quinta-feira, 31 de março de 2011

Democráticas formalidades (3)

Dando continuidade ao processo cénico conducente ao cumprimento da formalidade de convocar eleições, anuncia-se para hoje «importante» reunião do Conselho de Estado.
O Diário Económico anuncia este facto e articula: «…e das eleições antecipadas, terá obrigatoriamente que sair um governo maioritário, se possível, com mais que dois partidos».
Nem mais, faltando só acrescentar, digo eu, qual a obrigatoriedade de voto para cumprir a premissa.
Por mim, julgo que ponderam a possibilidade seguinte: PCP; BE e PEV. Não creio que seja outra.
Mas mesmo falando de embustes, seria aconselhável alguma parcimónia.
Em primeiro lugar, as eleições destinam-se a eleger deputados, que por sua vez se constituem em assembleia, à qual, o líder do partido mais votado, fica incumbido de apresentar um programa.
Será então primeiro ministro aquele que vir o programa apresentado ter a aprovação maioritária da assembleia.
Logo, será sempre um governo maioritário, aquele que sair das próximas eleições.
Mas sabemos o que querem dizer.
O que querem é uma maioria obediente. De ámen sempre pronto. Que esteja tolhida (pelo jogo de interesses) na sua acção.
Ou seja, o contrário do que deve ser uma assembleia.
Que deve ser representativa, interveniente, fiscalizadora da acção dos governos. Que represente a cada momento o sentir e a vontade daqueles que neles votaram.
Se querem uma maioria de maiorias asfixiantes e obediente, para quê as eleições?
A maioria que querem impor nas próximas eleições já existe actualmente. PS; PSD e CDS já têm essa ampla maioria.
Assumam-na já e poupem-nos.
Ou então calem-se e criem as condições para o povo poder decidir se não em consciência, pelo menos com o mínimo de dignidade.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Democráticas formalidades (2)

O voto é, no plano formal, o instrumento democrático por excelência.
E porque assim é, constitui-se hoje como a expressão suprema do embuste.
Quer se analise no processo de construção, quer se analise na produção de efeitos fácil é constatar que ele é cada vez mais uma expressão banal e vazia de sentido.
E para o embuste, tanto contribuem aqueles que dele precisam para «legitimar» as políticas como aqueles que o usam de forma leviana.
Basta de considerar os utilizadores do voto numa perspectiva de condescendência e numa permanente desculpabilização.
Quem dele (voto) faz mau uso, tem que ser, no plano social, responsabilizado pelos seus actos.
Só assim a democracia fará sentido.
Só assim o voto não será um instrumento do embuste.
Mas a conversada que vai grossa na praça, só serve para verificar que faz cada vez mais sentido falar de embuste.
Diz-se que SE exige que o próximo governo tenha suporte numa sólida maioria absoluta.
Os senadores e os bem instalados enchem a boca (nos intervalos em que esta está vazia para digestão) com a afirmação da necessidade sagrada de uma maioria absoluta.
Um padre com boa carreira, sorridente, expressa que gostaria de uma maioria ps, psd, cds.
Os patrões e os seus empregados dilectos, falam no mesmo sentido, divergindo apenas, pontualmente, nas pontas.
Paulo Rangel diz hoje que Merkel ficaria muito contente por ver o PSD no Governo (compreendemos…sempre seria uma vitória num land já que para as suas bandas…)
Pois o que fica claro é que o que pretendem é simplesmente e rapidamente ultrapassar este pequeno embaraço (eleições) e considerando que não podem (para já ) dispensar esta formalidade, que da mesma resulte o ámen necessário a que tudo continue na mesma.
Assim será, concluem. Não há razões para perder o sono.
Até que numa serena e limpa madrugada possam ser despertados com a angústia de um novo «e depois do adeus».

terça-feira, 29 de março de 2011

Democráticas formalidades (1)

