Num dia como o de ontem, chuvoso e de ventania, daqueles dias típicos de inverno, quando tudo em nós nos transporta para o aconchego quentinho e quando remoramos o crepitar de lareiras, lá estava o homem, enrolado sobre si, abrigando-se sob uma velha sombrinha de praia, sentado num banquinho à beira estrada – agora avenida - vendendo espargos.
Perguntei-me se ao menos os venderá, se alguém ganha coragem para sair ou sequer abrir a janela do carro para lhos comprar.
E refiz pensamento que já em outras situações havia tido: se estivesse melhor de dinheiro, comprava todos os espargos ao homem, pedir-lhe-ia que fosse, pelo menos naquele dia, abrigar-se em sítio mais quente e eu, convidaria amigos para um petisco com espargos.
Quem sabe, não convidaria o homem.
Embora aceitasse que pudesse recusar…
Brr espargos…ainda se fosse um petisco de jeito….
Pois eu vou cortar em pedaços pequenos os seus caules, parando onde estes já fazem resistência ao corte, saltear em banha quente quadrados de linguiça de porco preto, a que junto a meio alguns dentes de alho esmagados e uma folha de louro. Entram depois os ditos cujos, tempero de sal e pimenta preta moída ao momento e na parte final os ovos, previamente batidos, que faço envolver.
Salpico de salsa picada. Acompanho com pão – pão – um tinto alentejano – quase todos são bons – azeitonas salpicadas de sal grosso e orégãos.
Anotem que se estiver sozinho, isto é incomestível. Nada presta.
Assim pensei.
Mas, como o se, se mantem…
Fazendo a viagem de regresso.
À tarde, já noite porque esta chega cedo no inverno, lá estava ainda corcovado o velho homem e com os espargos por vender.
O «Da Sopa dos Pobres»
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