segunda-feira, 18 de maio de 2020


Estardalhaço

Há os que gostam de estardalhaços por ignorância e os que gostam deles para fazer crescer a ignorância.

Uns e outros constituem-se como factos preocupantes.

O resultado do estardalhaço é sempre um estardalhaço maior.
Uma maior ignorância.

Em torno da pandemia têm sido muitos os estardalhaços.
Aqui no burgo, porque a Câmara não desinfectava as ruas, os agitadores de estardalhaços, «os intelectuais de rede» utilizando todo o requinte do seu linguarejar heróico (e quanto mais anónimo mais heróico) bradavam para a incúria, a atitude criminosa, a vergonhosa atitude dos edis.
De nada valeu a edilidade argumentar que tal procedimento não estava a ser recomendado pelas autoridades de saúde.
O estardalhaço é a negação do esclarecimento.
Sabemos agora, afirmado pela DGS – Direcção Geral de Saúde – que para além de não haver nenhuma utilidade na pulverização das ruas, podem resultar desta, efeitos contrários ao proclamado.
Outro estardalhaço e este de dimensões bem maiores, tem a ver com a Festa do Avante. Seguindo o democrático exemplo que nos vem da Hungria[1] em que o ditador governa por decreto – em nome, diz ele, da saúde pública – queriam alguns  dos heróicos intelectuais de rede que a Festa do Avante fosse desde já proibida por decreto.
Um desses, que aqui já designei de croniqueiro, em croniquice recente, vem apelar ao fim do medo, que não podemos tolher-nos, pois os números não são assim tão «negativos».
Não podemos não. E muito menos temer uma Festa que é uma Festa de Liberdade – Uma Terra de sonhos nas palavras do poeta.
O que os organizadores da Festa sempre disseram e repetem é que “se as condições o permitirem, eles realizarão a Festa”.
Creio que a generalidade dos portugueses desejará que a Festa se realize, pois isso significará que as condições o permitem, ou seja, que em setembro não estaremos confrontados com números da pandemia que nos deixem preocupados.
Disse o Sr. Presidente – o afável – que o vírus não ganha caracterísiticas diferentes por força da diferença dos organizadores de determinados eventos.
Estou em crer que está certo. Alguns responsáveis é que fazem comentários diferentes por força da diferença dos promotores.
Hoje mesmo (e relacionando-se o tema com outros estardalhaços), a OMS emite comunicado em que afirma não conseguir provar que o vírus se propague através das superfícies e reafirma que a forma de propagação é o contacto íntimo e as gotículas expelidas.

A investigação, que conduz ao conhecimento científico,  é um processo dinâmico, caracterizado por uma constante preocupação  em aproximar-se do real, em «conhecer a verdade».

E sempre que atinge determinado estádio, fez uma aproximação, não uma conclusão em definitivo.
Esperemos que nos tragam, os cientistas e investigadores, cada vez mais aproximações ao real.

Por aqui vamos-nos confrontado com os que parecem gostar do contrário ou seja, do estardalhaço.



[1] Neste país da União Europeia já foram presos dezenas de cidadãos por publicações em Facebook

quinta-feira, 14 de maio de 2020


«Caixas»

Está identificado o caminho para uma sociedade sem liberdades.

Os ensinamentos recentes trazem-no à evidência.

Partindo dos factos brutais e dramáticos com que a pandemia nos faz confrontar todos os dias, podem - os que a ela aspiram (a sociedade subjugada) - no futuro, partindo de situação real ou inventada, condicionar a democracia e aplicar-lhe, no momento oportuno, o golpe final.

E muitos de nós vamos olhando para o lado e outros dizem-me para não exagerar.

Mas estaremos atentos?

Entre máscaras e confinamentos, não vislumbrámos nada?

E os jornalistas, ou melhor, os que escrevem nos jornais, que gostam tanto de «caixas», não se apercebem que estão encaixotados?

Serão capazes de imaginar, por um breve momento que seja, como seria a sua profissão e a sua vida, numa sociedade sem liberdades?

Uns, poucos, seriam arautos do regime e protegidos deste, enquanto lhe cantassem loas.

Os outros, a grande maioria, aqueles que não tenho dúvidas, são pessoas que gostam tanto da liberdade quanto eu, teriam certamente uma vida muito negra.

Como todos nós.

