quinta-feira, 20 de junho de 2013

O discurso

 

Passei anos, muitos anos, a ouvir discursos, uns mais inflamados, outros um pouco menos, nos quais me alertavam, e aos outros, para o perigo sempre presente, de regresso do fascismo.
Nos primeiros tempos, ainda embebedado com os odores da liberdade e movido pela força de uma enorme mole em movimento, não fazia caso.
Eles que venham, pensava eu de peito feito.
Achava até mesmo entediante , o discurso.
Depois, continuaram a fazê-lo (o discurso) e já poucos se importavam.
E depois, do depois, deixaram simplesmente, de fazer os discursos.
E eu preocupei-me.
Comecei, talvez patologicamente, a preocupar-me com esse perigo.
E comecei, eu, a fazer o discurso.
E quase todos o acharam tolo.
E eu continuei.
Alertava.
O fascismo hoje, não é o fascismo de ontem. Das masmorras. Da Pide.
Tem outras roupagens, mas não é menos perigoso.
Está entre nós para  ouvir os nossos desabafos.
Está por aqui, filtrando os nossos escritos.
E quando menos, vem a multa que tira a sopa dos nossos filhos, a ameaça, o despedimento.
Vem um paisana que te abarbata e te sacode.
Berra, berra, diz-te ele, mas põe-te a pau.
Nós temos a mobilidade forçada, o acordo amigável para o despedimento (há grandes amigos, isso há) e se não estás bem, emigra.

Tenho por vezes a sensação que pode já ter ocorrido por aqui um golpe de estado de que ninguém se apercebeu.

É só, uma parva percepção…

terça-feira, 4 de junho de 2013

De novo as palavras

 

Agora contribuindo, para a sua correta percepção (em jeito de dicionário ou talvez enciclopédia):

Tentativa de ofensa à integridade física - Forma de silenciar quem corajosamente exerce o direito constitucionalmente garantido à expressão de indignidade. (ver, caso de hoje, em Leiria)
Palhaço - Entretenimento.
Crise – Embuste, com que te lixam todos os dias.
Constituição - Coisa que se jura cumprir quando se deseja o contrario.
Liberdade - quem a tem chama-lhe sua.
Legitimidade - Paninho em uso para justificar o contrário.
Eleições - Uma chatice em que os que delas não gostam, nem se preocupam com elas.
Eleições antecipadas - Calamidade.
Eleições quando tem que ser - Pronto fica lá tu.
Líder da oposição - O escolhido pela maioria (no poder).
Direito - o que não aparenta ser torto.
Economia - A sebenta besuntada que vem dos lados da santa do dão.
Comentadores - O contrario, ou seja os que não comentam as dores, mas antes as agravam.
Política - Ver, Palhaço.
Divida - Aquilo que fizeram aqueles que não pensam em pagar.
Honra - Aquilo que aqueles que não têm solicitam aos outros para que tenham.
Gay - Aquilo que muitos que o são e a que juntam hipocrisia, faz com que vão para as ruas berrar contra os que são, sem hipocrisia.( Paris, p.e).
Aborto - Aquilo que são.
Governo - Ver, aborto.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Gosto das palavras


Quem por aqui rodopia neste espojinho, já o sabe.
Gosto das palavras precisas, usadas com parcimónia.
Das palavras ditas a propósito. Com um propósito.
Não gosto por isso de as ver desperdiçadas.
Usadas ao belo prazer de quem não gosta delas.
Gosto delas e do que elas significam.
Não gosto de as ver usadas como embustes de intenções.
Se queres dizer gosto, dizes gosto, não dizes…não desgosto.
Não gosto, mas não gosto mesmo nada, que usem umas palavras só para esconder as que verdadeiramente deviam ser usadas, mas que não consideram conveniente fazê-lo.
Usem as palavras.
Mas respeitem-nas.
Se querem dizer :”ai querem igualdade de tratamento? Pois nós vamos dar-lhes essa igualdade..”
Pois que o digam e digam explicando a dose de sarcasmo e a carga revanchista que lhe atribuem.
Passos, ao dizer que os açoites que prepara para a função pública são medidas de equidade e de justiça, esconde que quer dizer que eles, os açoites, são a revanche às decisões do Tribunal Constitucional.
Nada mais.
Diz ele também, que o Tribunal Constitucional tem sido o obstáculo a que ele possa cumprir o que prometeu eleitoralmente. O que ele quer dizer é que as decisões do Tribunal Constitucional, têm sido um obstáculo àquilo que ele queria aplicar sem nunca tal ter dito aos eleitores.
Alguém lhe ouviu, durante a campanha eleitoral, afirmar que iria retirar os subsídios aos funcionários públicos, que iria cortar nas pensões, que iria aumentar o horário de trabalho, que iria aumentar a carga fiscal?
Mas ele desrespeita ainda mais as palavras.
Ele sabe que o obstáculo não é o Tribunal Constitucional.
O obstáculo, para ele, é a Constituição.
Mas não o diz.
Usa outras palavras.
Usa outras, tal como o fez quando, solenemente jurou cumprir o que se preparava para trair.
E agora, outros, os que sustentam esta situação e apadrinham os traidores das palavras, fazem uso do mesmo recurso e falam da tragédia que seria para o país, que perante a tragédia que é o dia-a-dia de muitos milhares de portugueses por força desse comportamento, se desse a voz aos eleitores (para aferir do uso correto das palavras) e para eleger pessoas que pelo menos soubessem o significado da palavra: cumprir.
Para que quando jurassem cumprir a Constituição, respeitassem o que tal significa.
Mas…

ps
Os padrinhos, são padrinhos.
E há um padrinho dos padrinhos.