quinta-feira, 4 de março de 2010
GREVE
Os resultados da greve ficaram abaixo das expectativas diz-nos sem corar, o senhor secretário - de estado - dizem, mas que é mais do estado a que isto chegou.
De que expectativas fala o personagem? Das suas, certamente.
É uma tristeza ver que nem nisto são diferentes.
Sempre a mesma conversa das adesões diminutas.
Estranho mesmo porque não falam de uma mole imensa de funcionários públicos cantando hinos de louvor à sua política e passeando em ombros o grande líder.
Talvez porque ele não está, só por isso garantidamente.
Porque fiz greve, tive tempo para reflectir um pouco sobre a «coisa pública». E concluí que quem orquestra medidas como as que foram tomadas por este governo só pode ser um grande ressabiado com a função pública, alguém que deve ter concorrido e que não obteve classificação suficiente nem demonstrou capacidades suficientes para isso - ao olhar para alguns dos projectos de obra que por razões outras vieram a público dá para perceber claramente o porquê.
A obra ressabiada traduz-se pela destruição das carreiras (agora estamos todos integrados em 4, a saber: Técnicos Superiores; Coordenador Técnico; Assistentes Técnicos; Assistentes operacionais).
Nos técnicos superiores, integraram mesmo os que não o eram e os não detentores de formação superior (que importância tem o canudinho, não é?).
Coordenador técnico é o novo nome (mais pomposo) para os Chefes de Secção).
Assistente técnicos, inclui uma panóplia de quadros técnicos intermédios e os anteriores assistentes administrativos.
Nos assistentes operacionais integram-se todos os outros.
Parece uma simples e disparatada brincadeira, mas não o é. Antes, cada carreira tinha o seu conteúdo funcional definido, sabia-se o que esperar de cada um.
Agora, de cada um, espera-se o que o chefe determinar - acima de tudo espera-se que seja servil.
Para completar essa nova «funcionalidade» - «ser servil» criou-se o SIADAP que a premeia.
Para garantir a neutralização dos que não aceitem esta nova funcionalidade, tratou-se de assegurar que a segurança no emprego fosse transformada em contrato, que os quadros de pessoal fossem transformados em mapas anuais de pessoal e - qual cereja - inventaram mecanismos de mobilidade (para o desemprego, devagar e docemente)-
Mas a função pública também é quintal para arrumar amigalhaços e filhos de amigalhaços e é ver as lufadas de gente que para aí enviam - quem lhes paga os salários acabamos por ser nós todos .
Claro, estes hoje foram trabalhar.
E a função pública é também espaço apetecível para quem não quer deixar migalhas por abocanhar. Escolas, Hospitais, fornecimento e distribuição de água, limpeza pública, transportes e …tudo, pode ser privatizado. Tudo pode dar lucro.
E esse lucro será ainda maior, se o trabalho for prestado por trabalhadores sem direitos.
E uma função pública sem direitos é uma condição para empregar sem direitos.
É pena que por vezes, nem todos os trabalhadores, tenham disso consciência.
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