quinta-feira, 29 de agosto de 2013

I have a dream

 

Sim. Tal como muitos outros. Eu tenho um sonho

E se partilho do sonho de Luther King e me revejo na condição de que todos os homens são iguais, também partilho de tudo o que a essa condição está ligado.
Não me preocupa se hei-de tratar o meu amigo, por negro ou por preto. E se ele me deve tratar por branco ou mestiço.
Trato-o por Pedro se esse for o seu nome e ele que me trata por Afonso, se por acaso for esse o meu nome.
Não  acalento ideias tolas de  que todos os maus estão de um lado e por conseguinte os bons estão no lado oposto e muito menos quando os lados são definidos pelas cores da pele.
Se por acaso ainda me restassem dúvidas, punha os olhos em Obama e logo as dissipava.
No sonho que partilho com o sonho um dia tido por King predomina a ideia de paz.
Da convivência harmoniosa entre todos os homens do mundo.
King condenou a guerra do Vietname (e talvez por isso, fundamentalmente por isso, tenha pago com a vida o atrevimento).
Se hoje estivesse vivo, aceitaria que a seu lado, na mesma tribuna, um que se afirma dos seus, enaltecesse enfaticamente o seu “I have a dream” ao mesmo tempo que se prepara para mandar sobre o povo sírio uma saraivada de mísseis?.  

Há sonhos e sonhos

E, muitos, hipócritas.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Exportações

 

Estamos à beira de mais exportações…de democracia.
Sob a forma de mísseis.
A exportação por via terrestre não resulta e por isso…
Lá vai bomba.
Assim foi no Iraque. Afeganistão. Libia.
Assim se preparam para que seja na Síria.
Operações relâmpago, dizem.
E sobre os sírios, o ribombar das bombas.
E a democracia veste as cores do luto.
Entoa os cânticos da morte.
E provoca o choro dos vivos.
E dizem os mandantes com um descaramento tão grande quanto a sua canalhice:
É para proteger a população civil indefesa…
E muitos mil vão juntar-se aos muitos mil já mortos.
E eis a Turquia a juntar-se à Grã Bretanha e aos Estados Unidos a exportar aquilo de que não faz uso em casa.
E a Arábia Saudita, um exemplo acabado de genuína democracia interna, também exporta democracia sob a forma de morte..
E Israel também exporta a ganância de instalar mais uns colonatos.
E o traidor das esperanças francesas junta-se ao grupo. Pobres homens que votando acreditaram que estavam mudando…
E nós…
Bebericamos uma cervejita fresquinha e ala.
E se um dia sob os nossos céus cair uma saraivada de democracia desta?

domingo, 25 de agosto de 2013

Assim pergunta Zaratustra

 

E afirmei eu conhecer  Zaratustra.
Se conhecesse…se realmente o conhecesse, não duvidaria que, tendo ele se aproximado daqui e sendo ele um perguntador crónico, pois voltaria à carga.
E eis que volta.
E pergunta, perturbando.
Não me admira mesmo nada que já tenha passado pelo que passou.
Dizem-me, que perguntar não ofende.
Ai não que não ofende.
Aturem Zaratustra e vereis.
Se ele continuar por aqui. Aturem-no. Ou então… (mas para isso ele também está preparado).
Cansado de ver quase tudo materializado em números, perguntou-me há dias porque carga de águas, tão preocupados que se afirmam com o controlo dos custos, porque não legislam no sentido de acabar com os chamados gabinetes de apoio pessoal de presidentes de câmara e vereadores.
Quantos são os funcionários dos partidos  (de todos os partidos) pagos com o dinheiro de todos?
E Zaratustra não é anti partidos (porque não é fascista) mas interroga-se (o seu crónico defeito) se o trabalho que agora é feito por secretários e afins, não poderia ser feito, por correligionários dos presidentes e dos vereadores pertencentes  aos quadros das autarquias e auferindo os vencimentos que já auferem?

Assim pergunta.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Estrangeiro de mim

 


Assim me sinto.


