quinta-feira, 28 de abril de 2011

Patetices e marias que vão com as outras

Estou convictamente convencido (não sei mesmo se não deveria acentuar o grau) que o conjunto de cinzentões que governa o país e a europa, julga que por aqui, somos todos um grupo de patetas.
Ou em alternativa (solução para que me inclino mais) os patetas são o grupo de cinzentões e nós, apenas uma imensa mole de marias que vão com as outras.
As conversadas (longas e entediantes) sobre os mercados e a forma como procuraram explicar a gula e a especulação desenfreada destes, é só um dos sintomas da patetice.
Nervosos, agitados, perturbados, por causa da chuva, por causa do sol, por causa das inundações, por causa dos fogos, porque corriam rumores que os príncipes não casavam, ou que casavam na coxixina, tudo foi aduzido.
Só não compreendo é como, numa situação tão prolongada de «nervosismos» os ditos cujos não foram levados a uma loucurazinha. Sei lá…
E ninguém pergunta quem são? De onde vêem e de onde vem o dinheiro?
E ninguém pergunta o destino da usura?
Convenhamos que para anti depressivos é uma verba já muito alta…
E também ninguém pergunta, porque carga de águas temos que estar nas mãos destes nervosos mercados?
Devemos biliões???
Quem os pediu emprestados em nosso nome?
Onde os gastou?
Perguntaram-nos alguma coisa?
Agora encenam outro jogo.
Todos os dias atiram barro à parede para verem qual cola melhor.
Como a toque de uma batuta, cadenciadamente, bombásticamente, vão «anunciando» as medidas que a «troika» se prepara para impor.
A par dessa preparação, preparam o acompanhamento. Que consiste em afirmar que é inevitável viver pior.
Que é inevitável viver de cabeça baixa.
Que é inevitável levar uns tautauzinhos (quais meninos mal comportados) de tudo o que se julga impante nesta europa.
E que é inevitável «unir» o gato da vizinha, o doberman vadio, o peixe do aquário, o elefante e a formiga, o rato e o saca rabos e tudo no mesmo saco.
E o senhor presidente dá-lhe a ênfase de estado. É preciso que o próximo governo tenha o apoio maioritário do Parlamento, diz.
Claro. Se não, não é possível termos governo não é verdade?
Que saibamos, o governo tem que submeter e ver aprovado o seu programa na AR, não é verdade?
Ou já não é verdade porque a «troika» assim o determinou?

Ontem vi «48» um filme / documentário impressionante.
Só espero que as marias vão com os outros não sejam cúmplices de um regresso a um tempo, tão triste, tão cinzento e tão violento como aquele que é ali tratado.
Se quisermos, somos capazes.
Ou então (se surtir mais efeito) e remoendo-me:
We can.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Não há outro caminho

Agora, depois do tempo de todas as misturas, avançamos para o 1.º de Maio com a confiança de quem sabe que afrouxar não é solução e com a apreensão que resulta desta ampla orquestração contra os direitos de quem trabalha.
A Páscoa é por aqui , só por si, tradicionalmente, um período de confluência de padrões religiosamente distintos e mesclados com hábitos pagãos.
Não se comemora de igual forma em Évora e em Castelo de Vide, por exemplo.
Em muitos locais desta pátria grande (O Alentejo), a Festa é a segunda-feira, o dia de ir para o campo comer o borrego.
A Páscoa (dor e lamento), cinge-se ao interior dos Templos.
A Festa ganha o colorido dos campos.
Quis o calendário que à «Festa» se juntasse este ano a Festa da Liberdade.
E foi com toda esta mescla que comemorámos.
Com cravos de liberdade nascidos em campos de tradição.
Este ano menos viçosos por causa das preocupações…
Mas eis Maio.
Já aí está à nossa espera.
À espera das cores vivas com que vamos enfeitar a luta.
Não há outro caminho.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Irra.

