domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Terra é linda



Já deixei subentendido em textos anteriores, julgo mesmo que mais explicito que subentendido, que me posiciono criticamente face aos convencimentos da modernidade.
Incluem-se neles, uma «fé» absoluta na tecnologia e uma concepção dogmática da ciência - o que julgo constituir-se como anti ciência.
O que se está a passar no capítulo do natural contribui dramaticamente para reforçar estas minhas atitudes criticas.
Um parafuso na pista destruiu o Concord, uma placa mal aparafusada quase terminou com o sonho interplanetário dos vai vem, as pontes ruíram quando se anunciavam eternas, os arranha céus vieram abaixo com o impacto de duas aeronaves, o mar reocupou as vivendas que se lhe sobrepuseram, os rios estoiraram as manilhas com que os procuraram domar.
E mesmo assim, o homem decidiu criar ilhas em forma de palmeira e nelas construir novas cidades e torres (quais babeis) que quase chegam ao céu (ou chegam mesmo, pois não sabemos onde este começa) e outras grandes feitos.
E é neste «confronto» que nos situamos.
E perante ele, seria aconselhável mais interrogação e menos arrogância. Mais dúvidas e menos certezas.
Mais ciência e menos a sua negação.
A terra não é o nosso animal de estimação domado. É um ser vivo, dinâmico, muitas vezes cruel e por vezes agressivo, onde vivemos.
A história do homem é uma sequência de lutas de forma a ganhar as condições para aqui habitar em segurança e bem estar.
Muitas, bem conseguidas. Outras, nem tanto.
Importará pois retermo-nos mais na análise dos fracassos do que na ostentação grosseira dos sucessos.
E… convém não esquecer.
A Terra é linda.
Respeitemo-la.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A natureza ajusta-se.



E as consequências desses ajustamentos são dramáticas.
Medem-se em vidas humanas, no acrescentar desgraça às desgraças, na destruição maciça de bens e recursos.
Haiti, Madeira, Chile, só para referir os acontecimentos mais recentes e mais dramáticos.
Hoje mesmo, Portugal foi fustigado por ventos fortes, inundações e de novo a perda humana, no caso lamentável uma criança de 10 anos.
São vários os prismas, sobre os quais procuramos a racionalidade das tentativas para perceber as causas.
Há quem fuja dessa racionalidade e procure as respostas no plano espiritual.
E há outros que atribuem à natureza esse dom que é de deus em outros, melhor explicado, que atribuem dons divinos à natureza (essa coisa abstracta).
E quem somos nós para, perante os dramas vividos, criticar quem assim se presta a tentar perceber? Principalmente quando essas interpretações vêm das vítimas directas.
Mas, distantes, dos efeitos físicos, somos tentados a procurar perceber.
Um dado inquestionável é de natureza tecnológica.
Os modernos meios de comunicação permitem-nos hoje, saber ao momento (in loco), os acontecimentos que têm lugar em qualquer parte do mundo. E esta simultaneidade atribui uma outra dimensão ao acontecimento.
Um outro (dado), prender-se-á eventualmente, com o facto de sermos contemporâneos de profundas alterações climatéricas e de ajustamentos nesse capítulo que estarão a ocorrer à escala planetária.
As placas movem-se, os icebergues chocam e descolam-se, os glaciares derretem-se, formam-se tornados onde antes nunca tal tinha acontecido, neva em sítios até hoje impensáveis.
O mundo mexe-se em todos os sentidos.
E os homens continuam cegos com as certezas de uma pretensa racionalidade.
A ciência e a técnica terão as soluções, asseguram.
E nós cremos que sim, desde que a ciência não se renegue.
Desde que se assuma esta como um caminho para o saber (verdade) e não como o saber (verdade) em si.
A ciência é expressão de capacidade metodológica sobre a dúvida.
Não é a certeza precipitada (e arrogante)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Há sempre alguém que resiste