Procuro perceber-me e a própria linguagem se me insinua estranha, como se eu nunca tivesse conhecido os seus códigos, como se nunca tivesse havido comunicação.
Compreendo-me da mesma forma que compreendo o estranho com que me cruzo.
Ou seja. Nada conheço. Nada me conheço.
Foi Marx que disse que o homem é ele e as suas circunstâncias. Assim julgo ter dito.
E a mim parece-me que conheço melhor as minhas circunstâncias do que me conheço a mim.
É estranho este ser.
E sempre impelido para escrever sem nada saber desta arte.
Leio os outros. Oiço os outros e julgo até saber muito deles.
Mas nada sei sobre mim.

Assim me falou, um Zaratustra meu conhecido.
Contemplador de astros e sonhador.
O que terá ele mais para me dizer?
Dirá?

Centro Histórico de Évora

Nota de enquadramento: Quando se aproximam as eleições autárquicas e com elas temos a oportunidade de escolher as pessoas que queremos à frente dos governos das nossas cidades e quando, teimosamente acredito, que essa escolha por parte de cada um de nós é efetuada com base numa criteriosa análise aos programas com que essas pessoas se apresentam perante nós, eleitores, julgo importante publicar o artigo que se segue e que um amigo me fez chegar.

Trata-se de um contributo para analisar os graves problemas com que se defronta o CH de Évora, classificado pela UNESCO Património da Humanidade.

Assim o exemplo tenha sequência.

Porque senão a campanha eleitoral será uma enorme chalaça (ver, Diário do Sul , 22.08.2013 – arrazoado de um tal Chalaça – uma chalaça pegada).

 

Uma abordagem em torno da dinâmica populacional

1991 - 2011

 

Confesso que, nos momentos em que tudo parece ser analisado pela lógica dos números e de rácios construídos, cheguei a considerar contraproducente abordar a temática populacional.

De facto, eliminam-se feriados e atenta-se contra a memória histórica em nome de um rácio que se estabelece entre o PIB e cada um dos dias do ano, encerram-se maternidades e forçam-se partos à beira da estrada, por vezes em país alheio, por força de uma relação que se estabelece com base no número de parturientes por ano, encerram-se serviços públicos, carreiras de transportes públicos, estações de correio e postos das forças de segurança, sempre com base nos mesmos argumentos.

Por isso, repito, o meu constrangimento em abordar a dinâmica populacional do Centro Histórico de Évora nos últimos anos. É que, face aos números temi que se corre-se o risco de alguém propor como solução, que o mesmo seja fechado.

Imaginemos o letreiro, provavelmente redigido em Português, Francês e Inglês: «Por motivos de uma diminuição acentuada de população e consequente diminuição de receitas, vemos-nos forçados a fechar o Centro Histórico. Para qualquer assunto, toque a campainha s.f.f.»

Mas, como considero que, apesar desta perspectiva, o desconhecimento dos factos ou mais apropriadamente o alheamento sobre os mesmos,não é de certo estratégia e são mesmo razões, entre outras, para a ausência de medidas de correção da tendência e que, sem elas, o cenário irónico pode muito bem ser o cenário real dentro de pouco tempo, trago para reflexão, alguns números:

População do Centro Histórico de Évora (1991 - 2011)

 

Freguesia

1991

2001

2011

Saldo entre 1991 e 2011

St. Antão

2068

1473

1303

765

S. Mamede

2920

2170

1725

1195

Sé e S. Pedro (1)

2894

2025

1691

1203

Total

7842

5668

4719

3 163 (40,3%)

Fonte: Para a generalidade dos dados : INE - Censos 91;01 e 11

(1) Esta freguesia foi criada em Julho de 2007 e resulta da junção da anterior freguesia de S. Pedro com a parte remanescente da Freguesia da Sé, situada dentro das «muralhas» (Centro Histórico). A freguesia da Sé foi extinta e deu lugar às Freguesias urbanas «fora das muralhas»: Bacelo, Horta das Figueiras, Srª da Saúde e Malagueira.

(2) Soma do n.º de habitantes da Freguesia de S. Pedro com o resultado da aplicação de um cálculo sobre o número de habitantes da parte remanescente da Freguesia da Sé (Fonte: Anexo PDM - CME).

A perda de 3163 habitantes em vinte anos, o que representa 40,3% face à população de 1991 demonstra friamente, uma preocupante realidade. O CH esvazia-se de gentes e consequentemente de funções.

