quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Se há tanta raiva nas medidas contra os trabalhadores da administração pública logo elas só podem ser oriundas de falhados que não conseguiram ter acesso legal a ela.


Construí propositadamente o título sob as regras da lógica e dei-lhe expressão de falácia.
Não o fiz garantidamente numa perspectiva de anulação e muito menos numa forma descuidada de dar o flanco a contra argumentadores.
Quem sabe de lógica e quem sabe o que é uma falácia, sabe que constituirá uma falácia afirmar que, se se trata de uma falácia, logo toda a informação é inválida.
Analisemos as premissas. Verifiquemos do seu valor lógico. E só depois tiremos conclusões.
O que antes nos pareceu uma falácia até pode constituir-se como tese.
Analisemos então:
Raiva nas medidas (uma premissa):
Qual é a lógica presente em medidas tão marcantes como sejam as associadas à destruição das carreiras, aos cortes de salários, à anulação de justas expectativas criadas por contrato?
Não parecem elas oriundas de alguém enraivecido?
Medidas contra os trabalhadores (outra premissa):
Dirão quem as toma, que as medidas, embora difíceis, se enquadram numa política necessária à própria salvaguarda do serviço público e logo no interesse dos próprios trabalhadores. Pois então porque não produzem tais efeitos? Porque aumenta a divida, baixa a produção, aumenta o desemprego, aumenta o deficit, afunda o PIB?
Não são de facto medidas contra os trabalhadores?
Até poderemos acrescentar que não só são contra os trabalhadores da administração pública como o são de facto contra todos os trabalhadores e contra os interesses do país, sem assim retirar nenhuma credibilidade à premissa.
Resta  apurar o facto de terem ou não os orquestradores desta política sido preteridos em qualquer procedimento de ingresso na administração pública.
Podem até nem terem sido…mas que parece, parece.
Falta pois este elemento, para que o que parecia uma falácia possa adquirir o estatuto de tese.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

CUIDADO

Vem aí a Fuhrer

Observação prévia sobre o título: Não é da minha responsabilidade qualquer leitura, digamos… mais ideológica sobre o termo. Cuidei de consultar dicionário de alemão e de verificar sinónimos. Fica  por isso ao livre arbítrio de cada um, ou uma, que ler estas linhas, a interpretação que queira usar.

A senhora vai estar por aqui poucas horas. Julga ela ser tempo mais que necessário, para avaliar do comportamento dos seus diletos discípulos na colónia .

O país está mais pobre, deve mais dinheiro, tem mais desempregados, está à beira de uma implosão social.

Não precisava de cá vir para ficar a saber isto. Já o sabia. Aliás foi a senhora a grande arquiteta da situação.

Estamos em crer que voltará para a capital do império bem informada e satisfeita.
Por aqui, vai a policia pôr-nos à distância. Bem distantes da senhora
É pena.
Gostaríamos de lhe dizer umas coisas…

Claro que as entenderia, a senhora  percebe português…estamos até cientes que é nessa língua que fala com o seu discípulo desta sua colónia.

Ide-vos pois…
Para o raio que vos parta.

Permita-me antes, uma pequena sugestão:
Pode levar os discípulos consigo?
Tanto que eles gostariam de emigrar…

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ingénuas perguntas

 

O que quer o Patriarca?
Que ajoelhemos perante o seu Deus ou perante o seu senhor capital?

Não é de bom tom, nem minimamente correto, tomar a parte pelo todo e assim sendo, não é correto, conotar a Igreja, no seu todo, pelas declarações do seu Patriarca de Lisboa.
Mas não deixa de ser verdade que elas expressam grandemente, a postura de uma hierarquia que abandona  o povo de Deus e presta devoção aos hereges que  exploram este.
Ajoelhe pois senhor patriarca. Ajoelhe.
E se quer ocupar o lugar  triste de um seu antecessor de má memória, pois ocupe.
Mas todos sabemos, inclusive o senhor, que muitos e muitos mil, católicos, dos que ajoelham perante Deus e que lhes dedicam preces, não ajoelharão ao seu lado.
O senhor é da igreja dos que abandonaram a Igreja dos povos.
Ajoelhe pois você.

O que quer o senhor do facebook?
Atirar-nos areia para os olhos ou fazer exercícios de boa fé para dar descanso à pestana?

Chega de recadinhos, de lavagens à boa moda de Pilatos, de declarações de fé.
Pois se assim pensa o Sr. do facebook, pois então atue.
Tem nas suas mãos e nas suas competências não só esse direito, como acima de tudo essa obrigação.

O que fazer a 12 de Novembro?

A senhora alemã que recentemente foi recebida em Atenas em ambiente de verdadeira apoteose.. por mais de 7 mil policias gregos, vem visitar esta colónia a 12 de Novembro próximo.
Até era um bom dia para comprar caramelos em Badajoz, não fora…
Quantos policias, com farda sem farda, por terra, por ar vão ser destacados para proteger esta senhora?
De que tem ela medo?
Não quererá visitar-nos dois dias depois? A 14 de Novembro.
Ficaria a saber mais de nós.
Mas olhe, tome cuidado. Os seus rapazes só lhe vão mostrar as traseiras…dos edifícios claro está, que é o sitio por onde eles entram agora.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

AINDA NÃO PERCEBERAM

 

Há muita coisa nova a acontecer todos os dias. Sentem-se.
Não são já os turbulentos rios subterrâneos a ameaçar emergir violentamente.
São os caudalosos rios de gente às superfícies com uma determinação e uma garra nunca antes vistas que anunciam e dão corpo a estas coisas novas.
E perante isto, têm os de sempre, os mais diversificados e ignorantes comportamentos.
Uns, fecham-se em palácios, pátios, entram pelas portas das traseiras, não anunciam deslocações.
Outros, entretêm-se, em comentários televisivos  entediantes e em doutas crónicas.
As recentes eleições na Venezuela foram terreno fértil.
Primeiro, acalentaram o sonho de ver Chávez derrotado. Rejubilaram com a avenida cheia.
Depois esqueceram as avenidas cheias das gentes de Chávez e começaram a ensaiar a velha tese do «ditador» (alguns escreveram, de garganta seca: “Chávez continua”). Tiveram dificuldades em dizer: “Chávez ganhou”.
O discurso bafiento do “ditador” ruiu, quando o derrotado, num assomo de honestidade, decidiu reconhecer a derrota.
Pois então, o que fazer?
Minimizar a vitória, enaltecer a derrota.
Em editorial do jornal “Público” de hoje e com chamada de primeira página afirmam: “Chávez tem um país partido ao meio para governar” e partem por ali dando enfoque à votação de Capriles (44,97%), menos 10% e menos um milhão de votos que Chávez.
E também não referem um participação de 80,94%.
Eles, que vivem num país onde mais de metade dos eleitores não se sentem motivados a votar, onde o partido do primeiro ministro tem uma votação inferior a 40% e onde, sem tal ter sido dito aos eleitores em tempo útil, se fazem coligações (arranjinhos de poder) após as eleições. Num país onde se ganham eleições com recurso às mais descaradas mentiras.
E vão também falando de tratamentos diferenciados na comunicação social, que daria a primazia a Chávez. E fazem-no sem corarem um pouco, um pouco que seja…os desavergonhados.
Ah pobres arautos…não percebem nada de nada a não ser o que consta  da cartilha que pregam há décadas.
O que se passou na Venezuela foi a mais genuína  expressão democrática nestes conturbados tempos presentes.
As mesmas expressões democráticas que noutra escala, vão ocorrendo aqui, no país destes senhores fora de tempo.
Mas eles ainda não perceberam, porque se recusam a perceber…

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Distrações alienantes

 

O que ontem foi pausada e desavergonhadamente anunciado pelo individuo encarregue de aplicar a estratégia, não apanhou ninguém de surpresa.
Garantidamente que não, até porque cada vez menos acredito na existência de distraídos.
Julgo mesmo que é acabado o tempo dos distraídos.
O que se pode  constituir como surpresa é  saber ou procurar saber até quando vai durar o tempo dos homens sem vergonha.
Até quando vão poder continuar?
Julgo que é uma questão de tempo, mas de quanto tempo?
E mais, julgo que a surpresa maior e a mais inquietante é procurar saber se o que se segue é a instauração pura do regime dos sem vergonha (sob uma ditadura de novo tipo - de que cada vez estamos mais próximos) ou se pelo contrário, os homens acordaram de facto e libertos das «distrações alienantes»  em que se têm deixado enredar, vão finalmente iniciar o caminho que deve ser seguido pelos homens livres?
Pela minha parte aguardo, agindo.
O caminho dos homens livres, não é um caminho a percorrer só por aqui, assim como também não é só por aqui que aparecem sinais de que os homens se estarão finalmente a libertar das «distrações alienantes».
Chegam sinais marcantes de Espanha; Grécia; França; Itália - para falar dos que têm por base as mesmas razões. Aguardamos outros e julgo que não demorarão.
Mas, neste processo de abandono das «distrações alienantes», convém cuidar de, sabendo cuidar das questões aparentemente locais, não descurar a condição de que o homem livre é um homem de paz e solidário.
E a par do processo a que aqui aludo, vão acontecendo coisas no mundo em relação às quais devemos prestar muito atenta atenção:
Na Síria, continua o engendramento dos homens sem vergonha e homens, mulheres e crianças, morrem diariamente por força disso. Ditadores nos seus países a ensinarem por força das armas (e das mortes) a democracia. Vale tudo. O último episódio, está ligado a um morteiro sírio que atingiu a Turquia e matou inocentes deste lado. Os homens sem vergonha continuam a usar os meios de sempre.
Disseram-nos à pouco que Kadhafi havia sido morto por um combatente líbio. Sabe-se agora que foi morto por agentes secretos franceses…
Este morteiro sírio, será sírio? Disparado por sírios?
Porque acabou a distração, sabemos que o que se pretende em dar o pretexto que falta para a NATO intervir diretamente.
Ainda sobre distrações e agora noutro contexto, quero fazer um pequeno vaticínio (qual zandinga): Vão ocorrer eleições dentro de dias na Venezuela. Os sem vergonha de todo o mundo aguardam ansiosos que o seu correligionário ganhe as eleições - mostram fotos de uma avenida cheia de gente e salivam expectantes. Mas se ganhar Chaves, as manchetes dos jornais dirão: o ditador perpetua-se no poder…
Nada de distrações, só pode ser mesmo o lema dos homens que querem ser livres.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

EXPOSIÇÂO


Sete fotografias de Portugal

Legendas quase breves para breves retratos a preto e branco . Mais preto que branco…

À entrada deve ser colocado o aviso: Esta Exposição contém cenas susceptíveis de impressionar os visitantes. (principalmente os que têm andado distraídos).

Foto: 1
Enquadramento: Hienas com dentes ensanguentados
Moldura: Paus de carvão
Legenda: Gulosos pululam, salivando, ao cheiro de dinheiro fresco. Antes, ainda cuidavam de alguma reserva, mas agora fazem jus à sua gula, não só  descaradamente mas com um atrevimento insolente.
É preciso privatizar a CGD.
A bem de Portugal, claro.

