sexta-feira, 12 de março de 2010

Alienação




Talvez a propósito de uma propositada sondagem que hoje veio a público, renovei a vontade de escrever sobre alienação.
Obviamente tendo Marx como referencia, ou pelo menos assim o procurando.
Falei em renovação de vontade porque, a vontade primeira, surgiu quando da verificação dos níveis de adesão à greve geral da função pública.
Deixando de parte a grosseria e reacionarice dos números apresentados pelo governo e cingindo-me aos números reais, é fácil constatar que mais de 100 mil trabalhadores da administração pública não fizeram greve.
E cheguei a esta conclusão, admitindo um universo de 500000 trabalhadores e aplicando as taxas de adesão que os sindicatos difundiram (80%).
Todos nós conhecemos alguém que não fez greve.
E não fizeram, não porque considerassem não haver razões para a sua concretização, mas porque, na grande maioria, já não são senhores de si.
Variadas razões os afastam da capacidade objectiva de julgar.
É um erro e constata-se que muitos dirigentes sindicais caiem frequentemente nele ao considerar que a dimensão dos problemas é por si só suficiente e catalizador da vontade para a luta.
Muitos já não são capazes de reagir. A luta já não é caminho que sejam capazes de escolher.
A este propósito recordo de alguém me ter dito - há alguns anos - que se a fome fosse condição para a luta, o que não faltaria seriam revoluções por esse mundo fora.
E é crescente o número dos que falam das telenovelas e dos seus enredos, conhecem as peripécias ao minuto de cada jogo de futebol que viram no canal por cabo, sabem da família carreira todos os pormenores, veneram tudo o que é doutor ou similar e que de si próprios têm uma noção pouco clara.
E uma vontade cada vez mais fabricada e cada vez mais distante do seu âmago.
Em pleno período eleitoral recente ouviu-se de alguém, num espaço público desta cidade: para pobre já basto eu, quanto mais ir dar o meu voto ao partido dos pobres…
Não me espantam pois os resultados da sondagem que agora veio a lume.
É longa a jornada…

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