A democracia é cada vez mais um embuste, mas um embuste ainda necessário e melhor que todos os outros embustes até agora conhecidos.
A analogia à celebre frase de Churchil é óbvia.
Mas há uma outra carga. Embuste significa a intenção de fazer passar por real o que se sabe ser falso.
A questão a saber é, até quando vai ser possível a aceitação deste facto?
Até quando vai o embuste ser considerado necessário?
Até quando vamos aceitar participar na farsa?
Os episódios da nossa vida política recente são bastante elucidativos (sobre os embustes), concentremo-nos em alguns:
1. A crise (financeira).
A crise é o somatório de um conjunto de problemas associados à dificuldade de pagamento da nossa dívida soberana. Para pagar a dívida temos que contrair mais dívida e quem empresta o dinheiro, quer que, cada vez paguemos mais por ele.
Um dos factores (para só falar no mais recente) que mais contribuiu para o volume da dívida, foi o que resultou da «nacionalização» do BPN. O BPN era um banco privado, mal gerido pelos vistos e bem aproveitado por alguns (poucos). Os lucros (chorudos) foram privados. Os prejuízos (volumosos) são agora dolorosamente pagos por cada um de nós
Alguma vez esta decisão, assim como muitas outras que levaram à contracção de tantos mil milhões, foi colocada para decisão democrática por parte de cada um de nós? Algum dos partidos (que uma vez no poder contraiem dívida em nosso nome) colocou tal hipótese nas promessas e nas campanhas eleitorais?
Quando votámos e quando escolheram (os que assim votaram) o PS e Sócrates, sabíamos que o PS e Sócrates iriam tomar estas decisões?
A questão é que os que pedem o nosso voto, se estão borrifando para explicar o que quer que seja do que pretendem fazer depois de ganhar, e muitos de nós (uma perigosa maioria de nós) se está borrifando para o que quer que seja.
Muitos definem o seu voto com mais leviandade do que na escolha de uma camisa.
Votam como quem aposta numa corrida de cavalos: «Qual é o cavalo que vai à frente?».
Pois este é só um dos embustes.
Pretendo voltar a outros.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Querer ou não querer

Sócrates demitiu-se.
Porquê?
Não foi certamente pelo amplo clamor de protesto que há muito percorria o País.
Não foi por constatar o falhanço das suas políticas face aos problemas crescentes da dívida soberana.
Não foi por ter consciência pesada face ao desumano crescimento do desemprego.
Não foi por ter pesadelos nos quais lhe surgiam recorrentemente idosos sem dinheiro para os medicamentos e para o pão.
Não foi pelo mal feito aos jovens, aos professores, aos funcionários públicos…
Não foi pelo mal feito ao País.
Sócrates demitiu-se porque essa era a sequência única da jogada de xadrez (houve quem, de entre as suas hostes, tivesse falado em dados) que jogava a várias mãos.
Demitiu-se, porque considerou oportuno.
Demitiu-se porque julga que a cândida figura com que sempre nos iludiu vai uma vez mais funcionar no papel de coitadinho.
Demitiu-se porque quis «entalar» Passos Coelho (Portas sugere eu este caiu na «esparrela»).
Demitiu-se porque Passos Coelho estava impaciente e guloso e receoso de não chegar a ir ao pote.
Demitiu-se porque o Presidente assim o aguardava.
E tal como na obra magnífica de Gabriel Garcia Marquez, todos sabiam que ele se iria demitir mas ninguém quis fazer nada para o evitar.
Pois então, demitido está.
Mas o que é curioso é que parece que o PEC IV (o único sem Passos) vai mesmo ser aplicado.
Curiosas consequências «democráticas»…
E como demitido está, eis a campanha já no seu melhor.
E os analistas, especialistas, comentaristas andam fartos, a torrente de adjectivações que a situação lhes proporciona é deveras abundante.
E eis os a falar de «está iminente a intervenção estrangeira» (qual desejo ardente de pôr a patinha como estão a fazer na Líbia), a proclamar desgraças sem fim por força de termos de ir para eleições (ainda estamos recordados das desgraças que se abateriam sobre nós se tivéssemos feito a desfeita de uma 2ª volta nas eleições presidenciais), bolsas a pique (não os bolsos dos portugueses, porque esses já estão secos) bancas rotas e toda uma complementar panóplia de coisas muito más.
Apenas porque, se vai recorrer a um instrumento democrático que consiste em dar a voz ao povo para ele dizer de sua justiça.
E também já antecipam.
Vai ganhar à mesma o mesmo, vai ganhar o outro (tão guloso que ele anda) ou depois faz-se uma grande união nacional (PS, PSD, CDS, Cavaco, Soares, o Professor, Confederações Patronais, CGD, BPI, Espírito Santo, UGT).
Eu por mim e penso que muitos mais assim estão, estou na expectativa.
Não festejo a queda do Governo porque nem tinha razões para comemorar antes e nem tenho agora, porque por agora tudo vai continuar na mesma).
Estou apreensivo sobre qual vai ser o comportamento do eleitorado. Irá de novo, depois de ter enchido a boca com expressões do tipo «são todos iguais» voltar a entregar o poder aos que são verdadeiramente iguais?
Mas, sem razões para festejar e apreensivo, digo aliviado: Adeus Sócrates; adeus Teixeira; adeus Vieira, adeus Helena (nome tão bonito tão mal aplicado) adeus a todos vós e que não voltem.
E espero que para o vosso lugar não vão os vossos sósias Passos, Frasquilhos, Catrogas e outros.

