terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Nós e os outros





Quando os homens e as mulheres sem emprego, interrompem por momentos a circulação numa estrada para manifestar a sua mágoa, há quem, apressada e finamente logo proteste: «não há razão, por mais razões que julguem ter, este comportamento, é um comportamento bárbaro. Nós temos compromissos e horários» dizem - mesmo que sejam só os de cabeleireiro, sabemos nós.
E têm logo a cobertura da lei feita ou que apressadamente se vai fazer: «estas manifestações são selvagens e como tal são um crime».
Quando enfrentam a Polícia que os desaloja do BPP que ocuparam, correm a bradar: «Não há direito, isto não é próprio de uma sociedade democrática».
E são recebidos na Comissão Parlamentar e têm lugar assente em todos os telejornais.
Quando roubam uma carteira é de certeza obra de um preto criminoso que devia ir para a terra dele (que por acaso é Moscavide).
Quando desfalcam milhões são vedetas nas televisões.
Quando desabam as estufas por causa dos temporais, logo correm ministros e comitivas prometendo mundos e fundos (e só é errado, se não cumprirem, dizemos nós).
Quando desabam as muralhas do Castelo de Campo Maior e 50 famílias ficam desalojadas, logo alguns dizem: só foi pena as pedras não terem caído sobre os ciganos.
Quando os que despedem são os que compram bentleis e iates e planeiam uma viagem espacial.
Quando os que ganham milhões em operações especulativas (sobre as quais não pagam impostos) são os mesmos que consideram inaceitável um aumento de 25 € no salário mínimo.

Quando…
Nós ouvimos cândidos e hipócritas apelos à convergência

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