quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Alentejo frondoso
Há dias, em extenso trabalho jornalístico, ficámos a saber que o futuro da agricultura passa pela sua prática em altura, ou seja sobre construções em altura.
Nada contra.
Desde que também nada haja contra as outras posições em que esta pode ser realizada.
E ao olhar para a imensidão dos campos sem nada produzirem (para além da flora natural) pergunto se neles não é possível a prática agrícola?
Aqui, no Alentejo, e sei por experiência própria ou transmitida que de igual forma em muitas outras partes do país e do mundo, o campo é o campo do latifúndio. Dos grandes domínios senhoriais, murados e santificados para a caça. (para alguns, poucos)
O latifúndio foi sempre e volta a ser no presente, o escalracho desta terra. A erva daninha que a afecta e a impede de assumir a sua função social.
Um escriba desta cidade, deslumbrado com a sua imaginação e desejo condicionado por interesses que tais, esborratava que o Alentejo está frondoso – graças a Alqueva – e ávido de desenvolvimento – basta que gostem dele, arrematava.
Todos conhecemos a estória do burro e dos óculos de sol de lentes verdes para que pudesse comer como prado frondoso a palha seca que lhe estendiam…
De Alqueva – construída com dinheiros públicos – ainda aguardamos que regue as terras e as ponha a produzir, porque o que vemos até agora como frondoso são os mega projectos turísticos que se iniciam ou insinuam nas suas margens.
Avistemos o grande lago, por exemplo do alto de Monsaraz, e sem óculos de sol de lentes verdes o que avistamos?
O dourado dos campos torrados por este estio impiedoso e a mancha enorme azul esverdeado das águas quase paradas.
Os projectos turísticos, assim como o aproveitamento energético, a pesca e outras valências, não são de importância desprezável.
Devem no entanto ser complementadas com a valência agrícola e a irrigação das terras numa perspectiva de produção de bens agrícolas que possa contribuir para a redução da necessidade da sua aquisição externa.
Alqueva é grande. Aprisionou um grande rio.
Que não nos aprisione as vistas.
Eu gosto do Alentejo.
Mas não o Alentejo aprisionado e subjugado dos marialvas e dos grandes senhores feudais.
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