Sabemos que alguns julgam que tudo está como sempre estará.
Que sempre haverá ricos e em consequência uma imensidão de miseráveis.
Que sempre haverá senhores e em consequência uma imensa mole de gente submissa.
Que sempre haverá um deus para dar suporte espiritual e em consequência cada vez mais gente sem esperança.
Que sempre tudo será assim.
Mas também há os que assim não pensam. E somos muitos.
Sonhadores dizem. Outros chamam-nos utópicos.
Pois que sonhemos então a utopia e a transformemos em vida.
E um pouco por toda a Europa vão tendo lugar lutas - coisas banais que não merecem a atenção dos media - que demonstram a vontade de mudar. De reagir. De dizer não e de mudar.
Hoje na Grécia - Greve Geral, contra as receitas de sempre do capitalismo. Duas semanas depois de intensas e históricas lutas.
Ontem em Espanha - Madrid, Barcelona, Valência e em muitas outras cidades - manifestações vieram quebrar a bolorenta trégua que haviam concedido a Zapatero.
Em Dresden um cordão humano com mais de 10 mil pessoas impediu o acesso de uma manifestação neo nazi.
Na Rússia, um estudo sociológico realizado em mais de 140 localidades , com cerca de 1600 inquiridos, conclui que a maioria valoriza o processo de construção do socialismo que teve lugar no seu país.
Porque será que as televisões, rádios e jornais nada nos dizem sobre isto e por muitas outras similares acções.
E nós preparamo-nos para a 4 de Março - Greve na Função Pública - para dizer a Sócrates que nos escute.
E de novo nos preparamos para comemorar Abril.
Há sempre alguém que resiste.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

É sempre do mesmo



«Para o economista chefe do FMI o esforço de consolidação orçamental pode durar 20 anos e, nesse âmbito, sacrificar salários para recuperar competitividade será uma medida inevitável.
Numa entrevista hoje divulgada pelo jornal italiano La Repubblica, Olivier Blanchard declarou que "a adaptação é mais fácil para os países que podem desvalorizar a sua moeda", o que não acontecerá "nos países que não têm essa opção", onde "o aperto será extremamente doloroso". Portugal está nesta situação.»

Eis de novo, o discurso de sempre.
Pelos vistos, vai durar - ameaçam - pelo menos mais 20 anos.
O discurso inevitável. O peso da opinião que quem se afirma detentor do saber. Nada mais há a fazer.
Preparemos-nos pois. A nossa vida vai continuar a marcar passo.
Quem sou eu, ou tu caro amigo que me lês, para se julgar no direito sequer de duvidar que não há outro caminho?

Moralizar a vida pública.
Combater excessos e gastos supérfluos.
Retirar da lógica do lucro sanguinário, bens e serviços essenciais à população.
Tributar os milhões gerados no jogo especulativo e os prémios imorais de gestores de trazer por casa.
(Dizem que um conhecido ex continuo, de um grande banco, ganha hoje mais - em Portugal - que o Presidente dos EUA).
Reduzir nas mordomias patéticas de um poderoso aparelho partidário que precisa de alimentar a «pão de ló» as suas clientelas. (os episódios trazidos a lume - PT e outros - não só ofendem como enojam).
Criar condições para o aumento da procura interna e consequente aumento da produção.

Estas não são soluções.
Os senhores do FMI, Banco Mundial, Banco Central Europeu, Banco de Portugal e dos outros e os outros assim o dizem e está dito.

Mesmo que na Argentina, na Grécia, Na Islândia, em Portugal, em Itália e em quase todo o mundo, a realidade demonstre o contrário das suas doiradas (de oiro) teorias.

Mesmo que Lula da Silva lhes diga que fez exactamente o contrário e que assim teve êxito.

E silenciam ou procuram silenciar a Greve Geral da Grécia com o cerco à bolsa e um povo inteiro que se levanta contra o remédio que mata.

Até a desgraça da Madeira lhes serve, para que não se fale de mais nada.

Até quando?

Até quando julgam possível o silenciamento?