Foto: 2
Enquadramento: Sereias em cândidas cantorias:
Moldura: Entrelaçado de hipocrisia sobre arco pintado de azul celeste
Legenda: Nem todos podem ter acesso a tudo, disseram em nome de uma ética.
E quem foi dotado desse poder supremo de poder decidir?
Ninguém vai acreditar (pois não?) que os senhores éticos estavam simplesmente a dizer que quem tem dinheiro, tem direito aos tratamentos, quem não tem…que vá morrer longe.
É preciso racionar (ou racionalizar) recursos.
A bem de Portugal, claro.

Foto: 3
Enquadramento: Carantonhas espreitando a medo, a uma das janelas do palácio em ruínas
Moldura: Aro de fogo
Legenda: Ufa. Já passou diz um dos espreitadores. Achas? pergunta a medo, muito a medo, a que estava logo atrás.
E se eles voltam?
Tranquemos-nos por aqui, fechamos janelas por causa do barulho e vamos dando améns..
A bem de Portugal, claro.

Foto: 4
Enquadramento: Cenas mais «expressivas» extraídas de “La grande bouffe “
Moldura: Intestino de boi
Legenda: Em sequência patética vão desfilando os comentadores, inchados, gordos, olhos arregalados, doutores, professores, engenheiros e outros eiros, falando de dívida, honra, esforçando-se por apresentar como inevitável o que era evitável.
Apelam à honra dos honrados que não têm culpa e dão toques de cor de rosa aos culpados sem honra.
São os arautos do sistema cada vez mais parecidos com os bobos do sistema.
A bem de Portugal, claro.

Foto: 5
Enquadramento: Anjinho de asas, escondido atrás de uma nuvem
Moldura: Aro de espinhos sobre algodão
Legenda: Ansioso, aguarda a oportunidade. Já fez de tudo e tantas vezes contrariado. Passeou-se em feiras, armou-se em homem de lavoura, afundou-nos com submarinos. Casou-se à pressa e por mero interesse (e só depois de consumar o casamento é que informou) e agora espera pelo momento certo para cobrar rica pensão de alimentos.
A bem de Portugal, claro

Foto: 6
Enquadramento: Cenas do fogo de Alexandria
Moldura: Lombadas de livros calcinados
Legenda: Teve entrada de leão, rugindo ameaçadoramente e ainda hoje, mesmo acossado, continua a manter um rugido, mais esporádico é claro, mas mesmo assim, assustador. Uns sacanas abelhudos descobriram-lhe a receita rápida para o canudo o que o tem deixado um pouco atarantado.
Tem procurado aplicar, com o mesmo zelo, uma receita rápida para destruir tudo o que lhe cheire a Abril, seja nas autarquias, seja nos direitos dos trabalhadores.
Convenientemente, ultimamente,  mandaram-no rugir para longe daqui.
A bem de Portugal, claro

Foto: 7
Enquadramento: Imagem a três dimensões de Portugal a afundar-se no Atlântico  vendo-se uma figura terrivelmente parecida com o primeiro ministro a fazer força, calcando.
Moldura: Contornos graníticos do mapa de Portugal com o vértice inferior esquerdo espetado sobre os Lusíadas e o direito sobre o pescoço de Camões.
Legenda : Quando tudo ameaça ruir (qual orquestra do Titanic) PSC (um dia esclarecerei a sigla) mas parte dela significa Passos Coelho, cita Camões (Ah Camões, pobre Camões, quão semelhante está teu fado ao nosso), permite (incita) que o seu chefe de segurança  amedronte um jovem e empurre um operador de câmara e anuncia mais uma medida daquelas que prometeu nunca tomaria.
Não se preocupem, ele pedirá desculpa…
A bem de Portugal, claro.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

E depois do adeus?

 

Os escribas encartados e os analistas de alcofa andam extremamente atarefados - procuram a todo o custo espalhar a ideia de que a tempestade passou.
De facto, este Outono teve pressa em se anunciar e forçou-nos a recebe-lo com umas valentes caqueiradas de água, mas não são estas tempestades  que os preocupam, ou melhor, que os preocupam a eles e aos respectivos patrões.
As tempestades inquietantes (para eles)  são os mares de gente que encheram as ruas e praças das nossas cidades, são os protestos diários onde um qualquer deles ponha os pés, são a determinação e convicção demonstradas . É a lucidez expressa nos comentários e no construir de slogans.
Eles querem convencer-se (nos) que já passou.
Que bastam uns pequenos retoques de cosmética e uma retórica retirada das ajudas sentimentais (entre os parceiros da coligação está tudo bem, afiançam, afinal continuam a viver sob o mesmo tecto…) para que tudo volte à normalidade.
E a dar-lhes razão corre sôfrego o PS - assim.. (como?) - já não apresentam moção de censura e mais aquele eterno e entediante servidor que teima em falar como dirigente sindical e que é e sempre foi um refinado traidor dos trabalhadores
Por pouco tempo estiveram (estiveram mesmo?) do lado certo da barricada.
Pois agora e neste contexto o que se vai seguir?
Do lado de cá da barricada, como se vão desenrolar as coisas, como vão agir os diversos atores?
Espero que nas ruas nos continuemos a encontrar com os homens e mulheres honestamente socialistas.
Espero que outros abandonem a postura  de se  «pôr  em bicos de pés» que têm assumido por estes dias. Que todos se convençam que ninguém é dono de ninguém e que para terem estado os que estiveram, muitos dos que lá estiveram, já tinham estado em  muitas outras.
A luta não nasceu agora.
Agora só ganhou uma dimensão como ainda não tinha tido até aqui.
Por isso, meus senhores, não vos embriagueis.
De alguns ouvi, o que só a embriaguez pode provocar: que estes protestos foram protestos contra os políticos - Ai como os políticos responsáveis pelo estado das coisas gostam de ouvir isto…
E outros, no mesmo sentido de pensamento, afirmar que é preciso tirar os partidos das lutas.
Tão de esquerda, tão de esquerda que eles são…só que usam argumentos fascistas.
Nos protestos devem participar os partidos - que sempre protestaram - os partidos que entendam (mais vale tarde que nunca) protestar, os militantes destes partidos e dos outros (porque se sentem traídos), os homens e mulheres sem partido. O povo.
E este não merece, que agora estraguemos tudo.
Nestes últimos dias dissemos adeus não só a um governo , mas acima de tudo a uma política podre e velha de mais de trinta anos.
Mas quando é que uns e outros se vão mesmo embora?
Ah, a propósito, eu no sábado dia 29, vou estar de novo na rua.
Pelos mesmos objectivos!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MUDAR DE RUMO

A propósito das manifestações de 15 de setembro, todos o sabemos,  ainda vão correr muitos bit(s). O sentido de uso de muitos desses bit(s) começou a insinuar-se no próprio dia dos acontecimentos.
Retenho-me, para já, em considerações sobre «uma» leitura.
Assisti, curioso, ao esforço de um jornalista, que em perfeita descoordenação com o que havia ouvido dos entrevistados por si, insistia em concluir que aquela manifestação era a «condenação clara dos políticos, de todos os políticos».
Estou perfeitamente convencido que por aqui, muitos vão seguir. É caminho conveniente, acima de tudo, extremamente conveniente para os responsáveis da situação. 
É certo que no calor das coisas podem ocorrer lapsos  e que os jornalistas também os podem cometer. Retenho  a informação enfática de uma jornalista que a propósito da manifestação de Lisboa afirmava que se falava na presença de  500 mil pessoas e ela alvitrava que haviam mesmo fontes que falavam em meio milhão.
Numa outra passagem, e durante um debate, alguém utilizou o conceito de anomia e em nota de rodapé o mesmo foi transposto para anemia.
Mas não creio que a «condenação dos políticos» de que já falei se integre no grupo dos lapsos e reafirmo que considero que se trata de clara estratégia.
Mas julgo que o que importa agora e o que provavelmente importará a todos os que participaram no protesto é procurar saber o que se vai seguir.
Portas, oportunista como sempre, joga no sentido de fazer passar em exclusivo para o seu parceiro de Governo o ónus da questão.
O PSD, evidentemente, não vai querer ficar com as culpas.
Vai daqui resultar um divórcio amigável? Um Governo PSD com o beneplácito parlamentar do CDS.
Quanto tempo duraria?
Outro cenário, com enquadramento teórico na estratégia de «condenação dos políticos» e já  insinuado por alguns «conselheiros» passaria por constituir um Governo de tecnocratas a que eles chamam pomposamente de «Salvação Nacional».
Uma outra possibilidade - Passos já a admitiu - são pequenas operações de cosmética  para retirar a carga inflamatória da proposta sobre a TSU e salvar assim, no essencial, os propósitos de destruição de direitos, em curso.
Mudar de rumo, que foi o sentido claro dos protestos de sábado, isso tentam evitar a todo o custo.
Dar a voz ao povo - mesmo sabendo que o povo, no voto, é frequentemente dado a dar-lhes o que querem - é ideia que os assusta.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O QUE QUER O DITO CUJO?

 

Nestes turbilhados dias  em que nada parece já ser suficiente para me causar admiração, procuro no rasto das coisas, um fio de entendimento, algo que me ajude a perceber o que está a acontecer.
O óbvio, todos sabemos, ou seja, estamos perante uma revanche recalcada e uma tentativa bruta de uma última estocada nos direitos democráticos e sociais que ainda restavam.
Sabemos e sentimos.
O que não sei e procuro descortinar é o porquê desta aparente insana teimosia do homem em esticar a corda?
Os correligionários, com medo dos destroços, avisam-no.
Os ratos, oportunistas como sempre, anunciam ir saltar.
Os que têm tanta culpa como eles, com pouco mais de ano e meio de jejum, já sentem  um apetite impetuoso e uma oportunidade de o saciarem (antes mesmo do que esperavam).
Mas mesmo assim, o dito cujo insiste e com aquela cara de …ameaça com mais.
Cheira-me a esturro. Deve esperar borrasca, para procurar demonstrar que sem ele, nos espera o caos.
O homem provoca, para que a gente reaja.
Espera ver montras partidas, carros incendiados e outras cenas semelhantes para, nesse contexto, pôr o seu boné de policia e salvar o país.
Não descuro mesmo que tenha ensaiado algumas cenas reais.
Quem já alguma vez leu o 18 de Brumário (K. Marx) conhece a estratégia.
A ser este o cenário (que parece desejar e fomentar) teria oportunidade para:
Dar grandes enxertos de porrada nos que contestam nas ruas a sua política criminosa;
Desfazer-se de empecilhos;
Calar correligionários;
Descansar sua excelência.
Manietar os tribunais.
Ou seja, uma suspensão da democracia, não temporária, como dizia a velha…senhora, mas permanente.
Por mim quero acreditar, que depois de uma borrada o povo não volta a fazer outra - pelo menos num espaço de tempo tão curto .
Se numa primeira borrada lhe deram o voto que não se caia numa segunda borrada de se lhe dar o pretexto.
Por muita vontade que às vezes (legitimamente) nos percorre por dentro…

Vamos pois encher as praças e ruas deste país com a força dos nossos protestos e sem dar razão a quem quer construir pretextos.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

UMA QUESTÃO DE LEGITIMIDADE

 

Já por aqui rebusquei, em tempos, qualquer coisa em torno dos conceitos de legal e de legitimidade.
Dando de desbarato as questões de ordem legal, porque estas são sempre a expressão dos dominantes, volto agora, em exclusivo, às questões da legitimidade.

