Memórias
Em tempos, vi algures e li, um escrito cujo objetivo principal consistia na recusa do passado e na defesa de um presente que tinha necessariamente de estar dele desassociado.
Esse escrito foi feito por um de nós, por um que pe
nsa no futuro como nós.
Critiquei e mantenho hoje a crítica a tal entendimento «teórico» por mais bem fundamentada que seja a argumentação em sua defesa.
Nesta crítica não preciso de fazer nenhuma «declaração de princípios» sobre posicionamentos face ao passado, mas lembro a propósito que, para os que grosseiramente queiram ver nesta posição algum traço de branqueamento de um passado que em conjunto renegamos, que algures, também no passado, vivemos e construímos tempos maravilhosos alicerçando os pilares da sociedade mais justa pela qual lutamos.
São as memórias destes tempos últimos que transporto no caminho que em conjunto percorremos rumo ao futuro
Algures, nesse passado que nos constitui e que transportamos nas jornadas de hoje, estão as memórias de alguns que já não podem estar aqui, ao nosso lado.
E é até uma nossa canção hino que nos remete para este plano.
E se alguns não podem, porque as leis da vida e da natureza assim o determinaram- recordo e incluo na homenagem o Gama e o Pedro - outros não podem porque lhes ceifaram a vida no decorrer da luta.
E é de Caravela e Casquinha que me lembro.
No sábado, trinta e cinco anos depois, lá estivemos na justa homenagem.
Estava um dia quente, há trinta e cinco anos.
Tão quente como a luta que então travávamos na defesa da Reforma Agrária.
Agora, estava um dia sombrio, carregado de nuvens. Trovejava.
Há trinta e cinco anos, ao funeral de Caravela e Casquinha veio um mar de gente.
No sábado, à sua homenagem. Vieram menos. Muito menos.
Coisas dos tempos.
Mas destes tempos fica também a marca dos que nunca esquecem.
Dos que resistem.
E que caminham em frente com a memória e o exemplo deles presente.
A memória pode pois ser tónico e só assim fará sentido
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