quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Boas Festas

Porque há quem por aqui passe - ultimamente de forma tão rara como rara é a publicação - sinto a necessidade, genuina por um lado, ritualizada por outro, de lhes desejar boas festas.
Sabendo e evitando (agora) falar do contexto em que vamos festejar as festas.
Fugindo (agora) das questões concetuais e das posições diferentes que temos sobre elas.
Que sejam boas festas. Ponto.
Sobre o que fazer com este blogue...
Veremos.
Por agora.
Boas Festas

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A arte de (o)mentir em toda a sela

Os números não mentem.

Não, não mentem. Quem mente mesmo, são os artífices que agridem números e as estatísticas até que eles, os números, digam o que eles querem que eles digam.

Poderia utilizar de algum eufemismo e falar em omissão em vez de mentira, mas considerando a «arte» da omissão e os resultados obtidos, só posso mesmo falar de mentira.

Um jornal, cujos mentores apregoam como uma referência para as questões económicas, titula hoje um artigo assim: Salários da Função Pública cresceram, em média 10%, afirmando que tal conclusão se extrai de um estudo publicado pela Síntese Estatística do Emprego Público.

No corpo da notícia, refere depois, ser de 9,9% esse crescimento. Caramba, aceite-se o arredondamento.

Este fenómeno, segundo eles, ter-se-ia dado entre abril e maio. Mesmo as datas precisam de «precisão».

E referem também, não dando a esse facto a interpretação devida, que tais números resultam da correção a que o Governo foi obrigado por força de uma decisão do Tribunal Constitucional.

Por isso, os salários não aumentaram, foram sim repostos, os valores que tinham. E como sabemos, se quisermos ser corretos, nem sequer a reposição foi plenamente feita, porque entre Janeiro e Maio foram efetuados cortes, cujos montantes não foram repostos.

No final do ano, quando se apura o rendimento, os trabalhadores da Função Pública, facilmente (duramente) constarão os números. Os seus rendimentos serão inferiores aos que tiveram no ano anterior.

Também poderiam ter referido, que para alguns, os cortes se mantêm e que são de 3,5%.

Também poderiam ter referido o aumento dos descontos para a ADSE que diminui os rendimentos.

Podiam, mas não querem.

Omitir assim, é mentir.

Pois, como se aproxima o Natal e com profundo espirito natalício, desejemos-lhe iguais aumentos para os seus rendimentos.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Diz -me do que falas

Cruzando o Tejo, percorrendo a ponte que une as margens deste rio que ali toma o nome de mar, dou por mim a pensar que, igual distancia, mais coisa menos coisa, separa outras margens.

Poucos quilómetros para sul, Africa e Europa, estão ali, quase juntas. Mas na amplitude do quase, reside a dimensão da desgraça.

Aquelas margens, não são para transpor. Pelo menos num sentido, não podem ser transpostas.

O mar, esse sim livre, que tanto afaga uma como a outra margem, engole barcaças e as vidas dos que querem procurar, aqui deste lado, um pouco menos de miséria.

Os deste lado, os que podem cruzar as margens, vão para o outro, como pássaros de rapina empoleirando-se em rochedos, chamando suas a cidades dos outros e construindo muros em terras alheias.

E destes muros ninguém fala. Quase ninguém fala.

São atuais. São de arame farpado, de ferro e de fogo. E por causa deles todos os dias morrem PESSOAS.

Por aqui gostam de falar de outros muros…

E não os choca saber que a uns, se barra o caminho com muros, e a outros, os cobrem de mordomias, tendo por base que estes últimos, têm chorudas contas bancárias e os outros, as contas que têm, são do número de dias em que não conseguem dar de comer aos filhos.

E tantos são os que, por aqui, que só falam desses outros muros passados, vão ao domingo rezar e ajoelhar.

E nem nas preces incluem os outros. Os que morrem diariamente por causa de muros que existem, no presente.

Há dias, vimos imagens heroicas de uma criança a salvar uma irmã, fugindo sob fogo cerrado.

Algures na Síria. Os bárbaros, os que disparavam sobre as crianças – eram – obviamente – soldados de Hassan.

Ontem, o realizador do filme, disse que o mesmo foi rodado, algures por aqui, nesta europazinha de bons costumes. As crianças e os soldados de Hassan eram atores.

Duas dúvidas, pouco consistentes, me assaltam: a primeira, consiste em procurar saber o n.º da sequela – quantos filmes destes ou semelhantes foram já produzidos?

A segunda, em procurar saber quantas vezes vão ser transmitidas, as declarações – honestas – do realizador do filme?

Estas não têm «valor informativo» dirão os patrões dos «órgãos de comunicação social» que se deveriam mais apropriadamente designar por «boletins de propaganda do capital».

Na pátria lusa foram apanhados uns senhores que vendiam direitos de aqui residir a uns senhores endinheirados.

Esses direitos, foram instituídos por iniciativa de um homem muito crente, um daqueles homens, que reza e ajoelha.

Os homens que os vendiam, também rezam e ajoelham.

Para fazer poeira. Voluntariamente se disponibiliza um ministro.

E pronto. Tudo bons rapazes.

Ato louvável, o do ministro.

Na missa de domingo será apresentado como exemplo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Uma palavra de gratidão

Por mera rotina e sem o mínimo rasgo de entusiasmo, cumpro o percurso diário de “abrir” os poucos blogues que, sem razão, ainda “abro”.

Ao “meu” tenho dedicado a atenção que a cadência de publicações demonstra, ou seja nenhuma.

Caio por vezes na perfeita idiotice que consiste em “abrir” alguns comentários. Como se não soubesse que ali se alojam frustrações, impotências e ódios.

Mas estas notas vêm a propósito de um “post” colocado hoje no blogue «A cinco tons», um dos que por rotina, costumo consultar.

Fiquei a saber através dele, que morreu ontem, dia 2 de novembro, um homem que se constitui para mim e garantidamente para muitos dos que com ele conviveram, uma referência incontornável.

Com ele, fui incentivado a pensar, quando a preguiça nos quer convencer a fazer o contrário, mais fácil.

Com ele, fui incentivado a fazer da dúvida metódica, um instrumento de trabalho. A tomar consciência de que as «nossas verdades» não são mais do que – quando não são mesmo preconceitos – pequenas aproximações à verdade que se procura.

Nos nossos contactos – ele Professor, eu aluno – cedo registou que o meu posicionamento ideológico – o meu ponto de partida – era o oposto do seu. Ao invés de outros – que nem do nome recordo – não só aceitava – criticamente – essa condição, como fazia questão de a estimular. Recordo um dia quando, perante uma lista de autores e obras que tinha colocado para que os alunos escolhessem, lhe transmiti que escolhia Marx e 18 de Brumário, me ter olhado de frente e me ter perguntado: - Sabe no que se está a meter?!. Perante a resposta, desejou-me bom trabalho.

Recordo ainda, creio, cada palavra – mesmo perante aquela difícil dicção – pronunciada a propósito de mobilidade social, quando ele criticava os arautos que em suma defendiam, que pobre, só pode aspirar a ser pobre e os filhos dos pobres, a seguirem as peugadas dos pais.

Ao princípio, foi com espanto – dada a condição de Padre que fazia questão de assumir – que lhe ouvi palavras críticas sobre algumas «orientações» da Igreja, mas depressa constatei que essa era uma condição que lhe era inerente, o que seria fator de espanto, seria ele não ser assim.

Não chegámos a trocar palavras faladas sobre o Papa Francisco mas trocámos palavras escritas e nestas senti que ele me queria dizer: - Vê, aquilo que eu procurava dizer, diz agora o Papa?!

O Professor, Padre, Augusto da Silva morreu no dia que se segue ao dia da «sua» Universidade.

Dele, vou recordar a condição de Mestre e para que não haja confusões com os títulos académicos: Mestre dos mestres.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Rural ou urbano


Ou outra forma de título, para voltar a falar de questões administrativas.

A genial peça levada à cena pela Lei 22/2012 (a que venho aludindo) criou duas novas tipificações no que se refere à forma de ocupação humana de parcelas do território.
Uma diz respeito a níveis de enquadramento (e criou três níveis) baseados em número de habitantes e densidade populacional e uma outra que vem criar a figura de lugar urbano.
Com os níveis, fica claro que a única coisa que se pretende é criar o critério para a aplicação do corte no número de freguesias.
Com a definição de lugares urbanos nem se consegue vislumbrar o que se poderá pretender. Será que baseiam aqui a sua política de destruição de serviços de apoio público a que têm dado vasto uso no interior do país?
Segundo esta coisa a que deram o nome de lei, são lugares urbanos os lugares com mais de 2000 habitantes. Pronto. Poderia ter sido 1800, 3500, mas não, são 2000.
E todos os outros lugares abaixo de 2000, são lugares…rurais???
Mas urbano não é um modo e um padrão de vida? Não é a possibilidade de poder usufruir de um conjunto de bens e serviços? O conceito de urbano não se expande a todos os lugares com presença humana?
NÃO. Segundo esta Lei NÃO:
E assim sendo, todos os que não residam em lugares urbanos, residirão em lugares rurais (ou outra designação que não deram a conhecer).
Mas segundo se julga saber, as zonas rurais são as que, por um lado limitam o crescimento urbano e por outro, se destinam a serem usadas em atividades agropecuárias, agroindustriais, indústrias extrativas e conservação ambiental.
Sempre ouvimos falar (logo que se começou a falar em planeamento e ordenamento territorial), de planos de urbanização nas aldeias e vilas e na definição dos respetivos perímetros urbanos).
Por isso, se vive fora da sede de concelho e numa povoação com menos de 2000 habitantes, é um rural. Mesmo que na sua aldeia ou vila esta esteja dotada de redes de água, luz, saneamento, haja recolha diária de resíduos sólidos, equipamentos para a triagem visando a reciclagem, televisão por cabo ou por satélite, sociedade recreativa e centro cultural, gimnodesportivo e campo de jogos, posto médico – de onde este governo retirou o médico -, posto da GNR – de onde este governo tirou os guardas, posto de correio – a funcionar na sede da extinta junta desde que este governo fechou o posto dos correios e aniquilou a junta. As ruas estão arranjadas, têm passeios e tudo e com alguma frequência tem animação. Não tem teatro nem cinema – mas muitas cidades também não.
Portanto, meu amigo se vive numa destas aldeias ou vilas, o meu amigo é um rural. Vive num sítio destinado à conservação ambiental, à agricultura e silvicultura. Talvez tenha uma minazita ou pedreira e contente-se. 
E atenção aos outros, aos felizardos urbanos, nada de perder população, é que por um se ganha e por um se perde , o estatuto de urbano.
O espojinho

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

De novo sobre questões administrativas...ou nem tanto.


