Estardalhaço
Há os que gostam de estardalhaços por ignorância e os que
gostam deles para fazer crescer a ignorância.
Uns e outros constituem-se como factos preocupantes.
O resultado do estardalhaço é sempre um estardalhaço maior.
Uma maior ignorância.
Em torno da pandemia têm sido muitos os estardalhaços.
Aqui no burgo, porque a Câmara não desinfectava as ruas, os
agitadores de estardalhaços, «os intelectuais de rede» utilizando todo o
requinte do seu linguarejar heróico (e quanto mais anónimo mais heróico) bradavam
para a incúria, a atitude criminosa, a vergonhosa atitude dos edis.
De nada valeu a edilidade argumentar que tal procedimento
não estava a ser recomendado pelas autoridades de saúde.
O estardalhaço é a negação do esclarecimento.
Sabemos agora, afirmado pela DGS – Direcção Geral de Saúde –
que para além de não haver nenhuma utilidade na pulverização das ruas, podem
resultar desta, efeitos contrários ao proclamado.
Outro estardalhaço e este de dimensões bem maiores, tem a
ver com a Festa do Avante. Seguindo o democrático exemplo que nos vem da
Hungria[1]
em que o ditador governa por decreto – em nome, diz ele, da saúde pública – queriam
alguns dos heróicos intelectuais de rede
que a Festa do Avante fosse desde já proibida por decreto.
Um desses, que aqui já designei de croniqueiro, em
croniquice recente, vem apelar ao fim do medo, que não podemos tolher-nos, pois
os números não são assim tão «negativos».
Não podemos não. E muito menos temer uma Festa que é uma
Festa de Liberdade – Uma Terra de sonhos nas palavras do poeta.
O que os organizadores da Festa sempre disseram e repetem é
que “se as condições o permitirem, eles realizarão a Festa”.
Creio que a generalidade dos portugueses desejará que a
Festa se realize, pois isso significará que as condições o permitem, ou seja,
que em setembro não estaremos confrontados com números da pandemia que nos
deixem preocupados.
Disse o Sr. Presidente – o afável – que o vírus não ganha
caracterísiticas diferentes por força da diferença dos organizadores de
determinados eventos.
Estou em crer que está certo. Alguns responsáveis é que
fazem comentários diferentes por força da diferença dos promotores.
Hoje mesmo (e relacionando-se o tema com outros
estardalhaços), a OMS emite comunicado em que afirma não conseguir provar que o
vírus se propague através das superfícies e reafirma que a forma de propagação
é o contacto íntimo e as gotículas expelidas.
A investigação, que conduz ao conhecimento científico, é um processo dinâmico, caracterizado por uma
constante preocupação em aproximar-se do
real, em «conhecer a verdade».
E sempre que atinge determinado estádio, fez uma aproximação,
não uma conclusão em definitivo.
Esperemos que nos tragam, os cientistas e investigadores,
cada vez mais aproximações ao real.
Por aqui vamos-nos confrontado com os que parecem gostar do
contrário ou seja, do estardalhaço.