores» e localizados em termos de «geografia» e acima de tudo, são mais «instrumentos de uso» no xadrez político mundial.
Nesta alegoria, a memória que me ocorre para preencher a cadeira e para esclarecer o conceito de Obama é a da constatação de um mundo com mais de 815 milhões de pessoas com fome crónica ou com graves carências alimentares.
A imagem de um mundo com mais 200 milhões de desempregados e em que metade destes, têm entre 15 e 24 anos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Façamos as pazes com o campo



Há apesar de tudo, um clima de bonança que se sente.
Os mercados estão mais calmos.
Os nossos doutos analistas, têm outras preocupações.
O pedacinho de mundial que nos estava reservado foi parar à Rússia.
As grandes democracias do Ocidente - no seu melhor - procuram silenciar - por todos os meios - o site da Wikileaks.
Mesmo sem luzes, o Natal aproxima-se.
Aproveito então, para falar do campo.
Do campo que abandonámos, amaldiçoámos e responsabilizámos por todos os males.
Do campo de onde vinham as alfaces, os tomates, o trigo para o pão, as carnes de porco, ovelha e de bovino. Os frangos e as frutas. As flores. O mel e o vinho.
Agora tudo isto vem do supermercado, devidamente embalado, plastificado.
E os campos aqui estão, quais sinónimos de domínio senhorial, à boa - para pior - imagem feudal.
E para pior, porque nos tempos feudais, poderia ter de se pagar portagem, mas os campos eram transitáveis. Perpetuaram-se direitos sobre caminhos (vicinais) que hoje já não se respeitam.
Tudo é cercado.
Pôr os campos a produzir, isso não, porque:
As quotas da UE não o permitem;
As compensações compensam muito mais que as produções;
As culturas não são compatíveis com a caça;
A mão de obra já não é escrava (eles bem tentam…)
Os produtos não são escoáveis porque as grandes superfícies vão comprar mais barato a Espanha, a Marrocos e onde calhe.
E…
E…
Porque não mandar às urtigas estas certezas impeditivas e juntar vontades e alterar o estado das coisas?
Porque não se dinamizam localmente - as Juntas de Freguesia poderiam ter aqui um papel determinante - pequenos mercados para escoamento dos excessos de produção das hortas, onde fosse possível vender as couves, as laranjas, os espinafres, os ovos, as galinhas, e os coelhos excedentários?
Com o mínimo de cuidados sanitários, mas sem burocracias e policias de costumes.
Proporcionar-se-ia assim um rendimento extra aos reformados que nas pequenas aldeias trabalham hortas; escoavam-se produtos frescos e saudáveis, dinamizavam-se as aldeias (quantos não ficariam para comer na tasca do sítio um feijão com catacuzes feito na panela de barro em lume do chão?).
Lirismo?
Talvez. Mas faz-nos algum mal um pouco de poesia?
Acrescentemos-lhe uma boa dose de ar puro, a descoberta de uma paisagem deslumbrante e dois dedos de conversa e veremos como a sua métrica e sentido nos encantam.
A razão para este «escrito» vem de uma visita a Vila de Frades - Vidigueira.
Faz bonitas e despretensiosas feiras a Vidigueira.
À Vitifrades só para o ano, mas avizinha-se o certame Pão e Laranjas.
Programem um visita e
Ouvirão ecoado de uma adega o genuíno cante alentejano.
Façamos as pazes com o campo.
As cidades ficarão mais bonitas e humanas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Valha-nos ele...