Basta percorrermos as suas ruas, becos, ruelas e praças para constatarmos «in loco» os efeitos destes «números»: casas degradadas, comércios encerrados, solidão.

E só o facto de algumas funções ainda se manterem no CH (como por exemplos, a hospitalar, a cultural1 a financeira2) a que se juntam as consequências da existência de uma Universidade (cujo campus é o próprio CH) vai contribuindo para «mascarar» o problema.

Mas os  efeitos resultantes da ainda concentração dessas funções no CH são transitórios e tem pouca expressão na dinâmica populacional.

O CH de Évora funciona com horário de escritório das nove às sete e como destino mais tardio para noctívagos em busca dos bares.

O arrendamento temporário, no CH, de casas e quartos por parte dos estudantes deslocados, sofre os efeitos da diminuição do número de alunos (consequência da grave crise económica do país e de uma política de ensino cada vez mais restritiva aos que têm pouco) e por outro lado, também de uma oferta crescente «fora das muralhas» de maior qualidade.

Os bares e os hábitos associados ao seu uso, se por um lado trazem população flutuante à noite na cidade, são por outro, factor de perturbação com a população residente envelhecida e com hábitos de vida diferentes a queixar-se das constantes violações ao seu direito ao descanso.

Não estão devidamente identificadas as causas determinantes para este êxodo populacional (verifique-se que ocorre em sentido diverso à dinâmica geral da cidade e até mesmo do total concelhio3) mas não é difícil supor como sendo prováveis: as de natureza administrativa e patrimonial; a área reduzida da maior parte das habitações; os custos de recuperação; as dificuldades de realização de obra; os acessos, as normas apertadas no uso de materiais e de construção; as problemáticas associadas ao carro (tornadas culturalmente centrais); a inexistência de profissionais habilitados à recuperação, a difusão e assunção de determinados «valores culturais», serão certamente, algumas delas.

A par da perda de efetivos populacionais, acrescem como problemas, os que derivam da estrutura etária nomeadamente os indicadores de um acentuado envelhecimento.

Estrutura demográfica da população do CH


1991 T 2001 T 2011 T

00-14 15-24 25-64 >65 00-14 15-24 25-64 >65 00-14 15-24 25-64 >65
Sé S. Pedro 373 317 1392 772 2854 164 210 922 729 2025 142 160 844 545 1691
% 13,07 11,11 48,77 27,05
8,1 10,37 45,53 36
8,4 9,46 49,91 32,23
















S.Mamede 420 360 1405 735 2920 205 241 990 734 2170 138 165 851 570 1724
% 14,38 12,33 48,12 25,17
9,45 11,11 45,62 33,82
8 9,57 49,36 33,06
















Sto. Antão 227 238 1039 564 2068 118 173 654 528 1473 124 107 672 420 1323
% 10,98 11,51 50,24 27,27
8,01 11,74 44,4 35,85
9,37 8,09 50,79 31,75
















Total CH 1020 915 3836 2071 7842 487 624 2566 1991 5668 404 432 2367 1535 4738

13,01 11,67 48,92 26,41
8,59 11,01 45,27 35,13
8,53 9,12 49,96 32,4

 

No total do CH a população com mais de 65 anos passa de uma percentagem face ao total, de 26,41% em 1991 para 32,4% ao mesmo tempo que a população com menos de 15 anos passa de 13,01% para 8,53%.

Acrescente-se que este cenário ocorre num contexto, já descrito, de forte diminuição de efetivos.

Para uma outra abordagem, haveria a necessidade de analisar outros outros indicadores nomeadamente ao nível da mortalidade, dos saldos naturais e migratórios.

Esta estrutura etária dá origem aos índices seguintes:



Indice Juventude ìndice Envelhecimento Indice Dep Idosos

Sé e S. Pedro

1991 48 207 45

2001 22 445 64

2011 26 384 54

S.Mamede

1991 57 175 42

2001 28 358 60

2011 24 413 56

Sto. Antão

1991 40 248 44

2001 22 447 64

2011 30 339 54

Total CH

1991 49 203 44

2001 24 409 62

2011 26 380 55

Assim, enquanto em 1991, a relação entre o n.º de jovens e o n.º de indivíduos com mais de 65 anos era de 49, em 2011 essa relação passa para 26. Ou seja, para cada 100 indivíduos com mais de 65 anos, existem 26 com menos de 15.