Experimentei todas as formas.
A sério e de semblante carregado, de forma aligeirada, por vezes ironicamente (no que não é de certeza o meu campo favorito), optei por deixar andar, omiti, mudei de assunto vezes sem conta, mas nenhuma destas estratégias resultou.
O problema subsiste.
Ganhou hoje de novo honras de 1ª página.
«Os mercados continuam muito nervosos».
As taxas de juro atingiram novo recorde.
Depois do novo recorde ontem obtido.
E os jornalistas nada mais têm a escolher para título do que a expressão já useira e referente ao equilíbrio emocional e psíquico dos ditos mercados: «Os mercados continuam nervosos».
E nada parece acalmá-los.
E não há um. Um que seja. Que titule: « A usura continua».
Ou:
«Continua o roubo descarado».
E a par dele, desse frenesim de loucura, finlandeses, turcos, marroquinos, alemães, luxemburgueses, franceses e todos os restantes fregueses, vão ditando postas de pescada:
Os portugueses têm de …
É preciso que os portugueses aprendam a…
Vão ter que ter juízo.
Oposição e oposição à oposição têm que se unir…
Vão ter que aprender a poupar.
Vão ter que aprender a viver sem comer (e nós que estamos avisados sobre o burro do espanhol)…
E os portugueses…
Que têm na mão uma oportunidade soberana de os mandar comer um cão…
Preparam-se para engolir toda esta cachorrada…
Irra.

domingo, 17 de abril de 2011

Uma receita para a Finlandia

A vós que aí no norte, frio e distante, ou pelo menos a parte de vós - parte expressiva, diga-se - que optaram por votar na extrema direita, xenófoba e racista, como todas as extremas direitas e que por mal dos nossos pecados, nos escolheram como alvos preferenciais, digo-vos que por aqui esteve um dia lindo.
Cheio de sol.
É Abril em Portugal, sabeis?
Ficai pois com o vosso dinheiro e a vossa boçalidade que nós ficamos com o nosso sol.
E a todos vós - também muitos - que nos queiram visitar, como amigos, vos digo: sois bem vindos e partilhemo-lo - o sol.
E eu talvez vos receba com uma sopa:
Um pouco de azeite num tacho, dois dentes de alho picados finamente, quando estes tiverem loiros junta-se um molho de espinafres cortados grosseiramente e junta-se sal, Passados poucos minutos, estando os espinafres estufados, juntamos coentros e poejos picados e alguma água a ferver. Escalfam-se ovos e pronto.
É tão simples.
Por aqui ainda há quem dê valor às coisas simples.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ai Abril...

Parece que muitos - a maioria, para também fazer uso desta entidade mítica - perderam a memória, a capacidade de indignação e acima de tudo a de interrogação.
Dizer hoje que Portugal não precisa de ajuda e dois dias depois afirmar que a ajuda que Portugal precisa não é só para seis meses mas para muito mais tempo, não envergonha o seu autor, não indigna a maioria e não conduz à curiosidade dos seus concidadãos.
Fazer de uma candidatura uma batalha de honra (segundo o conceito do próprio) contra os malefícios do partidarismo e passados alguns dias aceitar convite para integrar essa mesma partidocracia, não envergonha o próprio, não indigna a maioria e não conduz à curiosidade dos cidadãos.
Outros exemplos, imensos outros, poderiam aqui ser trazidos.
Há mesmo casos em que de tão recorrentes, muitos de nós aprendemos a interpretar os ditos nos exactos termos dos seus contrários.
Alguns afirmam - enveredando pela perspectiva moralista - que este estado de coisas é o retrato da condição e «estatura moral» do país. Em boa medida é verdade, mas a questão vai para além disso.
O que está a acontecer insere-se numa estratégia geral de descredibilização da democracia, procurando e em boa medida conseguindo, o alheamento e a culpabilização «cega» da política por todos os males.
Tudo se consubstancia na máxima das massas «são todos iguais».
E sob essa cobertura, vai ficando claro em cada dia que passa - para os que ainda não perderam as faculdades de memória, dignidade e capacidade de interrogação - que o governo de Portugal - e da Europa, acrescente-se - é o governo do capital.
São os bancos que ditam, decidem, arrecadam, arruínam famílias e países.
O dinheiro deixou de ser um factor de produção e passou a ser um instrumento de mera comercialização assente na mais descarada especulação.
A um gerente - supra sumo da inteligência «capital» - pagam-se somas escandalosas.
A um investigador que contribui com a sua inteligência, a sua dedicação e o seu trabalho para procurar encontrar soluções para os seus iguais, com merecido destaque para os que trabalham nas áreas da saúde, mitiga-se o que se lhe paga.
Pobres coitados dos gestores de meia tigela que dentro dos seus b emes e empanturrados nos tavares se julgam o supra sumo da sociedade.
Admitamos que em certa medida o são.
Desta sociedade decadente e medíocre.
Mas reconheçamos - os que ainda têm as faculdades já descritas - que homens com H são os outros.
Mas voltando à questão da natureza do poder político.
Se dúvidas existissem, bastava estar atento, aos últimos dias e às melhores prestações dos agentes nacionais do governo do capital.
Reunião de banqueiros - quais múmias -, recados de banqueiros seguidos à risca pelos seus diligentes empregados no governo, entrevistas a banqueiros - quais múmias - chegada do homens do FMI - qual Força de Intervenção - discursos dos pseudo especialistas empregados dos banqueiros, agachamentos dos outros que nem empregados são dos banqueiros. E a religião metida ao barulho, como sempre.
E o povo - as massas - as vítimas - compreendendo que a situação está difícil. Que é preciso salvar o País. Que o Sr. Presidente tem razão e que é preciso que todos se unam.
E vai daí,o povo - as massas - preparadinho para homologar mais um governo do capital, estando só indeciso se o há-de fazer com o cõnsul geral que lá tem estado se escolhe o outro cônsul geral.
E..
O general diz fanfarrão que assim não tinha feito a revolução.
Ah, pois não. Mas ela tinha-se feito muito bem sem ele.
Mas
Ai Abril….
Ai Abril.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Há muito, muito tempo...

