quarta-feira, 29 de maio de 2013

A especialidade

 

Voltei há pouco a leituras de que andava arredado nos últimos tempos.
Nestas, voltei a confrontar-me com as problemáticas da especialização de saberes – em chavão – a disciplinaridade.
E compreendi (re), com todo o respeito pela Economia e para os que dela fazem uso na perspectiva da sua validade como ciência social (com tudo o que isto implica e que não vou agora abordar), quão especializada está esta disciplina.
Tão especializada que parece ter-se especializado em ser somente a moldura do quadro dominante.
Mais não parece ser que a pretensa justificação teórica para as inevitabilidades do presente.
Noutras áreas, de há muito que resolvemos a falsa questão do fim da história, mas por aqui…
Que importa que os cálculos tenham erros e partam de pressupostos errados? As conclusões, são as que antecipadamente postulam, e pronto.
Esta economia de e pequeno gosta muito de leis, de postulados e de dogmas.
Em contra corrente a este discurso oficial da economia de e pequeno e oficial, anda por aí um senhor, Krugmam de seu nome, se a memória não me atraiçoa, a clamar contra o caminho que segue a Europa – corrijo, a União Europeia – deveria também corrigir União…adiante) mas dizia, clama esse senhor, que o que se está a passar na Europa é um erro e em Portugal, em particular, é um horror.
Sim, mas que percebe ele da economia, dos senhores da economia?
Caramba, ele é apenas, um mero Prémio Nobel da Economia.
Quem sabe de economia, desta economia de e pequeno, são os vassalos do senhor e da senhora alemã, que dão pelo nome de Durão e Gaspar.
Dão pelo nome, quando dão.., porque agora só já respondem, quando o mesmo é pronunciado carregando nos erres.
Durrão e  Gasparr são pois expoentes máximos. Máximos especialistas nesta economia.
Creio que foi Morin, que alertou para o perigo que constituíam  para a humanidade estes especialistas …

Aí estamos, nós cobaias, a confirmar a dimensão desse perigo.

PS. Eu até às especialidades da casa – sugestão comum à generalidade das ementas dos restaurantes – torço o nariz.)

sábado, 25 de maio de 2013

Coisas, indefiníveis, de após mais uma jornada

 

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu sofri
Para aqui chegar

É assim não é?
Se não é, passa a sê-lo.
Mas…
Mas também não é verdade que tenha sido um grande sofrimento aqui chegar.
Até, porque…
O sofrimento maior é não saber onde vamos conseguir chegar.

Porque partilhámos.
Porque chegámos mesmo a concordar.
Porque percorremos lado a lado, às vezes bem  lado a lado, caminhos.
Não foi por isso um sofrimento assim tão grande.
Foi mesmo um prazer.
Fazer esse caminho contigo.

Não achas que foi um prazer termo-nos  encontrado hoje, por entre a multidão, em Belém.
Em Belém, para onde convergiu a luta.

Não achas?

Que importam os que não acreditam?
Porque dar valor a vómitos fascistas que julgam que já nos…?
Se nós, continuamos a acreditar e a agir.

Eu vou para longe, para muito longe
Onde nos vamos encontrar.

Vamos, não vamos?

Como seremos?
Que idade teremos?

Mas isso vai acontecer?
Não vai?
Acreditas…não acreditas?!


È que às vezes, este caminho…

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Eu e os meus nós

 

Remeto-me cada vez mais ao interior de mim.
Resultado degenerativo próprio ao passar dos anos, sintomas de perturbação, refinamento de carácter? Não sei.
E esse recolhimento expressa-se em vários traços do meu comportamento.
Por exemplo, não gosto de discursos. De quase nenhum discurso.
Fujo, sempre que posso, das maçadoras reuniões, cenários por excelência onde se desfilam vaidades.
Apresento traços patológicos de uma total alergia à hipocrisia.
Fico fora de mim, quando oiço, reoiço e torno a ouvir os bajulamentos diários, tipo: ai o chefe hoje vem…mal disposto, não achas?
Cumprimento de forma recatada.
Evito os beijinhos e apertos de mão da praxe.
Tenho isso sim, saudades de abraços sentidos…


Mantenho, assim julgo, apesar de tudo, um traço, direi um tracinho, que acalenta em mim a esperança de não ser um caso já perdido.
Continuo a achar que posso ajudar a mudar o mundo para melhor.
Ui.


Irritam-me, profundamente, os que querem evitar ou mesmo impedir-me de continuar assim.
Se afirmo que depois da canalhice dos gajos do pingo doce – daquele soberbo atestado de menoridade cívica que aqueles passaram a todos os que foram amalgamados contra as prateleiras – retomo, se afirmo, que nunca mais entrei numa lojeca deles, logo me dizem que tal atitude não muda nada e que todos os outros são iguais.
Sim, todos os outros são iguais, assim como iguais são todos os que encontraram as mais diversas desculpas, para agir como os outros.
Aqui ressalvo com respeito, aqueles outros, as vitimas mais vitimizadas, os que perante a propaganda nela viram uma oportunidade para pôr na mesa comida para os filhos no dobro dos dias em que o podiam fazer ou que pensaram ser assim possível acrescentar jantar ao almoço em alguns dias.
Mas sabemos que não foram só estes ou até sabemos mesmo que estes foram a minoria.
A maioria foi lá por ganância.