Por exemplo, será legítimo e até mesmo expectável,  que quando um homem diz uma coisa hoje e o seu contrário logo de seguida,  logo seja chamado de mentiroso.
Será no entanto legítimo que, quando esse homem ocupa cargos públicos e os ocupa  porque prometeu a quem o escolheu, determinadas coisas e depois faz precisamente o contrário, chamar-lhe exatamente o mesmo, ou seja, mentiroso?

Há aqui, claramente, um questão de legitimidade em aberto.

Para o mentiroso (este, o fino) legítimo é mentir.
Chamarem-lhe mentiroso, é obviamente, ilegítimo.

 

Num outro exemplo, hipotético claro, será legítimo  dar um pontapé num carro desse homem ou até mesmo uma bofetada  no dito cujo, por força das mentiras que prega e dos danos que causa?
Não, obviamente que não, gritarão em uníssono os legitimistas. Tal comportamento é mesmo um crime, dirão.
Mas não é crime que esse homem tome medidas que tiram o pão da boca dos filhos do homem que pontapeou o carro ?
Criminosa será, para os legitimistas,  a atitude do homem  desesperado (que pontapeia) e não as do canalha (mentiroso e desumano) .

Há aqui claramente uma questão de legitimidade em aberto.

E perante elas, opto pela legitimidade que advém do carácter, de quem se move erguido.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

GRANDES TIRADAS

 

Inspirados, creio, nas lufadas de saber que sopram das universidades por aqui abertas por esta semana, falo de Castelo de Vide e Évora, foram produzidas também por aqui,  duas grandes tiradas (as de cortiça já acabaram) a que humildemente me sinto no dever de dar o meu contributo para o seu relevo (estou a referir-me ao relevo devido às tiradas…)

Primeira Tirada

O Professor (qual professor? O Professor) com aquele ar cândido de quem transpira por todos os poros inteligência de pacote, atirou: «Há aqui lugar para a agricultura» e logo virou manchete.
Sábia frase.

Pois então não é que aqui na imensidão destes campos do Alentejo, há lugar para a Agricultura..

Há pois há, ouvi logo a muitos, basta ver. Mas o que não há é agricultura.
E o Professor até é amigalhaço e correligionário dos homens donos desses lugares onde há lugar para a agricultora, mas onde não há agricultura.

Segunda tirada

Um dinâmico deputado, da mesma área do Professor, passou uma noite num serviço de urgência básica de uma pequena cidade aqui próxima e concluiu «Em média afluem ao serviço, no período entre as 00 e as 07 duas pessoas para serem atendidas».
Terá o Sr. Deputado de rever o conceito de média - e cuidado com a definição de «rever» (não vá o sr. deputado apresentar para esse fim alguma proposta de lei… e como têm a maioria…) - e depois deverá também estudar métodos e técnicas de constituição de amostras.
Mas mesmo tendo em conta esta «média de duas pessoas», não explicou o sr.  deputado  a medida que sugere para os cuidados médicos que merecem, mesmo estas «médias» baixas.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

OUTRA VEZ?

 

Pejados de bons exemplos, dos quais se podem destacar: Afeganistão, onde ainda hoje foram decapitados 15 homens e duas mulheres por heresia (???); Iraque onde ainda hoje parece não ter havido carnificina; Líbia onde ainda hoje se seguem as peugadas do Iraque , trazendo à liça só intervenções recentes e assumidas e inspirados nos exemplos internos oriundos da Arábia Saudita, Turquia e Israel, os convencidos senhores do mundo, falam da possibilidade de intervirem diretamente na Síria, por receio do arsenal químico que esta ameaça (?) usar.
Outra vez???
Irra.
A história repete-se e no caso só ganha novos interpretes.
E um desses novos intérpretes - dando já o Nobel da Paz como caso perdido - é precisamente um homem em que muitos depositaram esperanças recentes - Holland - o homem das esquerdas (?) francesas.
Irra.
Que o povo custa a aprender.

Aprenderá?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Terras de doutores

 


De uma assentada, duas Universidades por aqui nesta terra de gente sábia, mas iletrada.
Nestas terras onde ainda se tiram as penas aos frangos que se comem e sabe-se a cor dos porcos que deram as fêveras que vão para a brasa e onde não se  conhecem ainda as sopas rápidas e muito menos os cursos de bastar misturar água mexer e já está.
Pois é precisamente por aqui que vão abrir duas universidades
Logo duas.
Uma em Castelo de Vide e outra em Évora.
Quantos doutores vão sair dali?
Na primeira delas, julgo estar integrado mestrado à bolonhesa, já que dura uma semana inteira.
Não consultei o programa do curso mas estou em crer que haverá uma cadeira sobre «Canudos instantâneos»  na segunda, uma mera licenciatura (também bolonhesa) e uma forte componente geográfica já que dedicam especial atenção aos caminhos.
Afirmam reitor, pró reitores e outros ores desta segunda universidade que há outro caminho.
Mas se é isso que têm para ensinar, podiam arrumar já o estojo e dar de frosques.
Porque, que há outro caminho (sendo eles a ensinar-nos) todos sabemos,  e esse é aquele que nos trouxe até aqui, a este pântano onde nos encontramos.


Ai doutores… doutores, estamos fadados com estes doutores.


E o ênfase que eles gostam de dar a isto dos doutores…já vem pelo menos do tempo do outro, o das bandas da Santa Comba.
Às vezes até lhe acrescentam professor…professor doutor.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Coisas pequenas e pequenas coisas


Há e muitos que fazem grandes discursos em torno das coisas pequenas. São os que não querem moengas e que se cansam perante as coisas grandes.
E os que fazem grandes discursos sobre as coisas pequenas e que não querem moengas sobre as coisas grandes, são tão pequenos, como pequenos são os instigadores dos seus discursos.
Porque são distraídos e tendem à burrice, para o caso de algum ou alguma estar a ler(???) estas linhas, esclareço que o tamanho a que me refiro é o tamanho do carácter e o carácter é aquilo que diferencia os homens e as mulheres daquelas coisas semelhantes, mas pequenas.
Já não suporto ouvir esta gentalha pequena, às vezes armada em gente que se diz com algumas preocupações de esquerda (confesso que não sei o que é) desenrolar as ladainhas tipo: «desemprego…, desemprego…precisei de alguém que me ajudasse lá na quinta e ninguém quis ir lá fazer umas horas…» ou  «porque carga de águas é que se deve estar a pagar subsídio a malandros…» ou…
Se mais atentos, se mais intervenientes, se conseguissem um dia libertar-se das lianas que os arrastam para a selva, talvez um dia fizessem outro tipo de interrogações e exercessem dignamente as condições de cidadãos.
Deixo-os com um pequeno leque de outras coisas «pequenas» com que se podem entreter:
Quantos serão os telemóveis de serviço, pagos por nós, que estarão neste momento em «serviço» no Algarve?  Imaginemos perto de 30 000 (sim e sem exagero algum) chefes de divisão, de departamento, assessores de tudo e mais alguma coisa, operacionais de todo o tipo de operações nesta função pública onde cabe tudo e que sempre foi «casa de campo» para os amigalhaços de sempre. Custos? Contando os tais 30 mil, com um gasto médio mensal de 30 (para não me chamarem exagerado) teremos cerca de 900 000.
Quantos subsídios sociais davam para pagar?
E, quanto custam as mordomias armadas (não vou falar de submarinos, tanques, aviões e metralhadoras) - eu prometi falar de coisas pequenas -  expressas nas sumptuosas messes, nos motoristas privados com viatura para todo o serviço - levar filhos, netos, enteados à escola, as esposas ao cabeleireiro, as criadas às compras, os cães ao veterinário - os gabinetes pessoais de generais  e outros que tais no e fora do ativo?
Custos? - estimando de novo por baixo - mais um milhãozinho?
Dava para pagar quantos subsídios de desemprego?
E, quantas casas, palácios e palacetes propriedades do Estado estão abandonados ou sub sub aproveitados e quantas casas, palácios e palacetes estão arrendados, pagando por isso, o Estado,  chorudas rendas?
Porque muitos zeros baralham, fiquemos de novo pelo cálculo de outro milhãozinho.
Quantos «abonos de família» daria para pagar?
Convém lembrar que estes milhoezinhos estimados, o são, por mês.
Acho que por agora, chega de «pequenas coisas» não acham?
Mas há mais…muitas mais coisas pequenas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PALAVRAS

 

Aqui, venho depositar as palavras que já ninguém pode ouvir.
Por isso, sempre usei de reserva  em relação a este espaço.
Cedi, na sua segurança por momentos e disso me arrependo.
Mas, apesar disso, continua a ser o sitio onde considero minimamente seguro depositar as palavras, que quero proteger.
Eu gosto das palavras.
Umas, valem por si só.
Outras, sabiamente articuladas, são demolidoras.
E por isso, por vezes é necessária uma retirada, estratégica. Uma proteção.
Confrange-me o uso desmesurado que alguns fazem delas. Usam as palavras da mesma forma simplória e marialva  com que se borrifam em after shave  adidas.
Querem preencher o espaço e deixam-no a tresandar.
Um odor insuportável.
Por isso, trago para aqui as palavras que gosto.
Para as proteger.
E para as usar, quando tal for necessário e útil.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

UM ABRAÇO

 

Em tempo recente, noutro espaço  que por vezes frequento, escrevinhando, escrevi palavras de adeus a dois camaradas. A dois amigos.
Não foi fácil.
Hoje, tenho a tarefa facilitada.
Vou escrever não para dizer adeus mas para expressar um abraço e dar os parabéns a um camarada.A um amigo.
Eu sei que há um ligeiro atraso, mas sabes  sei que sabes, que não é propriamente o dia que conta, mas o que fizemos em todos os dias desde  então, sendo o então, o dia primeiro das nossas vidas.
Há uns tempos, uma escrita destas não era mais que uma perfeita lamechice, hoje assumo-a e faço-a na perspectiva de que seja um tributo, não só pessoal mas alargado a outros que tal como tu, também fazem da vida e da participação cívica empenhada  uma razão de ser para os dias.
Tu fizeste-o e fazes, na aldeia (Santana tem sorte), na colectividade, na política, no futebol, na salvaguarda de um património cultural em risco de perda.
Gostei de aí ter ido e de me ter juntado a outros,  aos teu amigos que não conhecia e aos que partilhamos.
Estavam fresquinhas as cervejas e quentinho o fim de tarde.
Retenho que não dedicámos muito tempo ao passado (e tantas estórias que teríamos para lembrar e recriar do tempo em que juntos constituímos uma equipa (equipa, mesmo) fantástica  de direção sindical (passe a imodéstia a que me sinto no direito).
Não perdeste a oportunidade de mandar um abraço à Fernanda, assim de mansinho como quem não quer a coisa.
Do jeito de tu fazeres as coisas.
Mas …mesmo num simples abraço de parabéns, há um mas…interrogo-me sobre o «desperdício» que alguns fazem sobre os teus atributos (e de outros) em detrimento de «vontades e empenhos» tipo  papas rápidas que vão proliferando nas nossas órbitas.
Mas esses podem ficar a saber que estão perdendo muita generosidade e uma garra danada de entregas desinteressadas.
Mas, isso são os mas…
Um abraço José Manuel e muitos parabéns.
E ao contrário do outro, desejo-te que contes, pelo menos, outros tantos.
Eternamente jovens, como teimas. Como teimamos.
Um abraço