A Lei 22/2012 é uma aberração que segundo os seus autores visa proceder à instituição do regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica.
Nem mais. Com toda esta abrangência e pompa de nome e de propósitos.
Mas o que é de facto é a aplicação de cortes no número de freguesias e a abertura da possibilidade da aplicação deles também no número de municípios.
Assim ditaram uns financeirocratas (funcionários dos senhores do dinheiro) que nunca tinham estado em Portugal e que nunca puseram os pés, nem pretendem pôr, em Boa-Fé, Jorumenha ou noutra qualquer.
Confesso que a designação a que recorro (financeirocratas) me surgiu por força da recusa em usar a que talvez se me insinuasse de imediato, ou seja tecnocratas.
Esta última pressuporia que, pelo menos do ponto de vista técnico, haveria algum mérito na proposta, o que não é de todo o caso.
E o argumento da redução da despesa com custos de funcionamento é também ele uma falsa questão. O que esteve e está subjacente é a afirmação do princípio da subordinação, é a colocação do estandarte dos senhores no território sob seu domínio.
Repare-se que igual princípio está plasmado na redução do número de feriados.
No Alentejo (O Alentejo político, cultural e social de 47 municípios e 535753 habitantes) eliminaram administrativamente através da aberração já citada, 71 freguesias.
Têm o desplante de a determinada altura afirmarem que pretendem (com a dita reestruturação) a: “Preservação da identidade histórica, cultural e social das comunidades locais…”.
Venham explicar-nos como o conseguiram em Boa Fé, S. Vicente do Pigeiro ou em cada uma das outras 69 freguesias extintas.
Venham explicar-nos como, à pergunta sobre a freguesia de residência, deve responder um cidadão que more na União de Freguesias de Alandroal (Nª Srª da Conceição), São Brás dos Matos (Mina do Bugalho) e Jorumenha (Nªa Sr.ª do Loreto).
Assim mesmo e incluindo o que está entre parêntesis.
Algumas das designações mais parecem uma lista de presenças de um qualquer concilio de santos.
É tão ridículo aquilo que se fez que as populações, ainda atónitas, só aguardam o momento da correção do disparate.
E são tantos, os disparates, neste capítulo (para só falar deste), que pretendo voltar de novo ao tema.
O «espojinho»
Nota: A Lei citada (Lei 22/2012 de 30 de maio) estabelece os «princípios», a «sentença»  foi materializada através da Lei 11-A-2013).

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Questões administrativas ou nem tanto


A Constituição da Republica Portuguesa estabelece que Portugal, administrativamente se divide em Regiões Autónomas (Açores e Madeira) e em Regiões Administrativas no Continente.
Estabelece ainda, para um período de transição, que enquanto não estiverem concretamente instituídas as Regiões Administrativas subsistirá a divisão distrital.
Estranhamente, optou-se por referendar um preceito constitucional e em 1998, em consulta não vinculativa por força dos níveis de participação, conclui-se pela não instituição em concreto das Regiões.
Deveriam por isso subsistir os distritos. Mas não subsistem. O que subsiste é a confusão generalizada e a profusão de organismos de nomeação central, sem representação democrática portanto. 
Se exemplos fossem necessários, bastaria invocar as questões de representação em reuniões transfronteiriças ou mesmo a verificação de a quem compete a nomeação de representantes municipais em organismos de consulta de âmbito regional.
Apontamentos concretos:
Quando falamos de Região Alentejo do que falamos:
Da área abrangida pela NUTs II que inclui, Santarém, Cartaxo, Rio Maior e todos os outros concelhos integrados no que denominam Lezíria do Tejo?
Da área abrangida pelos concelhos integrados nos três distritos alentejanos (Évora, Beja e Portalegre?)
Da área abrangida por estes (os Distritos anteriormente referidos) mais os chamados concelhos do Litoral Alentejano – Grândola; Sines; Santiago do Cacém e Alcácer do Sal)?
Da soma das áreas das NUTs III (Alentejo Central; Norte Alentejo; Baixo Alentejo e Alentejo Litoral)?
Falamos de um território povoado por 757 190 pessoas, residentes em 58 municípios e 299 freguesias (NUTs II já depois da chamada reorganização administrativa das freguesias) ou falamos de 535753 pessoas, residentes em 47 municípios e 231 freguesias (somatório das NUTs III sem Lezíria do Tejo?
Poderão argumentar os centralistas, que administram por força de resultados dos dados que introduzem em folhas excel, que a questão a que aqui dou relevo só produz efeitos estatísticos (NUTs). Claro que sim. Mas para que servem as estatísticas?
Fazer estudos comparativos sobre população, estruturas etárias, natalidade, mortalidade, níveis habilitacionais e muitos outros que as estatísticas recolhem e tratam, implica, se o universo é o Alentejo, assumir que este é o conjunto dos municípios que histórica e culturalmente nos habituámos a incluir nele e não a soma destes com todos os outros incluídos na margem norte do Tejo.
O Alentejo fica a sul do Tejo.
Só pontualmente faz ligeiras incursões a norte dele, assim como admite ligeiras pontuações a sul dele, por parte de outras regiões.
O que parece administrativo, é cultural, económico político e social.
O Espojinho

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Notícias do vespeiro

Há dias, por claro obséquio do espojinho, escrevi por aqui, sobre vespas e um vespeiro.
Entendamos esse escrito assim como uma espécie de introdução ao tema.
E assim entendido, vou dar-lhe seguimento.
Por estar convicto que todos retêm as importantes informações que então proporcionei, dispenso agora, qualquer revisão da matéria dada.
Faço no entanto notar que falarei de vespas e vespos, sendo esta última expressão, uma liberdade linguística a que por vezes me sinto no direito de fazer uso.
Mas vamos às notícias:
A vespa rainha – no caso é um vespo – parece enfrentar grandes dificuldades dentro do vespeiro.
Essas dificuldades expressam-se na grande incapacidade que demonstra em pôr a funcionar importantes setores (favos) do vespeiro.
São imensas as vespas e vespos paradas. Circulam, zunem, mas aflitivamente, nada fazem.
É habitual verem-se em triste algazarra conversando sobre a sua triste sina e interrogando-se sobre as razões para tal situação.
Se há coisa má que pode acontecer a uma vespa ou vespo é fazê-la cirandar pelo vespeiro sem nada por fazer.
Dir-me-ão que há exceções e que haverá alguma e alguns que até gostam.
Claro que aceito que haja, mas dessas fale quem quiser porque delas e deles não trato nos meus escritos.
A incapacidade da rainha – vespo – arrasta-se há tanto tempo, que alguns já chegam mesmo a pensar que essa incapacidade é inata e que por isso a confiança que haviam depositado quando tomou os destinos do reino do vespeiro, se traduz agora numa grande frustração.
A rainha vespo, zuniu, zuniu, prometeu. Falou de mudança.
Mas acabou por fazer do mesmo. Na corte, aceitou secundar-se de vespos que benza-os a deusa vespa.
E não consigo imaginar quem poderá benzer os marechais de campo que estes acólitos da rainha vespo se reuniram para os auxiliarem – porque garantidamente a deusa vespa não o fará.
Para os comandos dos favos, chamou os que já os comandavam – mal.
E o resultado está à vista.
Favos inteiros parados.
Descrença e frustração.
As coisas não andam nada bem neste vespeiro.
«O da Porta Nova».

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Memorias

Memórias

Em tempos, vi algures e li, um escrito cujo objetivo principal consistia na recusa do passado e na defesa de um presente que tinha necessariamente de estar dele desassociado.
Esse escrito foi feito por um de nós, por um que pe
nsa no futuro como nós.
Critiquei e mantenho hoje a crítica a tal entendimento «teórico» por mais bem fundamentada que seja a argumentação em sua defesa.
Nesta crítica não preciso de fazer nenhuma «declaração de princípios» sobre posicionamentos face ao passado, mas lembro a propósito que, para os que grosseiramente queiram ver nesta posição algum traço de branqueamento de um passado que em conjunto renegamos, que algures, também no passado, vivemos e construímos tempos maravilhosos alicerçando os pilares da sociedade mais justa pela qual lutamos.
São as memórias destes tempos últimos que transporto no caminho que em conjunto percorremos rumo ao futuro
Algures, nesse passado que nos constitui e que transportamos nas jornadas de hoje, estão as memórias de alguns que já não podem estar aqui, ao nosso lado.
E é até uma nossa canção hino que nos remete para este plano.
E se alguns não podem, porque as leis da vida e da natureza assim o determinaram- recordo e incluo na homenagem o Gama e o Pedro - outros não podem porque lhes ceifaram a vida no decorrer da luta.
E é de Caravela e Casquinha que me lembro.
No sábado, trinta e cinco anos depois, lá estivemos na justa homenagem.
Estava um dia quente, há trinta e cinco anos.
Tão quente como a luta que então travávamos na defesa da Reforma Agrária.
Agora, estava um dia sombrio, carregado de nuvens. Trovejava.
Há trinta e cinco anos, ao funeral de Caravela e Casquinha veio um mar de gente.
No sábado, à sua homenagem. Vieram menos. Muito menos.
Coisas dos tempos.
Mas destes tempos fica também a marca dos que nunca esquecem.
Dos que resistem.
E que caminham em frente com a memória e o exemplo deles presente.
A memória pode pois ser tónico e só assim fará sentido

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Vespeiro

vespas…vespas…vespas….

Graças à wikipédia fiquei a conhecer um pouco mais sobre vespas.

Partilho o essencial da informação que recolhi e passo a citar a fonte a que aludi: são insetos pertencentes à ordem dos himenópteros sendo responsáveis pela polinização de diversas espécies de plantas.

Depois de saber da utilidade, sinto-me preparado para suportar com maior sentido cívico e estoicidade, a dor provocada pelas suas picadas.

Fiquem a saber meus amigos que quando dizemos que nos picou uma vespa, foi mesmo uma vespa, pois os machos das vespas não têm ferrão.

Dolorosas picadas femininas.

A «casa das vespas» é muito parecida com a das abelhas e por estranho que pareça estas criaturas também produzem mel. Forte e amargo, para seu descanso e garantia.

O vespeiro é, a casa das vespas.

Em sentido figurado, pode ser, muita outra coisa.

Como sabemos, vespas, também são motocicletas.

Cidades italianas e de outras paragens, em que está na moda andar de «vespa», poderão assim também ser denominadas de vespeiros, tantos são os seus habitantes a cirandar de vespa as suas ruas e avenidas.

Dando largas à imaginação, também podemos chamar vespeiro, a uma determinada casa, ou instituição, por onde cirandem, vespas ou pessoas que queiramos denominar de vespas – por semelhança de comportamentos.

Pois, do que quero falar é de um vespeiro - casa - instituição.

Há tempos, por razões que agora não importam, a rainha – sim, as vespas também têm rainhas – foi substituída por outra rainha.

E ao reboliço habitual de um vespeiro juntou-se ainda mais reboliço. Umas vespas e também vespos (perdoem mas decerto concordam que facilita – caramba, estar sempre a escrever vespa macho…) já habituadinhas e habituadinhos aos seus favinhos, senhores de rotinas e mandadores das vespas e vespos mais reles, depressa se bandearam para a nova rainha. Salamaqueque para cá, salamaqueque para lá – uma salamaquice pegada.

Outras vespas e vespos, arredados dos favos desde os tempos da outra rainha ainda – uma rainha anterior à rainha que agora foi substituída – deram corda às asas e presentearam a rainha com ruidosos raides e bonitas coreografias.

E a maioria das vespas e dos vespos- que sempre estiveram laborando nos favos fosse qual fosse a rainha – aguardaram com alguma expectativa que a vida nos favos melhorasse.

Aguardaram…

Aguardaram…

Viram as danças, viram as coreografias e viram que nos favos nada mudou. Uma ou outra vespa ou vespo teve que baixar as asas, mas a maioria das vespas e dos vespos que controlavam a vida nos favos, continuou administrando-os como sempre fizeram.

As vespas e vespos que estavam agora no domínio dos favos – na sua grande maioria – ao invés de baixar a asa, voltaram a dar-lhe corda e a elas juntaram-se as outras vespas e vespos que estavam de asa caída desde o tempo da rainha anterior à que foi agora substituída.

E aos favos voltou a descrença. As vespas e vespos que acreditaram que a as coisas iriam melhorar, confrontam-se hoje com a triste constatação que nada melhorou.

