quinta-feira, 5 de junho de 2014

ESCOLHAS

Sinto-me num país à deriva qual jangada de pedra fustigada por fortes e várias tempestades.

Em tempos alguém disse por aqui, que talvez fosse necessário suspender a democracia. Entretanto alguém a suspendeu mesmo e parece que ninguém ou quase ninguém se rala com isso.

Abdicámos da cidadania em troca de um salvo-conduto que julgamos suficiente para nos ajudar a sair da tormenta.

Só que à tormenta se acrescenta tormenta e os salvo-condutos não salvam nada.

Nunca julguei possível assistir ao degradante espetáculo do mais descarado desrespeito pelas mais elementares regras democráticas tendo como autores precisamente aqueles a quem foram atribuídas as responsabilidades de zelar pelo respeito das regras.

Ao sonho concretizado de reunir um presidente, uma maioria e um governo, faltaram alguns “pormenores” que agora lamentam.

Não cuidaram de escolher bem os juízes do Tribunal Constitucional, disse hoje o primeiro-ministro. Sim, o Primeiro-Ministro.

Eu sou dos que penso, que de facto houve uma má escolha, mas essa foi a que foi feita através do voto em pessoas deste calibre democrático.

Os Juízes interpretam e julgam com base no texto constitucional e não tenho a menor dúvida que o primeiro-ministro, também considera que este texto, ou seja a Constituição, também foi mal «escolhida».

E está no seu direito.

Mas também está na sua obrigação, respeita-la. Foi isso que jurou.

Do sonho concretizado – presidente, maioria, governo – resulta o pesadelo que vivemos.

Mas mesmo assim não estão contentes. Querem juntar-lhes: uma Constituição; Um Tribunal Constitucional com juízes bem escolhidos. Boas escolhas, para os outros tribunais.

O resto virá a seu tempo. Bem escolhidos presidentes de câmara e, porque não? Bem escolhidos presidentes de junta.

E o presidente da República … – vértice cimeiro da trilogia sonhada – tira fotografias com Ronaldo e Meireles.

Próximos de nós – dizem eles – os que se julgam no direito a ter mais votos nossos, brigam-se e esgatanham-se mutuamente numa assanhada disputa pelo poder cheirado.

Nesta jangada à deriva também temos direito à nossa orquestra.

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