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ESTRANHO


Hoje, os jornais nada dizem da Síria. Mas será que algum dia disseram?
E tanto que eu gostaria de saber.
Com verdade e imparcialidade.
Mas não sei e não me dizem e o que infelizmente todos sabemos é que por ali, morreram e morrem diariamente, homens, mulheres e crianças, por força de uma guerra estúpida (como estúpidas são todas  as guerras).
Começaram por me falar (uns) de uma luta de libertação ao mesmo tempo que (outros) falavam de provocações armadas por  mercenários de países vizinhos (e não só).
Falaram primeiro de massacres de inocentes e apresentaram sempre os mortos como vitimas só de uma das partes e logo de seguida (sem pudor) falavam de financiamento, entrega de armas e apoio logístico à outra parte,  por parte das “democracias” vizinhas (atente-se por exemplo no exemplo democrático da Arábia Saudita).
Ficámos também a saber que a base militar de uma das partes, se situava na Turquia. (outro exemplo de tolerância …os curdos que o testemunhem).
Lembram-se do episódio do avião militar turco abatido pela Síria? Não teria sido ensaio para outro tipo de escalada?
A Turquia correu a gritar pela sua condição de membro da NATO e a pedir a intervenção desta.
E com certeza todos sabemos,  que para chegar onde pretendem (Irão) é preciso construir caminhos. Mesmo que esses caminhos sejam abertos entre sangue derramado e cadáveres de vitimas inocentes.

Mesmo que se inventem primaveras árabes para entretenimento intelectual de alguns.


A liberdade dos povos que se lixe.
Como podem ditadores promoverem a liberdade de outros povos ao mesmo tempo que a aniquilam aos seus próprios povos?
Não há limites para a canalhice?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

BURROS

 


Na Antena 1, ouvi hoje Mafalda Lopes da Costa , sobre a expressão : «a pensar morreu um burro».
Sem conseguir perceber porquê e muitos menos porque carga de águas (talvez me repita…burrice), a imagem do burro renitente entre saciar a sede ou a fome acompanha-me desde manhã, (acompanha-me, salvo seja…embora a companhia de um burro (de quatro patas) até possa ser simpática).
E inspirado na indecisão fatal do dito cujo, dou por mim a pensar na melhor forma de transferir um burro de um curral para outro.
Isto a propósito de outras coisas recentes.
Ou seja, de outras burrices…
Mas é simples.
Provoca-se grande estardalhaço no curral onde está o burro, abrem-se  as portas desse curral e espera-se que o burro saia, se dirija à manga que está em frente e por aqui siga até ao próximo curral.
E se o burro, teimoso como sabemos, mesmo assim não se mexer?
Simples.
Acenamos com uma vistosa cenoura.
E se o burro, porque é burro, mesmo assim não quiser ir ?
Simples.
Damos-lhe um enxerto de porrada.
Que alternativas tem então o burro, já que nem sequer tem a possibilidade de fazer como o outro, o que ficou a pensar…?
Simples.
Espetar um par de coices (dois) um em cada curral e ir à sua.
Isto, não fosse a burrice…

segunda-feira, 30 de julho de 2012

CULTURAS…

 

Nas ruas da minha cidade, surgiram recentemente slogans , pinchados a vermelho, nos quais se  realça a cultura e se trata esta como condição “quase natural” inerente à própria cidade - entenda-se, esta cidade - e se condena a política de destruição “cultural” seguida pela maioria que ocupa o poder na Câmara Municipal.
São apelos e condenações em relação aos quais não tenho reservas de maior em subscrever, até porque se torna óbvio serem oriundas do mesmo espaço “cultural” que partilho.
No entanto, considero importante, por um lado esclarecer que «definição»  de cultura está em uso e por outro, qual a importância estratégica da segmentação  na critica à atividade da Câmara.
Todos conhecemos  inúmeras definições para o conceito de cultura.  Existirão, segundo apurado por estudiosos da temática, mais de centena e meia.
Em qual deles se enquadra o apelo?
Facilitando, reduzam-se as possibilidades a dois campos distintos (velha discussão académica).Um, em que aceitamos cultura, como conjunto de ideias, comportamentos, símbolos, práticas sociais (Cfr. Tylor) numa perspectiva muito próxima à Sociologia  e outro, em que entendemos cultura como forma elevada de manifestação  artística.
No primeiro campo, todos nos englobamos, no segundo, só alguns (mais, menos…de acordo e por razões que podem ficar para uma abordagem sequente). E nestes, uns integram-se como produtores e outros como consumidores, sendo certo que se podem acumular funções.
Não vejo mal ao mundo na partilha dos pressupostos dos dois campos.
O que me parece importante é, insinuando-se como «campo» dos dinamizadores dos protestos, o campo da produção e usufruição da cultura, procurar saber as razões da primazia para esta abordagem.
A cidade definha, mas não só culturalmente.
Definha política, económica e socialmente.
Os cidadãos  parecem cada vez mais alienados e as ruas e praças são a expressão dessa alienação.
Antes a cidade impunha-se, respeitava-se e dava-se ao respeito. Agora, são cada vez menos os que a respeitam porque cada vez menos ela se dá a respeitar.
Grafites em monumentos, mobiliário urbano destruído, lixo, ervas, estacionamento e trânsito caótico, noite como espaço (só) para o álcool e para as mais bizarras afirmações.
Isto, fazendo uma abordagem muito sintetizada do estado caótico a que conduziu a atual governação autárquica a nossa cidade.
Apetecia também perguntar aos «culturalistas» onde integram o usufruto, conservação e valorização patrimonial no seu conceito de cultura?
Numa altura em que aproxima (esperamos) o fim desta ruinosa gestão e que era importante estar a preparar e consolidar alternativa, creio que seria importante uma estratégia mais cuidada.
E, na minha opinião, ela devia passar por uma definição mais abrangente de  temas.
Quem não tem trabalho nem dinheiro que chegue para pagar a renda ou o empréstimo, quem conta os cêntimos para comprar o pão da manhã, quem deixou de tomar café (nos cafés), de frequentar as esplanadas, quem deixou de comprar o jornal, quem deixou a partilha de jantares com os amigos (porque não tem dinheiro) tem de momento, outras prioridades.
Convenhamos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Sem consenso e sem senso

 

(A propósito da ausência, só me apraz…com todo o respeito dizer…é a vida…de um espojinho)

Sofarando (surf de sofá) e fazendo projetar na linha do limitado horizonte (em sentido objectivo e não figurado), as diferentes imagens da caixinha maldita, dou por mim a pensar  nesta homogeneidade (aparente? real?) de comportamentos e formas de pensar.
Eu fujo dela a sete pés, é um facto,  e depois exilo-me em “travels”  com as suas viagens de sonho e nos canais “food” (hei-de ser um cheff, vocês vão ver), mas depois fico sem conversa (pelo menos, a conversa estandardizada)  e vingo-me nos tremoços, quando a pretexto de uma cervejola, discuto com amigos a situação no mundo.
Eu não posso estar sempre a contraria-los, caramba…
E o refúgio nos tremoços é uma boa opção porque estar sempre contra, cansa e cansa-nos…

Falaram muito em primavera árabe e eu sempre torci o nariz. Um amigo meu, useiro em adjetivações rápidas, chamou-me mesmo sectário e acusou-me de não saber ler o que se estava a passar…
Confesso que ainda hoje, estou a procurar soletrar as primeiras palavras procurando descortinar o que se passa  no Egito, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão (usando da mesma liberdade criativa para definir espacialmente “árabe”).

Mas primavera? Aquela primavera que vivemos colorida de cravos vermelhos e ondas de liberdade?
Dou de barato, um leve cheirinho de alecrim na Tunísia.
Porque de resto, não são muito agradáveis os cheiros  que recebemos vindos desta primavera árabe.

Uma outra hegemonia (consenso) decorre em torno do conceito de terrorismo.
Uma bomba que mata israelitas é uma bomba terrorista. Ou as que explodem a uma cadência diária ceifando centenas de vidas  em Bagdade.
Mas uma bomba que explode em Damasco é uma bomba libertadora. Um ato de coragem. Assim como as que explodiam em Trípoli …
Tenho para mim, que se tratam sempre, de atos criminosos.

Mais localmente, constrói-se  agora  a ideia, à qual  procuram dar o estatuto de hegemónica,  que a decisão do Tribunal Constitucional, de ter considerado inconstitucional  o roubo dos subsídios de férias e de natal, é uma decisão grave, perigosa, que ameaça o futuro do país e outras desgraças idênticas.
E eu, de novo perplexo.
Violar a Constituição não é grave o que é grave é o Tribunal que tem como função protege-la , exercer - mesmo que titubeante - essa função .
E perigosamente vejo este conceito a ganhar sorrateiramente caminho para figurar naquele espaço das verdade indesmentíveis.
No mesmo espaço onde está a crise que ninguém discute.
Onde está o argumento de gastámos de mais e agora temos que fazer sacrifícios.
No mesmo espaço onde está a Troika

São tão enfadonhos, tão medíocres e tão alienantes os consensos

Ai como nos aproximamos da aceitação de que os fins justificam os meios…
E eu que pensei que a ideia de suspender a democracia tinha sido um mero lapso de linguagem.

Ela não só está já suspensa como suspeito se aproxima rapidamente da aniquilação.

O Chefe até já diz: que lixem as eleições…

terça-feira, 26 de junho de 2012

À espera de um espojinho

 

Quem já viu um dia um espojinho - sim, eles veem-se - sabe bem da sua imprevisibilidade.
Basta uma tarde quente, bem quente, naquelas tardes em que tudo parece estar quieto - como agora se registam - e sem saber como, nem porquê, eis que se forma um espojinho, por vezes bem inho, noutras já bastante irrequieto, levantando poeiras e pastos.
E depois podem passar-se semanas, meses e nada.
Este espojinho, não foge à regra.
Desde Maio que não se apresenta.
Talvez para não perturbar as fogueiras populares de António, João e Pedro.
Quem sabe para não empoeirar as sardinhas sobre as brasas.
Ou só, simplesmente por preguiça.
Entretanto, na Grécia com engendraria e outras artes tudo voltou à «normalidade» tão «normal» que os fascistas lá  estão à espreita.
Em Espanha que não, mas que sim.
Itália, nem pensar, mas talvez sim.
Portugal, Irlanda já há muito que sim.
Chipre, sim.
E de todos estes sins, resultam milhões no desemprego, falências, misérias.
E os fascistas à espreita.
Em todas as esquinas desta Europa caduca.
E nós - aquele imenso nós que não abarca nós -  vamos gozando o sol…rezando para mais uma vitoriazinha da seleção e procurando aguentar a passagem do mau tempo.
E os fascistas à espreita.