Apre.

quarta-feira, 13 de maio de 2020


O croniqueiro 

Creio que todos nós acreditamos que as preocupações com a Festa do Avante são unicamente assentes em razões de ordem em protecção à saúde e não em outras.

Sim e também acreditamos em duendes, no pai natal, nas qualidades democráticas de bolsonaro.

Um personagem com lugar croniqueiro em jornal nacional, ouvindo o seu eco, falava de clamor contra as comemorações do 1º de Maio e do efeito que este iria causar ao PCP e à realização da Festa do Avante e antecipou que esta iria ser proibida.

Apressadinho, esqueceu-se de muitas variáveis...

A primeira das quais prende-se com o facto – o simples facto – que a atividade dos partidos – enquadrada Constituição -  não está condicionada a decretos do tipo agora pode, agora não pode.

Não existirão muitas dúvidas, que a vontade subjacente ao croniqueiro, era que nunca pudesse.
Agora, por causa da pandemia, depois por causa da gripe, depois por causa de, sabe-se lá...qualquer coisa.

E é interessante verificar que a preocupação croniqueira, começou com as Comemorações do 25 de Abril, continuou com o 1º de Maio e centra-se agora na Festa do Avante.

Julga-se o croniqueiro, o juiz dos comportamentos. Ele sim age responsavelmente. Todos os outros são irresponsáveis.
Pois cuide de ser responsável que os outros, os que comemoram Abril, o 1º de Maio e que irão à Festa do Avante sabem e de há muito, cuidar de si e dos outros.

E é  por o saberem que comemoram Abril (o que lhe faz urticaria), comemoram Maio (o que lhe causa dor) e que se unem em Festa na Festa do Avante (o que lhe repugna).

Pois que trate da urticaria, da dor e da repulsa.

Que nós participaremos responsavelmente no processo de salvaguarda da saúde e do bem estar dos portugueses ao mesmo tempo que – também por isso – participamos no processo de defesa e salvaguarda do Portugal de Abril.

quarta-feira, 6 de maio de 2020


Cercas

Cerquem tudo. Cerquem a ideologia. Cerquem a esperança. Cerquem a fé.

Cerquem tudo.

E teremos um mundo cercado. 

Como nas cidades na idade média e em outras idades parvas, quando se recolhiam para dentro de muros, os que dentro dos muros tinham direito a ser recolhidos.
Fora de muros, ficavam os outros.
Cerquem Maio, o primeiro e cerquem a esperança.
Cerquem Maio, o de Fátima e cerquem a fé.
E vejam o que vos resta, seus analistas ajuizados.
E questionem, se puderem e forem capazes, a sensatez dos vossos juízos.

terça-feira, 5 de maio de 2020


Proibir

Dou por mim a interrogar-me sobre as causas para a apetência natural, que nestes dias tem tido expressões diversas, pelo uso da palavra e do ato de proibir.
No âmbito da Administração Pública e das forças policiais são mais que evidentes essas expressões de apetência e até um certo gostinho pelo uso.
Do confinamento como dever cívico ao confinamento obrigatório está a proibição que alguns querem fazer à livre circulação.
Se a coisa pega, o voto como dever cívico passa a obrigatório (assunto que até é de interessante discussão) num abrir e fechar de olhos.
Mas não se cinge às forças policiais e à administração pública. Veja-se o entusiasmo e até a exaltação de certos pivôs com que pronunciam o verbo e fazem questão de generalizar, para depois, quase em surdina, referirem a excepções.
A partir de amanhã o uso da máscara passa a ser obrigatório – um exemplo – quase gritado e em tom de meter medo ao susto, para depois referirem, na surdina a que aludi, ...«nos transportes públicos, em espaços públicos e fechados».
Nas forças policiais podemos aceitar que hajam razões assentes em defeitos de formação, no dever de obediência sem questionar e até mesmo numa determinada herança genética.
Agora o que não se compreende é que essa apetência venha de jornalistas, que precisam da liberdade como o motorista precisa de ter carta de condução.
Na resposta à pandemia, começámos bem. Interiorizámos comportamentos e agimos responsavelmente, mas estamos a descambar e a praticar e a permitir que se pratiquem atos inqualificáveis de violação da liberdade de cada um de nós.
Que nunca, mas mesmo nunca, estas apetências e práticas me empurrem para atitudes que em alguma forma ou conteúdo se possam assemelhar a atitudes que renego.
A liberdade é um valor supremo.
Alguns e algumas deram a vida por ela.