sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Yuppie de lambreta
Há dias, no final da manifestação da função pública que decorreu em Lisboa, um yuppie de lambreta berrou para os manifestantes: “chulos, vão mas é trabalhar malandros” e ala que é preciso que a lambreta me ponha longe.
Para as questões derivadas da malcriadice do dito cujo não dou qualquer contributo.
No entanto, porque por natureza ou deformação costumo dar importância a pormenores, não deixei de matutar nesta «boca».
Evidentemente sem deixar de notar o evidente mau hálito.
Em primeiro lugar. O sujeito:
Não é de supor que esteja bem na vida. Saiu há pouco da universidade, trabalha a prazo como estafeta num escritório de advogados e já perdeu a conta aos concursos para funcionário público em que se viu preterido.
O contrato de três meses está quase a terminar e ainda não lhe disseram nada sobre a renovação.
Pouco mais haverá a supor sobre o sujeito.
Sobre os que foram objecto da sua ordinarice:
Muitos trabalharam no duro nessa mesma manhã.
Alguns acabaram os turnos da noite e deslocaram-se para os autocarros que os trouxeram para Lisboa. Uns, varreram ruas e puseram betume nos buracos, outros repararam calçadas, outros recolheram o lixo, outros limparam hospitais, centros de saúde, escolas, outros ouviram os mais diversos impropérios sobre uma reclamação não atendida.
Muitos recebem salários abaixo do salário mínimo.
Outros, não poucos, passam recibos verdes há anos, para desempenhar funções de telefonista.
E são estes os privilegiados.
Aqueles que deveriam agradecer o facto de ainda terem emprego.
Aqueles que são os responsáveis pelo deficit e por todos os outros graves problemas do país.
O pormenor do yuppie não é um mero pormenor.
Hoje mesmo, um articulista alimentado a gim e bem pago por um jornal diário toca a mesma tecla quase com a mesma grosseria.
Parece não verem ou não quererem ver a «função pública» de que falam.
Tomaram nota de quantas mil foram as nomeações feitas em poucos meses por este governo?
Vivemos num país que odeia a função pública (cheia de privilégios) mas que parece aceitar bem os rapazinhos do coro, os secretários dos secretários, os adjuntos e juntos de vereadores e presidentes, os «motoristas» e todo o séquito que envergonha a sociedade.
Neste país miserável, qualquer vereadorzeco tem secretário, motorista e até guarda de honra, mesmo que prestada pela fanfarra dos bombeiros locais.
Deixem a função pública em paz.
Atentem pelo menos uma vez, nas conclusões do Conselho Económico e Social.
Que dizem: Há uma alternativa ao congelamento dos salários na função pública e esta passa por um maior controlo da despesa.
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