Que passe por aqui um espojinho, daqueles já grandinhos, que escancare portas e janelas e tire dos abrigos os nós abrigados e os traga para as ruas para dizer não a esta  imundice de sins canalhas  e que corra com os fascistas que estão expectantes nas nossas esquinas.

É a minha esperança nestes dias quentes…

Que venha esse espojinho.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Até quando?

 

Até quando vamos continuar a ouvir baboseiras?
Até quando vamos ter que continuar a crer nestas patacoadas enroladas em papel pardo pseudo académico?
Quem são estes ? Que currículo?
A culpa do desemprego é do salário alto dos trabalhadores???
Dizem e olhamos-lhes para as fronhas e compreendemos.
Como humanista,  não me regozija a falta de saúde mesmo de adversários, mas é óbvio que se pode estar na presença  de casos de saúde mental muito débil.

Basta ver as “curvas” sobre o comportamento do emprego e a dos salários.  Enquanto sobe a linha do desemprego, baixa a dos salários.
Devia ser ao contrário, a crer nas patacoadas.
Mas não é.
Sobe o desemprego ao mesmo tempo que baixam os salários.
Ainda pensei construir gráfico…
Mas é uma perda de tempo, não acham?

De tão desvairados, acontece fugir-lhe a boca para a verdade:

A essência da crise consiste em baixar os salários e destruir direitos.
Quando estes desideratos estiverem atingidos, acabará a crise.

Ou então,  quando gregos, troianos, lusos, gauleses e todos os outros, correrem (a sério) com os troicanos, esta espécie de gente que invadiu e destrói a Europa

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Que seja deles, o Olimpo

 

Andam alvoraçadíssimos  e convenhamos que o caso não é para menos.
Quando julgavam que tudo seria assim eternamente, uns quantos acontecimentos alteram-lhes a ordem natural das coisas.
Primeiro e de novo a Grécia, depois aquele contratempo Francês, agora nem na sacro catedral alemã se escapam.
Irra.
Berlusconi já se havia ido, Sarkozy foi-se, Merkel já tem as barbas, perdão, o buço, de molho.
O mordomo português deles em Bruxelas ataranta-se.
Anda tudo tão confuso que aqui ou ali até já se insinuam coisas do domínio não real, coisas dos espíritos, talvez.
Fiquei hoje a saber - através da leitura da crónica de Rui Tavares no Público - que o avião em que seguia Hollande, para o jantar com Sr.ª Alemã, foi atingido por um raio, o que implicou regresso à base para troca de aparelho.
Das duas uma, ou “alguém” não anotou bem a data de passagem de testemunho e “julgava” que o ocupante do dito avião ainda era o senhor antigo que frequentemente fazia aquele trajeto ou então, “alguém” quis dizer a Hollande : também tu …Hollande???.
Em Portugal, os discípulos cábulas  nem conseguem perceber que os seus mestres de cátedra estão de malas feitas e insistem, esganiçados mas esganando-nos, que sim, que sim, que é assim porque tem que ser assim.
Aquele, o das feiras, o dos velhinhos, o dos submarinos, proclama: nós sim, somos honrados, cumprimos os nossos compromissos, agora os outros… os gregos (perdão, eu não disse os gregos…pois não?)…


Pois os gregos vão de novo a eleições e são estas que agora, assustam e de que maneira, os passarões e assustados, proclamam desgraças e chovem as ameaças das mais diversas penalidades.
Todos ameaçam os gregos - só falta o Papa, que talvez ainda não se tenha metido diretamente à bulha por razões de ordem ecuménica.


Pois por mim, se os gregos se aguentarem à bronca, demonstram uma coragem que só honra a pátria dos nossos saberes.
E a ser assim, que seja deles, dos homens e mulheres livres da Grécia, o Olimpo .

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Coisas gregas

Anda por aqui e por aí uma conversada danada sobre as “anormalidades gregas”.

Caos, irresponsabilidade e suicídio coletivo são só alguns dos adjetivos usados pelos useiros e costumeiros comentadores e secundados pelos chefes políticos ainda em serviço.

Nada que não se previsse, passado o atónito, viria a soberba.

Barroso (que parece adivinhar o curto prazo da sua comissão de serviço) proclama que não há alternativa e que o caminho do desastre é para prosseguir e ameaça (ameaça, ameaça, ameaça): –“ pois se os gregos não se sabem comportar (votando como ele e os patrões dele querem) pois então, pois então…vão ter que sair do euro!”

Que chatice…mas pelos vistos, quem o vai fazer, são os próprios gregos e por decisão soberana do seu povo…

Um semanário português (de referencia, como eles gostam de se intitular) na senda de procurar ridicularizar a expressão democraticamente tomada pelo povo grego, afirma: “…na Grécia, a taxa de abstenção foi superior à % do Partido mais votado”.

Pois foi.!

E em Portugal?

Na últimas eleições legislativas (2011) O PSD (o partido mais votado) obteve:38,63% e a taxa de abstenção foi de : 41,93%.

Na Grécia votaram 65% dos eleitores e em Portugal 58,07%.

Quando compararem, comparem. Mesmo que estejam ressabiados com os resultados…

E falem também nas ardilosas engenharias que constroem para salvaguardar os interesses instalados. O que gostam mesmo é que as «coisas» saltitem de um para outro, e desse mesmo para o outro e sempre assim, dentro do que chamam o arco do poder. E para o efeito, vale tudo, na Grécia, inventaram um bónus de… 50 deputados para o vencedor, mas nem mesmo assim, se safaram agora.

Atente-se no quadro de resultados:


Formação Política(*)

% votos obtida

Mandatos atribuídos
Mandatos que seriam proporcionais aos votos
KKE (Comunistas) 8,48 26 25
Syriza (Esquerda Radical) 16,78 52 50
Dinnar (Esquerda Democrática) 6,1 19 18
PASOK 13,8 41 41
Nova Democracia (direita) 18,5 108 56
Direita nacionalista 10,6 33 32
AD (Neonazis) 6,97 21 21

* mantive a definição “original”. 

Com a engenharia do “arco” o partido mais votado tem um bónus quase igual ao nº de mandatos atribuídos pelo voto.

Os partidos  (que podem eleger, pois estão estabelecidos mínimos) obtém 82% dos votos e 100% dos mandatos.

Mas mesmo assim…

O que estarão já a engendrar os engendreiros…?

terça-feira, 8 de maio de 2012

Obrigado, camaradas

 

Aos homens e mulheres, alguns deles tão jovens, que tiveram a coragem de enfrentar as pressões, as perigosas seduções e toda a teia maquiavélica (que me perdoe Maquiavel) montada para aquele triste e prepotente espetáculo de ataque ao 1.º de Maio e aos direitos dos trabalhadores, um grande e fraterno abraço.


Obrigado pela vossa coragem e verticalidade.


Aos outros, aos que não resistiram - uns por falta de coragem, outros por imposição social, outros porque lhes era humanamente impossível - e até para aqueles que o fizeram por convicção (também os há),  que lhes fique clara a ideia,  que o aconteceu só aconteceu, porque AINDA há um 1.º de Maio.
E porque esse 1.º de Maio carrega consigo um património de lutas de muitos anos, algumas delas travadas nas mais brutais condições de repressão e de falta de liberdade, por homens e mulheres que tendo também (como vós, como nós) filhos por criar e rendas por pagar, tiveram a coragem de se erguer.


Não é um mero feriado - É o 1.º de Maio. O Dia do Trabalhador.

Aqueles que resistiram e que neste 1.º de Maio souberam honrar o património de lutas, inscrevo-os no patamar dos homens e mulheres de coragem, cuja atitude deve ser enaltecida como exemplo.

Obrigado, camaradas.

domingo, 6 de maio de 2012

VIVE LA FRANCE

 

Não precisas de me avisar, camarada.
Sei, sabemos…todos sabemos.
Dali não há que esperar grandes coisas.
A mudança de que falam, resumir-se-á, à mudança de cenários e que o que há a mudar, não mudará.
Sabemos.
Assim foi e assim é de supor que será.
Por enquanto.
Mas…
Nem esses avisos de impedem de a esta hora sorrir…e quase ser tentado a ceder à vontade de comemorar..
Podem só ter mudado o sitio dos móveis… mas mudaram-nos.
Já se tornava insuportável este aglomerar de cotão, este mofo irrespirável.
Agora Sarkozy já foi.
Merkel voltou a levar tareia…
Sobre a Grécia nem piam, estão a procurar ainda  procurar perceber o que aconteceu.
Houve um espojinho por aqui.
A  Europa parece mexer.
Vive la France
Viva a Europa.

Engraçado.
Hoje senti-me, por estranho que me pareça, europeu.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

DESCONTO TOTAL

 

Em tudo tão iguais…

Tão preocupantemente iguais…


Todos conhecemos situações semelhantes, quando outros (parecidos ou iguais), confrontados com os seus atos  e incapazes (por cobardia) de os assumirem, invocaram desconhecimento.
A história está tristemente recheada de tais episódios.
Agora, perante este vil ato de revanchismo e de puro ataque aos direitos dos trabalhadores, temendo o engrossar da repulsa, os responsáveis por tal, procuram lavar mãos.
Diz o sonso - aquele que não consegue encontrar talhantes - que não sabia da «campanha».
Pois…
E talvez também não fique a saber, mas eu digo, sabendo de antemão que tal não lhe tirará o sono, que comigo não contará mais como cliente.
E não vai perder o sono porque de dentro da sua opulência barriguda  e sob a sua caquéctica arrogância não vai nunca compreender o prazer que me dá poder decidir não pôr  mais os pés nas vossas lojecas.
Mas é um prazer enorme.
E prazer maior teria, se este meu prazer se transformasse no prazer de muitos.
Mas como o senhor que não consegue encontrar talhantes, não consegue compreender… olhe: dou-lhe um …desconto…total.

Para as suas vitimas:
Aqueles que se acotovelaram, empurraram, ofenderam para chegarem à última garrafa de óleo;
Os que, desesperadamente, precisam mesmo de aproveitar;
Os que, gananciosamente, estão sempre ávidos por borlas;
Os que , obrigatoriamente, tiveram que aturar.
Para todas estas e outras, por entre uma palavra de solidariedade para algumas, um aviso para todos:

Todos sabemos que,  quanto mais nos agachamos,  mais..

terça-feira, 1 de maio de 2012

Retrato da minha cidade no 1.º de Maio

 

Um som de fundo preenche as ruas.

O vento de sul, que arrasta consigo nuvens negras, traz também esporádicas e grossas pingas.

À mistura, arrasta o som das vendedeiras de cuecas, peúgas, atoalhados e outros bens.

No Rossio há mercado. E gente.

E nós percorremos as ruas, quase desertas.

Apesar de tudo, o comercio tradicional, quase todo, fechou portas.

Apesar disso,  encontrarmos, aqui e ali, alguns comércios abertos.

