quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Direitos

 

Dizem-me alguns que fazer greve é um direito, não uma obrigação.
São os que estão inclinados para mandar às urtigas os direitos e a borrifarem-se para as obrigações.
São aquela espécie iluminada que para além de outros dons de que se julga detentora, julga-se capaz de passear por entre a chuva sem se molhar.
As coisas estão más. O dinheiro faz-lhe falta.
Pois estão. Pois faz. A todos (ou quase).
E muita culpa têm.
Fizeram com as escolhas, que são direitos, desobrigações.
Sentiram-se desobrigados a assumirem a sua condição.
Caramba eles até têm um bmw e vão passar férias  na mesma praia que o sr. Fulano.
(agora a coisa tá feia - chegou a hora de pagar os empréstimos com que se pagaram empréstimos o cartão de crédito com que se pagaram créditos e só esperam o dia em que lhe virão buscar o bmw).
A um espécime ouvi um dia: “votar no partido dos pobres? Era o que faltava, para pobre basto eu”.
Para além de pobre é míope de ideias.
Votou junto com o sr. Fulano - deve-lhe ter dito isso mesmo, quando se cruzou com ele na praia. Só que o Sr. Fulano dirigia-se à esplanada chique onde iria comer uma “mariscada” e ele ia para a cave arrendada comer entremeada.
Mas são estes que agora me dizem: “fazer greve é um direito, não é uma obrigação”.
Mais uma vez estão enganados:
Fazer greve é uma obrigação a que temos direito.
Estamos obrigados por nós.
E por todos os que conquistaram esse direito.
Estamos obrigados pelos nossos filhos e pelo nosso País.
Estamos obrigados ou devemos estar, pela nossa consciência de seres socialmente responsáveis.
Ajudemos  os que ainda podem aprender a saber o que é isso…

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Novembro

 

Apesar de tudo, Novembro não merece.
Eu sei o que disse e sei que disse que não gosto dele.
Não lhe perdoo o facto de nos ter destruído os sonhos.
Os nossos cravos vermelhos murcharam então naquele ido e os nossos rostos até então de alegria, tisnaram-se de apreensões e revoltas.
Mas…

Mas, por outro lado, ele é também tempo de amores encontrados e construídos em ternas plataformas onde temos percorrido a vida.
E pode ser tempo em que os  homens aprendam a  corrigir rumos - é sempre tempo - de lhe tirar, a Novembro, o cinzentismo com que por vezes se tinge  .
Nem tudo é mau em Novembro.
Às vezes  já estamos com saudades da chuva e ela anuncia-se orquestrando melodias sobre os nossos telhados.
Sei que por vezes, essas melodias, assumem tons de violência e que nos dizem que muitos estão a sofrer as agruras que anunciam.
Mas…

E o estio não traz os fogos e secas?
Os tempos são assim, uma simbiose entre belezas e dramas..

Mas.. não é tão bom quando o frio nos remete para ternos aconchegos?
Ruborizados ao crepitar do lume. Castanhas e néctar dos vinhedos vizinhos como companhia.
Não é tarde para desculpar Novembro.
E porque não há-de poder ser Novembro também esperança?
Por mim, tarde, tardou esta desculpa.

E deu no que deu…
Nisto.