E nos favos, onde havia pouco mel, hoje há ainda muito menos.

E assim todas as vespas e vespos irão definhar…

A nova rainha, parece atónita e nada faz.

É muito preocupante a vida neste vespeiro.

As picadelas destas vespas, parecem produzir o contrário das picadelas das outras, ao invés de polinizarem, secam tudo em sua volta.

E neste tipo de vespas, até os vespos picam também, e de que maneira.

Nota do «espojinho»: Este texto, foi enviado pelo «Porta Nova». Publico-o – sem o perceber – pela amizade que nos une mas não deixo de estar preocupado. Será que ele está bem? – Há tanto tempo que não dizia nada e agora isto!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ai há, há!

 

Diz a senhora, dando seguimento a outras parvoíces de igual quilate, que há em Portugal, profissionais da pobreza.

Não sei por que carga de águas aqui estou escrevinhando sobre coisa destas. Nas paredes das casas de banho públicas e em alguns comentários em blogues encontro dislates semelhantes e daí não deriva a necessidade de sobre eles, dizer alguma coisa.

Esclareço então que não é a parvoíce assim expressa que me faz tomar posição mas sim o imperativo moral de, mesmo que desta forma muito modesta, procurar dar voz a quem negam até o sussurro.

E assim trago para aqui a voz da jovem cigana de bebé ao colo que batendo à porta nos pediu qualquer coisa onde pudesse aquecer o leite para o bebé pois estava a fazê-lo numa velha lata de salsichas.

O bebé (ano, ano e meio de idade) tinha uma cicatriz resultante da abertura do seu peito por força de uma cirurgia ao coração…

Trago também a do homem que se habituou a visitar-nos e a quem damos semanalmente umas moedas. Educado, triste e disponível para aceitar comida: “não precisa de ser dinheiro” disse-nos.

Um dia, tivemos mesmo que descer, pois ele sentiu-se mal e não teve forças para enfrentar as escadas. Talvez seja da fraqueza, disse.

Não sou muito dado a caridades, mas há situações em que não nos é possível o alheamento.

Não faço questão de referir outros episódios. Todos nós os temos para contar. Infelizmente.

O que faço questão de afirmar é que, nas mediáticas campanhas promovidas pela associação desta senhora eu não darei mais, nem um bago de arroz.

Com todo o respeito que me merecem os que precisam desesperadamente de alguns bagos de arroz.

Não precisei no passado de agir responsavelmente para com eles, não será agora, que irei deixar de cumprir com os imperativos da minha consciência.

Eu sei, todos sabemos, que não podemos olhar o fenómeno da pobreza sob uma perspectiva romântica.

Há muito sacana a servir-se dos pobres para proveito próprio, assim como muito sacana a produzir pobres por força da sua ganância.

Todos sabemos também, de há muito.

Sempre os refastelados da vida, ajoelhando e rezando, despejaram nos alforges dos pobres as migalhas das suas sobras – às vezes já bolorentas – tendo sempre oportunidade de despejar também, os seus doutos e cristãos “aconselhamentos”.

«Ai, deixe-se desta vida…,coitados dos meninos».

«Trabalho para o seu marido?! – Ai não, o senhor beltrano diz que o ano foi muito mau…»

É velha e mal cheirosa esta escola.

Há profissionais da pobreza em Portugal?

Há, pois há!

Bebem champanhe e acompanham com caviar, vestem fino e pintam-se. Aparecem na TV e fazem discursos de merda.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Iguais calibres

 

É comum ouvirmos de alguns (não poucos), comentários através dos quais se faz passar a ideia de uma associação ideológica dos funcionários das autarquias às ideologias dos partidos que gerem – através do voto – essas mesmas autarquias.

Assim, se o Presidente de Câmara é PS, logo o funcionário dessa mesma Câmara é PS.

Usei PS, mas poderia ter usado um outro exemplo qualquer.

Convém ter presente que alguns – funcionários – dão importantes contributos para que essa ideia se difunda, mas não é essa a razão para o escrito.

Pretendo, isso sim, falar de profissão e política.

O que quero realçar é o direito à profissão sem perturbação política, sem que ao defender esta ideia esteja a defender pretensas e inexistentes independências.

A política é a forma (para uns, ciência, para outros, arte e para outros, manha) que os homens e as mulheres dispõem para gerir o espaço público, entendido este na pluralidade das relações e implicações que se estabelecem.

Renego a não política e ainda mais os pretensos e «superiores» não políticos. Estes, arvorados em «puros» nada mais são que os peões em uso pelos senhores de sempre.

E partindo do reafirmar destes princípios considero que, no exercício das nossas atividades profissionais, sejam elas exercidas em que contextos forem, mas no caso, quando exercidas numa determinada Câmara Municipal, não sendo «apolíticos» não podemos é ser tratados como agentes políticos do partido (ou dos «não partidos» com que alguns caciques agora se fazem eleger) do Presidente de Câmara.

Somos profissionais e devemos ser tratados como tal.

A não ser assim, cada um dos profissionais que exerce a sua atividade numa determinada Câmara Municipal, estava sujeito a ter que proceder a «resets» ideológicos por força de eventuais alterações políticas determinadas pelos eleitores dos seus concelhos.

É fácil pensar assim. Não é tão fácil agir assim.

A natureza humana usa estratégias para atingir determinados fins que não abonam muito a condição humana.

Esta é uma contradição recorrente e transversal e é um tema que gosto, mas agora abordo-o só de passagem.

E desta contradição resultam episódios de descarados atos de «vira casaca», a par de exercícios indolentes (que de facto estão na natureza de quem os pratica) em nome de uma pretensa ação política.

Vira casacas são vira casacas e valem o que valem.

Preguiçosos e negligentes, são sempre preguiçosos e negligentes.

Sendo isto certo,o que custa constatar é que não são poucas as vezes que vemos serem estes os compensados.

E quando assim é, também é fácil concluir sobre o carácter de quem está no poder e compensa estas atitudes.

São de igual calibre.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Burrices

O título pode ser de molde a que desde já se fique à espera de mais um sermaozinho daqueles com que o espojinho nos brinda. Não e não senhor.Mas antes de entrar no que é, quero saudar a decisão de o espojinho ter decidido retirar a publicidade. Publicite as minhas sugestões e verá que são bem mais saborosas.
Pois o título tem como objetivo falar de burras, o nome que por aqui damos às queichadas dos porcos.
Estas podem apresentar-se-nos desde a forma mais rústica, ou seja, exatamente como se retiram do animal - com os dentes e tudo - com osso mas sem os dentes, desossadas e até mesmo fatiadas.
O preço varia e muito por força dessa apresentação e varia ainda muito mais por força da tipologia do animal. Mais baratas se de porco branco. Mais caras, se de porco preto. Nada a que não estejamos já habituados.
As que vos quero falar eram de porco branco - naturalmente - e com osso -mas sem dentes . Temperei na véspera com pimentão da carne - o tempero habitual de muitos enchidos- com algum sal - pouco , pois o pimentão já o tem -  reguei com um fio de azeite, salpiquei com folhas de louro grosseiramente partidas, moi sobre elas alguma pimenta preta, acrescentei um golo de vinho branco - nas burras, mas aproveitei a ocasião - e assim marinaram toda noite as ditas burras.
No dia seguinte foram ao forno a 200 graus .Hora e meia a duas horas depois estarão assadas, saborosas, suculentas.
Emprate com alguma classe. Fatie -agora- e acompanhe com batata frita aos cubos e uma boa salada de agriao.
Faça um favor - não coza o agriao ao juntar a salada ao prato - a salada tem direito a um prato.
Um tinto e boa companhia.
Estas são burras que gostamos de ter por companhia.
O da sopa dos pobres

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Gesto revolucionário

 

Ena tantos…

Sempre nos inebriámos com as multidões. Esperávamos ansiosamente pelo início (a abertura da festa, como sempre lhe chamámos) para aquilatar da dimensão do número de visitantes.

Todos os anos estava sempre mais gente que no ano anterior.

Assim pensávamos e assim acreditamos.

Talvez não seja assim. Não é assim garantidamente, mas que importa, se esse é o nosso forte desejo? A retribuição a que nos julgamos com direito.

Estão sempre mais.

E assim inebriados nos esquecíamos e esquecemos de quantos e tantos que ali não podiam e não podem estar. E quão injustos sempre fomos com tais esquecimentos.

No fundo, sempre pensámos que os que não estão, não estão porque não querem. Porque seria então?

Nos últimos anos, talvez porque cada vez são mais difíceis os encontros no meio da multidão, começámos a sentir – alguns – algumas faltas. Desencontros – porque à Festa vieram de certeza.

E seguimos.

E não paramos sequer para, por um momento, recordar o velho camarada – que sempre que as forças lho permitiram ali esteve connosco – e agora está sentado e triste no sítio onde tem de estar, amarguradamente a pensar em nós, em vós, os que estão na Festa.

E ele lembra-se dos nossos nomes, das tarefas que cada um de nós gostava de ter, dos que gostavam de lavar loiça, de descascar batatas, de varrer a esplanada, de ir com ele ao armazém, para os reabastecimentos.

Lembra-se também dos nossos problemas, daqueles que partilhámos então, e pergunta pelos nossos filhos, se estamos bem de saúde.

Ele, talvez as forças, ainda lhe dessem, mas não pode deixar a sua companheira de sempre, doente e impossibilitada.

Confidenciou há dias a uma amiga: nestes dias – antevésperas – em que habitualmente os camaradas partem para a Festa – nem vou buscar o jornal – peço a alguém que o faça.

Imagina o que me custa.

Se fosse à Festa – se pudesse ir à Festa – estava junto daqueles que sempre esteve ao longo da sua já longa vida.

Agora, que não pode ir – fica perto e cuidando de quem sempre o acompanhou.

Que os que estão, porque podem, se lembrem dele por um momento, um breve momento que seja.

E lhe mandem um abraço.

Ele ia gostar e não custa nada.

Também é um gesto «revolucionário».

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Deu na televisão

 

Creio que é por considerarem que pensar é a atividade de maior desgaste físico que a generalidade das pessoas remete essa tarefa para outros, enquanto para si reserva a adoção de pensamentos alheios.

E, não vamos agora esgotar-nos em trabalhosos pensamentos para procurar saber porquê, não temos dificuldades em encontrar, sem custos – pelo menos diretos - pensamentos para adotar.

Existem hoje, poderosíssimas máquinas de fabricação de pensamento, que disponibilizam o produto acabado de forma generosa e massiva.

E é produto de usar e deitar fora. Amanhã há novo.

Se o pensamento assim produzido ontem, hoje se verifica que os ingredientes de fabrico eram falsos – quase sempre são falsos – não faz mal, passamos à frente.

Não havia armas de destruição maciça? Ups… não faz mal. Mas podia haver!

O avião da Malásia não foi abatido por rebeldes russos (ou russos rebeldes?)? Ai é? Mas podia ter sido.

Afinal foi um agente secreto francês que abateu Kadhafi? Não foram lutadores pela liberdade na Líbia? Ora, pormenores…

Quem se esforça e pensa esse está mal.

Passa maus bocados. Porque se esforça por pensar por si próprio e porque recusa adotar o pensamento que lhe disponibilizam tão altruisticamente.

Se nós todos o fazemos, porque não faz ele também?

«Espertinho, tem a mania…» a dizer-nos que pode não ser assim.

