domingo, 14 de julho de 2013

JANGADA

 

Há um ano. Precisamente um ano iniciávamos um pequeno período de férias com uma visita a Madrid. Uma estada que programámos para dois três dias.
Tudo tratado com a devida antecipação.
Alojamento.
Gps acionado.
Tudo foi planeado com muita antecedência e com todos os cuidados
Tudo! tudo,!não.
Há sempre pequenos inconvenientes, que se tornam em grandes inconvenientes.
Obras no centro da cidade. Desvios de trânsito não registados, uma ligação que se perde por causa de  um túnel.
Uma viragem à direita que por deficiência de posicionamento se transforma num seguir em frente obrigatório.
Voltas. Mais voltas e quando damos por isso, ouvimos de novo aquela voz mecânica: “logo que possa…” e eis que começa…recomeça o circuito.
A estação de Atocha já nos apareceu  à esquerda. Agora projeta-se à nossa direita.
A cale de Atocha não deve ficar longe, mas a verdade é que não a encontramos.
É Madrid. No seu melhor.
E nós no nosso pior.
Viramos à direita e eis que nos deparamos com uma rua (cale) apinhada de gente e de policia.
Mas policia a sério.
Daquela que não tem apito para controlar o tráfego mas bastões para …o apressar.
Não me ocorreu nada mais oportuno do que parar, abrir o vidro e perguntar:  A Cale de Atocha por favor?.
Estranhamente. Calmamente. O policia de cassetete em riste me disse que na rotunda ao fundo deveria virar à direita.
Virei. Estacionei e quase em frente ficava o alojamento que havia reservado.
Instalámos-nos. Ligámos a televisão e vimos imagens do sitio por onde agora tínhamos passado.
E vimos, na televisão, a carga da policia sobre os mineiros asturianos.
E vimos imagens da chegada destes na noite anterior .
E vimos a solidariedade do povo de Madrid.
Na televisão, no quarto do nosso alojamento na Cale de Atocha.
Obviamente e mais depressa do que havíamos programado, saímos para a rua.
Para a cale de Atocha.
E eis-nos envolvidos  com as gentes que ocupavam as ruas, que se manifestavam.
E fomos. Seguimos com eles rua acima. Como se fossemos dali.
Como se ali sempre tivéssemos estado.
E com eles fomos até às Portas do Sol.
E gritámos naquele castelhano aportuguesado as palavras de ordem contra Rajoy.
Tão iguais às que dias antes tínhamos gritado nas ruas das cidades de Portugal contra Passos e Portas.
Agora, passado um ano, Rajoy é desmascarado e Passos e Portas fazem equilíbrio.Ver-nos-emos livres de tais personagens?
Irá esta jangada flutuar em águas limpas e transportar em segurança e livres estes povos ibéricos?
Trará o Tajo nosso Tejo todas as nossas mágoas para o mar?

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Salgados

 

Quando os mesmos são a definição de pastelinhos, croquetes, rissóis e afins, são uma delicia e mais ainda  o são quando acompanhados de uma cervejinha fresquinha nestes quentes dias.
Já, quando os mesmos são a definição de pastelões,  que de dentro dos cofres abarrotados com o dinheiro espoliado aos miseráveis vão pondo , dispondo e berrando sempre que alguém sugere dar a voz ao povo, são estes, uma maldição que transformam em inferno os quentes dias.
Tarda em fazer-se perceber a estes senhores que os destinos do povo a este dizem respeito e que mal ou bem a este compete definir.
Tarda, mas creio que chegará o dia.
Aproveitai para comer lagosta, caviar e beber champanhe. Comei.
Sabemos que nem por um momento do vosso empanturramento se lembrarão das vossas vítimas, mas podeis ter a certeza que em cada minuto do sofrimento destas, estas se lembram sempre de vós.
De vós estamos falados, até porque vós sem os vossos lacaios não sois ninguém.
E vós já tiveram oportunidade de saber isso.
Foi um grande susto não foi?
Durou pouco, mas assustou não foi?
Mas foi uma grande festa do povo.
A que se seguiu uma grande borrada.
Mas adiante.
Quero falar de eleições.
Das eleições que tanto temem e que catalogam como crise, desgraça, calamidade.
Acredito que o possam ser.
Mas, para os vossos interesses.
Argumentam que têm a legitimidade do voto que lhes atribuiu um mandato de quatro anos.
E não questionam sequer a ilegitimidade que advém de o mesmo (o voto) ter sido obtido com base em contrapartidas (promessas)  que não só não cumpriram, como violaram grosseiramente.
Além de que eu saiba, não se ter votado em nenhuma coligação PSD/CDS (ou CDS/PSD).
O casamento posterior foi só a consumação da primeira de muitas mentiras que se seguiram.
O voto para eles, sempre é uma chatice a que de vez em quando têm de se sujeitar.
Para o obter, podem até oferecer a lua.
Depois…
Depois mandam-nos chatear o Camões.
Um jantar com salgados e dois ou três dos seus lacaios, mesmo quando um destes já tenha sido forçado a sair pela porta pequenina, determinará o que fazer.
”Era o que faltava, explicar ao ze povinho estes meandros.
Eles não entendem”.

