quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Deu na televisão

 

Creio que é por considerarem que pensar é a atividade de maior desgaste físico que a generalidade das pessoas remete essa tarefa para outros, enquanto para si reserva a adoção de pensamentos alheios.

E, não vamos agora esgotar-nos em trabalhosos pensamentos para procurar saber porquê, não temos dificuldades em encontrar, sem custos – pelo menos diretos - pensamentos para adotar.

Existem hoje, poderosíssimas máquinas de fabricação de pensamento, que disponibilizam o produto acabado de forma generosa e massiva.

E é produto de usar e deitar fora. Amanhã há novo.

Se o pensamento assim produzido ontem, hoje se verifica que os ingredientes de fabrico eram falsos – quase sempre são falsos – não faz mal, passamos à frente.

Não havia armas de destruição maciça? Ups… não faz mal. Mas podia haver!

O avião da Malásia não foi abatido por rebeldes russos (ou russos rebeldes?)? Ai é? Mas podia ter sido.

Afinal foi um agente secreto francês que abateu Kadhafi? Não foram lutadores pela liberdade na Líbia? Ora, pormenores…

Quem se esforça e pensa esse está mal.

Passa maus bocados. Porque se esforça por pensar por si próprio e porque recusa adotar o pensamento que lhe disponibilizam tão altruisticamente.

Se nós todos o fazemos, porque não faz ele também?

«Espertinho, tem a mania…» a dizer-nos que pode não ser assim.

Mas não pode ser assim, como, se deu na televisão e tudo?!

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