Que ninguém tenha o adquirido como certo e definitivo.
Essa arrogância fica-vos mal e pode-vos assentar mal.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um abraço, amigos



Como todos, julgo, os que percorrem os caminhos da blogofonia, dedico uma parte do tempo de «navegação» a tentar perceber os outros, lendo-os.
Os outros com que me identifico, obviamente.
E é com alguma estranheza que me vejo envolto, sozinho, nesta apoquentação permanente com o drama dos nossos compatriotas madeirenses.
Este é o terceiro texto em que me sinto toldado pela tristeza e pela incapacidade de encontrar as palavras (já que a distância não facilita outra atitude) que de alguma forma pudessem contribuir para aliviar a dor dos que sofrem.
Sabemos que a vida continua e que a luta continua.
Mas eu, de momento, pretendo travá-la assim, a luta.
Este é o texto possível do 1.º dia de luto pelas vítimas da tragédia da Madeira.
Envio pois mais um ramo de flores.
E mais farei, garanto.
Do pouco que está ao meu alcance.
Um abraço, amigos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Para a Madeira, com todo o respeito



Quando continuamos a assistir a imagens aterradoras da força de uma natureza, que impiedosa fustiga e pune, garantidamente os inocentes, não é fácil abordar outros temas.
Quantos são neste momento, os que na Madeira choram os seus mortos, contabilizam os prejuízos e se abrigam sob telhado amigo?
E eu aqui, sossegadamente, pretendendo reflectir sobre o mundo e as suas gritantes contradições. Ou até mesmo sobre coisas mais terrenas, mesmo que seja.
Apela o senhor que na Madeira julgava tudo controlar para não dramatizarmos a situação. Não o faremos garantidamente, o drama por si já é suficientemente grande.
E não é escondendo a dor que ela passa mais depressa.
Diz depois, que agora vai pôr tudo bonitinho. Acredito que sim. Nas campas dos que agora morreram as famílias irão pôr flores.
E na Madeira, assim como nos Açores e no Continente outros dramas continuam.
Assim como continua a gula de uns quantos - quantos deles não enriqueceram em negócios sem escrúpulos de construção em leito de cheia - que agora choram lágrimas de crocodilo e que às perguntas concretas, sobre a disponibilidade de atribuir algumas migalhas das suas enormes riquezas, respondem evasiva e hipocritamente: … pois todos nós iremos ajudar.
A grande maioria dos portugueses acredito que sim.
Alguns, mesmo que disponibilizem «maquias generosas» parece que só estarão a repor parte (ínfima) do saque.
É verdade e repito: é preciso tratar dos vivos e respeitar o luto.
Mas é urgente responsabilizar os responsáveis.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um abraço aos madeirenses




Havia planeado abordar outra temática mas as trágicas noticias que nos chegam da Madeira, alteraram as minhas intenções.
Cingir-me-ei à manifestação de clara solidariedade para com os nossos compatriotas e a uma palavra de pesar pelas vidas perdidas.
Agora é hora de tratar dos vivos e de respeitar o luto.
Haverá tempo para apurar responsabilidades.
Como português do continente o meu singelo apoio aos portugueses da Madeira e um pequeno reparo para que o Sr. Presidente da República não fale de solidariedade de portugueses com madeirenses mas, apropriadamente no caso, de solidariedade entre portugueses.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Em Montemor, com muitas saudades do futuro.




