domingo, 27 de novembro de 2016

Não, não morreram

Nem o comandante, nem o sonho.

Morreu o homem.

A Revolução Cubana preencheu o meu imaginario desde o tempo que me foi permitido imaginar.
E esse tempo começou quando comecei com muitos outros a trilhar os caminhos que a liberdade nos apontou.
Começou quando começou a liberdade.
Quando ficámos a saber que podiamos pensar o futuro a cores
Começou com a Reforma Agraria, com o tomar partido, com os movimentos de alfabetização de adultos, com as jornadas de trabalho voluntário.
E continuou mesmo quando a leste implodiram parte dele.
Quando aqui, com bastoes e mortes, destruiam pedra a pedra cada uma das coisas bonitas que haviamos construido.
E continua, nestes tempos de novo negros.
E vislumbra-se nos pequenos vislumbres de esperança.
Em vida, muitos quiseram matar Fidel.
Agora que morreu, querem matar-lhe o sonho.
Nao creio que o consigam.
Eu partilho-o
E sei que muitos outros, muitos, muitos mil, tambem partilham o sonho de Fidel.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Não fosse tanta a dor dos que sofrem...

E apeteceria ironizar.

Na guerra que quase todos foram fazer na Síria não há bons e maus.
Só maus.

Ou não será assim?!
Pelos vistos não é e há mesmo, bons e maus.

Maus, são os Sírios e os que os apoiam.
Bons, são todos os outros com exceção dos primeiros.

Se as «notícias» falam do objetivo de reconquistar Mossul (Iraque) tudo decorre em perfeita harmonia, quase tipo guerra de Raul Solnado, onde não há vítimas civis, hospitais bombardeados, crianças a sair de destroços. As baixas são sempre altas patentes do exército islâmico.

Se, pelo contrário, o «teatro das operações» - o que eles gostam desta definição- se centra em Alepo, então é um rol de desgraças. Ninguém disse até hoje quantos hospitais terão existido nesta cidade, mas seriam muitos certamente já que quase diariamente a aviação russa e síria destroem um. Dos bombardeamentos destes, resultam sempre e exclusivamente vítimas civis e em grande número crianças e velhos.

Infelizmente, o que contamos diariamente são mortes, muitas mortes.
E porquê e para quê?
Imensos e imorais interesses estão por detrás desta mortandade.
Geopolítica, dirão os analistas.
Canalhices, digo eu.

Nunca fui à Síria (e lamento não ter tido essa oportunidade) assim como não fui e também lamento, ao Iraque, à Líbia, ao Líbano, à Palestina, mas sei pelo que li e pelo que me deram a ver, que ali, nas redondezas e berço da nossa Antiguidade, existiam cidades bonitas, marcas civilizacionais deslumbrantes e povos como os povos de que fazemos parte.

Há uns tempos, quando dos seus diretos de Paris, era para mim impensável vir a dizer qualquer palavra elogiosa ao jornalista Paulo Dentinho (por muito alinhamento com o «sistema») mas, depois da entrevista que tantos viram, digo-lhe obrigado de forma sentida, por ele ter conseguido mostrar um pouco dessa terra, por instantes, por breves instantes, sem estar manchada de sangue, bombardeada, destruída e por ter contribuído para perceber (pela isenção que demonstrou) uma parte dos porquês e dos para quê.

sábado, 19 de novembro de 2016

Sonho de uma noite de outono

Sonhei que, numa bela manhã deste sereno Outono, nem um cliente, nem um sequer, entrava em qualquer uma das lojas deste grupo que se prepara para mudar a sede social para a Holanda.
E durante todo o dia assim continuou a ser.
Nada.
Nada houve nesse dia para registar a não ser o registo da magnífica tomada de posição coletiva dos consumidores portugueses.
Louco. Sonho louco. Apressam-se a dizer.
Retribuo dizendo: loucos, comportam-se como loucos ou pior…
Ao burro, para comer erva seca, puseram óculos verdes para ele a ver verde.
A nós, nem precisam de nos pôr óculos, mas se tal se tornar necessário, eles farão uma «promoção» e todos compraremos os óculos.
Mas são todos iguais, dizem-me alguns com um ratinho na consciência. Pois deixariam de ser, pelo menos este deixaria de ser e bastava o meu sonho concretizar-se, por um dia, só um dia.
Querem adivinhar se todos continuariam a ser iguais depois desse dia?
Experimentem.
Por um dia só que seja.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O comboio passante


Está viva a discussão sobre os malefícios da passagem do comboio no traçado proposto pela Infraestruturas de Portugal, no troço entre Évora (estação) e Évora Norte.