As lojas dos chineses, essas lá estão,(religiosamente – coisa estranha de dizer) à espera de nós.

Encontramos amigos que nos dizem haver enchentes nas grandes superfícies da periferia.

Nada que não tivéssemos previsto.

Na melhor estratégia Goebelsiana haviam anunciado descontos soberbos.

Canalhas.

Fascistas.

E as gentes miseráveis da minha cidade acorreram como feras esfomeadas...

Venderam-se por meio prato de lentilhas.

 

Mas nós fomos para o desfile... para a luta.

Nem um café comprámos.

Quantos éramos???

Perante o desalento, alguém me lembra os ditos de um homem simples:

«Há pobres desgraçados, que são pobres em tudo!…».

 

Lamento, mas hoje estou muito desanimado.

Só me confortam as palavras cantadas de Sergio Godinho:

...não é por mim que eu me queixo....

Quem me lê, sabe o resto.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Falta cumprir Abril

043

Dou por mim a pensar se estes figurões que se pavoneiam como senhores do país pensarão mesmo assim, ou seja, se se julgarão senhores do país.
Para mim não são mais que um mero (mas triste e grave) acidente de percurso.
E por força desse acidente, coube-lhes por voto e por negociata  posterior, o direito a governar.
Por quatro anos, mas de acordo com a Constituição e as regras própria de um regime democrático.
Ao ouvi-los (e muito mais ao sofrer os efeitos das suas medidas) ficamos com a sensação que por aqui não há Constituição, não há regras democráticas a respeitar e não há um tempo para um mandato.
A qualquer hora e qualquer um deles abre a boca, suspende, retira, ameaça.
Passámos a ser um país suspenso.
Suspendemos o TGV.
O Aeroporto.
O direito ao Trabalho.
O direito à saúde e à segurança social. O direito à remuneração.
Suspendemos a justiça.
Cumpriu-se a profecia da senhora velha (ou deverei dizer velha senhora?) que consistia em suspender a democracia.
Falam com uma arrogância e um desprezo que julgo que poucos julgariam possível. O chefe, incomodado com uma ameaçazinha de menino apanhado a fazer diabruras (o senhor velho da UGT), afirma com desdém: «Só pode ser brincadeira de 1.º de Maio».
Pois não sabe, mas vai ficar a saber que o 1.º de Maio não é dado a brincadeiras. O chefe (deles) está enganado no calendário e julgo que no país.
Aqui, sabemos, falta cumprir Abril
Mas mesmo com as graves consequências resultantes de acidentes de percurso, vamos cumpri-lo.

Viva o 25 de Abril

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ai, como vieram tarde…

 

Não porque tenham peso na consciência - não lhes pode pesar o que não têm - mas porque lhes convém  contribuir para atenuar a brutalidade das medidas que tomam - fazem pulular por aí campanhas de diversas tonalidades e sons, ditas de solidariedade.
E chamam solidariedade ao que sabem chamar-se caridade. Alguns nem sequer  este cuidado têm já…

Nos últimos dias ganharam destaque  duas campanhas desta dita «solcaridade».
Uma que noz diz que não devemos passar o tempo a queixarmos-nos e uma outra que nos fala de desperdícios.

Na minha opinião, chegaram tarde tais campanhas.
Se tivessem chegado em tempo, talvez muitos portugueses tivessem tomado consciência em tempo, de que não bastava queixarem-se de Sócrates e do PS e que era preciso agir para que Coelho e o PSD não dessem continuidade ao trabalho feito,  ou então, tivessem tomado consciência do desperdício que foi o seu voto em tais gentes.
No que se refere a desperdícios, é com mágoa que vejo Vitorino, Jorge Palma, Sérgio Godinho e outros, que sei que têm sobre a caridade as mesmas objecções que eu e que partilham de igual forma os valores da solidariedade que também partilho, a darem voz a um simplório e triste hino que denominaram  «acordar».
Estou em crer que tal facto só pode derivar de não terem acordado quando aceitaram tal convite…
Gostar de vos ouvir (Vitorino, Jorge Palma, Sérgio Godinho), saber dos vossos valores e admirar a vossa consciência cívica não me pode impedir dos vos criticar.
Não gostei de vos ver ali…

terça-feira, 17 de abril de 2012

Um raminho de alecrim

 

 

Tanto Mar

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim


Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Sim, por aqui é primavera. É Abril

Dizem-me que é Abril por aqui. 
O calendário assim o dita.

Mas não encontro as cores, os cheiros, as alegrias de Abril.
Procurei um raminho de alecrim e esbarrei nas paredes de arame com que cercam as terras.
Procurei cravos vermelhos e encontrei agressivos cardos a dificultarem-me o caminho.
Procurei alegria e vi os rostos tristes das gentes desempregadas.
Eu sei…eu sei, que restaram muitas sementes nos jardins, mas angustia-me o tempo que demoram a germinar.
Eu sei que temos muito por navegar. Tanto mar. Tanto mar. 
Só que  tão tempestuoso. Tão revolto.

Eu sei…apesar da tristeza e do desânimo, que nos vamos encontrar nas ruas.
Com as nossas bandeiras.
Com as nossas esperanças.
Com os nossos risos que teimamos jovens.

E com os cravos vermelhos que guardámos no coração e dividimos com os amigos.


Chico Buarque
 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Paradoxal paradoxo

Dizem-me alguns que tenho uma aborrecida tendência para «dramatizar» e quando pergunto por que o dizem logo me fazem notar que esta se expressa na forma trágica com que abordo determinados temas e no «jeito» nada «divertido» de escrever.

Confesso que, mesmo nas situações em que discordo logo, logo encontro um tempinho a sós, em que ajusto contas comigo.

Sim, talvez e talvez seja, por isto, ou por aquilo. Talvez.

Se conto anedotas...são longas, repetidas e sem graça.

Se conto estórias...são confusas e tristes.

Talvez mesmo o indicado seja estar calado.

E até nem é ideia muito absurda.

Antes calado do que pregador em monte ventoso.

Talvez .

Poderia reconfortar-me com a ideia / desculpa , que são só alguns que assim pensam... Pois podia...

Mas o pior é que eu também penso assim.

Vejam só no que me deu para pensar nesta Páscoa:

Nestes dias, por aqui e especialmente na segunda-feira de páscoa, devem ser poucos os que não comem borrego.

Borrego assado, em ensopado, frito, vísceras e sangue em forma de sarapatel, grelhado na brasa, cabeças no forno.

Em casa, a sós, com pouca ou mais quantidade e variedade, regado ou a seco, com vinho ou branco, no campo em festa.

Afinal é a festa.

São milhares os borregos mortos para o festim ou para a mais solitária das formas de dar corpo a uma tradição.

Não me atrevo a dar nome humano à coisa, mas que se trata de uma enorme mortandade de borregos ai isso é inquestionável.

E eu, que também sou cúmplice, dei por mim a pensar em tanta coisa, quando vislumbrei através dos vidros, nos campos quase nada verdes, um rebanho de ovelhas pastando.

Quietas, serenas, nem um brado...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ovinhos de Páscoa

 

Ovinho amarelo:

Não há cão nem gato, nem outro bicho danado, autóctone ou estranho, que não se sinta no direito de largar postas de pescada (ou marmota por força da crise) sobre a função pública e mais especialmente sobre um conjunto de trabalhadores portugueses que trabalham para a coisa pública.

Que são uma cambada de malandros, incompetentes, malcriados, privilegiados.

Proclamam, vociferando «bem feito», sobre cada sacanice que este governo e antecessores lhes resolvem aplicar.

ADSE? Um privilégio! Férias?Um escândalo! Carreira profissional? Era o que faltava.Salários?Exorbitantes.

E neste grupo de privilegiados nem cuidam de verificar que se enquadram os homens que varrem as ruas que conspurcamos, os que recolhem o lixo que produzimos em excesso, os que tratam dos nossos jardins, os que cuidam dos nossos filhos nas escolas e jardins de infância.

Homens e mulheres como os outros. Que trabalham e são explorados.como todos os outros.

E muito menos cuidaram, alguns, muitos, de porem as suas barbas de molho...

E hoje aqui estamos, todos, nesta desgraçada situação:

Sem trabalho, tantos e

Trabalho sem direitos, todos.

Ovinho laranja

Interrogo-me vezes sem conta, enquanto fujo ao bombardeamento de novas agressões, sobre a legitimidade destes pavões, uns gagos, outros alucinados, outros abrilhantinados, outros enervosamente sempre no relantie, para anunciarem, por cada vez que abrem o orifício falante, novas desgraças para quem trabalha.

Advém do voto, retorquiriam impantes.

Será? E a ser que raio de legitimidade é essa?

Podem começar por explicar:

Anunciaram aos votantes o casamento sacro que concretizaram depois?

Anunciaram os cortes de salários? A eliminação dos subsídios de férias e de natal?

Anunciaram os despedimentos e a facilitação destes?

Anunciaram as desumanidades que praticam no que concerne à segurança social?

E ainda me interrogo, se julgará o chefe que as suas funções são de provedor de uma qualquer instituição de solidariedade social, quando afirma ir dar a quem precisa, pois há quem não precise e esteja a receber.

E será que o senhor provedor não saberá que não tem nada para dar, mas sim tem a obrigação de gerir, recursos que são de nós todos?

Ou será que nestes dias conturbados eu me posso recusar a fazer os descontos, já que parece que os mesmos se destinam, não a contribuir para o estado assumir as suas responsabilidades sociais, mas a ser usados discricionariamente por um pretenso provedor, com base nos critérios tipo: «este merece» e «aquele não merece»?

Ovinho verde

Caramba. Afinal estamos na Páscoa. Pois falemos de Páscoa.

Os crentes, falarão de Cristo. Com toda a legitimidade.

Os outros, como eu, meros herdeiros culturais deste período, falarão de visitas e encontros familiares, de descanso e passeio. De festa.

É curioso que, em parte expressiva deste Alentejo, a segunda-feira de Páscoa é feriado municipal e as gentes tratam-na como a «Festa».

Mas estou em crer (adaptando o verbo ao tempo) que dedicaremos especial atenção à gastronomia

e aqui por estas bandas tendo o borrego como seu ator principal.

Eu por mim, vou dedicar-me à experimentação e vou procurar seguir ensinamentos oriundos de Alter e procurar imitar o seu ensopado de borrego com arroz amarelo.

Pesquisem na net e irão ficar a saber melhor do que falo, nomeadamente ficarão a conhecer (os que não conhecem já) o açafrão que se dá por aqui nestas terras do sul.

Boa festa.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Comentário com um dia de atraso

 

A 1 de Abril queria ter escrito: Eis Abril.

terça-feira, 27 de março de 2012

Notas para uma alegoria

 

Sabes, antes, no sítio onde vivi, pressentia que para lá da escuridão, havia luz.

E homens e mulheres que poderiam ser livres, algures.

Projetavam-se mesmo imagens dessa luz. Brilhante.

E escutava risos de alegria, estridentes, soltos.

Por vezes julgava ouvir o seu eco. Por muitas horas.

E lá, onde eu então vivia, sempre tudo tão escuro, tão húmido, tão triste.