Ontem foi dia de reencontro de amigos e de memórias.
Em Montemor homenageámos a dignidade.
A dignidade dos que se ergueram contra a tirania e a opressão e assim, levantados do chão, fizeram a Reforma Agrária.
E com esta criaram emprego, fixaram população, alfabetizaram, abriram creches, ludotecas.
Trouxeram para as terras antes de miséria e sufoco, a alegria de trabalhar o campo, de produzir.
E surgiu o teatro, ora improvisado, ora pela mão de actores a sério (e sérios).
E cantávamos modas e hinos acompanhados em coro por cantores a sério (e sérios).
E conhecemos escritores a sério (e sérios), quando muitos por ali ainda não conheciam sequer o livro.
Trouxeram para as aldeias onde antes escasseava o pão, iguarias inimagináveis - sem ironia, - conheceu-se o fiambre, o iogurte e outros. As cantinas e cooperativas de consumo disso se responsabilizaram.
E o mais bonito, foi que tudo isto foi feito, com muita dignidade e sem raiva.
Ninguém ali quis tirar a terra para ficar com ela para si, mas simplesmente para a pôr a cumprir as suas funções sociais.
A terra passou a ser de quem a trabalhava.
E recebiam-se amigos das cidades aos fins-de-semana que vinham ajudar a apanhar a azeitona, o tomate, a carregar fardos de palha.
Foi bonita a festa.
Mas…
Os esbirros espreitavam e esperavam a revanche. O povo não podia ser feliz.
E encheram os campos com metralhadoras, tanques de guerra, cavalos, cães, soldados.
Para devolver as terras aos seus donos, diziam.
E espancaram, feriram, mataram
Até os padres assim rezavam –é preciso devolver as terras aos seus proprietários - …como se deus tivesse feito homens com terra e homens só com miséria.
E como nos tempos que se seguiram, foram socialistas os mandantes...corrigir excessos, diziam.
E hoje vemos os resultados dessa correcção de excessos.
Os campos estão de novo improdutivos, cercados com arames electrificados e com ameaçadores dísticos: «é proibido colher, espargos, cogumelos» e até caganitas de coelho, acrescenta-se.
E a população procura de novo as cidades.
E se antes os novos vinham visitar os velhos que ficavam. Agora já quase não há velhos que ficaram.
Mas.
Há-de haver um dia essa alegria, que a malta constrói. Quando se luta dia a dia. A luta não mói.
E nós encontrámo-nos ontem em Montemor, não como saudosistas de um tempo perdido, mas com muitas saudades do futuro.
E com um brilhozinho nos olhos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Viva o nosso governador




Confesso-me ansioso.
Aguardo notícias da reunião de ministros das finanças da u.e. que indiciam a escolha do vice presidente do banco central europeu.
Será desta?
Elas anunciavam-se para hoje, mas até agora, nada.
Espero que tudo corra bem.
Sei que é pouco europeu este meu desejo. Que é mesmo pouco sensato.
Mas desejo ardentemente.
Como vai ser bom ver outra cara (há quantos anos é sempre esta?) a dizer solenemente: «para diminuir o deficit e garantir a estabilidade económica e financeira do nosso país é necessário: DIMINUIR OS SALÁRIOS DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS-
É que já não há pachorra.
O homem sem funções, que tudo lhe passa ao lado, principescamente pago (o rei não ganhará mais?), com motoristas, carros, secretárias, representações e outras menções, tudo pago com o nosso sofrimento, parece que vai para paragens ainda mais douradas: Frankfurt.
Pois ide. Espero não haver retrocessos.
Empanturre-se em euros e em mordomias, mas afaste-se pelo menos um pouco.
A sua presença está insuportável.
Bom carnaval.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Amores e Carnaval




Não sei explicar-me, mas a associação deste ano, entre o comercial dia dos namorados e o domingo gordo, cheira-me a contradição.
Amor (se é que namorar impõe este ) e farra não são compatíveis e muito menos se olhados sob as pestanas preconceituosas e falsas da moralidade vigente.
Apesar disso, retive algumas passagens mais emblemáticas de uma e outra efeméride.
No tocante ao amor (ou ao carnaval?) registei as pungentes declarações de fidelidade ao chefe feitas por algumas eminências pardas do PS e aguardo com expectativa a manifestação da fonte luminosa.
No tocante ao carnaval e no caso sempre a este, apreciei o vasco da gama da madeira e a sua anti epopeia. O Portugal que procura não é certamente o Portugal que desejo.
Não sabendo situar numa ou noutra das efemérides, assisti perplexo a novas revelações do que chamam face oculta. Espero de novo a resposta clássica: Se a oposição quer derrubar o governo pois que apresente moção de censura. E sobre os factos dizem nada.
Mas muito a sério e sem qualquer ligação a nenhuma das duas efemérides retenho uma afirmação de Rosa Gil, inserida num trabalho de Alexandra Lucas Coelho (Pública de 14/02/10) sob o título : «A Catalunha é um País? » em que nos diz: «Não sou espanhola, nem catalã, nem portuguesa, sou cidadã do mundo. A sociedade quer pôr-nos bandeiras, mas todas as bandeiras estão cheias de sangue».
Tão simples.
E procuramos por vezes frases rebuscadas para falar de amor.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