Nem sempre assim foi, mas de uns tempos a esta parte, as segundas-feiras passaram a ser, dias de readaptação difícil.
Com o normal andar do relógio, os sintomas vão atenuando.
Mas enquanto dura, tem os efeitos de uma ressaca.
E foi durante esse período que dei por mim a recuar no tempo. A reviver momentos e a desatar memórias de um tempo distante, muito distante.
Portugal preparava-se para escolher o seu Presidente da República.
Estávamos então em Janeiro de 2011.
O candidato presidente virou presidente sem que antes nos tivesse pregado um susto, um grande susto. Ameaçou ele: «se houver uma 2ª volta» é a desgraça que se abate sobre o país, os mercados ficarão nervosos, as taxas de juro (usura) subirão e o resgate da dívida pública tornar-se-á inevitável.
O povo ouviu o professoral conselho e respeitou-o.
E como sabemos, decorrido este longo, longo tempo…
Nessas eleições havia também um candidato que se irritava quando o acusavam de ser conivente com a política do governo. Que não senhor, que ele estava lá sentado mas até votava distraído, que a ele ninguém o calava e que ele era a esquerda em pessoa.
Passado este longo, longo tempo, no comício congresso onde foi vedeta (como gosta) este candidato, vai para onde sempre esteve.
Havia um outro candidato. Homem integro como nenhum outro à face da terra, altruísta e com um grande valor intrínseco: era um homem sem partido e fora da “miserável” partidocracia .
Passado este longo, longo tempo, este candidato é candidato de um partido, para fazer parte da partidocracia e apresentado como trunfo pelo PSD.

Pelo menos as minhas ressacas só dão para embirrar com as segundas feiras. Um destes dias posso explicar o que julgo serem as causas.
Mas há para quem, as mesmas parecem dar para embirrar com o carácter e com a coerência (para referir só estes dois valores).

Pois há muito, muito tempo que este e outros homens semelhantes nos vêm cantando cantigas de embalar .

Mas também há muito, muito tempo (desdo que tenho consciência de mim) que conheço outros.
Outros Homens e Mulheres.

Íntegros.

domingo, 10 de abril de 2011

Não os mandemos à fava

Mandemo-los antes ...