Sussurravam-me por vezes, alguns, que sim, que esse sítio imaginado existia e que se ele existisse em cada um, um dia existiria mesmo. Era preciso querer e acreditar.

Mas lá do fundo da escuridão, logo apareciam uns brutos, que diziam que não...que era tudo mentira. Doentia imaginação.

E faziam com que tudo ainda ficasse mais escuro,mais húmido, mais triste.

Passado uns tempos, mais sussurros de liberdade.

E eram cada vez mais os que sussurravam e os sussurros ganhavam som.

E aqueles do mais fundo da negridão, cada vez mais atarefados.

Lembro-me de ouvir um, que lá no fundo da sua escuridão, berrava que não, que esse mundo não existia.

E berrou dias a fio.

E um dia...

Essa luz sonhada, imaginada, invadiu o sítio onde eu vivia.

Calaram-se os berros dos que não queriam que conhecêssemos a luz e a cor.

E os berradores, passaram a cirandar por entre nós, escondendo-se aqui e ali. Adoravam a noite – mas só porque esta é escura e nada mais.

E por momentos, houve, para além da luz e da cor, alegria.

Nesses dias, não eram ecos, eram sons reais os que se escutavam, dos risos das crianças e das gentes.

Agora, neste sitio onde vivo.

Há luz e cor mas estas parecem-me cada vez mais pálidas.

Chego mesmo a duvidar se não se tratam de mero reflexos.

Ainda há risos...mas parecem-me cada vez mais ecoados.

De tanto cirandarem entre nós, nas sombras, as figuras da negridão, parecem cada vez mais partes da coisa, quando antes eram estranhos.

Não berram como berravam antes. Põem poses académicas e falam-nos das verdades eternas.

Já não nos negam a luz e deixam-nos deliciar com os seus focos (só isso) a que chamam utopias.

Antes, na caverna onde vivia, não havia luz, nem cor, nem alegria.

E havia resistência, coragem, solidariedade e persistência.

Hoje, é verdade que chegam feixes até nós. Alguma cor, alguma luz.

Mas prostramos-nos cada vez mais embalados pelo discurso do fim das utopias.

Deixem-nos sonhar, mas não os deixam acordar e muito menos, viver os sonhos, escuta-se cinicamente, vindo das sombras.

Temo esta escuridão, quase tanto quanto temia a outra.

quinta-feira, 15 de março de 2012

OUI, NOS POUVONS

 

Just vouloir

Já que tanto prezamos estrangeirismos, pelo menos rendo-me em francês...

Hoje participei numa ação de rua com os meus companheiros de trabalho (alguns). As razões são as conhecidas: destruição de direitos, baixos salários, desprezo por quem trabalha.

Juntámos-nos numa praça, fingimos escutar atentamente o longo discurso de sempre, trocámos opiniões, acrescentámos lamentos aos lamentos e interrogámos-nos sobre as saídas possíveis.

Um de nós, pessimista, afirmou não acreditar em soluções e dizia: «e tantos... tantos de nós, sofremos...mas vamos a correr dar o nosso voto, ah o sócrates é que era um bandido, depois acreditei no passos, outro, mas agora o seguro, não tem nada a ver, é outra coisa...) ou por vezes: «eu é que já não vou em cantigas...são todos iguais».

Um de nós, o outro, dizia: «quando um dia acreditarmos, quando todos tomarmos consciência da nossa força, as soluções vão surgir».

E esta dual conversa entre quem se encontra a percorrer o mesmo caminho, empurrou os meus pensamentos para Rousseau e Hobbes, quando o primeiro considerava a bondade humana corrompida pela sociedade e o segundo que o homem é lobo do homem. Aviso desde já que não tomarei partido, mas se tivesse de o fazer, fá-lo-ia (se subordinado à escolha do pensamento dos dois) pelo filósofo «francês» nascido suíço.

Mas, quando é que o homem cordeiro, toma consciência de que a «sociedade» abusa dessa sua condição e que reforçando-a, faz dele um eterno apascentado, um joguete nas mãos dos pastores e seus cães?

Permitam-me ainda uma outra nota de reportagem – quando abandonava o plenário, ao passar por dois polícias ouvi de um deles: «vêm prá aqui queixar-se que não têm dinheiro e além ao fundo é só empinarem cervejas...».

Pois...talvez se julgue lobo, este agente da psp...mas não passa de mais um cordeiro.

Mas era verdade... lá ao fundo alguns bebiam cerveja... e era manhã...

Eram quatro ou cinco, mas o agente da psp entendeu por bem generalizar assente no exemplo deles...

Mas, quando é que os bebericam cerveja, os que ficaram nos gabinetes, os que olhavam das janelas, os envergonhados distantes, os que aproveitaram e não chegaram a lá pôr os pés, todos, todos os cordeiros deste imenso rebanho escravizado, tomam consciência de si e fazem aos pastores um enorme ...borrego, ou mais popularmente, um enorme manguito?

Não creio, mas desejava imenso que sim fosse já no próximo dia 22.

Por isso e agora em português (nesta língua partilhada por vários povos):

SIM, NÓS PODEMOS!

QUANDO QUIZERMOS!

sexta-feira, 9 de março de 2012

PASSARÕES

 

Num tempo não muito distante, quando os ventos de liberdade agitavam estas terras áridas, começaram a afluir aqui, espécimes de diverso tipo.

Quase todos jovens, formados ou em formação, entusiasmados e arautos incansáveis da Revolução, cuja boleia apanhavam.

Foram recebidos como sempre aqui se recebe, obedecendo à máxima: «seja bem vindo quem vier por bem. E eles vinham por bem. Diziam-no.

O Alentejo por natureza árido, estava então ainda mais árido. O latifúndio sufocava-o e o regime de suporte deste, encarcerava-o.

Os homens e mulheres entretanto livres do cárcere, recebiam de bom grado estas lufadas de gente com ideias frescas. Novos companheiros (assim julgavam) para a luta que sabiam ter de continuar.

E comeram açordas juntos e sentaram-nos às suas mesas. Beberem vinho da talha por eles fermentado e procuraram ensinar-lhes o seu canto, arrastado e melodioso.

Carente de gente que tivesse tido a oportunidade de seguir estudos, chamou doutor a alunos que nem uma cadeira haviam feito ainda e engenheiro a técnicos agrícolas sem curso terminado na Paiã.

E aceitaram-nos no partido e confiaram-lhe cargos. Tratavam-nos por camaradas. E eles gostavam.

E os doutores e engenheiros cimentaram com argamassa de superioridade os caboucos de confiança com que haviam sido recebidos.

E incharam, incharam. E à primeira oportunidade, traíram.

Que ninguém agora ouse trata-los por camarada. Doutores e engenheiros e não menos do que isso, mesmo que nada (do ponto de vista académico) tivessem acrescentado à situação de chegada.

E que bem que estes passarões se adaptam ao tempo e que bem que mudam de roupagem.

E mordem como cães raivosos nas memórias dos tempos onde se esforçam por apagar a sua presença.

Nem conseguem imaginar o quanto ficaríamos felizes se fossemos realmente capazes de apagar do tempo essas memórias.

Nem conseguem imaginar o asco que sentimos quando nos recordamos que um dia, estes passarões nos trataram por camaradas.

Nem conseguem imaginar o nojo que sentimos quando vimos agora um desses passarões a querer dar nomes de carcereiros a ruas de uma cidade de gente de luta pela liberdade e quando outros, pesquisando já novos caminhos para enfartar panças, falam do Alentejo como coisa sua e dizem querer fazer dele um Alentejo de excelência.

A excelência do Alentejo são as suas gentes.

Destes passarões nem os excrementos se aproveitam.

Aos outros. Aos que fizeram o percurso na vertical, um abraço fraterno camaradas.

quinta-feira, 1 de março de 2012

SOPAS DE CONVERSA

 

Sopa de conversa é um prato muito usado, rico de tradições e comum a quase todas as dietas. Na dieta mediterrânica – cinjo-me a esta por uma questão de familiaridade – consiste em juntar um conjunto de tecnocratas com gosto pelo uso profuso da fala, uma sala devidamente equipada para o efeito (data show, quadro, marcadores, ponteiro laser) e um pseudo mandato para ser ingrediente.

As técnicas de confecção vão variando conforme os tempos: trabalho de grupo, introdução das temáticas por «experts»; «focus group»; produção em grupo de análise «swot» (atenção ao termo em espanhol- ou deverei dizer castelhano?) e outras.

As sopas de conversa são muito frequentes na chamada área social e envolvem uma panóplia de instituições ligadas a serviços públicos e a outros, destes dependentes.

Há personagens frequentemente envolvidas.

São habitués e cultivaram uma paixão doentia por se fazerem ouvir. Não cuidam, nem por um momento, em procurar saber o que pensam deles, aqueles que o ouvem.

Não cuidam, nem sentem necessidade de o fazer. Eles são eloquentes, cultos, sabedores (contagiado uso já do mesmo), os outros são simplesmente: ouvintes.

Se alguém diz: é necessário que seja eficaz, logo um deles diz: «não basta» e acrescenta: é necessário antes que seja eficiente. Retorquindo um outro: Não basta que seja eficaz ou até mesmo eficiente, é necessário que seja pertinente.

E assim se vai confecionando a sopa.

Só há um pequeno senão.

É uma sopa ineficaz, ineficiente e impertinente.

Ineficaz porque os resultados obtidos ficam muito aquém dos objectivos apresentados.

Ineficiente porque os recursos empregues são excessivos para os resultados obtidos.

Impertinente, porque desapropriada.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A seca, o filósofo e os pregadores sonsinhos

Na aldeia aonde volto sempre que posso, há uma figura de referência – como há em todas as aldeias e em todos os sítios deste mundo – um tanto ou quanto excêntrica e deveras enigmática.

Põe pose de filósofo e vai filosofando, regando a produção intelectual com tintinhos que os amigos lhe vão pondo na mesa onde se senta, palrando.

Sem ouvintes e sem tintinhos, usa a mesa para folhear jornais que muitos afirmam não saber ler.

Tem de nome José. Claro, Zé e de alcunha, que ninguém por ali se lembra as razões, Abóbora.

É, portanto, O Zé Abóbora.

O filósofo.

Está de serviço (quase permanente) durante quase toda a hora de «expediente» na taberna do João Vargas.

O Zé Abóbora tem sempre uma opinião sobre tudo e quase sempre, faz questão de discordar de quase tudo. Nem sei mesmo porque afirmei:«quase sempre».

Hoje de manhã atirei-lhe:«A continuar assim, sem chover, vamos ter seca».

Nah,… ripostou de imediato:«se continuar assim, as águas subterrâneas, porque precisam de oxigénio, virão para a superfície e irão para os ribeiros e ribeiras e depois para os rios, claro que depois as pessoas têm é de a ir buscar aí, porque ela não cai do céu».

Claro.

Paguei-lhe o merecido tintinho – depois de tão profunda tirada – mais que merecido e ainda mais porque saí dali a pensar:« Porque carga de águas (vindas das entranhas das terras ou das alturas dos céus) insistirão certas cabeças esgrouviadas em defender que a austeridade (asfixiante) é a solução para a «crise»?