Portugal pode mudar.
Mudá-lo está nas nossas mãos.

terça-feira, 22 de março de 2011

Amanhã, talvez...

Coincidirão as vontades contrárias que têm permitido a este governo equilibrar-se no fio do periclitante desequilíbrio e conjugando-as, as vontades convergentes e divergentes,poderão ditar o seu fim.

Amanhã, talvez.

Dando continuidade a exercício anterior, passo a dissecar algumas das vontades contrárias convergentes:
Passos Coelho, sabe que, ou é agora, ou dificilmente lá chegará. A clientela está ansiosa e faminta. A satisfação pelos resultados da politica seguida pelo governo - que em nada divergirá da que praticarão se lá chegarem - não é suficiente para atenuar o frenesim pelo jejum das hostes.
Paulo Portas - Sempre atento, sempre astuto, sempre oportunista, cola-se que nem lapa e dificilmente Passos Coelho se livrará da seu «apegamento».
O Presidente, crê finalmente chegada a hora.
Barões do PS e do PS com D, professores, desertores, saltitões, acreditam que é possível, finalmente, voltarem a um grande bloco central, diga-se mesmo grande maciço central, no qual, juntando os S e os D, talvez ainda haja lugar para acoplar o CDS- PP do Paulo.
Este maciço central apresenta robustez suficiente para escudar todos os seus desejos.
Banqueiros, empresários de grande porte, jogadores de casino, gestores de excelência, ficariam muito mais satisfeitos e «calmos» perante o cenário de um grande maciço central.
Explico pois, que como vontades contrárias convergentes, trato todos estes e outros que só divergem em aspectos de forma, convergindo em tudo o que é conteúdo.
Outras vontades contrárias, mas estas divergentes, também aguardam.
Talvez amanhã se possa dar um passo para a mudança de rumo que se impõe.
Talvez se abra um vislumbre de esperança para os que, correspondendo a apelos diferentes, têm enchido as ruas de Lisboa, nos últimos dias, clamando por uma mudança.
E nestas vontades contrarias divergentes, estão incluídos os trabalhadores, os reformados, os estudantes, os muitos mil homens e mulheres sem trabalho, os jovens precários, os novos escravos, os pobres e desfavorecidos.
Estão, em suma, os únicos que sabem o significado da palavra crise.
Pois são as suas únicas vitimas.
Por isso têm lutado e anseiam por uma mudança de rumo efectiva.

Amanhã, talvez...

quinta-feira, 17 de março de 2011

ALTO E PÁRA O BAILE

Eles já dançaram tantos tangos, os tangos dos PEC (s) o tango do Orçamento, o tango da crise, o tango das Presidenciais e apesar de ligeiros desencontros de passo, convenhamos que fazem um belo par.
Sabemos que depois de tantos tangos, o país está de tanga, mas isso a eles pouco importa.
As clientelas e os amigos do salão, esses estão bem.
Sempre que surge um pequeno engulho, depressa se resolve, como por exemplo a exorbitância e insensatez de tributar as actividades associadas ao popular jogo de golfe à taxa normal do IVA. Passe-se, quanto antes à taxa reduzida, acertam durante um passo mais ousado e sensual.
O mesmo se passa com o anunciado novo imposto sobre a actividade bancária. Dancemos mais um tango e depois veremos…não há pressa.
È incrível a maledicência do povo, anotam. Comparar IVA de fraldas e IVA de golfe. Comparar IRS e imposto sobre actividade bancária. IRRA.
E siga a dança.
Ui, pisadela.
Agora foi de mais. Vou acabar a dança ameaça um dos bailarinos.
Porquê? Então um novo PEC e eu só sou informado depois?
Que desfaçatez.
E talvez o baile pare mesmo.
É que o bailarino secundário, quer assumir ser cabeça de cartaz e sabe que é agora ou já não será nunca mais.
No salão andam todos agitados. O Professor esse então está em pulgas.
Estava tão boa a dança - para eles.
Cá fora, os excluídos, aguardam.
Acabem então a dança. Cada um aos seus lugares.
Veremos o baile que se segue.
Conforme for o toque, assim será…