Este troço faz parte do Corredor Internacional Sul que visa ligar o Porto de Sines a Espanha e está integrado no Plano de Investimentos em Infraestruturas Ferrovia 2020.

O custo total estimado é de 626,1 milhões de euros e projeta-se a conclusão (traçado Évora /Fronteira – Caia) para o 4º trimestre de 2019.

Acreditando, em 2020, os eborenses poderão ir de comboio a Badajoz comprar caramelos.
Poderão mesmo?

Poucas são as vozes que anunciam a vertente de passageiros. Só se fala de carga e de carga passante entre Sines e Espanha.

Pois a ser assim, os benefícios para a cidade e para a região poderão cingir-se a…ver passar os comboios.

15 por dia, segundo declarações de responsáveis da IP,  com 750 metros de comprimento (ena) e carregadinhos e rápidos.  O plano já citado, refere que serão 51 comboios (uma pequena diferença).

Se não tem passageiros nem plataforma de carga para servir Évora e a região pois que vá passar longe.

Claro que o interesse não será a compra de caramelos (evidente ironia) mas sim a importância estratégica que o comboio poderá ter para a cidade e para a região.

Olhando só na perspetiva turística, ressalto duas possibilidades:

As praias do litoral alentejano passariam a ser as praias de fim de semana para muitos milhares de espanhóis que poderiam usar o comboio em detrimento do automóvel e acrescentar assim rapidez, comodidade e segurança na deslocação.

Muitos alentejanos, principalmente da raia, fariam o mesmo.

Cidades Património da Humanidade (Évora; Elvas; Mérida; Cáceres) passariam a estar ligadas por comboio, tornar-se-iam mais próximas e disso resultariam dinâmicas acrescidas de procura.

A existirem benefícios, sou de opinião que há lugar para a discussão e para a aceitação de medidas que possam ser de mitigação para os problemas que um projeto deste tipo acarreta.
Se não existirem e sabendo que eles existem para o país, pois que o «país» não sacrifique Évora e estude e aplique um traçado que se afaste da cidade e afaste esta dos inconvenientes de comboios passantes.


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O que Marx não disse...

 

Ou talvez tenha dito

 

Ele disse que o capitalismo acabaria por implodir minado pelas suas contradições internas.

O que são então as explosões que estão a ocorrer pelo mundo fora?

Para os analistas de alcofa, devotos de uma sebenta rançosa, são meros percalços de caminho, que o «sistema» depressa corrigirá.

Corrigirá de facto?

Algum dia quererão eles (os ditos) procurar saber o que se passa realmente?

Não creio e não anotei a mais pequena tendência para tal.

A pergunta mais honesta que se ouviu (a propósito da Trumpada) foi: «Como foi possível?»

Mas creio que subjacente, não estava a dúvida, mas sim a estupefação.

Pois fiquem sabendo que as explosões que se ouvem podem não ser mais que o culminar do processo de implosão da engrenagem.

Vocês, os analistas, ainda vão continuar com os vossos doutos saberes.

Tão doutos que nem se apercebem que quase só vocês se convencem da sua «bondade».

Mas

Marx parece ter esquecido de alertar para a gravidade dos danos colaterais.

E não o tendo feito, os desempregados, os sem direitos, as mulheres, os negros e todo um vasto leque de «desesperados» que votando Trump,  contribuíram para mais uma deflagração interna, irão também ser vitimas – senão as primeiras – dos nefastos efeitos da explosão.

Mas será que não disse, que não alertou mesmo?

Uma releitura (sim, porque toda a gente leu Marx – se não, não citavam, não é verdade?) de 0 “18 de Brumário”, talvez se aconselhe.