PS




Esclareço que este título não tem qualquer referência a um acrescento de texto a um texto que já se havia dado por finalizado.
Trata-se mesmo do título que hoje subordino (salvo seja) ao PS - Partido Socialista.
E não vou falar de licenciaturas não explicadas, de obras enviesadas, de frees ports, de escutas e outros interessantes temas, nem sequer quero falar de Sócrates.
Quero mesmo interrogar-me sobre o Partido Socialista e a primeira dúvida relaciona-se com o facto de procurar saber se quer governar, armar em vítima ou procurar o acalento de uma maioria em eleições antecipadas?
É que cada vez tenho mais a sensação que não sabem mesmo o que querem.
As boçais declarações de hoje de algumas eminências pardas (uma delas aqui do burgo) só contribuem para o adensar desta minha dúvida.
Uma outra interrogação relaciona-se com o saber ou não se os militantes socialistas já tomaram consciência da deriva social democratizante que domina o seu partido?
Se tomaram e concordam, tudo bem. Mas a ser assim devem no mínimo adequar o discurso, deitem fora os velhos trapos de esquerda, já vos ficam mal.
Outra dúvida, relaciona-se com o que pensam socialistas, que sendo trabalhadores por conta de outrem se confrontaram com o Código de Trabalho aprovado pelo seu partido e em versão mais maligna que a versão Bagão Félix?
E que pensam os que, sendo funcionários públicos, se confrontam com o fim dos vínculos, com uma avaliação feita à medida, com a implosão das suas carreiras, com o congelamento dos salários?
E os que estando desempregados se confrontam não com as necessárias ajudas mas com uma política de controlo grosseiro por parte dos Centros de Emprego?
E os que estão a recibo verde?
E…?
Não falo dos nomeados secretários e ajudantes de secretário. Esses estão no melhor dos mundos.
E melhor ainda estão, jovens administradores de empresas públicas que arrecadam num mês o que técnicos superiores seniores e altamente habilitados não ganham num ano.
Por imaginar as respostas e por saber que muitas delas serão baseadas no não querer dar o braço a torcer, sou de opinião que, cuidando de evitar que o país se arraste (mais), devemos deixar estrebuchar o clã socialista para o atasqueiro a que se conduziu.
Não é hora de lhes fazer o jeitinho que pedem.
É compreensível que o peçam, assim como também é compreensível que a direita se lhes junte nesse mesmo pedido.
Daqui já esta tirou o que havia a tirar e ficou de mãos limpas.
Agora quer pôr as mãos directamente na massa.
E os eleitores, esses, vão esquecer tudo, não é?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Yuppie de lambreta