Mas não pode ser assim, como, se deu na televisão e tudo?!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

(des) Crenças

(

Os que acreditam que é possível haver um homem novo, que olhe para o outro vendo-se a si nele refletido, confrontam-se (têm que forçosamente se confrontar) inúmeras vezes, com a descrença no êxito desse processo.

E essas descrenças não surgem só por consequência das notícias de acontecimentos que nos parecem distantes, mas antes resultam de episódios mundanos, acontecimentos nos quais, direta ou indiretamente, intervimos.

Indicador preocupante, que nos mostra que talvez não estejamos a fazer aproximações mas pelo contrário afastamentos, obtemos quando fazemos uma passagem, mesmo que ligeira, pelos comentários que alguns fazem questão de «deixar» em jornais electrónicos ou em blogues.

É certo que a capa de anonimato – mais aparente do que real – estimula esses comportamentos, mas não explica por que carga de águas, alguns têm que os ter.

Mas o escrito que hoje aqui quero deixar prende-se com uma notícia ouvida e vista – foi expandida por televisão – há alguns dias.

Segundo o relato, uma médica de um hospital português, foi severamente agredida por um fulano, simplesmente pelo facto de ser portadora de notícia que não foi do seu agrado pleno.

A referida médica veio anunciar ao referido fulano que ele acabara de ser pai de uma menina.

Nem imaginava a médica que o bruto a iria sovar, simplesmente porque esperava que ela lhe viesse dizer que acabara de ser pai …de um menino.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Porreiro, pá!

 

Economês 1

Segundo o INE – informação tornada hoje pública – a economia portuguesa cresceu no último trimestre 0,6% face ao trimestre anterior em que tinha recuado 0,6%.

Nos meus inexistentes conhecimentos de economia, creio estarmos na presença de uma economia estagnada. O crescimento do 2.º trimestre só serviu para anular o decréscimo do 1.º.

A ser assim, penso que o título deveria ser: Economia portuguesa estagna.

Mas este era um título que não dava muito jeito.

Economês 2

A imprensa de hoje também refere que o embargo à Rússia custa 16,7 milhões a Portugal. As razões que já aduzi levam-me a perguntar se não seria mais correto afirmar que os custos são para os portugueses e principalmente para os portugueses que produzem e exportam bens alimentares?

Sim, porque se os custos fossem realmente para Portugal e consequentemente para todos os portugueses, estou em crer que os portugueses que decidem estas medidas pensariam duas vezes antes de as tomar.

Quem está festejando são os produtores sul-americanos, argentinos, chilenos e outros que foram a correr para Moscovo com os seus produtos.

Economês 3

Durão Barroso, um dos portugueses com maiores responsabilidades nesta decisão, está prestes a abandonar a Presidência da UE . Julgo que seria interessante, dadas as semelhanças com as regras monárquicas, que a UE passasse a atribuir aos seus presidentes, cognomes.

Para este português, proponho: O Incendiário.

Nos Açores juntou-se com os outros três de triste memória e incendiaram o Iraque. O fogo ainda hoje decorre, impetuoso e alastrou a toda a vizinhança.

Recentemente, deslumbrado com o alargamento do seu império e embevecido com os amigos que queria por (e pôs) em Kiev – desculpando e até aceitando as cruzes suásticas em que estes se enrolam – incendiou a Ucrânia.

O fogo ainda decorre e teme-se que alastre.

Não foi tão porreiro pá, termos este português na presidência da UE?

(Sobre o filho dele, não falo. Em respeito pelos milhares de portugueses que viram os filhos emigrarem, por aqui não terem condições de trabalho e de vida. Já basta o sofrimento destes, não quero acrescentar mais um).

DE – Garanto que não tenho a menor intenção de fazer destes DE (Depois de Escrito) regra. Mas tal como ontem, sinto essa necessidade. Quem percorre o «espojinho» deve estranhar esta torrente de publicações, mas é assim a vida de um «espojinho», impetuoso por vezes, calmo depois. Existem no entanto outras razões. Talvez um dia fale delas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Parabéns amigo

 

Penso que posso tratar-te por amigo sem que alguma vez nos tivéssemos visto ou trocado uma palavra que fosse, assim como penso que não te zangarás se te forem contar que te trato por tu.

E se te chamo amigo é porque sei que temos em comum muitos amigos. Se te trato por tu é por sentir que partilhamos ideias e concepções de vida.

Por aqui e por muitas outras partes do mundo, aqueles que nunca incluiria no grupo de amigos e muito menos daria os parabéns, chamam-te ditador.

É uma prática corrente, os ditadores chamarem o que são àqueles que os desmascaram e que contra eles lutam.

Muito mais aguerridamente o fazem àqueles que como tu saem vitoriosos nessas lutas.

Habituei-me a ver aumentada a minha estima por ti à medida que via os que por quem eu não tenho estima nenhuma chamarem-te ditador.

Quando quem te chama ditador são os senhores da guerra, os senhores que matam milhares com base em argumentos construídos pelas suas mentiras, os senhores que vendem armas aos assassinos de crianças para matarem mais crianças, os senhores que têm espalhado a fome, terror e morte por onde quer que ponham as patas, quando assim é, sinto-te cada vez mais amigo.

Sei que nem tudo no teu país é um mar de rosas. Também sei que te rodeiam alguns sacanas que batem no peito fidelidades e cantam revolução mas que simplesmente a usam e atraiçoam.

Por aqui, noutra escala, também há disso.

Mas também sei que deste um grande contributo para que o teu país passasse de um bordel para ianques a um país soberano e senhor de si.

Um país onde as mulheres e os homens podem percorrer de cabeça erguida os seus caminhos.

De onde foi erradicado a analfabetismo. Onde se verifica a mais baixa taxa de mortalidade infantil da américa. Onde se registam altos valores de desenvolvimento humano.

Nesse teu país acolheste para tratamento gratuito milhares de vítimas de Chernobil. Formaste médicos para Timor Leste. Fizeste da solidariedade para com o povo sul-africano em luta contra aquela coisa ignóbil do apartheid uma prática concreta e não mera retórica.

Os homens como tu são cada vez mais raros. Aguenta–te amigo.

Para que nós nos possamos aguentar por força do teu exemplo.

Parabéns, amigo pelos teus 88 anos de vida.

Parabéns Fidel.

DE-Depois de escrito A quem ler este texto, recomendo a leitura, também aqui no «espojinho» sob a etiqueta «Cuba», dos textos de 18 de novembro de 2009 «Cuba» e de 17 de setembro de 2010 «Confissão». Podem crer e sei que creem que não é por uma questão de ego. É por uma questão de...TEMPO.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os milhões papões ou os papões de milhões

 

A nossa vida passou a ser uma sequência de confrontos de milhões. De buracos de milhões.

Milhões no buraco do BPN, no BES, nas contas daqui e dali. Milhões…milhões…milhões.

Perdão…devia ter dito milhar de milhão.

Com a mesma cadência só as noticias das mortes provocadas pelas guerras de pacificação ou de democratização.

Em comum, umas e outras, têm a desfaçatez (para ser cuidadoso nos termos) dos papões que papam os milhões e que promovem as guerras.

Todos pressentimos que esta cadência vai ser interrompida. Tem necessariamente de ser interrompida. A loucura tem limites e julgo que estes já foram ultrapassados.

A questão que se coloca é como?

Através da apoteose da loucura?

Ou, através de processos, que podem ser cadenciados no tempo e no espaço (território) e que sequencialmente vão mostrando a todos os povos que há cura para a loucura, que é possível vivermos em paz e que essa paz seja a paz das pessoas que se respeitam.

Quem começa?

Obs. Não sei porquê, mesmo quando tento ser optimista, logo desisto…

Vou emendar-me. Talvez as notícias de hoje possam estar a agravar esta minha predisposição para o pessimismo. Vou rever clube dos poetas mortos e bom dia Vietname.

Parece-me a melhor forma para falar de Robin Williams.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A tradição já não é o que era

Sempre que introduzo uma alteração, por mais pequena que seja e mesmo tendo o cuidado na manutenção da «matriz» da cozinha tradicional alentejana, ai daqui d´el rei que estou a profanar e a desvirtuar.

São os defensores da «tradição».

Mas se há coisa absurda de perpetuar essa é a tradição. Não será necessário com certeza recordar as absurdas barbaridades que em nome da tradição são cometidas diariamente.

Sempre que interessa a alguém perpetuar um privilégio logo o vemos a invocar a tradição.

Eu não recuso a tradição mas sim o lado obstaculizante que ela coloca à melhoria e à mudança.

E estou a falar no que diz respeito à gastronomia assim como me poderia estar a referir a qualquer outra área de intervenção humana.

Sou mais adepto de uma adesão a práticas do que a dogmas sob capa de tradição e acima de tudo, de introduzir nesse sistema de práticas as inovações que julgo úteis.

Há, como já disse, na gastronomia alentejana, uma matriz a respeitar, mas não há, nem pode haver, um conjunto de dogmas a dificultar as mudanças.

E esta conversa toda vem a propósito, vejam bem, de uma sopa de tomate.

Ousei, oh profanação das profanações, «mexer» logo na sopa rainha.

Pois mexi. E gostei.

A sopa, essa é como consta da «matriz».

Frita-se toucinho e enchidos para obter pingo, refoga-se nele cebola e alho picado, estufa-se depois o tomate, folha de louro, tomilho e orégãos para apaladar e por fim escalfam-se uns ovos.

São óptimas acompanhadas com figos ou brunhos ou com os dois, azeitonas de conserva, trincando o torresmo que resultou da fritura do toucinho e regando com um tinto encorpado.

Pois, o que fiz então depois de assim ter obtido a sopa?

Coloquei no liquidificador e liquidifiquei. Pronto.

E escalfei à parte o ovo em papel celofane e em água a 95º (sem ferver). E fiz pão de alho no forno.

No centro do prato o pão, sobre ele o ovo com a gema tipo ovo estrelado, em volta a sopa. Enfeitei depois com gomos de brunho.

Eis a minha heresia.

Acompanhei de igual forma a sopa quase feita de igual forma.

Também é muito boa.

A tradição já não o que era.

Ainda bem.

«O da Sopa dos Pobres»

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Um frio arrepio

 

Será que estamos a iniciar o caminho de retorno à economia? Será que de uma vez por todas se ficará a perceber que os jogos de casino a que governantes e os seus responsáveis se têm dedicado é um jogo perigoso, principalmente para nós?

Alguém trocou economia por finanças e os resultados estão à vista. Todos os dias surgem novos dados. Cada um deles mais preocupante que o anterior.

Vejamos o caso BES: começou por se informar que o «buraco» seria na ordem dos 1,5 mil milhões. Rapidamente se passou para 3,5. No dia em que o BP anuncia as medidas, já se fala em 4,5 e na manhã seguinte os jornais trazem a toda a largura das suas primeiras páginas, 4,9 mil milhões.

Já li algures que não se ficará por aqui. Assim como li que pode chegar aos 15 mil milhões. Coisa pouca.

Mesmo fazendo uma pequena ideia do preço de um iate de luxo, ou de uma mansão, ou de férias de sonho pagas a colunistas e a governantes, convenhamos que são muitos milhares de milhão. Onde estão?

Um jornal de hoje fala em 300 milhões secretamente algures na Ásia. Uma bagatela.

Outro dado curioso neste caso do BES é que nos encontrávamos sob rigorosa vigilância do FMI, do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia – aquelas gentes e aquela coisa a que me recuso por ora a denominar – que manifestava um zelo – de contornos inqualificáveis – sempre que o TC anulava uma das suas medidas – com expressão e consequências no OE por vezes inferiores aos valores da dita conta asiática – e nada detectaram aqui.

