domingo, 17 de novembro de 2013

Sai uma água com gás, por favor

(ou como alternativa, uma boa alternativa…um chazinho – infusão, claro – de erva de s. roberto)

Está na moda a gastronomia. E essa moda passa muito mais pela vertente da culinária, do que propriamente pela dimensão mais alargada da gastronomia.

Arreda-se a vertente cultural, da mesma forma que se arreda de outras áreas.

Cultura pode estragar o prato. Pois este confecciona-se com muita altivez e em total desprezo pelas condições sociais e económicas, assim como em perfeita negação com tradições e padrões culturais.

A culinária da moda, a que despreza a cultura e nega a gastronomia, carrega-nos de exotismos e transporta-nos para cenários irreais.

Usa-se ouro na confecção de pratos, vacas massajadas com cerveja, trufas de preços astronómicos, hambúrgueres absurdos.

Não há, ou há muito pouco, quem fale e promova a gastronomia. Que a encare e respeite como a arte de confeccionar verdadeiras iguarias com os produtos de que se dispõe e de os trazer à mesa de todos com a elegância que merecem. Regados com os bons vinhos da terra e entoados com as canções ecoadas por gerações.

Saberão os master chefes qual é o sabor do agrião selvagem? Saberão distinguir uma trufa de uma túbera? Saberão ao que sabe uma fêvera de um porco alentejano engordado a bolota com sobremesa de abóbora?

Ao que sabe uma lasca de toucinho salgado sobre uma fatia de pão recheado com uma fatia de alho regada com um tinto emborcado ao balcão de uma taberna entoada com cante alentejano numa tarde princípio de noite numa aldeia por aqui perdida?

Escrito assim, sem paragens e sem pressas, da mesma forma  como se come e como se bebe. “Gerúndiando”.  - escrevendo…comendo…bebendo…ouvindo (porque por defeito próprio, não pode ser: cantando), mas às vezes: arranhando.

Sendo madrasta a vida, os alentejanos aprenderam a dar-lhe a volta. E inventaram sopas de tomate, de beldroegas e açordas. Fizeram migas com pão e espargos. Inventaram caldos a que chamaram sopas da panela e juntaram cardo com feijão e poejos.

Ficai pois masters com os melhores do mundo que nós por aqui ficamos com os melhores da terra.

Vou beber um tintinho da Vidigueira que já vai longa a seca.

O D’ a Cozinha do Pobre

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