segunda-feira, 7 de outubro de 2013

RITUAIS DE PASSAGEM

 


Para chegar a algum lugar, precisamos de passar por outro ou outros lugares.
Ah pois, assim é.
E não creio que seja necessário fazer aqui eco de um desgraçado francês que por tudo e por nada costuma ser chamado a dar ênfase teórico irónico a frases badalhocas como a que hoje aqui trago.
Assim é e creio que serão poucos os que discordarão.
E assim sendo observo  por estes dias interessantes rituais de passagem, aqui por esta minha cidade (que partilho com o mundo).
Esvaziamento de gabinetes, azias de todo o tipo, pseudo ironias de catarse .
Mas, bonito, bonito de observar é a dança dos cisnes.
Ou melhor dos patos velhos.
A essa dança, juntam-se outras aves, de ribalta algumas.
Os patos velhos, procuram dar novas cores às plumagens já descoradas por recurso abusivo ao método.
A estes juntam-se e com outros fins, mas na mesma dança, uma espécie, de pequena estatura,  canora, mas com um comportamento bizarro: enchem o peito querendo fazer-se passar por grandes.
Nestas, nas aves desta espécie, só  o que é grande, é a mania.
Comportam-se como as detentoras de todas as purezas - delas não sai gripe alguma. E  de todas as virtudes.
E os seus grasnares, são cada vez mais parecidos com os grasnares dos passarões.
Por vezes até parece que grasnam em coro.
Estou a começar a ganhar por estas, um certo azedume.
De tal forma que quase me esquecia de que os rituais de passagem de que queria falar eram os que associo  aos dias - por vezes longos - que separam os dias - por vezes curtos - de sol , calor e luz.
Os dias, que agora se iniciam e que de forma a facilitar a conversa, designo por época das chuvas.
E neles, tanto nos dourados que se projetam dos dias solarengos de princípios de outono, como nos dias cortantes de frio de dezembro ou nos dias de chuvas persistentes de fevereiro encontramos os antídotos que nos ajudam enquanto aguardamos pela primavera e pelo verão.
A natureza sabe cuidar-nos. Assim soubéssemos nós retribuir.
E cuida-nos, quando nos põe na mesa as nozes, os dióspiros, o vinho, os marmelos e gamboas, as batatas doces.
Quando nos põe na lareira os grossos madeiros de azinho com que aquecemos e fumamos os corpos.
São bons estes rituais, quando a tudo isto, juntamos amigos, conversa boa, migas e carne frita.
São rituais de passagem.

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