domingo, 20 de junho de 2010

Uma espécie de fábula



Num lugar muito recôndito, numa enorme clareira aberta no coração de uma densa selva viviam dois homens.
Um, mau como as cobras - coitadas destas que nem elas lhe escapavam -e o outro, um homem bom.
O homem mau julgava-se o senhor da clareira. Coelhos, cordeiros e todo o tipo de alimento que por ali passasse, garantidamente que não escapava ao seu cajado ou flecha. Conta-se mesmo que chegou a matar um cordeiro que depois abandonou sem ser capaz de comer pois estava farto.
O homem bom, ia subsistindo, comendo bagas, cogumelos, por vezes uns ovos.
Como será fácil de supor, o homem mau não gostava nada do homem bom e este, cansado de tanta diatribe e mázura, resolveu ir viver para outra clareira.
Aqui, chegavam noticias trazidas por pássaros falantes, amigos do homem bom, de que o homem mau, agora em novas e ainda mais importantes funções, era cada vez mais mau.
Havia já em marcha uma revolta na selva.
Os pássaros falantes avisaram mesmo o homem bom de que alguma coisa má ia acontecer ao homem mau.
O homem bom, porque era bom, resolveu ir à clareira de onde tinha saído para ver se convencia o homem mau a mudar de atitudes e avisá-lo de que se não o fizesse, corria sérios riscos.
Ao chegar à clareira onde agora só já vivi o homem mau, julgou que os seus passos tinham sido em vão, a revolta estava em marcha.
Encostado contra o tronco de uma enorme arvore, o homem mau comprimia-se, lívido e acagaçado, enquanto avançava sobre si toda a espécie de animais da selva.
Mesmo assim, perante um cenário tão real e ameaçador, porque por ser bom é também corajoso, o homem bom aproximou-se, abriu os braços e gritou e num ápice todos os animais fugiram.
Intrigou-se, pois sabia da ferocidade de muitos daqueles animais e perguntou aos pássaros falantes se eles lhe sabiam explicar a razão para tal comportamento e estes também intrigados perguntaram-lhe:
Não sabes???
Não.
Nunca te apercebeste do teu tamanho???
Não. Nunca liguei, trato todos por igual.
Pois fica sabendo que os animais fugiram por força do teu tamanho. Os homens bons são enormes e os maus, pequeninos, muito pequeninos.
Disseram-lhe também os pássaros falantes, dias depois, que o homem mau tinha partido para uma ilha, ao largo da costa e que de lá só chegavam os seus murmúrios.
Contam também que no caminho feito pelo homem mau, não passa agora nenhum animal da selva, tal o fedor que lá ficou impregnado.

Coisas leves de domingo ou ... nem tanto.

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