segunda-feira, 20 de junho de 2011

V(M)IRAGEM

Volto ao assunto
Insistem alguns, que virámos à direita a 5 de Junho e, aduzem em favor dessa tese que basta ver a composição da Assembleia em que a maioria dos seus mandatos é de partidos de direita (do PSD e do CDS).
Olhando por este prisma, nada mais haveria a dizer .
Mas a questão é uma alegada viragem à direita do sentido de voto dos eleitores portugueses e aí sou de opinião que outros factores têm de ser ponderados.
Primeiro, o que já tinha afirmado: ter-se verificado um êxito não desprezível da estratégia da direita de esvaziar de conteúdo os conceitos. (São inúmeros os exemplos e o caso Fernando Nobre não é inocente e não é tiro no pé).
Segundo, porque a ter-se verificado um movimento com essas características, estaríamos na presença de um rodopio em torno da direita e não de uma viragem, ou seja não se vira para onde se está.
Terceiro, sou de opinião que a vitória do PSD é mais a expressão da vontade «quase obsessiva » de uma massa muito grande de eleitorado de se livrar de Sócrates e entender que a melhor forma era votando PSD.
Quarto, não me apetece segurar no arquinho do Sr. Portas (salvo seja) e não o considero um vencedor.
Quinto, com esta argumentação simplificada da viragem à direita estamos a contribuir muito significativamente para a estratégia do PS que agora aposta tudo para se assumir como partido de esquerda, melhor, como sendo a própria esquerda.
Por mim, não estou disponível para branqueamentos.
Adiante.
Pretendo em breve abordar a questão da representatividade do voto e das distorções à proporcionalidade e dessa forma dar mais um contributo, assim julgo, em favor da tese que defendo.
Por agora, sigo expectante o desabrochar de inúmeros movimentos espontâneos de protesto social que ocorrem um pouco por todo o lado. Grécia; Espanha, por aqui, em Itália, para falarmos só do nosso cantinho europeu.
E regozijo-me por verificar a solidez analítica dos porta vozes que confronto com a total incapacidade dos dirigentes das democracias formais (formatadas) em perceber o que está a acontecer.
E se um dia os policias se cansam e percebem que mesmo tendo o emprego em risco não é possível mais não passar para o lado certo das barricadas?
A democracia é também participação sabiam?

A este propósito:
Sabia Sr. Presidente?

Após o Sr. Presidente ter afirmado que os que não votassem não tinham o direito a criticar - coisa absurda - pensei em escrever a SE, mas desisti da ideia por não gostar de perder tempo. No entanto, deixo aqui duas ideias principais que havia pensado em lhe transmitir:
_ Queria solicitar-lhe, muito respeitosamente que não se intitulasse presidente de todos os portugueses, mas que se limitasse à condição (honrosa) de Presidente da República Portuguesa.
_E, lembrar-lhe que mais de metade dos portugueses não votaram nele (não votaram em ninguém) e que por esse facto ninguém tem o direito de lhes diminuir os direitos da sua cidadania).

A bem da nação (democrática)

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Patrão

A crise tem as costas largas e grandes coberturas.
De tal ordem que ninguém se atreve a questionar a própria coisa, ou seja o que é a crise, quais as suas causas e quem são os seus responsáveis?
Da Islândia chega-nos (encapotada) a noticia de que o ex - primeiro -ministro responde em tribunal pelo crime de má gestão da coisa pública.
Em Portugal, os responsáveis passam a gestores de excelência excelentemente pagos ou pela coisa pública ou pelas coisas privadas beneficiárias da coisa pública.
Mas são tão largas as costas da crise que por causa dela e com ela se abocanham direitos e se questiona a própria democracia.
Abespinham-se alguns porque são muito elevados os custos com o funcionamento das instituições democráticas. Proclamam que há municípios e freguesias a mais, deputados a mais, ministérios a mais e tudo o mais, principalmente quando o mais é o resultado da(mesmo que distorcida) representatividade popular.
Belmiro o patrão diz que 100 deputados chegavam. Julgo mesmo que com 2 ele resolveria o problema. Um do PSD, outro do CDS e ele seria o Presidente. Vitalício, para evitar chatices. Em caso de empate ou de desempate ele desempataria.
Muitos dos que acham excessivos os custos com as instituições democráticas, achariam adequados os custos com o funcionamento dos organismos de controlo próprios dos regimes antidemocráticos, como por exemplo policia politica, corpos policiais e paramilitares de repressão, cadeias, informadores e muitos outros.
Belmiro anda exuberante. Fala ao país antes do escolhido (por si e ratificado pelos outros). E publicamente traça orientações.
Imagino as que traça em privado.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dinâmicas dos sentidos de voto