Tendo em conta as grandes alhadas em que nos têm metido, desleixei a ideia que sempre tive, de ao domingo, escarafunchar por aqui qualquer coisa, «coisas leves…de domingo» e que por norma pudesse andar em torno da gastronomia e em sentido mais amplo se inserisse numa determinada perspectiva de regresso ao campo.
E assim, enjoado do congresso comício e não suportando mais a indelicadeza com que os seus grandes figurões me entram casa a dentro, eis que me apetece falar de coisas leves.
Leves e doces.
Se ainda não experimentaram, experimentem passar pela Vidigueira e comprem laranjas, são simplesmente magnificas. Só mais um dos néctares que saem destas terras solarengas…
Por estas terras, que também são de vinho, organizam-se umas iniciativas engraçadas: O Festival Pão e Laranjas (que me deu o acesso às ditas) e em Vila de Frades um Festival de Vinho, com vinho novo a provar-se nas enormes talhas de barro de inúmeras adegas de pequenos produtores da terra.
Experimentem, mas agora, só já no próximo ano.
E experimentem também por agora, que elas estão tenras, novas e saborosas, um bom prato de favas estufadas (com enchidos e os fortes aromas do coentro espigado).
Numa caçarola fritam-se umas tiras de toucinho salgado, rodelas de linguiça e de chouriço de sangue (de Estremoz e de porco preto).
Completada a fritura, retire e reserve as carnes. No pingo quente da fritura deite as favas (obviamente descascadas e desolhadas) tape a caçarola e vá revolvendo (de preferência com movimentos certos e sem destapar).
Coloque a «boneca», um molho de cheiros que consistem num abundante ramo de coentros espigados, ramos de hortelã enrolados em folhas de alhos , envolvendo sempre.
Tempere de sal e deite água a ferver (mais água se gostar delas caldosas, menos água se gostar delas mais secas - é o meu caso).
Deixe estufar bem.
Acompanhe com uma abundante salada de alface cortada em juliana.
Envolva ou coma à parte os enchidos fritos.
Complemente com um queijo fresco de cabra.
E, inevitável, acompanhe com um bom tinto alentejano e com amigos.
Amanhã, já sabemos.
O mesmo de hoje e de ontem.
Até que gente troque as voltas ao diabo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A algazarra dos culpados

Por vezes vociferam, gritam, berram, atribuindo as culpas aos outros. Sempre aos outros .Só que uns e outros assim fazem.
E permanece sempre a dúvida. Quem são os outros?
Quem são os culpados?
Outras vezes, em cândidas figuras, afirmam em sintonia: «agora não é tempo para apurar culpas».
E de uma ou de outra forma, uns e outros e todos os acólitos de uns e outros, enchem jornais, revistas, televisões, rádios, com doutas dicas sobre o «assunto»: A crise isto, os rattings aqueloutro, o PIB assado, o resgate aquilo e assim por diante.
E são ou foram: ministros das finanças alternadamente entre si no últimos 30 anos. E são ou foram governadores do Banco de Portugal e são ou foram administradores de bancos e são ou foram primeiros ministros, e são ou foram presidentes.
Mas clamam agora que é preciso um governo de salvação nacional.
Por mim, penso que é urgente um povo de salvação nacional que tome nas suas mãos os destinos do País e corra e penalize estes culpados que ainda por cima são uns gralhadores.
E quando falo em penalizar, faço-o no sentido exacto do termo: é preciso penalizar os responsáveis e apurar da licitude de todas as suas acções.
Quem autorizou os desmandos?
Quem foi incompetente?
Quem autorizou as mordomias?
Quem autorizou o desrespeito continuado pelos orçamentos e quem inflacionou as receitas que incluía nestes, para justificar a sumptuosidade das despesas?
Quem autorizou a contratação de milhares de «rapazes» como forma de pagamento pela «dedicação»?
Quem vos disse que o «estado» era vossa propriedade?
Porque gritam ainda assim?
Porque sabem que é da gritaria que nasce a confusão e que na confusão escapam os culpados.
As vítimas ou saem dos seus silêncios cúmplices (evidentemente as que ainda não o fizeram) ou vão permitir a fuga dos culpados.
E depois estes regressam, qual heróis ansiados, e continuam,
A algazarra e os desmandos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um sério problema