terça-feira, 15 de março de 2011

PARADOXOS

Falam-nos muito em imensas maiorias. Sempre que queremos valorizar um argumento ou evidenciar um atributo, logo nos socorremos deste jarrão. Tem quase o mesmo peso argumentativo do que aquele que consiste em usar recorrentemente : «está provado cientificamente».
A História está repleta de exemplos das expressões práticas dessas amplas maiorias e muitos deles são de molde a que neles não se procurem exemplos.
Tantas atrocidades foram cometidas com suportes em amplas maiorias.
A História de Portugal fornece-nos sobejos exemplos. Se nos situarmos nos mais recentes, lembrar-nos-emos da imensa maioria que adorava salazar (dispensando por isso eleições livres), da maioria silenciosa que queria abafar a liberdade que despontava e das imensas maiorias que com o nome de democráticas e com a «legitimidade do voto» dos portugueses, delas se serviram par anular Abril.
Não gosto por isto e muito mais, das «imensas maiorias», mas faço, evidentemente, ressalvas a este meu não gosto.
Gosto, por exemplo, que a imensa maioria dos homens e mulheres de todo o mundo amem a paz e a liberdade, que a imensa maioria rejeite todas as formas de descriminação.
Dados estes exemplos de ressalvas (onde se se incluirão todas as outras que estão associadas à condição humana, à igualdade de oportunidades para todos e aos direitos universais que devem ser garantidos ), aduzo ainda contra as imensas maiorias (de pensamento, comportamentais, de submissão) o facto elementar da enorme diversidade humana.
Os homens e as mulheres de todo o mundo se constituem uma imensa maioria esta só pode ser a imensa maioria da diversidade. De cores, crenças, culturas, línguas diferentes.
Vem tudo isto a propósito e o paradoxo reside aqui, no facto de eu considerar que a imensa maioria do povo português está farta deste governo.
E o paradoxo ainda ganha mais expressão por força de eu considerar que é exactamente esta imensa maioria que «suporta a existência e permanência» do governo.
Passo a explicar (desagregando, para o efeito, a «imensa maioria»):
Os trabalhadores estão contra, porque o governo corta nos salários, aumenta os impostos, fomenta a precariedade, aduba o desemprego.
Os reformados estão contra, porque o governo corta nas pensões e diminui as prestações sociais.
Os estudantes estão contra porque pioram as condições de ensino, aumenta o desemprego e a saída é o desemprego.
Os camionistas estão contra, os professores estão contra, os militares estão contra…
Mas…
A imensa maioria dos portugueses, teme que a este se siga outro igual chefiado por Passos Coelho.
E…
O PS também está contra, porque queria ter a tal maioria absoluta que não tem, mas evidentemente não vai derrubar o seu próprio governo.
O PSD está contra (ou finge estar) mas não vai interromper a execução de uma política que agrada socialmente ao seu eleitorado sem ter a certeza ABSOLUTA de que será ele o escolhido maioritariamente.
O Presidente está contra, mas está à espera de uma oportunidade.
E assim, neste periclitante desequilíbrio de contras se vai mantendo um governo que está contra o País.

segunda-feira, 14 de março de 2011

E agora?

Perguntam muitos.
Depois dos protestos, depois das ruas cheias. Depois da coragem finalmente assumida. Depois dos gritos que deixaram de ser mudos.
O que fazer agora?
Agora que as «compreensões» vão seguir o seu rumo normal e voltam ao plano das acções que deram origem aos protestos.
Agora que os «especialistas» encartados - polítólogos, politicos sem ólogo, outras coisas com ólogo resfaltados, procuram amenizar as ondas de choque dos protestos.
Aos que pela primeira vez vieram para a rua, aos trabalhadores sem trabalho, às novas gerações de escravos sem salários, respondo que não ficará em vão o vosso protesto.
Eu e muitos outros mil, vamos dar-lhes continuidade já no próximo sábado.
E acredito, sempre acreditei.
Um dia a coisa muda.
Tal como eu tive o prazer indescritível de ver a festa de um povo a libertar-se, acredito que vocês irão viver a festa da esperança a construir-se.
Haverá um dia essa alegria.
Acreditem.
E participem na sua construção.
Há anos que muitos de nós fazem desse processo uma condição de vida.
Talvez , também por isso, lá tenham estado, com vocês, tantos cotas.
E também pela vossa generosidade, pelo vosso apelo tão simples e tão sincero.
E tão justo.
Por isso, agora, vamos continuar a construir a esperança.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Eu tive um sonho