Teimam muitos, por vezes mesmo sob pretensa cobertura académica, em procurar interpretar resultados eleitorais, consubstanciando as apreciações a imaginadas transferências de sentidos de voto - à boa maneira das transferências em futebol.
Dizem agora, que o voto virou à direita. E pronto.
Ora se PSD e CDS tiveram mais votos que PS; CDU e BE, logo…
Antes, votantes do BE e do PS, votaram agora PSD ou CDS, afirmam.
Não têm o mais elementar indicador lógico de que tal se tenha processado assim. Mas afirmam.
Não questionam.
Por exemplo:
Estratégia de esvaziamento de sentido à dicotomia esquerda, direita:
Sabemos que PSD e CDS se esforçaram por esvaziar conteúdos ideológicos e transmitir a ideia que Esquerda e Direita eram artificialismos e que as questões com que Portugal se defrontava eram bem mais importantes do que «esta pequena questão».
Recordemos que o PSD se esganiçou para fazer passar esta mensagem e para afirmar a sua «vertente» social democrata. Acrescentemos-lhe o facto de Portas ter passeado cravo vermelho na lapela. Concentremo-nos ainda no facto de que ambos fizeram passar a ideia de que o importante era derrubar Sócrates (insinuando que poderiam participar num futuro governo até com outros - desde que não com Sócrates..
E interroguemo-nos: Não terá tido êxito esta estratégia?
E se sim, é legítimo concluir que os que se deixaram arrastar para ela, consubstanciaram uma «viragem à direita»?

Dinâmicas de sentidos de voto
Pode alguém afirmar com rigor qual o trajecto do sentido de voto mais verificado entre os eleitores?
Do PS para o PSD? Do BE para o PS, Do PS para a abstenção; do PSD para o CDS, Da abstenção para o PSD? Da CDU para o PS? Do PS para a CDU?
O único dado que parece ser objectivamente quantificado é o que se traduz no voto contra Sócrates.
E o voto contra Sócrates pode ser enquadrado no sentido de viragem à direita que alguns analistas, comentadores e dirigentes partidários agora parecem identificar?
Agora, ninguém parece afirmar que o que aconteceu foi a dura penalização do Governo de Sócrates e da política de direita que sempre seguiu.
E Sócrates até sai de mãos lavadas.
Ele bem tentou evitar esta «viragem à direita»…

Podem outros subestimar a importância de uma análise objectiva a estes factores. Por mim e cuidando-me com uma ensinamento do menino Carlinhos (quando este afirma que o que é preciso é publicidade…) atormenta-me a ideia que vamos sedimentando na direita de que o eleitorado votou à direita.
Portas, esperto como é, já fala em alterar a lei do aborto, facilitar os despedimentos - incluindo na FP - alterar a Constituição?

Vamos continuar a alimentar-lhe o seu egozinho?
Se com três deputados a mais ele parece ter ganho o país…(o sol, a lua e tudo o mais)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pois, pois, jota belmiro

Tal como suspeitava e temia, eles aí estão. Impantes.
Presidente, maioria, governo, troika.
Nem em sonhos o outro sonhou tanto.
E estão porque alguém lhes abriu as portas e porque muitos, contra natura, assim o quiseram.
Agora vamos ter tempo para saber o que contêm todas as versões do pacto de rendição.
Vamos saber o que vamos acrescentar aos cortes salariais.
Vamos saber quantos mais de nós iremos para o desemprego.
Vamos tomar ainda mais consciência de que é necessário pôr duas embalagens de leite, em vez de uma, nos carrinhos do banco alimentar.
Vamo-nos render à caridadezinha depois de vermos destruído o estado social.
E vamos ver socialistas ferrenhos socratianos até ontem, dizerem mal de sócrates e defender «uma viragem à esquerda». (são sempre de esquerda os socialistas quando são empurrados para fora da esfera do poder).
E vamos ver muitos votantes chorar baba e ranho amaldiçoando os seus pecados (que logo em outra oportunidade estão dispostos a voltar a cometer).
E vamos ver a continuação do filme trágico que temos visto temendo pelo seu epílogo.
Os grandes e gananciosos senhores conseguiram que as vitimas das suas ganancias votassem nos rapazes que eles escolheram para mandar.
E eles vão mandar neles.
E nós vamos contribuir para a renovação das frotas de ferraris e de iates.
E tantos que entre nós, deram o seu voto e até a sua alegria e palmas para que assim fosse.
Devem-se ter imaginado «grandes» juntando os seus votos aos votos dos «grandes».
Agora
AGUENTEM (os)