O índice de envelhecimento passa de 203 para 380 e o índice de dependência de idosos (relação entre o número de indivíduos com mais de 65 anos e os que situam entre os 15 e os 64) de 44 para 55.

Procedendo à comparação com os contextos: concelhio, regional (Alentejo sem a NUTS Lezíria do Tejo) e nacional (continente) (dados 2011):

 

Índice Envelhecimento

Índice dependência idosos

Centro Histórico de Évora4

380

55

Évora (total concelhio)

138

30

Alentejo (sem Lezíria do Tejo)

194

41

Portugal (continente)

131

29

O quadro mostra à evidência que, os valores registados no CH para os dois índices são extraordinariamente superiores, seja qual for o contexto base para comparação.

A conclusão possível para o demonstrado, quer nesta questão do envelhecimento, quer na diminuição dos efetivos populacionais só pode ser: temos aqui um problema, grave.

Vejamos em seguida sobre a perspectiva comparativa do efetivo populacional do Centro Histórico com a população da cidade.

Relação do peso populacional do CH com a cidade

  1991 2001 2011
Cidade (1) 38952 41164 42092
C. H. (2) 7842 5668 4719
Peso Relativo CH/Cidade 20,13 13,77 11,21

1.Operacionalizado através de um rácio estabelecido entre o somatório das Freguesias “da cidade” e a população que corresponde ao interior do seu perímetro urbano - cidade de facto. Tal atitude já é tomada quando dos trabalhos de caracterização que constam dos anexos à revisão do PDM, no entanto, segui critério ligeiramente diferente (que produz resultados com diferenças praticamente inexpressivas) e, considerando que o (INE - Atlas das Cidades - 2004) com base em dados dos Censos de 2011, identifica para a cidade 41164 habitantes, não só trabalhei com esse dado para 2001, como estabeleci a relação com a população das freguesias já referidas e apliquei rácio obtido (91,87) a 1991 e 2011.

O quadro reforça o que já se havia demonstrado: o esvaziamento populacional do Centro Histórico, teve neste últimos 20 anos expressão muito expressiva.

Para a análise desse processo e sem se pretender de forma alguma minimizar os factos, não podem deixar de ser considerados os factores seguintes:

Ao invés do que ocorre na zona «extra muralhas», no CH são naturalmente escassas as possibilidades de oferta de terreno para construção nova.(Anotemos por exemplo, como exceções: Edifício de St. Catarina; Convento de S. Domingos – onde se verificou um misto de reconstrução e de construção nova) e Cerca de Stª Mónica;

Por outro lado,

Não seria certamente de bom censo, esperar que a população do CH tivesse hoje níveis semelhantes aos verificados nas décadas de 60 ou 70. Os níveis de qualidade de vida e as exigências atuais são incompatíveis com a densidade populacional que então se verificava.

Ressalvadas que sejam estas duas premissas, convém não as levar em excessiva linha de consideração ou seja, partir da sua constatação para justificar o que não justificam para o todo (só para uma parte) do problema.

 

Não cabia no objectivo desta abordagem apresentar propostas ou sugerir medidas.

Pretendeu-se minimamente contribuir par o diagnóstico do problema e como se afirmou o mesmo é muito grave.

O Centro Histórico de Évora está em grave declínio e deve ser encarada com urgência terapia que estanque o problema e que tenha as pessoas no centro das suas atenções.

Por mais bonito e grandioso que seja o enquadramento paisagístico da acrópole e por mais pujante que possa estar o Templo, convém não deixar de ter presente que as cidades são a sua condição e as pessoas que as habitam.

Um Centro Histórico sem gentes a habitar as suas casas e fazer das suas ruas as suas convivências, é um espaço sem «património».

1 No essencial, por força da localização do Teatro e da generalidade das sedes de associações.

2 E já com muitas e significativas exceções.

3 Embora ligeiro, há crescimento populacional no total concelhio, diminuição no espaço rural (e no CH como estamos a constatar) e crescimento na zona de transição (Canaviais).

4Conceito operacionalizado de acordo com as referencia já aqui prestadas