Sempre que introduzo uma alteração, por mais pequena que seja e mesmo tendo o cuidado na manutenção da «matriz» da cozinha tradicional alentejana, ai daqui d´el rei que estou a profanar e a desvirtuar.
São os defensores da «tradição».
Mas se há coisa absurda de perpetuar essa é a tradição. Não será necessário com certeza recordar as absurdas barbaridades que em nome da tradição são cometidas diariamente.
Sempre que interessa a alguém perpetuar um privilégio logo o vemos a invocar a tradição.
Eu não recuso a tradição mas sim o lado obstaculizante que ela coloca à melhoria e à mudança.
E estou a falar no que diz respeito à gastronomia assim como me poderia estar a referir a qualquer outra área de intervenção humana.
Sou mais adepto de uma adesão a práticas do que a dogmas sob capa de tradição e acima de tudo, de introduzir nesse sistema de práticas as inovações que julgo úteis.
Há, como já disse, na gastronomia alentejana, uma matriz a respeitar, mas não há, nem pode haver, um conjunto de dogmas a dificultar as mudanças.
E esta conversa toda vem a propósito, vejam bem, de uma sopa de tomate.
Ousei, oh profanação das profanações, «mexer» logo na sopa rainha.
Pois mexi. E gostei.
A sopa, essa é como consta da «matriz».
Frita-se toucinho e enchidos para obter pingo, refoga-se nele cebola e alho picado, estufa-se depois o tomate, folha de louro, tomilho e orégãos para apaladar e por fim escalfam-se uns ovos.
São óptimas acompanhadas com figos ou brunhos ou com os dois, azeitonas de conserva, trincando o torresmo que resultou da fritura do toucinho e regando com um tinto encorpado.
Pois, o que fiz então depois de assim ter obtido a sopa?
Coloquei no liquidificador e liquidifiquei. Pronto.
E escalfei à parte o ovo em papel celofane e em água a 95º (sem ferver). E fiz pão de alho no forno.
No centro do prato o pão, sobre ele o ovo com a gema tipo ovo estrelado, em volta a sopa. Enfeitei depois com gomos de brunho.
Eis a minha heresia.
Acompanhei de igual forma a sopa quase feita de igual forma.
Também é muito boa.
A tradição já não o que era.
Ainda bem.
«O da Sopa dos Pobres»
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