Os que, como eu, se habituaram a discutir e a ter opinião, a serem ouvidos, a aceitarem o contraditório e a preparar a contra argumentação, ficam hoje espantados com a generalização das hipócritas aceitações.
Aceitamos tudo.
Aceitamos que sim, que Sadam tinha armas de destruição maciça, assim como aceitamos (milhares de mortos depois), que afinal não tinha.
Aceitamos que os americanos armem o Iraque para combater o Irão, assim como aceitamos o processo contrário.
Aceitamos que se armem até aos dentes afegãos para combater russos, assim como aceitamos que depois se invada o Afeganistão para combater os afegãos que armámos.
Apregoámos aos ventos primaveras árabes (de céus tão carregados) e agora confrontamos-nos com a violência dos invernos líbios e egípcios.
Aplaudimos a guerra e as mortes na Síria, em nome de uma democracia que exportávamos através das ditaduras e agora (milhares de mortos depois) confrontamos-nos com os bandidos que armámos.
Choramos lágrimas de crocodilo pelas mortes das crianças palestinianas ao mesmo tempo que aplaudimos a venda de mais munições aos israelitas para que matem mais crianças palestinianas (naquilo que parece ser a especialização israelita).
Aplaudimos a venda de cinco mil misseis ao Iraque sem ter a menor ideia de donde poderão eles deflagrar.
Dizemos sim a Passos, para dar continuidade aos sins que demos a Sócrates e preparamos-nos para dar o sim a Costa para dar continuidade a todos os sins.
A tudo dizemos sim.
Só dizemos não a nós, homens livres.
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