terça-feira, 10 de junho de 2014

Redondos discursos

Entretemos-nos por vezes, em redondos discursos sobre a natureza humana.

Redondos, pomposos, retóricos, empolgantes.

Mas…

Mais do que eloquência discursiva, de mais ou menos retórica, com mais ou menos audiência, preocupa-me, isso sim e unicamente, procurar saber em que plano nos situamos quando lemos que uma mulher foi linchada no Brasil após ter circulado no Facebook o boato de que se dedicaria a práticas de bruxedo?

E quando ficamos a saber que uma mulher foi condenada à morte por enforcamento, no Sudão, por se ter recusado a renegar a sua fé cristã?

E quando um responsável governamental, na Índia, perante crimes horrendos que nos chocam, desdenha das vítimas e defende a violação?

E quando se cravam no chão bicos metálicos para impedir assim que os sem-abrigo ali possam pernoitar?

E quando se considera que o vírus Ébola pode ser um bom aliado para impedir a emigração agora não desejada?

Para quem precisar de saber o que é um fascista, procure saber a forma como se responde a estas questões. Bastará.

Ou mesmo a outras.

Diga-me por exemplo o que pensa de uma pessoa (do aparelho no poder), que afirma que é preciso ponderar a criação de mecanismos judiciais (sanções judiciais) para os casos em que os poderes do Tribunal Constitucional são extravasados?

E de um general ou de um coronel que manda calar o protesto popular em nome do respeito pelo país, isto na sequência do “piripaque” de SEx. ?

E de outros que afirmam que no futuro têm de ter mais cuidado na escolha dos juízes?

Restarão ainda dúvidas?

Pois eu não as tenho. O fascismo está aqui já.

Por enquanto, em pele de cordeiro.

Mas da boca já sobressaem os seus carnívoros dentes…

domingo, 8 de junho de 2014

ESPERTICES

 

Difunde-se por aí, por enquanto em pequeno, que o governo se prepara para repor os cortes de Sócrates nos salários dos funcionários públicos.

Espertices de gente pequena.

Esses cortes já estão feitos para todo o ano de 2014.

A benesse (mais uma) de não se ter feito uma fiscalização preventiva, (que foi dada pelo homem que não cede a pressões) e que se traduz na não correção das situações já ocorridas à data do acórdão, leva a que esses cortes já estejam feitos para todo o ano.

Tomemos como exemplo um salário que era cortado em 9,8%. O valor total dos cortes entre janeiro e maio (5 meses) dividido por 14, dá um corte efetivo de 3,53% ou seja, acima dos 3,5% de corte de Sócrates.

Portanto não há nada para cortar.

O que as pequenas espertices se preparam é para novo roubo e nova provocação.

Com o homem que não se deixa pressionar, não precisam de se preocupar.

Entretanto falam de que precisam de previsibilidade.

Quem conduz em contramão conhece bem a previsibilidade de uma colisão.

E eles conduzem em contramão constitucional.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ESCOLHAS

Sinto-me num país à deriva qual jangada de pedra fustigada por fortes e várias tempestades.

Em tempos alguém disse por aqui, que talvez fosse necessário suspender a democracia. Entretanto alguém a suspendeu mesmo e parece que ninguém ou quase ninguém se rala com isso.

Abdicámos da cidadania em troca de um salvo-conduto que julgamos suficiente para nos ajudar a sair da tormenta.

Só que à tormenta se acrescenta tormenta e os salvo-condutos não salvam nada.

Nunca julguei possível assistir ao degradante espetáculo do mais descarado desrespeito pelas mais elementares regras democráticas tendo como autores precisamente aqueles a quem foram atribuídas as responsabilidades de zelar pelo respeito das regras.

Ao sonho concretizado de reunir um presidente, uma maioria e um governo, faltaram alguns “pormenores” que agora lamentam.

Não cuidaram de escolher bem os juízes do Tribunal Constitucional, disse hoje o primeiro-ministro. Sim, o Primeiro-Ministro.

Eu sou dos que penso, que de facto houve uma má escolha, mas essa foi a que foi feita através do voto em pessoas deste calibre democrático.

Os Juízes interpretam e julgam com base no texto constitucional e não tenho a menor dúvida que o primeiro-ministro, também considera que este texto, ou seja a Constituição, também foi mal «escolhida».

E está no seu direito.

Mas também está na sua obrigação, respeita-la. Foi isso que jurou.

Do sonho concretizado – presidente, maioria, governo – resulta o pesadelo que vivemos.

Mas mesmo assim não estão contentes. Querem juntar-lhes: uma Constituição; Um Tribunal Constitucional com juízes bem escolhidos. Boas escolhas, para os outros tribunais.

O resto virá a seu tempo. Bem escolhidos presidentes de câmara e, porque não? Bem escolhidos presidentes de junta.

E o presidente da República … – vértice cimeiro da trilogia sonhada – tira fotografias com Ronaldo e Meireles.

Próximos de nós – dizem eles – os que se julgam no direito a ter mais votos nossos, brigam-se e esgatanham-se mutuamente numa assanhada disputa pelo poder cheirado.

Nesta jangada à deriva também temos direito à nossa orquestra.

domingo, 1 de junho de 2014

O dezasseis avos

 

Quando é que a política passará a ser uma coisa séria?

Os atores, fazem dela cada vez mais, uma coisa desprezível. Disso recolhem dividendos.

Os espectadores, batem-lhe palmas ao mesmo tempo que a consideram abjecta. Disso sofrem consequências,

Não me parece que daqui vá resultar coisa boa.

A política deveria ser, (a forma, a arte, a ciência) uma destas ou todas estas coisas, que tratasse da «coisa pública». Mas parece ser antes, a arte de tratar da «coisa privada» em público.

O espetáculo aberrante a que assistimos e cujo êxtase ocorre após as eleições para o Parlamento Europeu, confirma a deriva.

O PS e no PS acharam que passariam pela chuva sem se molhar. Molharam-se claro. E depois foi o sacudir de capotes que se vê.

De tal forma sacodem que conseguiram sacudir o peso da estrondosa derrota da direita que está no poder.

Portas e Passos, beneficiando assim (sem esperarem?) de briga vizinha, bradam: «tirem-mos de cima que nós damos cabo deles».

O tio avô, disso se vai encarregando. De os lhe tirar de cima.

O Tribunal Constitucional, vai aparando. Ah e tal sim…mas.

E depois, surge sempre o bom «vivant». Ah e tal a política e os políticos são uma aberração…mas …quanto…quanto? Ah. Bom!

Em cima da cereja coloco as afirmações do vice que, zangado com a moção de censura apresentada pelo PCP, questionava a legitimidade da iniciativa por parte de um partido, disse ele, que representava um sexto de um terço dos votantes.

Engraçado. E que representatividade tem o vice para ser vice.

Talvez um dezasseis avos.