Porque será?

Quererão imitar o Zé Abóbora e argumentar o impensável?

Julgo que não.

Até porque a maioria (hoje deu-me para a mania de deixar exceções) destes argumentadores, é bem mais estúpido que o filósofo da taberna do João Vargas.

A austeridade que receitam não é remédio para a crise, mas sim forma e meio para a destruição do estado social e para aniquilar direitos dos trabalhadores.

Quando o trabalho for ao custo da uva mijona e quando o trabalhador não tiver alternativas e tiver que aceitar a escravatura, então acabará a «crise».

Não estivesse o Zé Abóbora já cansado (ou embriagado?) e eu voltaria ainda ao seu escritório para lhe perguntar, uma outra coisa.

Porque é que os sonsinhos dos pregadores do sistema, face à convocação da Greve Geral pela CGTP, insistem em afirmar, que o faz, isolada?

A UGT quando trai e assina não está isolada? Isolada está a CGTP que mandatada pela razão e confortada com o apoio da mole imensa que encheu o Terreiro do Paço, assume as suas responsabilidades.

A Greve Geral não acrescenta problemas ao problema.

A Greve Geral é uma resposta ao problema.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tento na língua

O gaiato há muito que rondava as mesas. Tinha uma vontade enorme de se sentar ali, jogando a bisca com os homens.
Afinal ele já trabalhava com eles nos campos, porque raio não o deixariam estes, sentar-se ali e jogar uma cartada?
Quem sabe até, beber com eles um bagacinho.
Mas não. Era frequentemente corrido.
«Já o carapau tem tosse, não?!. Ainda agora tirou os cueiros e já quer sentar-se ao lado dos homens»
Passaram semanas, meses e ele sempre insistindo e sempre corrido.
Até que numa noite e sem que nada lhe indicasse tal desfecho, tendo o Ti Ze Francisco que sair mais cedo, recebeu o ansiado convite: «senta-te aí cachopo, vamos ver se ao menos conheces as cartas».
E eis que se senta, junto dos homens, pronto para a primeira suecada a sério, da sua vida. Não teve sequer tempo para apreciar o momento, o ritmo das jogadas exigia a sua máxima atenção.
Não podia deixar mal vistos aqueles que lhe tinham dado aquela possibilidade.
E lá foi, jogando. Com o andar da coisa, já batia as cartas como os homens - mesmo que à custa de fortes dores nas nozes dos dedos.
E foi com esse empenho que, sem se aperceber, pôs a mão sobre a brasa incandescente do  cigarro poisado na borda da mesa e num impulso, solta um estridente: «fo….-se».
Acto contínuo, o senhor João, o fumador, abocanha-lhe os colarinhos e grita-lhe: «Tento na língua menino…não penses que é por berrares malcriadices que te tornas homem respeitado…»

Lembrei-me desta história, quando  ouvi o senhor primeiro ministro, qual menino armado ao pingarelho, malcriadamente, chamar piegas aos portugueses.
Aos portugueses desempregados, aos portugueses a quem tira direitos, salários, a quem tira reformas, a quem aumenta desumanamente o preço dos transportes, dos bens alimentares, das taxas moderadoras.

E ao senhor primeiro ministro só me apetece dizer-lhe:
Tome tento na língua.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

«Contaram-me uma vez…»

Há mil maneiras, tal como o número das receitas de bacalhau, de começar a contar um conto ou uma pequena estória.

Nunca percebi, porque não, novecentos e noventa e nove, ou mil e cinco, mas essa é outra «estória».

E assim sendo,ou seja, começando assim, começo pela forma clássica: «era uma vez», fazendo uma pequena adaptação, para: «contaram-me uma vez».
Então, contaram-me uma vez, que há uns anos, não muitos, numa aldeia situada próximo do Guadiana - este grande  rio do sul cujas águas retiveram ali para os lados de Alqueva - um pastor de cabras criou um grande alvoroço um dia, lá na aldeia.
Estou mesmo em crer que o episódio se passa na aldeia de Alqueva, mas isso já não posso garantir.
Sei que posso acrescentar um ponto, mas não quero acrescentar este.
Voltando. Foi tão grande esse alvoroço, que ainda hoje perduram  vivos na memória de todos , os seus rocambolescos episódios.
Farto de subir e descer montes atrás das cabras e tendo uma prodigiosa capacidade para inventar estórias - de tal forma que ele até já julgava que o seu nome era Eh Lá - o pastor resolveu numa manhã quente de verão correr esbaforido para a aldeia a gritar que havia caído um avião, lá em baixo junto ao rio.
Antes que a coisa  se desenquadre, explique-se a questão do «Eh Lá». Esta era a expressão que todos faziam sempre que o pastor começava nas suas delirantes criatividades. Tipo: «vi hoje uma cobra que media prá aí …» Eh Lá.
De tal forma que já se dizia, quando se aproximava: «vem aí o Eh Lá»
Mas o Eh Lá naquela manhã foi muito convincente. Transpirava por todos os poros e apresentava um semblante verdadeiramente transtornado. E foi gritando de rua em rua entrando na venda e nas tabernas: «caiu um avião , lá em baixo no rio».
Até o padre especou.
E as pessoas  começaram a formar pequenos grupos e a deslocarem-se para o rio. Podia ser preciso fazer alguma coisa por alguém, coitados.
O pastor ainda correu e gritou mais um pouco, mas parou quando reparou que já não via ninguém nas ruas.
Estranhando, interrogou-se : «Querem ver que foi verdade!» E ala que pôs os pés ao caminho direito ao rio, para verificar.
Lembrei-me desta estória contada, quando agora dou por mim a assistir a uma profusão de criminosas medidas contra os direitos e a dignidade dos trabalhadores e constato que os «Eh Lá» que estão no Governo, dizem candidamente: «Foi uma medida difícil, mas necessária».
Difícil foi sem dúvida, mas para quem sofre as suas consequências, não para quem a tomou.
Necessária, certamente, mas para quem ela se destina a beneficiar e não para os trabalhadores e para o país.
Será que algum dia daremos por um destes «Eh lá» a interrogar-se: «Querem ver que é verdade?!».
Estou em crer que não, porque estes sabem e tem consciência das mentiras que pregam, enquanto o pobre diabo do pastor andava simplesmente entediado com a vida que levava…

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Matarruanices…

025

Curvado sobre si e com a cabeça enfiada entre as páginas do correio da manhã, o matarruano disse para o da mesa do lado: «há por aí 3 milhões de hectares de terra que ninguém quer trabalhar e depois vem falar do desemprego?!».

Outro, de calibre igual, berrava há dias: «quer a gente um homem para carregar fardos e não encontra...» como se os homens, com tantos outros “fardos” para carregar, pudessem estar ali esperando, para que a besta tivesse um homem para quando precisasse de carregar os fardos.

Dêmos de desbarato os três milhões de hectares e disparatadas berrarias e esqueçamos rapidamente os matarruanos.

Mas dada a enormidade dos disparates, vale a pena uma olhadela, uma pequena olhadela tendo a terra como tema.

Olhemos para os milhares de hectares de terras sem atividade agrícola – prefiro esta definição à usual «terras abandonadas» ou até mesmo «terras improdutivas» que vemos como enormes interstícios entre os aglomerados urbanos do Alentejo.

E percorremos quilómetros ladeados de cercas, de arame farpado, de arame quadriculado com fiada de farpado no topo, de arame eletrizado, letradas a espaços curtos com dísticos ameaçadores.

Estes são os investimentos visíveis dos dinheiros públicos das pac(s) que financiamos. Estes e os jeeps topo de gama que percorrem as terras dos vastos impérios dos pequenos (mas inchados senhores).

E se afirmei preferir a definição de terras sem atividade agrícola é porque entendo ser a melhor definição.

Porque estas terras, mesmo assim, são produtivas. Produzem cortiça, bolota, azeitonas que só alimentam tordos e estorninhos, pastos, alimentam coelhos, rolas, perdizes, lebres. Nelas vegetam cardos ou cagarrinhos, túberas, espargos bravos, cogumelos vários. Não lhes chamem por isso, terras improdutivas. Não ofendam a terra.

E não lhes chamem abandonadas. Quanto muito, isoladas e destituídas, por força das cercas e do latifúndio, do cumprimento da sua função social.

Porque de abandonadas não têm nada.E aqui podemos ofender os tiranos que a aprisionam com cercas da mesma forma que querem aprisionar as gentes (como antes faziam) para terem sempre homens para lhe carregarem os fardos.

O pomposo espargo que merece realce de modelo na fotografia acima, teimou em passar a cerca, como procurando liberdade  fora desta, não resisti.

Ei-lo com direito à deferência dos que buscam a liberdade.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carta a um amigo

 

A coisa por aqui tresanda meu caro amigo.

O bafio tomou conta das ruas e praças.

Sim, daquelas mesmas praças e ruas que percorremos naquele Abril e que eram então prenhes com cheiro a cravos e a liberdade.

Parece mentira não é?

Quem diria que tal seria possível?

Mas eis que voltou. Voltaram.

E voltaram descarados e arrogantes como antes.

Tramam-nos a vida, odeiam tudo o que cheira a direitos de quem trabalha.

Vão-se ao nosso salário como gatos a bofes.

Foram vindo de mansinho...falavam de coisas novas, que era preciso adaptarmos-nos ao mundo global. Transpiravam competência e seriedade.

Evidentemente que foram tendo ajudinhas, os troca tintas de sempre colocaram-lhes os tapetes por onde agora passam com as suas botifarras sujas.

E o novo, virou velho.

Uma dama naftalitica começou por defender a suspensão da democracia, outros falam de ajustes (de contas). O velho chefe destes velhos regressados, com o descaramento que lhe julga permitido, ofende todos os que sobrevivem às suas desgraçadas medidas, afirmando ser pouco a exorbitância que ganha.

Vê tu o descaramento: diz que não lhe chega a reformazita de 10 mil.

E tantos que se arrastam com reformas de 400 lhe deram o seu voto ainda nem há um ano...

Coitados... juntaram agora à miséria, mais esta dor da humilhação.

Nos jornais e nas televisões (sabes que agora temos uma catrefada de canais...) é um corrupio dos arautos da situação. Adoram títulos (professor, é o mais apetecível – sabes...dá credibilidade) e por vezes utilizam uma linguagem mais desabrida (folclórica) para fazer poeira e «amansar».

Um dia destes dei com eles a falar do teu país, uma ditadura assumem todos a uma só voz.

Sim, ditadura, dizem eles.

Porque por aqui, só suspendemos a democracia e estamos ao momento a fazer ajustes (de contas com as conquistas democráticas).

Mas a democracia vai continuar.

Quando houver oportunidade para isso...

Adeus amigo...olha aguenta-te por aí (estranho que ainda não te tivesses queixado – parecia-me mesmo que estavas feliz) que nós por aqui vamo-nos esforçando para interromper a suspensão...

Espero por ti...

Talvez em Abril e com cheiros de primavera e liberdade

Nas nossas praças e ruas deste bonito país, quando o sol rompe o nevoeiro e dá para o desfrutar com clareza.

Adeus...até esse dia.