segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Uma palavra de gratidão

Por mera rotina e sem o mínimo rasgo de entusiasmo, cumpro o percurso diário de “abrir” os poucos blogues que, sem razão, ainda “abro”.

Ao “meu” tenho dedicado a atenção que a cadência de publicações demonstra, ou seja nenhuma.

Caio por vezes na perfeita idiotice que consiste em “abrir” alguns comentários. Como se não soubesse que ali se alojam frustrações, impotências e ódios.

Mas estas notas vêm a propósito de um “post” colocado hoje no blogue «A cinco tons», um dos que por rotina, costumo consultar.

Fiquei a saber através dele, que morreu ontem, dia 2 de novembro, um homem que se constitui para mim e garantidamente para muitos dos que com ele conviveram, uma referência incontornável.

Com ele, fui incentivado a pensar, quando a preguiça nos quer convencer a fazer o contrário, mais fácil.

Com ele, fui incentivado a fazer da dúvida metódica, um instrumento de trabalho. A tomar consciência de que as «nossas verdades» não são mais do que – quando não são mesmo preconceitos – pequenas aproximações à verdade que se procura.

Nos nossos contactos – ele Professor, eu aluno – cedo registou que o meu posicionamento ideológico – o meu ponto de partida – era o oposto do seu. Ao invés de outros – que nem do nome recordo – não só aceitava – criticamente – essa condição, como fazia questão de a estimular. Recordo um dia quando, perante uma lista de autores e obras que tinha colocado para que os alunos escolhessem, lhe transmiti que escolhia Marx e 18 de Brumário, me ter olhado de frente e me ter perguntado: - Sabe no que se está a meter?!. Perante a resposta, desejou-me bom trabalho.

Recordo ainda, creio, cada palavra – mesmo perante aquela difícil dicção – pronunciada a propósito de mobilidade social, quando ele criticava os arautos que em suma defendiam, que pobre, só pode aspirar a ser pobre e os filhos dos pobres, a seguirem as peugadas dos pais.

Ao princípio, foi com espanto – dada a condição de Padre que fazia questão de assumir – que lhe ouvi palavras críticas sobre algumas «orientações» da Igreja, mas depressa constatei que essa era uma condição que lhe era inerente, o que seria fator de espanto, seria ele não ser assim.

Não chegámos a trocar palavras faladas sobre o Papa Francisco mas trocámos palavras escritas e nestas senti que ele me queria dizer: - Vê, aquilo que eu procurava dizer, diz agora o Papa?!

O Professor, Padre, Augusto da Silva morreu no dia que se segue ao dia da «sua» Universidade.

Dele, vou recordar a condição de Mestre e para que não haja confusões com os títulos académicos: Mestre dos mestres.

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