sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Cidades e Campo, Campo e Cidade
Agora que as matas ardem e com elas arde o sustento de alguns (muitos), que os campos não dão trigo nem cevada, em que não há legumes nem frutas, em que as escolas, centros de saúde, postos da gnr e outros serviços, encerram portas, agora… talvez fosse oportuno.
Talvez fosse oportuno, falar do campo.
Do campo que odiámos, abandonámos e entregámos à sua desgraçada sorte.
Antes, viemos para as cidades à procura de trabalho, casa, lazer, ensino e liberdade. O campo não nos facultava esses atributos.
Era um meio austero e duro. «O trabalho do campo é pra homens de barba rija» sempre me impuseram.
Ele tinha que ser penoso, pois só assim era honroso. Podia um homem apanhar azeitona de joelhos? Nem pensar! Que vergonha! - Mesmo se apanhasse mais que curvado e cravejado de dores lombares.
E hoje, as barbas dos homens continuam rijas mas os homens definham arrastados pelo passar dos muitos anos.
E as mulheres curvam-se sob o peso dos anos, das dores e dos resquícios do trabalho duro dobrado.
Só abrem rasgos de esperança no sulcado dos rostos quando os filhos e os netos, numa fugaz passagem, os visitam num final de tarde de um fim de semana.
E os homens, com responsabilidades, parece que tudo fazem para acrescentar ainda mais abandono.
É tempo de repensar estratégias.
De encontrar formas de intercalar e harmonizar campo e cidade.
De encontrar formas que «honrem» o trabalho nos campos e a vida nas aldeias.
A ciência e a técnica facultam-nos hoje meios que podem ser postos ao serviço desta articulação e da harmonização da forma de vida nos dois meios: citadino e rural.
Não precisamos de proclamar um regresso ao campo.
Mas julgo que precisamos de fazer as pazes com o campo.
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