Por vezes há quem não goste da frieza de algumas abordagens.
De uma certa frustração que está subjacente em muitas delas, de uma espécie de falta de esperança que se projecta.
Compreendo.
Mas sentem-se (em silêncio) numa sala de espera de um hospital, abstraiam-se do jornal que abstraídamente folheiam na paragem do autocarro e oiçam as vozes ao lado, oiçam, oiçam, mas sem o filtro «cultural» que habitualmente usam.
Oiçam e sintam.
E encontrarão os ecos de um povo perdido. Sem dinheiro para as rendas, sem dinheiro para os remédios, sem emprego.
Um povo cansado. Sem forças para articular o mais leve esboço para interrogação.
Ansioso que chegue a noite, quando todas as exigências amainam e então enterrar-se no velho sofá e saber da vida dos que vivem bem e sem aqueles sufocos.
Dir-me-ão: mas há os que dizem não, que participam nas associações, nos sindicatos, nas lutas.
É verdade. Nós sabemos. Nós estamos nesse campo.
Mas o problema subsiste.
A 5 de Junho estaremos todos em condições de saber escolher?
Recordemos Marx, recordemos o seu conceito de alienação e preocupemo-nos.
Agora que JS demonstrou uma vez mais que o que diz deve ser entendido nos seus contrários e que obediente cumpriu, rapidamente, as exigências dos seus patrões.
Agora que o seu colega se esforça para dizer aos patrões que é muito mais diligente e obediente.
Agora que o medo se vai instalar de forma ainda mais negra e que «todos» irão falar de salvações nacionais.
Agora em que cada vez mais fica claro que a fome, a miséria, o medo, não são componentes para uma tomada de consciência social, mas sim para o seu contrário.
Agora, em que é preciso cortar caminho, preocupa-me a séria possibilidade de retomar aquele que nos conduziu até esta situação.
Dir-me-ão: trabalha para que isso não aconteça.
Assim o faço. Assim o fazemos tantos.
Mas os problemas (e todos os problemas têm soluções - todos) resolvem-se, conhecendo-os e intervindo com base nesse conhecimento, para a sua resolução.
Ignorá-los nunca foi solução.
E nós, para além da «crise» e do FMI, temos pela frente sérios problemas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Abril Esperanças mil

Abril, o mês mais bonito de todos os meses inventados pelos homens, o mês que celebra um povo que se levanta do chão e aprende a liberdade, o mês da festa e dos cravos, começou cinzento e sob nuvens carregadas de preocupações.
A crise com que nos fustigam continua a produzir mais desigualdade, mais desemprego, mais dificuldades.
E os que fartos, têm provocado a crise que nos afecta a nós, prometem mais dificuldades - para os mesmos - e jogam grotesca e escandalosamente o jogo da hipocrisia e do empurra. Uns renegando o FMI e aplicando as medidas que este imporia e outros ansiosos que este venha - para ficar com as culpas - das medidas que eles anseiam tomar.
E o povo alheado, alienado, atira pedras nos campos de futebol, delicia-se com enredos telenovelescos, chora as dores virtuais alheias e prepara-se para alinhar o seu voto naquele que posicionarem (outros - os interessados) como vencedor.
Fala-se da crise como se fosse coisa da natureza, qual sismo ou maremoto avassalador.
Não tem culpados.
Mas tem vítimas. Muitas vítimas.
E tantas destas, não interrogam. Aceitam.
Participam no jogo cénico da desculpabilização e preparam-se para uma vez mais juntar o seu voto ao voto dos culpados.
Parece que gostam de beneficiar o infractor (adaptando a linguagem ao futebol - o tema por excelência) e condoídos aceitam os cândidos cânticos dos que lhe acenam com uma maioria que designam de salvação nacional e que tem tudo de último refúgio de conluiados e dos grandes culpados pela crise.
Uma maioria que tem tudo da malograda União Nacional quem em bons tempos o bonito mês de Abril aniquilou.
Por mais voltas que se possam dar, este é o cenário que se perfila.
Há no entanto alguns que acreditam, que lutam - como antes outros o fizeram para que Abril fosse possível - e que apontam um outro rumo.
Um rumo de esperança em Abril.
Pode ser.
Pode ser que voltem a florir cravos vermelhos.
Pode ser que voltem os dias de sol.
E que felizes nos abracemos sobre a memória destes dias cinzentos e tristonhos.
Abril é o mais bonito dos meses.