Vivemos tempos em que claramente se nos afigura a ideia de que algo vai mudar, parece que em breve, mas não sabemos nem como, nem quando.
E esta percepção não é hoje já só oriunda de intelectuais e dos meios académicos – a recorrente expressão de mudança de paradigma - mas é assumidamente partilhada, sentida e expressa em comportamentos, pelo comum cidadão.
Esta perspectiva, traz consigo o medo. Sabemos do que nos despedimos, não sabemos o que nos espera.
A esta questão referiu-se há dias, numa sessão promovida na Universidade de Évora pelo núcleo local do Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Prof. Silvério da Rocha e Cunha, afirmando «o mundo velho morreu, o novo ainda não nasceu».
É com esta referência, ou seja, partilhando, ou julgando partilhar, pensamento deste pensador e autor, que exponho o ponto de vista que aqui quero deixar hoje.
Os sinais (cacos) da morte do mundo velho espalham-se um pouco por todo o lado.
Guerras a que chamam, procurando atenuarem, conflitos.
Ódios. Chacinas.
Fronteiras instáveis. Moles imensas de gente que se expõe ao mar e às balas para procurarem o direito a viver.
Poderei voltar a esta questão geral, tão atual e pertinente, quando na Ucrânia os ucranianos se matam nas ruas, mas hoje pretendo incidir a ideia a que me propus, exclusivamente aqui, neste território a que chamamos Portugal.
Aqui, a nossa guerra, não tem obuses, tiros, bombas e a instabilidade das fronteiras não é física.
Mas provoca vítimas aos milhares (os que têm de sair do país à procura do que aqui se lhe nega; os que cá ficando, subsistem miseravelmente, os que não têm que comer, os que não têm tecto).
E provoca também um número crescente de alienados (os que já não acreditam em nada e em ninguém e que são cada vez mais agressivos e portadores de ódios viscerais contra tudo ou quase tudo).
A fronteira entre os que têm excessos de tudo até de excessos e os que nada têm é cada vez mais vincada. (os números sobre a distribuição da riqueza aí estão para provar que não é retórica a afirmação).
E esta situação provoca assim, naturalmente medo e o medo é um péssimo auxiliar do comportamento humano.
O medo conduz ao alheamento mas também conduz à ação irrefletida.
E é a possibilidade da massificação dessa, que deveria concentrar a preocupação de quem tem ainda a possibilidade de refletir.
Mas, o que verificamos é que alguns, estupidamente, ainda julgam ser possível tirar partido da «coisa» para seu belo proveito e então despedem, baixam salários, exibem os seus excessos com arrogância, berram que ainda aguentam mais do mesmo e imensas outras parvoíces.
Pois…, mas o que será que pode resultar duma massificação de comportamentos irrefletidos por parte de quem já nada tem a perder?
Sabemos todos, que eles, os que trouxeram a «coisa» até este patamar e mesmo agora são pirómanos, não sabem, nem cuidam.
Só cuidam de considerar que eles se «safarão» e bem como sempre.
Pode não ser assim.
Eles estão a olhar com as lentes do mundo velho, e esse morreu.
Outros – muitos – nas escolas papagueiam as diretivas do mundo velho já morto.
Outros – muitos – na política, só cuidam de ver como será o deve e o haver dos votos eventualmente resultante.
Eu, por mim, temo (também disso sofro) sobre o que será esse «saldo» já agora, nas próximas eleições europeias.
Mas pressinto uma perigosa deriva.
Pois… o mundo novo ainda não nasceu. Não sabemos o que será.
E nós, entre os cacos do mundo velho pressentimos um mundo novo desconhecido.
E muitos têm medo….
Ainda uma nota sobre a política caseira – evidentemente enquadrada no que aqui foi exposto – insinua-se estar em construção um novo quadro político, composto por novas formações políticas.
À direita para preencher o espaço deixado em cacos por Passos Coelho e para acolher os que por oportunismo têm vegetado no PS.
À esquerda para dar expressão a desânimos de alguns.
Na extrema-direita para organizar as hienas.
Veremos o que vai dar.
Ah… mais uma pequena nota, parece que voltou a haver direita, esquerda e até classes.
Prodígios.
«O da Porta Nova»
(esperando que desta vez o «O espojinho» não se esqueça de pôr a assinatura, como fez com o último texto meu …sei que foi só esquecimento).
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