Eu tive um sonho.
Todos temos sonhos, não é verdade?
Nesse sonho:
Vivia numa pequena cidade do sul. Uma cidade nova encostada às muralhas de uma velha cidade.
Casario branco, rasteiro, ruas limpas e cuidadas .
No centro, becos, ruelas, praças fervilhando de gente - muitos visitantes - esplanadas plenas de cor.
E muita luz, muito sol.
E grandes monumentos a lembrarem-nos outros tempos, antes de nós - ou antes do sonho.
Na cidade nova, as casas tinham pequenos quintais e jardins.
Espantosamente - pequenos jardins e até pequenos hortejos - não lajes e cimento.
Nesse sonho, nessa manhã, a vizinha do lado tinha vindo pedir-nos hortelã e bem fresca a levou para a sopa da panela.
À tarde, num passeio pelos arrabaldes, visitámos um centro de interpretação do mundo rural. Deambulando pelos campos bem tratados, trocámos umas palavras de circunstância com o homem que olhava pelas ovelhas. Apanhámos uns espargos e fomos até ao monte. Traça antiga, barrinha azul em todo o casario, rua empedrada e limpa. Ali funcionam uma padaria, uma leitaria e queijaria. Comprámos pão quente e leite fresco.
Em volta do centro de interpretação funcionam outras unidades de exploração agrícola, modernas e bem geridas. Algumas são cooperativas, outras empresas familiares.
Há pleno emprego, para os de cá e para muitos que têm vindo para cá.
Na aldeia há escola, centro de actividades infantis, posto médico com médico. Um pequeno Centro Cultural - cinema de qualidade uma vez por semana .
Quatro vezes por dia, um moderno mini autocarro liga a aldeia à cidade.
De forma tão inexplicável como inexplicável é a razão para o sonho, este acaba.
E:
Procuro conferir coincidências. Encontro uma:
vivo numa pequena cidade do sul…
Ruas descuidadas e sujas.
Ambiente sombrio. Monumentos que como chorando, largam pedaços de si sobre quem os contempla. Ninguém tem o direito de contemplar a sua decadência…
Casas abandonadas. Cada vez menos gente. E os filhos dos que ficam - os que ainda resistem - a partir para outras cidades à procura dos seus sonhos
Quintais cobertos de cimento e lajes.
E os campos envolventes abandonados, cercados de arames.
E as noticias dos jornais amedrontando. «O Mundo não tem capacidade para produzir alimentos para todos».
Este «mundo» não tem não.
Mas o mundo que sonhei, esse tem.

terça-feira, 1 de março de 2011

CCCG

CCCG

Eis Março.
Prenuncia-se a Primavera.
Os dias estão cheios de sol e há uns bafejos solarengos que nos aquecem os ossos e preparam a nossa desibernação .
Preparamos as máscaras e as patifarias carnavalescas.
Depositamos casacões e mesmo tremendo de frio vestimos apressadamente trapinhos mais frescos.

Talvez passe a ser assim.
Talvez passe a escrever sobre o tempo.
O sol, as andorinhas.
Talvez me dedique aos meus hobbies e escreva sobre poejos, hortelã da ribeira, cardos, cogumelos e espargos.
Talvez.

Mas é assim aqui. Noutros sítios não
E também sabemos que mesmo aqui ainda virá chuva e dias sem sol solarengo.
Sabemos que é sempre assim - assim tem sido - esta sucessão .
E assim sendo e mesmo inseguro , vou continuar a falar por força dos impulsos que me vão impelindo para os mais diversos sítios e coisas.
Por força deste espojinho, que serena mas decididamente me vai movendo.
Que os abrigos em que nos protegemos das tempestades não se transformem nas nossas próprias masmorras.
Adiante

Num primeiro impulso confronto-me com a violência da afirmação patética proferida por Kadafi em que afirma, delirando, que o povo o ama e ele fará tudo para proteger o povo.
E o povo, mesmo sob as rajadas (de amor?) clama pela sua saída. Outros, muitos, atropelam-se nas fronteiras para procurar abrigos de paz.
E enquanto homens, mulheres e crianças são chacinados por lutarem pelo direito a poder serem seres, por aqui discutem-se as consequências no aumento do petróleo e nos incumprimentos das metas para reduzir os déficites.

E tinha eu pensado em escrever sobre tempo…porque receava escrever sobre…legalidade e legitimidade ( a propósito de uma sentença que condena um bloguer ).

Coisas dos impulsos.
Mas penso voltar à questão da legalidade e da legitimidade.
Mas com CCCG (com cautelas e caldos de galinha).
A partir de agora, sempre
CCCG