Todos nos lembramos dos famosos testes de stress. Estava tudo bem e recomendava-se.

Mas insistindo ainda em curiosidades. Ao ler os jornais de hoje parece que afinal o caso BES se constituiu como um motor de dinamização da economia (apre). Houve uns «fundos» que ganharam milhões, a CGD ganhou outros, o Montepio também, outros bancos também têm perspectivas de os vir a ganhar.

Quem perdeu afinal?

Ui…que me percorreu todo o corpo um frio arrepio.

Sobre o retorno à economia, com esta gente a comandar os destinos do país – e não estou a falar de passos, portas, costas, seguros…coitados - deixo tal ideia para quem acredita no pai natal.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Talvez

Talvez, agora mesmo, neste preciso instante, estejam a lançar bombas sobre Donetsk esventrando edifícios e gente.

Talvez agora mesmo, mais não sei quantas crianças palestinianas tenham perecido como consequência de mais um ataque.

Talvez, agora mesmo mais um carro armadilhado tenha estoirado vidas em Bagdad, em Trípoli ou em Kabul.

E provavelmente, também agora mesmo, mais um negócio de armas esteja a ser fechado e comemorado com champanhe, uísque ou vodka em qualquer uma das cidades cofre do nosso mundinho.

Talvez, agora mesmo, alguém tenha posto uma corda ao pescoço cansado de não conseguir comer para os filhos.

Talvez, agora mesmo, alguém como nós tenha morrido desgraçadamente vítima de ébola, malária ou qualquer outra desgraça numa qualquer vala de África.

Ou de fome.

E, talvez, agora mesmo, o banqueiro tenha feito a transferência para repor o pequeno rombo nas suas contas pessoais de três milhões.

E, talvez, agora mesmo, os sinos toquem a repique em nome das dezenas de milhares de vítimas em Hiroxima.

Não sei, mas devem ter sido poucos os que se lembraram.

A vida continua não é? A nossa.

domingo, 3 de agosto de 2014

Tratemos-las pelo nome

 

As courgettes ou aboborinhas são relativamente recentes na gastronomia a que me habituei.

Talvez por isso, confesso, não fazem parte da minha lista de preferências, mas…elas agora abundam e por isso é necessário dar-lhes uso.

Porque também abundam os nomes que lhe dão os seus produtores, procurei usar denominação acertada apesar do corretor ortográfico insistir a que proceda a correção por causa do duplo t). Já as vi tratadas por gorgetes e por curjetes.

Mas o que importa ao caso é a forma de as consumir.

Experimentei este domingo e gostei.

Depois de bem lavada, cortam-se rodelas bem finas que se temperam com sal. Passam-se por farinha e fritam-se até se obter uma cor aloirada.

Fritam-se igualmente algumas rodelas de cebola.

Numa frigideira dupla (as que servem para fazer tortilhas) misturam-se as rodelas fritas de courgette com as de cebola e cobrem-se com ovos batidos. Vira-se logo que ovo comece a solidificar e espera-se o cozimento homogéneo dos ovos.

Retira-se para um prato, tempera-se de sal e pimenta e salpica-se com salsa finamente picada.

Acompanha-se com vinho branco fresco, azeitonas, amigos e família e com uma boa conversa onde se inclua a necessária crítica social e política.

Por último fiquem a saber que não sei se esta forma de confecção retira algum ou alguns dos atributos das courgettes, mas fiquei a saber que estas contêm poucas calorias e que são ricas em vitaminas e minerais, principalmente potássio.

São presença assídua das cozinhas grega, francesa e italiana.

Gostei

O «da Sopa dos Pobres»

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

OS SINS CASTRANTES

 

Os que, como eu, se habituaram a discutir e a ter opinião, a serem ouvidos, a aceitarem o contraditório e a preparar a contra argumentação, ficam hoje espantados com a generalização das hipócritas aceitações.

Aceitamos tudo.

Aceitamos que sim, que Sadam tinha armas de destruição maciça, assim como aceitamos (milhares de mortos depois), que afinal não tinha.

Aceitamos que os americanos armem o Iraque para combater o Irão, assim como aceitamos o processo contrário.

Aceitamos que se armem até aos dentes afegãos para combater russos, assim como aceitamos que depois se invada o Afeganistão para combater os afegãos que armámos.

Apregoámos aos ventos primaveras árabes (de céus tão carregados) e agora confrontamos-nos com a violência dos invernos líbios e egípcios.

Aplaudimos a guerra e as mortes na Síria, em nome de uma democracia que exportávamos através das ditaduras e agora (milhares de mortos depois) confrontamos-nos com os bandidos que armámos.

Choramos lágrimas de crocodilo pelas mortes das crianças palestinianas ao mesmo tempo que aplaudimos a venda de mais munições aos israelitas para que matem mais crianças palestinianas (naquilo que parece ser a especialização israelita).

Aplaudimos a venda de cinco mil misseis ao Iraque sem ter a menor ideia de donde poderão eles deflagrar.

Dizemos sim a Passos, para dar continuidade aos sins que demos a Sócrates e preparamos-nos para dar o sim a Costa para dar continuidade a todos os sins.

A tudo dizemos sim.

Só dizemos não a nós, homens livres.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

RETORNO

 

Confesso que eu próprio julguei não voltar aqui.

Por nenhuma razão especial, esclareço, mas simplesmente porque sim.

Mas hoje decidi o contrário – porque sim – e aqui estou.

Tenho textos do “da Porta Nova” e do “da Sopa dos Pobres” a cujos pedidos não dei sequência.

O primeiro, anda frenético para falar da cidade e para falar de rumos novos que por vezes se confundem com outros que nada têm de novo e o segundo, porque estamos em quase plena fase de esplendor de produção, que lhe permite as deambulações gastronómicas que quer partilhar.

Penso dar em breve seguimento às suas vontades.

Mas hoje sou eu a usar o espaço. Quase só para dizer: olá …retornei!

Mas também para desabafar – este tem sido o meu espaço para esse efeito.

Para falar das minhas preocupações – de algumas delas.

Os tempos, que medeiam a última publicação e o escrito de hoje, têm sido tempos conturbados, dramáticos e que nos remetem para uma profunda apreensão, não – como é useiro dizer-se - sobre o futuro, mas urgentemente, sobre o presente imediato.

E em flash percorro as mentiras sobre o avião abatido sobre a Ucrânia e procuro sentir a dor dos que perderam filhos, amigos, companheiros.

De igual forma imagino a dor dos pais das crianças palestinianas, as vítimas prediletas dos que dizem que estão a lutar contra o terrorismo.

E as imagens de destruição, guerra e morte que chegam da Líbia, do Iraque, do Afeganistão. Tudo territórios sob libertação americana e para onde estes foram levar democracia.

E relembro as palavras do Papa Francisco sobre os crimes económicos sempre que leio as últimas do banqueiro que esteve (não estará ainda?) sempre ao lado do homem do leme, sendo ele, o verdadeiro comandante.

São estas, em traços muito gerais, as condições deste retorno.

Razões também para a ausência.

Por vezes é necessário o silêncio.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Redondos discursos

Entretemos-nos por vezes, em redondos discursos sobre a natureza humana.

Redondos, pomposos, retóricos, empolgantes.

Mas…

Mais do que eloquência discursiva, de mais ou menos retórica, com mais ou menos audiência, preocupa-me, isso sim e unicamente, procurar saber em que plano nos situamos quando lemos que uma mulher foi linchada no Brasil após ter circulado no Facebook o boato de que se dedicaria a práticas de bruxedo?

E quando ficamos a saber que uma mulher foi condenada à morte por enforcamento, no Sudão, por se ter recusado a renegar a sua fé cristã?

E quando um responsável governamental, na Índia, perante crimes horrendos que nos chocam, desdenha das vítimas e defende a violação?

E quando se cravam no chão bicos metálicos para impedir assim que os sem-abrigo ali possam pernoitar?

E quando se considera que o vírus Ébola pode ser um bom aliado para impedir a emigração agora não desejada?

Para quem precisar de saber o que é um fascista, procure saber a forma como se responde a estas questões. Bastará.

Ou mesmo a outras.

Diga-me por exemplo o que pensa de uma pessoa (do aparelho no poder), que afirma que é preciso ponderar a criação de mecanismos judiciais (sanções judiciais) para os casos em que os poderes do Tribunal Constitucional são extravasados?

E de um general ou de um coronel que manda calar o protesto popular em nome do respeito pelo país, isto na sequência do “piripaque” de SEx. ?

E de outros que afirmam que no futuro têm de ter mais cuidado na escolha dos juízes?

Restarão ainda dúvidas?

Pois eu não as tenho. O fascismo está aqui já.

Por enquanto, em pele de cordeiro.

Mas da boca já sobressaem os seus carnívoros dentes…

domingo, 8 de junho de 2014

ESPERTICES

 

Difunde-se por aí, por enquanto em pequeno, que o governo se prepara para repor os cortes de Sócrates nos salários dos funcionários públicos.

Espertices de gente pequena.

Esses cortes já estão feitos para todo o ano de 2014.

A benesse (mais uma) de não se ter feito uma fiscalização preventiva, (que foi dada pelo homem que não cede a pressões) e que se traduz na não correção das situações já ocorridas à data do acórdão, leva a que esses cortes já estejam feitos para todo o ano.

Tomemos como exemplo um salário que era cortado em 9,8%. O valor total dos cortes entre janeiro e maio (5 meses) dividido por 14, dá um corte efetivo de 3,53% ou seja, acima dos 3,5% de corte de Sócrates.

Portanto não há nada para cortar.

O que as pequenas espertices se preparam é para novo roubo e nova provocação.

Com o homem que não se deixa pressionar, não precisam de se preocupar.

Entretanto falam de que precisam de previsibilidade.

Quem conduz em contramão conhece bem a previsibilidade de uma colisão.

E eles conduzem em contramão constitucional.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ESCOLHAS

Sinto-me num país à deriva qual jangada de pedra fustigada por fortes e várias tempestades.

Em tempos alguém disse por aqui, que talvez fosse necessário suspender a democracia. Entretanto alguém a suspendeu mesmo e parece que ninguém ou quase ninguém se rala com isso.

Abdicámos da cidadania em troca de um salvo-conduto que julgamos suficiente para nos ajudar a sair da tormenta.

Só que à tormenta se acrescenta tormenta e os salvo-condutos não salvam nada.

Nunca julguei possível assistir ao degradante espetáculo do mais descarado desrespeito pelas mais elementares regras democráticas tendo como autores precisamente aqueles a quem foram atribuídas as responsabilidades de zelar pelo respeito das regras.

Ao sonho concretizado de reunir um presidente, uma maioria e um governo, faltaram alguns “pormenores” que agora lamentam.

Não cuidaram de escolher bem os juízes do Tribunal Constitucional, disse hoje o primeiro-ministro. Sim, o Primeiro-Ministro.

Eu sou dos que penso, que de facto houve uma má escolha, mas essa foi a que foi feita através do voto em pessoas deste calibre democrático.

Os Juízes interpretam e julgam com base no texto constitucional e não tenho a menor dúvida que o primeiro-ministro, também considera que este texto, ou seja a Constituição, também foi mal «escolhida».

E está no seu direito.

Mas também está na sua obrigação, respeita-la. Foi isso que jurou.

Do sonho concretizado – presidente, maioria, governo – resulta o pesadelo que vivemos.

Mas mesmo assim não estão contentes. Querem juntar-lhes: uma Constituição; Um Tribunal Constitucional com juízes bem escolhidos. Boas escolhas, para os outros tribunais.