Há dias, há poucos dias, fomos confrontados com notícias de mais tragédias sobre o povo do Bangladesh – mortos que não mereceram a atenção que outros mortos mereceram, porque em matéria de mortos, é tal e qual como nos vivos, há mortos e mortos – e ficámos também a saber que debaixo dos escombros, ficaram as mulheres que costuravam os trapinhos modernos que as mulheres modernas compram em modernas lojas das modernas cidades da moderna europa e américa.
Aguardo as manifestações de solidariedade e uma palavra de respeito para com as vítimas.
Estou mesmo tentado em sentar-me à entrada de uma dessas lojas procurando anotar os comentários e estou seguro que ouvirei, pelo menos uma vez: este top é bonito,  será que a coitada da mulher que o fez foi uma das vitimas?
Ui.
Mas, ouvirei decerto: o que é que queres? em algum lado têm de ser feitos e nós precisamos de os comprar, que diferença faz?
Faz a diferença entre o agir responsavelmente e a inatividade irresponsável.
Direi eu.
Mas eu, sou aquele que está a ficar irrascível.
Que apresenta traços de demência.
Aquele que tem de se convencer que não é possível mudar o mundo.
O que tem de ter juízo porque com idade isso já era para ter passado.
Não. Não passou?
É preocupante?
O que devo fazer?
Ver televisão? Estar atento para ver quem vai para a cama com quem em programas que me contam estarem na berra?
Bolas, não exageres! Dir-me-ão.
Tens os livros. O cinema. A música.
Podes ir à apresentação pública de…ao colóquio sobre…tal dia.
Há agora na cidade espaços alternativos. Onde se ouvem os poetas e se fala de escritores.

Sabes que a cultura também é resistência. Estás a ver. A cultura.


E ficarás a saber de escritores que escrevem melodiosamente sobre o povo e que assumem que não se importam de ver os seus livros junto dos rabanetes do super e que apelam à libertação dos sentidos…
Que sentidos libertarão os que optam pelos rabanetes porque não podem levar o livro?
E ficarás a saber que alguns dizem, que são tão, tão do povo que até comem sem garfo.
Eu que mantenho a mania de até sardinhas comer de garfo e faca…
Mas atenção, para os meus nós e para que conste, declaro que prefiro estes aos outros …até porque com os outros não perco tempo.

Não me peçam para endeusar autores. Para os usar citando ou afirmando citar a propósito e a despropósito.

Gosto ou não das suas obras. Posso ou não gostar dos autores.

O tempo, que ultimamente, reconheço, como pouco, que dedico à literatura, continuo burramente a concentrá-lo nas obras.
Respeito e não desassocio , mas não endeuso autores.


Declaro agora, quase em jeito de nota  de após conversa, que para além de não saber cantar – onde já se viu um alentejano sem saber cantar? – acrescento-lhe ainda o defeito de não ter sotaque.
Sabemos.Fica sempre bem o sotaque.
Açoriano. Alentejano, não importa, o que importa é ter sotaque.
Pois eu, desgraçadamente, tenho sotaque de lado nenhum…
Eu…


Ui esta mania de continuar a ser eu.
Deves dizer SEMPRE nós.
NUNCA se deve utilizar a primeira pessoa do singular, já devia saber isto.

Pois…assim é mais fácil diluir no nós as ausências e erros do eu.
Direi eu.

Eu e o os meus nós.
Terei que tratar disto.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Os merdia

Televisão

O que antes, num tempo ainda não muito distante, era companhia presente - que desperdício de tempo - é hoje uma ausência presente.
Ausente ,porque deliberadamente não quero a sua presença.
Presente, porque fisicamente, ela  aqui está. Disponível, pronta a servir. Preparada para fazer eco dos sons sufocantes que dominam os nossos dias.
Dizem-me que hoje ela tem mais funções. Grava, avança e recua no tempo, vende, compra. Que é divertida, informativa, lúdica, formativa.
Uma merda é o que ela é.
Por mim, vai continuar muda.

Blogues

Vou indo por aí. Seletivamente. Muito seletivamente.
O tempo é pouco e precioso. Quando embarco, é quase sempre porque conheço o barco (ou penso conhecer).
Mas também parto por vezes à descoberta.
Sem rumo e sem referências.
E assim me sujeito.
De tal forma, que por vezes até me embrenho no abominável mundo dos comentários e dou por mim a conhecer portentosos escrevinhadores anónimos dotados de coragens inenarráveis.
Nessas incursões, obtive gratas surpresas -para referir de memória só algumas -lendo o que alblogam  A Planície, O Cheiro da Ilha, o Platero - e só este - no Mais Évora.
Incursionei-me também pelo A Cinco Tons - fiz vária abordagens numa perspectiva de fidelização de leitura - mas não fui nem sou capaz de conviver com a pesporrência do seu editor todo em chefe - por muita humildade democrática (juro que ouvi isto recentemente…. Mas a quem?) que pregue o dito.

Portal

Há anos fiel do Sapo.
Tendo asapado  quase tudo, não asapo a crescente institucionalização e a crescente equiparação a outras vozes do mesmo dono.
Barda para a fidelização.

Rádio

Aquela coisa com que desperto (ACORDO). E que desligo de imediato.

Jornal

Resta-me a dica. Aparece na caixa do correio. É de borla. E tem palavras cruzadas.

Começo a perceber melhor - eles estavam anos luz à minha frente no processo de tomada de consciência cívica - os leitores da bola e do record, do crime, da maria.

Ainda não cheguei a esse patamar…. Mas prometo fazer uma aproximação,  começando já pela leitura cuidada do borda de água.

Numa destas coisas impressas, li há dias, o que me era dado a ler de um amontoado de patetices, que um politicozinho da terra, afirmava que a cidade cheirava mal quando então era (inadmissivelmente  borra ele) gerida pelos comunistas. Claro que sim. Esta cidade e qualquer outro sítio, por mais arejado que fosse, onde ele se encontrasse.

São estes. E outros…