Poderia simplesmente ter perguntado: «já não nos tratamos por tu, porquê?».
Por razões para as quais o mais certo é não haver uma razão, optei pelo uso de desusado verbo.
Mas o que importa – como sempre – nas questões que para aqui trago, é a essência e no caso, a essência, é o facto de ser hoje quase raro o tratamento por tu entre nós, que partilhamos ideais e formas de ver e interpretar o mundo. Que partilhamos vontades e percursos na ação para a sua transformação num mundo mais justo, mais solidário, mais humano. Ou seja, partilhamos partido.
Se é verdade, que sobre o uso, no meu caso concreto, sempre usei de alguma reserva (nuns casos por deferência, noutros precisamente pelo seu contrário) não é menos verdade que o seu uso era entre nós, generalizado e assumia-se como a forma de partilha, de elo.
O que poderá significar a perda deste uso?
No domingo passado, no comício evocativo do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, em mais de uma situação (aliás em muitas situações) confirmei esta alteração.
Em algumas situações, presenciei mesmo, aquele alheamento que em nós não existia, face à dificuldade do outro, por exemplo na mobilidade de um de nós já mais velho e com dificuldades físicas ou no apoio a outros, que já noite e numa cidade que não conheciam, não encontravam o autocarro para o regresso.
Senti mesmo a desconfiança, quando procurava agir, não como ajuda, mas como solidariedade.
O que é que se está a passar?
Não me respondam por favor que são os sinais do tempo, que a sociedade está toda ela assim, fechada em si e egoísta.
E não me respondam assim, porque se a resposta for essa, ainda agrava mais a minha preocupação.
Pois não somos nós, aqueles que se afirmam dispostos a todos os sacrifícios para mudar a sociedade? Não foi esse o exemplo de vida do Homem que fomos evocar no domingo passado em Lisboa?
Então?!
Transformamos ou rendemos-nos?
O D´a Porta Nova
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