O resto virá a seu tempo. Bem escolhidos presidentes de câmara e, porque não? Bem escolhidos presidentes de junta.

E o presidente da República … – vértice cimeiro da trilogia sonhada – tira fotografias com Ronaldo e Meireles.

Próximos de nós – dizem eles – os que se julgam no direito a ter mais votos nossos, brigam-se e esgatanham-se mutuamente numa assanhada disputa pelo poder cheirado.

Nesta jangada à deriva também temos direito à nossa orquestra.

domingo, 1 de junho de 2014

O dezasseis avos

 

Quando é que a política passará a ser uma coisa séria?

Os atores, fazem dela cada vez mais, uma coisa desprezível. Disso recolhem dividendos.

Os espectadores, batem-lhe palmas ao mesmo tempo que a consideram abjecta. Disso sofrem consequências,

Não me parece que daqui vá resultar coisa boa.

A política deveria ser, (a forma, a arte, a ciência) uma destas ou todas estas coisas, que tratasse da «coisa pública». Mas parece ser antes, a arte de tratar da «coisa privada» em público.

O espetáculo aberrante a que assistimos e cujo êxtase ocorre após as eleições para o Parlamento Europeu, confirma a deriva.

O PS e no PS acharam que passariam pela chuva sem se molhar. Molharam-se claro. E depois foi o sacudir de capotes que se vê.

De tal forma sacodem que conseguiram sacudir o peso da estrondosa derrota da direita que está no poder.

Portas e Passos, beneficiando assim (sem esperarem?) de briga vizinha, bradam: «tirem-mos de cima que nós damos cabo deles».

O tio avô, disso se vai encarregando. De os lhe tirar de cima.

O Tribunal Constitucional, vai aparando. Ah e tal sim…mas.

E depois, surge sempre o bom «vivant». Ah e tal a política e os políticos são uma aberração…mas …quanto…quanto? Ah. Bom!

Em cima da cereja coloco as afirmações do vice que, zangado com a moção de censura apresentada pelo PCP, questionava a legitimidade da iniciativa por parte de um partido, disse ele, que representava um sexto de um terço dos votantes.

Engraçado. E que representatividade tem o vice para ser vice.

Talvez um dezasseis avos.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Reflexão (quase) hermética

 

Vá-se lá saber o que lhe vai na alma…


Quanta vezes não ouvimos esta expressão dita a propósito ou por força da incompreensão da razão para determinado comportamento de alguém.
Esta minha obstinação em procurar compreender as razões dos comportamentos (que aqui já expressei por mais que uma vez) talvez se enquadre e encontre raízes neste desabafo popular, só que ao invés de dar à expressão o sentido da resignação, procuro fazer dela o alimento da curiosidade metódica.
Por estes dias, com um simulacro eleitoral à porta, verifico do despudor de muitos protagonistas.
Perante a miséria criada, os seus criadores fazem arrufos entre si para disfarçar as culpas. Alguns falam de mudança e a única que se vislumbra será similar às que por vezes fazemos nas salas das nossas casas – mudando o sítio do sofá.
Os outros dizem que o pior já passou. Pois passou, mas por nós, com a culpa deles.
Outros, surgem de novo, como sempre surgem, sempre que há simulacros (com o mesmo folclore de sempre).
Trinta e nove anos disto e parece que isto vai continuar.
Uns, alienados, incapazes já de discernir. Outros, descontentes com todos (inclusive com eles mesmos) bebem avidamente o veneno, dizendo ser para a cura. Outros, julgando-se mais entendidos que os outros (com o meu voto é que eles não contam). Outros, que alinham e seguem o rebanho murmurando a sua oração de resignação: «o que é que a gente há-de fazer»
Entretanto, diz-se nos jornais, que a Srª Merkel já escolheu Presidente e Comissão.
Setecentos e cinquenta e um deputados também já estão mais ou menos escolhidos, mais coisa menos coisa e preparam-se para fingir que decidem os destinos desta coisa a que chamam União.
Podia ser… podia. Se por uma vez, só uma vez que fosse, assim o quiséssemos.
Podíamos construir uma sociedade mais justa. Se o quiséssemos.
E se quiséssemos.
Esta Europa de território quase contínuo, em que podemos partir de carro de Lisboa e chegar de carro a Moscovo, percorrendo países, saudando povos e encontrando formas de comunicação para aceder às suas culturas, esta Europa, dizia, podia ser partilhada como um território de alegria, paz e progresso.
Mas, parece que não queremos.
Mas não queremos porquê?

Como pequena nota de rodapé  e a propósito  da maneira como os senhores da situação estão a tratar  as Eleições para o Parlamento Europeu atentemos no patético anúncio radiofónico pretensamente de apelo à participação.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Hábitos…maus hábitos

 

Existia até há um tempo não muito ido, o hábito de perguntar aos meninos e às meninas: Gostas mais de quem meu (minha) menino (ou menina), do pai ou da mãe?

A pergunta estúpida era acompanhada, obviamente, por aquele trejeito de rosto, todo ele patético, a que se acrescentava a não menos ridícula entoação.

Criaram-se a propósito algumas anedotas, sendo a mais conhecida de todas (e naturalmente também estúpida) a que acrescentava a resposta do (a) menino (a): «de carne».

Estas lembranças surgiram-me a propósito de outras dicotomias que estupidamente nos vão artificializando e com que nos vemos forçados a tomar opção.

Gostas mais disto ou daquilo, não sendo possível a resposta de gosto disto e daquilo.

Gostas mais do campo ou da cidade, não sendo possível responder que gosto do campo e da cidade.

Gostas mais de letras ou ciências (mantive a expressão mas não partilho) não sendo possível dizer que gosto de literatura e de biologia.

Se às respostas, não estivessem associadas consequências, se as perguntas fossem meros exercícios dos doidos por rankings, não viria daí grande mal, o problema é que não é bem assim.

Quando olho para uma criança com quinze ou dezasseis anos, angustiada com a «área» que vai ter de escolher porque vai iniciar o secundário, então fica claro que não é uma questão assim tão neutral.

As estúpidas questões artificiaram estúpidas dicotomias. Estúpidos hábitos.

No ensino, conduziram a uma profunda segmentação dos saberes que quase produz génios analfabetos.

Na vida, em geral, conduziram ao arrebanhamento. Pensa-se como rebanho, não se pensa por cada um.

Anularam o «eu» em nome de uma pretensa ideia colectiva e como consequência fizeram do «nós» a anulação do colectivo e criaram o que pretendiam: um «eu» de rebanho.

E aqui chegados é tão fácil conduzir o «eu».

E é esse «eu» que berra mas segue apascentando.

Que, mesmo no voto (em que apesar de tudo ainda está garantida o direito à individualidade) acaba por agir sob a lógica do rebanho.

E vota (sempre no arco como descaradamente os pastores já definem) e depois queixa-se e depois volta a votar e depois queixa-se e vota e depois….

Como num final de dia, quando mansamente regressam ao ovil.

O «espojinho»

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Unanimemente

O «Da Porta Nova», fez-me chegar este escrito.

Parece um desabafo.

Ou talvez, um grito de alerta.

Não me cabe catalogá-lo. Haverá quem o faça.

Publico-o, simplesmente:

Perpetuamos as perplexidades sem cuidarmos por um momento, por um simples momento, que seja, que razões podem existir para a sua ocorrência.

Desapareceu a URSS, a RDA e todos os outros sonhos de Leste e perplexos, ao invés de procurarmos perceber, perpetuamos essa perplexidade ou de forma pior ainda, procuramos perpetuar a anulação da procura das causas.

E andamos, dizendo que em frente.

Somos até capazes de citar: um passo atrás para depois dois em frente.

E quanto muito, damos dois passos atrás e só um em frente.

E vivemos.

Vivemos hoje na corrente das unanimidades.

Pretensamente.

Sendo talvez, ou melhor, certamente, o tempo:

Das unanimidades das conveniências

Somos unânimes na condenação da política liberal que destrói as nossas vidas.

PSD e CDS são para nós, unanimemente e com cargas de razão, coisas abjectas. São as causas dos nossos males e por arrastamento, dos males do país.

De igual forma, unanimemente, partilhamos da ideia que não é percorrendo de novo os caminhos que nos conduziram ao desastre, que evitamos novo desastre.

E é com essas unanimidades que percorremos os caminhos das lutas. Como hoje, neste nosso 1.º de Maio, unânime.

E lá nos cruzámos.

No mesmo sítio. Com os mesmos objectivos. Mas desconfiados de cada um de nós.

E este não é um bom caminho. Mas é o caminho que percorremos.

Foi o caminho percorrido por outros, talvez na URSS, em que em nome da defesa dos necessários unanimismos, se criaram as clivagens da destruição.

Como é possível que, pensando de forma igual, nos transformemos em coisas tão diferentes no agir?

Como é possível que, sem que nos apercebamos, nos transformemos nas bestas que unanimemente criticámos?

Mas esta merda tem de ser sempre assim?

Mas é mesmo verdade que o poder corrompe o homem?

Mesmo os pequenos poderes?

Bolas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

NO DIA MUNDIAL DO LIVRO

 

Dura há longos anos, este meu gosto.
Vem do tempo dos primeiros passos.
Dos tempos em que nem todos eles eram bem vistos, havendo mesmo alguns deles considerados perversos.
Confesso que cheguei a temer, nos tempos dos meus primeiros passos, que o meu gosto por eles tivesse conduzido acidentalmente  a algum contacto com algum deles, perverso.
Saía da carrinha da Gulbenkian, com eles bem apertadinhos junto ao peito e com medo que o guarda que por ali sempre cirandava me berrasse: «Alto aí! Que livros levas tu aí, gaiato?»
À luz do candeeiro a petróleo e pela noite dentro, quando todos os outros dormiam, devorava página a página.
Na semana seguinte, estavam prontos a entregar e a renovar a remessa.
Dessas primeiras leituras retenho Júlio Verne.
Como eu me encantei pela «Jangada» e pela «A Volta ao mundo em 80 dias».
O que eu sonhei com a ilha deserta de Robinson Crosué e o que eu temia os canibais que o apoquentavam. Isto, graças a Daniel Defoe com as suas «As aventuras de Robinson Crosué».
Depois, pouco depois, com a meninice e os primeiros passos já largados, as leituras deixaram de ser as possíveis através dos livros requisitados na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.
Naqueles tempos, os tempos eram curtos para se ser menino.
E passaram a ser escassas as leituras.
Estas, retomar-se-iam em breve.
A liberdade reacendeu a chama.
E as leituras passaram para Alves Redol (Gaibéus), Soeiro Pereira Gomes (Esteiros; Engrenagem); Urbano Tavares Rodrigues (Desta Água Beberei); Gabriel Garcia Marques (Cem anos de Solidão, Crónica de Uma Morte Anunciada); Pablo Neruda (Nasci para Nascer); Manuel Alegre (Praça da Canção) José Carlos Ary dos Santos (As Portas que Abril Abriu).
Percorreram-se outros caminhos, por força de outras razões e que saem do campo estrito da Literatura e aí é incontornável Karl Marx (O Capital, O 18 de Brumário); Álvaro Cunhal (A Revolução Portuguesa: o passado e o futuro); Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo».
De novo na Literatura, José Cardoso Pires (O Delfim); Manuel Tiago (Até Amanhã Camaradas; Estrela de Seis Pontas; Cinco Dias e Cinco Noites); Mário de Carvalho (Os alferes; Fantasia para dois Coronéis e uma Piscina; Era bom que trocássemos algumas ideias sobre o assunto).
Ernest Hemingway (O Velho e o Mar; Por Quem os Sinos Dobram).
Manuel da Fonseca (Cerromaior)
E José Saramago – que agora leio avidamente. Depois de «O Memorial do Convento» que adorei, parei inexplicavelmente, estupidamente, acrescento.
No retorno, li «Caim»; «Ensaio sobre a Lucidez» e «Levantado do Chão»
Num campo de mistura em que a Literatura não foi a razão primeira para a opção de leitura, tive o prazer de «descobrir» Eça de Queiroz (O Primo Basílio); Almeida Garrett (Viagens Na Minha Terra); Vergílio Ferreira (Aparição); Albert Camus (O Estrangeiro).