Valha-nos ele…

JMF - Público - 3/12//2010 ((considerando como boa noticia a não aprovação da taxação dos dividendos, como propunha o PCP): “Ela corresponderia à violação de um principio básico de estabilidade do quadro legal fundamental no exercício de qualquer actividade económica” e “Depois, porque a decisão de taxar os dividendos das SGPS é idiota e só as levará a mudarem as suas sedes para outros países, nomeadamente para a Holanda. A médio prazo a receita fiscal diminuirá, não aumentará, mas isso é algo que escapa à mentalidade justicialista de muitos, se não da maioria, dos nossos deputados”.
Valha-nos ele, supra sumo da inteligência e da visão estratégica lusa.
Sem cobrar, sugiro-lhe que leia atentamente, se é que ler os outros não lhe cria «engulhos», o trabalho publicado no «seu» Público, pg.((s)4 e 5 P2. Só para o caso de não ser apanhado no turbilhão das suas certezas…
Mas vamos às suas “ideias”.
Em primeiro lugar a taxação das mais valias das SGPS - coisa que já devia acontecer há muito - está contemplada no OE para 2011.
Logo, os ditos investidores, ou fugiriam para a Holanda a 22 de Dezembro de 2010 ou a 1 de Janeiro de 2011.
Pois então que fossem, se fossem, a 1 de Janeiro mas depois de pagar os seus impostos.
Mas o que está a acontecer é uma labreguice bem lusitana que consiste em chamar nomes doces aos crimes dos grandes senhores.
Em segundo lugar, para que serve ter a sede das SGPS em território luso? Para que possam estar isentas de impostos, contrariamente ao que acontece com a generalidade dos agentes económicos?
O que ganha o país?
E para que querem os holandeses a sede destas sanguessugas?
Em terceiro lugar, é legítimo que se pergunte se o salário não é um principio básico de estabilidade do quadro legal da actividade económica?
È que nestes mexem, sem qualquer preocupação ética ou legal.
Ai como é musica, depois disto, recordar cândidas afirmações de responsabilidade social das empresas.
São tão hipócrita, não são?!.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O amor a Portugal fica-lhes tão bem, não fica?

As confederações patronais querem rever o que já haviam acordado e pretendem não cumprir com os 500 € de salário mínimo para 2011.
Falam da crise e blá, blá, blá.
Descaradamente propõem como alternativa um aumento de 1,7%.
De 475€ para 483€.
8 € por mês.
Aproximadamente 27 cêntimos por dia.
E não coram.
Que crise combatem com esta medida?
E estes mesmos, antecipam criminosamente a distribuição de dividendos, para fugir aos impostos.
PT, Jerónimo Martins, Semapa, Portucel, todos eles anunciam e outros se juntarão, a distribuição antecipada de dividendos dos lucros de 2010.
Afinal tiveram lucros.
De que crise falam quando recusam um aumento de 25 € mês a quem ganha 475?
E, garantidamente, ao domingo, de manhã, ajoelham, rezam a deus e tomam devotamente a hóstia.
Ao almoço, melhor, ao repasto, falarão da economia nacional e das medidas que vão sugerir (???) Que sejam tomadas.
A bem do país, claro.
Só na PT, antecipando os lucros e fugindo aos impostos, vão sacar ao país cerca de 250 milhões de euros.
Normalmente, os dividendos, seriam pagos no final do 1.º trimestre de 2011, quando dos encerramentos de contas. Mas como em 2011 se aplicará uma taxa sobre as mais valias, antecipa-se essa distribuição e poupam-se uns milhões.
A bem do país, claro.
A este propósito, diz o PSD (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias): “O valor da estabilidade fiscal é importante”.
Diz o PS (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias): “taxar essas mais valias seria criar um imposto extraordinário”.
Diz o CDS (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias”: “que o PCP queria era criar outro PREC” (ou uma baboseira semelhante).
São todos iguais não são? Mas todos…ESTES. Com nome e currículo.
E são estes, os que protegem os outros. Os que fogem aos impostos.
Os que querem salvar Portugal. Afundando-o.
Quando roubam aos que pouco têm, quando mexem no salário dos outros com o mesmo à vontade com que o carteirista esbulha o pobre cidadão, quando tiram o abono de família, quando cortam nas prestações dos medicamentos e outras prestações sociais, não os preocupa o valor da estabilidade fiscal? Não os preocupa o efeito de impostos extraordinários que o roubo dos salários representa?
Nunca o descaramento foi tão longe.
E juram amores a Portugal.
Certamente com a mesma lata, com que rezam a deus.