domingo, 11 de julho de 2010

Gaspachos...de novo



Por aqui, quando anunciam uma baixa na temperatura prevista de 39 para 35, exclamamos: Ah bom.
Porque assim tem sido e porque o calor teima, volto aos gaspachos, não para vos dar receita, que isso já fiz, mas para contar uma história, daquelas histórias tristes de um Alentejo ainda presente que os alentejanos sabem contar com uma graça inimitável.
Sou alentejano mas não fui dotado com essa graça, assim como com a de cantar. Desgostos meus, mas vou tentar (contar a história, porque cantar não me atrevo…):
Numa ceifa (para manter a tradição de uma linda oralidade deveria escrever: «acêfa) de finais de Junho, com dias já bem quentinhos e grandes, um rancho de homens e mulheres param por momentos o penoso trabalho e preparam-se para a bucha (farta de miséria).
Naquele dia tinham tido uma visita,
O patrão tinha vindo acompanhar ,“de passagem”, a jornada.
Não precisava de se preocupar com visitas frequentes pois o manajeiro tomava-lhe muito bem conta do recado.
Ao chegar, depois de um sonoro bom dia e da breve pausa para a vénia, atirou; «faz um calor de rachar». Era meio da manhã.
Ficou até à pausa para a bucha e ficou a saber que a maioria dos trabalhadores trazia gaspacho para o almoço.
Ficou curioso, Já na semana passada traziam gaspacho…
Chegado ao monte, gritou para a criada: «Hoje fazes gaspacho para o almoço. Porque é que nunca fazes gaspacho???»
Esta, a medo respondeu: «pensava que o patrão não gostava…»
Passado pouco tempo resfolgava-se com um gaspacho recheado com bons pedaços de presunto gordo, paio, azeitonas, jaquizinhos fritos, arrematado com uma boa talhada de melão,
Enquanto se preparava para a sesta, remoía; «Queixam-se, queixam-se mas comem bem os sacanas…»
Entretanto, já há mais de duas horas que curvados sobre o peso do amassador sol, ceifeiros e ceifeiras já nem memória tinham do gaspacho de pão, azeite, vinagre e poucas azeitonas. Arrastavam os corpos naquela dolorosa cadência, com tanto de cansaço como de fome…
E ainda vinha longe o pôr do sol.

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