Pela casa (não consigo imaginar uma casa sem livros) ainda há muitos outros por ler, alguns – os especiais entre especiais, para reler- e muitos outros lidos, muitos de autores por quem fiz esta breve resenha outros de outros autores que não citei por não terem tido igual impacto ou por imperdoável esquecimento.
Para não cometer injustiças (ou para não lhes dar continuidade), tenho uns problemas por resolver (que quero resolver) com José Luís Peixoto.
Para terminar, um pequeno reparo na mesma linha. Tenho para ler, em lista de espera, João Tordo.
Dos novos escritores, julgo que seria injusto, terminar esta resenha sem falar de Ondjaki (os da minha rua).
Tudo isto, veio a propósito de sendo hoje o Dia do Livro, me apetecer homenagear aqueles que fazem deles, os nossos companheiros de sonhos, angústias e de viagens.
Bem hajam.
Viva o Livro.

domingo, 20 de abril de 2014

conversas de comida

 

Terminada a Páscoa e estranhando “o da sopa dos pobres” por nada me dizer ainda por mais numa época tão propícia à abordagem dos seus temas, tirei-me de mais demoras e procurei saber dele.

Encontrei-o atarefado de volta de um borrego. Limpava-o de gorduras, separava as costeletas em costeletas da rinzada, em costeletas para fritar e para panar. Preparava a perna para o assado e as abas para o ensopado.

Meti conversa e fiquei a saber que não anda ele muito virado para conversas sobre gastronomia. Porque já enjoa – como disse - não haver cão nem gato que não bote faladura sobre a coisa e quase sempre fazendo da sua opinião a douta certeza.

Para além dos masteres todos surgiu agora um tal MEC que até sobre torradas já produziu tese.

Terá ele comido alguma feita em lume de chão e barrada com toucinho cozido? Não comeu decerto.

Não comeu e não comerá. Não são estas as melhores torradas do mundo. Essas – as melhores – sabe ele quais são. E tem a gentileza de partilhar esse seu saber com o comum dos mortais. Grande homem.

Mas o que mais apoquenta «o da sopa dos pobres» é a inquietação que lhe resultou de outras abordagens que fez sobre «comida». Confrontou-se, por força de comentários ouvidos, com a sua própria «génese» - assim mesmo – como me disse.

«Génese» disse meio espantado. Sim. Um homem põe-se a duvidar da sua…

Da sua?.

Sim. Da sua masculinidade.

Homem que goste de cozinhar é um tanto ou quanto assim como…

Os homens…homens…não cozinham. Não partilham tarefas domésticas. Têm sempre muitos trabalhos que trouxeram para casa, a comida não lhes diz nada.

Mas comem.

E há mais, disse-me: repara nos riscos que corres.

Quem gosta de gastronomia fala abertamente de matanças. Pergunta descontraidamente pelo telefone a um amigo: Então quando é que matas?

Ao que é natural que o outro responda, ainda não vai ser este fim-de-semana, mas olha que no sábado vou matar dois ali no monte dos frades…os gajos de lá pediram-me e eu vou fazer-lhes esse favor.

E que se fale de sangue. Não desperdices o sangue, ouviste?

Imagina tu que tenho o telefone sob escuta, vou de cana em menos de um farol.

São perigosas as conversas de comida.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Inquietantes tempos

 

Não me recordo, se já por aqui referi alguma vez, que acalento a ideia de me envolver numa pesquisa através da qual se possam identificar (ou contribuir por aproximação) os processos de formação de personalidade e no mínimo, as condicionantes e as razões para determinados comportamentos.

Obviamente que sei que cada um de nós é um caso e que isso mesmo pode ser o factor diferenciador face a outros seres vivos, ou seja o que nos diferencia é a nossa marcada individualidade.

Mas não é em torno das questões que só ao individuo dizem respeito que quero incidir a anunciada e adiada pesquisa, mas sim conduzi-la em torno das expressões que sendo individuais têm forte incidência nas escolhas colectivas.

Não tenho a menor intenção de, com esse objectivo, percorrer os caminhos do consumo e da moda. Pretendo antes percorrer os caminhos da cultura nas expressões religiosas e políticas.

Em que «caldo» ou «caldos» se geram as opções?

Porque é que a Sul se verificam votações expressivas nos chamados partidos de esquerda e a Norte de sentido inverso?

Porque é que existem tão diferentes níveis de religiosidade, principalmente no que diz respeito às práticas, também por força dessa mesma razão geográfica?

Como se formam as condições para o êxito de implantação de novas religiões?

A que se devem os êxitos (massivos) dos programas de televisão de ordinária coscuvilhice?

Ambição. Ambição.

Adie-se.

Esta referência surgiu porque aquilo que hoje quero referir tem de certa forma enquadramento com essa preocupação.

Ao comemorarmos quarenta anos da Revolução de Abril (já?) confronto-me com a tentativa de caracterizar posicionamentos face à data, mais propriamente face ao que ela representa e dessa forma procurar saber da vitalidade ou esmorecimento dos seus valores.

Foi com agrado que li há dias, que em estudo creio que conduzido no âmbito da Universidade Nova de Lisboa, a maioria dos inquiridos considera o 25 de Abril como a data mais importante da história de Portugal.

Face ao que, tendo reflectido em torno de posicionamentos, considerei a existência dos planos (extractos) seguintes:

Um extracto correspondente a um conjunto restrito de indivíduos, que por vivência direta ou reflexo geracional odeiam os valores de Abril. São os senhores dos grandes consórcios, das terras, das finanças e do alto clero. Trata-se de grupo homogéneo, coeso culturalmente e de onde só excepcionais exceções se poderão esperar.

Este grupo tem junto a si um sub-grupo que por força de dependências várias, principalmente de ordem económica, pensa e age de forma seguidista. O corte – se em ruptura – pode dar origem a significativas rupturas na forma de agir.

Existe depois um «espaço», que se presume amplo, dos que culturalmente se identificam com os valores de Abril, mas cujo interior se subdivide em diversos grupos. Embora se verifique uma certa transversalidade etária o peso maior verifica-se nas gerações que diretamente viveram os acontecimentos e que por isso têm hoje mais de quarenta anos.

Não sendo muito adepto da tipificação com base no critério etário, penso que se pode admitir que aqueles que têm 30 ou menos anos, apesar de se integrarem nas tipificações já referidas, têm tendência a integrarem-se naqueles que consideram a liberdade como valor maior e associam esta ao 25 de Abril. Já no que toca a outros valores não se poderá afirmar de igual clareza de posicionamentos.

Preocupante, porque se prenuncia crescente, é a existência de uma «massa» alienada, que por um lado associa as suas dificuldades e a sua pobreza aos políticos e ao 25 de Abril e por outro, os mesmos ou outros, que fazem questão de se afirmar como não «querendo saber dessas coisas».

São estas reflexões a que talvez dê aprofundamento.

E é com elas que vivo estes tempos de comemoração e em que sinto mais apreensão que confiança.

São muito inquietantes estes tempos presentes.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Vírus


Um blog ou um blogue, conforme nos situemos mais próximos ou menos próximos da dominante e esmagadora corrente que quer transformar o inglês como expressão única, é um espaço para a publicação mais ou menos regular de opiniões, quase no estilo de um diário, cujo acesso se permite a outros.
Assim, o «espojinho» não é um blogue. Falta-lhe regularidade. Ocorre por impulsos.
Não o sendo e não sabendo o que seja, aproveito a sua existência para ir colocando por aqui uns textozinhos armados em paraliteratura , uns de minha lavra e outros que me fazem chegar.
Quase sempre espaçada e demoradamente.
Mas, os que reparam já repararam que existem temas recorrentes.
Um deles é referente às questões económicas e ao papel de alguns economistas.
Assim o é hoje.
Dou por mim a pensar (e o «eu» é outro dos temas recorrentes) porque será que toda a política é agora economia e toda a opinião política de economista é a opinião certa, incontestada e incontestável.
Claro que essa opinião só é certa se for proferida por economista de «regime» e a favor do «regime».
Os episódios recentes em torno do famoso (e desconhecido para a maioria dos que se pronunciaram) manifesto, assim o atestam.
Se a favor do dito, então nada sabem da «arte», se contra ele e a favor da submissão então, esses sim, são entendidos nela.
Às vezes chego mesmo a pensar, mas claro que pensamento de leigo não chega lá, se não haverá confusão na denominação.
É que fico com a sensação que quase sempre, chamam economista ao contabilista.
Economista não é aquele que se formou em ciência económica, mas sim o que faz a contabilidade do «regime».
E no quadro atual em que o «regime» sorve dominador toda a vida pública, são estes contabilistas que predizem, fazem e cobram.
Eles não só dizem o que é hoje como dizem o que vai ser daqui a trinta anos.
Ah…grandes crânios.
Mas… qual é mesmo o nome deles?
Por mim, não querendo sequer guardar a memória dos seus nomes, partilho com outros, muitos, que argumento válido de economista sobre economia é aquele que é produzido partindo de um determinado quadro teórico (assumido à partida para evitar falsas neutralidades axiológicas), procedendo criteriosamente à recolha de informação e usando de métodos e técnicas próprios às ciências sociais (onde a economia se insere), usando da especulação teórica necessária e que assim chega a uma conclusão que submete aos pares para validação ou contestação.
Sem percorrer este caminho (investigação) a um economista de «regime» é aceitável e louvável pela «corte do regime» que afirme: “não há alternativa, o caminho é este!”.
Para essa distinta «corte» seria expectável, pela mesma ordem de razão, que um investigador, por exemplo da área da biologia, pudesse afirmar: “Não há nada a fazer! Não é possível eliminar o vírus!”.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Voando sobre o ninho de escombros do mundo velho

Vivemos tempos em que claramente se nos afigura a ideia de que algo vai mudar, parece que em breve, mas não sabemos nem como, nem quando.

E esta percepção não é hoje já só oriunda de intelectuais e dos meios académicos – a recorrente expressão de mudança de paradigma - mas é assumidamente partilhada, sentida e expressa em comportamentos, pelo comum cidadão.

Esta perspectiva, traz consigo o medo. Sabemos do que nos despedimos, não sabemos o que nos espera.

A esta questão referiu-se há dias, numa sessão promovida na Universidade de Évora pelo núcleo local do Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Prof. Silvério da Rocha e Cunha, afirmando «o mundo velho morreu, o novo ainda não nasceu».

É com esta referência, ou seja, partilhando, ou julgando partilhar, pensamento deste pensador e autor, que exponho o ponto de vista que aqui quero deixar hoje.

Os sinais (cacos) da morte do mundo velho espalham-se um pouco por todo o lado.

Guerras a que chamam, procurando atenuarem, conflitos.

Ódios. Chacinas.

Fronteiras instáveis. Moles imensas de gente que se expõe ao mar e às balas para procurarem o direito a viver.