Pois eu tenho para mim que esta situação só é possível neste país onde ainda se canta a Grândola, porque se deu um golpe de estado, que conduziu ao poder os banqueiros.
Os governantes, esses…

Aguardo para nos dias próximos confirmar ou infirmar esta minha tese.

Ai como eu gostaria de estar enganado.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Reflexões e refluxos

 

Aqui, tenho dado uso a reflexões.
Algumas delas, por força de refluxos.
Reflexões, porque traduzem o resultado de observações, meros comentários.
Refluxos, porque brotam por vezes de uma forte carga emotiva, por força das tantas coisas que vão acontecendo, aqui, aí, por todo o lado e que me e nos provocam azias.
Várias foram as vezes em que o objeto da reflexão se centrou no próprio objeto de uso para expressar a reflexão, ou seja, o próprio «espojinho».
Alguma vezes, tentado em fazer amainar este vento, ventinho, incerto.
Outras vezes, impetuosamente desejando dar-lhe força que o possa transformar num dos seus primos (do «espojinho») maiores. Um tornado, quiçá.
Parece por vezes que o «espojinho» nem tem direção, nem sitio.
Percorre (em preocupação) terras e gentes espalhadas pelo mundo.
Lamenta a perda de amigos que nunca conheceu.
Manda abraços para quem nunca viu.
Às vezes quer assentar arraiais por aqui, de onde parte.
Às vezes promete concentrar-se em pequenas questões.
Uma simples sopa de cardos foi suficiente para merecer a sua atenção.
E as beldroegas e os peixinhos da horta?
Ultimamente, foi tentado a deixar o comentário simples e partir para os mais elaborados.
Mas recuou, pois estes exigem trabalho e não merecem consideração.
Pois então… não é o espojinho um fenómeno meteorológico imprevisível?
Sabemos das condições necessárias a que eles se formem, não sabemos é quando e que direção e intensidade vai ele assumir.
Agora, apetecia-me partir para o Brasil (não para as praias e muito menos para o futebol), mas para o Brasil que preenche as ruas com protestos e procurar saber os porquês todos.
Para o Egito, onde alguns, grosseiramente errados, falaram por contágio, de primaveras quando só se estava na presença de alguns dias solarengos de Inverno.
E dedicar algum tempo à Síria, ao Iraque, à Líbia, ao Afeganistão para aonde os meus ocidentais compinchas se atarefaram e atarefam em exportar democracia, e que impiedosamente a lança sob a forma de bombas e tiros sobre homens e mulheres, como eu e como tu.
E à Turquia (uma da exportadoras) que vemos agora (os que só veem o imediato) como a trata internamente.
Mas, se calhar, pelo menos hoje, vou ficar por aqui.
Numa reflexãozinha ressacada de um fim de feira.
A Feira de S. João em Évora.
Todos os anos se aquece esta discussão e este ano com a ajuda de uns dias bem quentinhos mais quentinha ela foi.
E em Setembro, temos eleições para o governo da cidade…facto que lhe deu acrescentado alento.
Eu, que gosto da feira a saber a pó, de perfumes de mistura das sardinhas assadas e entremeada, de sons berrados e pimbas que obrigam a falas sussurradas e adoçam as nossas conversas .
Da cerveja bebida e da cerveja entornada por um encontrão acidental.
E gostaria que continuasse assim, só que…
Também tivesse espaços para quem não gosta dela assim.
Estivesse mais limpinha.
Não esquecesse as raízes e marcas do Alentejo onde brota.
Que a pimbalhada não fosse dominante.
Que não estivesse durante todo o tempo uma parte significativa da sua área reservada para o supra sumo pimba de uma festa da TVI  onde se promoveram violadores dos valores patrimoniais da cidade a istoriadores (não, não me esqueci do h).
Que voltasse a ocupar o jardim e a mata.
Que as tasquinhas voltassem a ser tasquinhas, geridas pelas associações e coletividades, sem mesas marcadas e com mais improviso.
Um feira que fosse também a festa e o ponto de encontro de nós e de nós com os outros.
Pode ser que venha por aí (para aqui)  um espojinho e a gente tenha uma feira assim para o ano.