Poderei voltar a esta questão geral, tão atual e pertinente, quando na Ucrânia os ucranianos se matam nas ruas, mas hoje pretendo incidir a ideia a que me propus, exclusivamente aqui, neste território a que chamamos Portugal.

Aqui, a nossa guerra, não tem obuses, tiros, bombas e a instabilidade das fronteiras não é física.

Mas provoca vítimas aos milhares (os que têm de sair do país à procura do que aqui se lhe nega; os que cá ficando, subsistem miseravelmente, os que não têm que comer, os que não têm tecto).

E provoca também um número crescente de alienados (os que já não acreditam em nada e em ninguém e que são cada vez mais agressivos e portadores de ódios viscerais contra tudo ou quase tudo).

A fronteira entre os que têm excessos de tudo até de excessos e os que nada têm é cada vez mais vincada. (os números sobre a distribuição da riqueza aí estão para provar que não é retórica a afirmação).

E esta situação provoca assim, naturalmente medo e o medo é um péssimo auxiliar do comportamento humano.

O medo conduz ao alheamento mas também conduz à ação irrefletida.

E é a possibilidade da massificação dessa, que deveria concentrar a preocupação de quem tem ainda a possibilidade de refletir.

Mas, o que verificamos é que alguns, estupidamente, ainda julgam ser possível tirar partido da «coisa» para seu belo proveito e então despedem, baixam salários, exibem os seus excessos com arrogância, berram que ainda aguentam mais do mesmo e imensas outras parvoíces.

Pois…, mas o que será que pode resultar duma massificação de comportamentos irrefletidos por parte de quem já nada tem a perder?

Sabemos todos, que eles, os que trouxeram a «coisa» até este patamar e mesmo agora são pirómanos, não sabem, nem cuidam.

Só cuidam de considerar que eles se «safarão» e bem como sempre.

Pode não ser assim.

Eles estão a olhar com as lentes do mundo velho, e esse morreu.

Outros – muitos – nas escolas papagueiam as diretivas do mundo velho já morto.

Outros – muitos – na política, só cuidam de ver como será o deve e o haver dos votos eventualmente resultante.

Eu, por mim, temo (também disso sofro) sobre o que será esse «saldo» já agora, nas próximas eleições europeias.

Mas pressinto uma perigosa deriva.

Pois… o mundo novo ainda não nasceu. Não sabemos o que será.

E nós, entre os cacos do mundo velho pressentimos um mundo novo desconhecido.

E muitos têm medo….

Ainda uma nota sobre a política caseira – evidentemente enquadrada no que aqui foi exposto – insinua-se estar em construção um novo quadro político, composto por novas formações políticas.

À direita para preencher o espaço deixado em cacos por Passos Coelho e para acolher os que por oportunismo têm vegetado no PS.

À esquerda para dar expressão a desânimos de alguns.

Na extrema-direita para organizar as hienas.

Veremos o que vai dar.

Ah… mais uma pequena nota, parece que voltou a haver direita, esquerda e até classes.

Prodígios.

«O da Porta Nova»

(esperando que desta vez o «O espojinho» não se esqueça de pôr a assinatura, como fez com o último texto meu …sei que foi só esquecimento).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Uma vez mais, sobre culpados e inocentes.

 

Há quem passe por cá, passando – outro verbo se quis impor – e há os que, mesmo tendo por vezes dúvidas sobre o caminho a usar, passam caminhando – fazendo ou tentando fazer o seu próprio caminho.

Incluo-me nestes últimos, por mais dúvidas, por mais «aparições», por mais espaços sombra que por vezes nos envolvam.

Fica pois descansado «Espojinho».

Obrigado por acolheres este sem abrigo no teu blogue mas deixa que te diga que em matéria de blogues a coisa está preta.

Há por vezes a ideia – tentação – de transformar os blogues em órgãos de comunicação social e há logo quem disso os aproveite – através de coisas a que chamam comentários - para os transformar em latrinas.

Há exemplos por aqui na cidade.

E é hilariante observar - fi-lo por pouco tempo porque preservo a minha saúde – que certos energúmenos invocam o direito a postar – sim, postar…de postas – em nome do que dizem ser a liberdade.

Espero que nunca deixes tal acontecer por aqui. Se querem postar que o façam nas suas próprias casas.

Por isso reforço o meu obrigado. Abrigaste-me porque sabes que partilhamos muitas ideias, sonhos e até trajetos.

Sei que todos os que assim pensem podem encontrar também aqui o seu espaço.

Demorados que vão estes “salamaqueques”, quase já não tenho tempo para falar do que aqui me trouxe, pois eu pretendia deixar umas dicas sobre a participação dos cidadãos na vida pública.

Quem tem lido, sabe que não partilho da ideia um pouco generalizada de que a «culpa» não tem culpados.

Se temos um governo que nos espezinha e enaltece a pobreza a que nos conduz, a culpa é de outros, nunca de quem é de facto.

Para mim e penso que é uma evidência, a culpa é de quem votou neles.

Quem votou PSD e CDS tem culpa mesmo que agora lhe possamos aceitar que possa declarar-se arrependido.

Porque uma coisa é não assumir a outra é reconhecer o erro.

Fomos todos brindados há dias com um espetáculo abjecto vindo da ocidental e desenvolvida Dinamarca : No Zoo de Copenhaga, entenderam por bem os responsáveis, proceder a um ato bárbaro de matar e esquartejar uma jovem e saudável girafa, em público e com ela alimentar os leões.

Não se tratava de uma girafa velha ou doente, mas sim de uma girafa muito jovem e saudável.

Todos sabemos que os leões são carnívoros e que se têm de alimentar, mas a questão é saber se tem de ser assim, daquela forma brutal

Se há animal com que estabeleço uma certa empatia é com leões.

Pouco sei sobre eles, mas julgo saber que as girafas não serão a sua presa favorita. Um coice de uma girafa jovem e na sua plenitude física pode deixar um robusto leão, no mínimo a ver estrelas.

Ali, naquele acontecimento, não houve nada de «natural», antes pelo contrário, houve mãozinha humana, pelos vistos sanguinária.

No público, estavam presentes inúmeras crianças que incrédulas, desviavam o olhar perante a atrocidade.

Estou em crer que não seria muito difícil escutar, depois do «espetáculo viquingue» os comentários dos papás e das mamãs dos meninos, ditos com os meninos pela mão, no regresso: Isto foi inadmissível, os culpados tem de ser punidos.

Pois…os culpados.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Espargos

 

Num dia como o de ontem, chuvoso e de ventania, daqueles dias típicos de inverno, quando tudo em nós nos transporta para o aconchego quentinho e quando remoramos o crepitar de lareiras, lá estava o homem, enrolado sobre si, abrigando-se sob uma velha sombrinha de praia, sentado num banquinho à beira estrada – agora avenida - vendendo espargos.

Perguntei-me se ao menos os venderá, se alguém ganha coragem para sair ou sequer abrir a janela do carro para lhos comprar.

E refiz pensamento que já em outras situações havia tido: se estivesse melhor de dinheiro, comprava todos os espargos ao homem, pedir-lhe-ia que fosse, pelo menos naquele dia, abrigar-se em sítio mais quente e eu, convidaria amigos para um petisco com espargos.

Quem sabe, não convidaria o homem.

Embora aceitasse que pudesse recusar…

Brr espargos…ainda se fosse um petisco de jeito….

Pois eu vou cortar em pedaços pequenos os seus caules, parando onde estes já fazem resistência ao corte, saltear em banha quente quadrados de linguiça de porco preto, a que junto a meio alguns dentes de alho esmagados e uma folha de louro. Entram depois os ditos cujos, tempero de sal e pimenta preta moída ao momento e na parte final os ovos, previamente batidos, que faço envolver.

Salpico de salsa picada. Acompanho com pão – pão – um tinto alentejano – quase todos são bons – azeitonas salpicadas de sal grosso e orégãos.

Anotem que se estiver sozinho, isto é incomestível. Nada presta.

Assim pensei.

Mas, como o se, se mantem…

Fazendo a  viagem  de regresso.

À tarde, já noite porque esta chega cedo no inverno, lá estava ainda corcovado o velho homem e com os espargos por vender.

O «Da Sopa dos Pobres»

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O que é que ele quis dizer?

 

Uns, julgarão que disse por dizer, um impulso que lhe deu naquele momento para o dizer, e assim o fez.

E a julgarem assim, considerarão que fará uso um pouco irresponsável de palavras e conceitos.

Abre a boca, melhor, solta a escrita e pronto.

Outros, não julgarão nada, porque pura e simplesmente não leram. Mas esses, também não serão motivo para a minha preocupação, porque se não leram, não interrogam, não é verdade?

No meu caso, como como li e me interroguei, procurei saber de que raio de «Aparição» falava “O da Porta Nova” naquele post enigmático que aqui publicou.

Como sabem os que por aqui passam, ele e o “da Sopa dos Pobres” partilham comigo este espaço de desabafos.

Cada um com seu jeito desajeitado.

Um, que pretende falar de espaços e vivências.

Dá-lhe por vezes para fazer incursões por áreas aparentemente de sombra que convenientemente se designam por filosóficas.

Outro, procura falar de usos, dedicando à gastronomia mais paleio do que escrita.

Como se de sem abrigos se tratassem, abriguei-os por aqui.

E a eles vou ganhando alguma afeição.

Eu sei que “O da Porta Nova” tem andado muito amargurado. Zangado com a forma como lhe impõem a vida.

Desiludido também, com certos rumos.

Sei que lhe custa muito, o tomar de consciência que o seu espaço de partilhas começa a estar, ele também, conspurcado com os mesmos lixos tóxicos que conspurcam a sociedade que quer transformar.

Que a palavra camarada já não se usa e os que a usam, não a respeitam.

Sei que sim, que isso o incomoda.

E por isso procurei saber de que «Aparição» falava.

Mas «O da Porta Nova» tem-se remetido ao silêncio.

Fiz então o que é useiro fazer: procurar «analisar» …

Nem sequer imagino o incómodo de muitos dos “analisados” com a panóplia de análises que recaem sobre si.

Cada um diz sua coisa.

Pois a análise a que agora procedo é somente a coisa que digo sobre o que disse «O da Porta Nova»

E conclui que a «Aparição» de que falou – não sei se numa analogia distante com a obra cujo enredo decorreu por aqui – se lhe apresentou como uma constatação brutal do real – o que na gíria se traduz por “o cair em si”.

Que se lhe pode ter afigurado como um estímulo para agir, pois se o que se lhe apresenta – lhe aparece – não corresponde aos seus sonhos, pois então passará a intervir contribuindo para que passem a corresponder.

Uma certa forma de negar o estado de resignação a que parecia , parece, entregar-se.

Como se fosse, seja, um grito de basta.

Uma promessa de que se dispõe a ser mais interventivo e menos dado à resignação.

Um reencontro consigo.

Será?

Não será, mais resignação?

«O espojinho»

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

APARIÇÃO

Coisa estranha. Falar de objectividade com base na subjetividade.

Assim como falar do real tendo por base o surreal.

Que falas podem resultar daqui?

Enigmáticas. Só pode.

Mas…

Cada vez mais me remeto para aí.

Para esse campo do não objectivo.

Estou farto do é assim porque é assim.

Do sempre foi assim.

Do sempre assim será.

Do objectivo, objectivamente.

Há uma espécie de aparição que me diz

Para mandar à merda as convenções

Objectivas.

Coisa estranha esta, que me foi enviada por: O d´a Porta Nova

O «espojinho»