Há dias, no final da manifestação da função pública que decorreu em Lisboa, um yuppie de lambreta berrou para os manifestantes: “chulos, vão mas é trabalhar malandros” e ala que é preciso que a lambreta me ponha longe.
Para as questões derivadas da malcriadice do dito cujo não dou qualquer contributo.
No entanto, porque por natureza ou deformação costumo dar importância a pormenores, não deixei de matutar nesta «boca».
Evidentemente sem deixar de notar o evidente mau hálito.
Em primeiro lugar. O sujeito:
Não é de supor que esteja bem na vida. Saiu há pouco da universidade, trabalha a prazo como estafeta num escritório de advogados e já perdeu a conta aos concursos para funcionário público em que se viu preterido.
O contrato de três meses está quase a terminar e ainda não lhe disseram nada sobre a renovação.
Pouco mais haverá a supor sobre o sujeito.
Sobre os que foram objecto da sua ordinarice:
Muitos trabalharam no duro nessa mesma manhã.
Alguns acabaram os turnos da noite e deslocaram-se para os autocarros que os trouxeram para Lisboa. Uns, varreram ruas e puseram betume nos buracos, outros repararam calçadas, outros recolheram o lixo, outros limparam hospitais, centros de saúde, escolas, outros ouviram os mais diversos impropérios sobre uma reclamação não atendida.
Muitos recebem salários abaixo do salário mínimo.
Outros, não poucos, passam recibos verdes há anos, para desempenhar funções de telefonista.
E são estes os privilegiados.
Aqueles que deveriam agradecer o facto de ainda terem emprego.
Aqueles que são os responsáveis pelo deficit e por todos os outros graves problemas do país.
O pormenor do yuppie não é um mero pormenor.
Hoje mesmo, um articulista alimentado a gim e bem pago por um jornal diário toca a mesma tecla quase com a mesma grosseria.
Parece não verem ou não quererem ver a «função pública» de que falam.
Tomaram nota de quantas mil foram as nomeações feitas em poucos meses por este governo?
Vivemos num país que odeia a função pública (cheia de privilégios) mas que parece aceitar bem os rapazinhos do coro, os secretários dos secretários, os adjuntos e juntos de vereadores e presidentes, os «motoristas» e todo o séquito que envergonha a sociedade.
Neste país miserável, qualquer vereadorzeco tem secretário, motorista e até guarda de honra, mesmo que prestada pela fanfarra dos bombeiros locais.
Deixem a função pública em paz.
Atentem pelo menos uma vez, nas conclusões do Conselho Económico e Social.
Que dizem: Há uma alternativa ao congelamento dos salários na função pública e esta passa por um maior controlo da despesa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sol encoberto




Pressente-se agitação.
Apesar do sol espelhento que hoje pudemos apreciar é garantido que amanhã, se verificará um agravamento do estado do tempo.
Sol encoberto e chuva para amanhã, dizem os meteorologistas.
Mas hoje, não foi sobre o tempo, que se falou. Falou-se quase e só de uma previdência cautelar.
Triste tiro no pé.
Falando assim, de previdências cautelares e escutas, continuamos sem ouvir falar do OE e dos conluios a que toda a gente do sistema facilmente chegou para o aprovarem.
E é também assim que se «tapa» a vontade de impor o congelamento dos salários dos funcionários públicos e se ensaia o prolongamento desse congelamento até 2013.
Falando de escutas e de previdências, não há espaço para as pequenas notícias, como por exemplo a que se refere às conclusões do CES quando este considera que há alternativa ao congelamento dos salários da Função Pública, sem aumentar a despesa, bastando para o efeito um melhor controlo desta.
Parece até não haver desemprego.
Resta-nos falar do tempo
E assim, para amanhã, prevemos chuva e sol encoberto

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Coisas escutadas em escutas e vistas de buracos de fechadura




De um momento para o outro eis que tudo parece ganhar um novo alento.
O PSD, que ainda não conseguiu perceber (ou não lhe é para já conveniente perceber) que o chamado campo social democrata já lhe foi ocupado, passa de uma situação de “líder procura-se” para uma profusão de candidatos a líderes.
O PS, ou pelo menos alguns dentro dele, que ainda resistem, timidamente, à onda social democratizante, começa a interrogar-se sobre a candura do seu chefe.
Este, o chefe, e alguns diligentes servidores acantonam-se em palavreado tecnicista em torno de conceitos jurídicos procurando desviar a atenção sobre a essência das coisas.
Não deverão esperar por ventura que a recondução política ocorra no futuro por força de mecanismos jurídicos?
Esperamos que ocorra por força de dinâmicas políticas, assentes na livre escolha de cidadãos livres.
Por isso a questão, para além de ética, é essencialmente política.
Não importa se o que disse foi escutado «ilegalmente». O que importa é que agora é do domínio público e analisa-se pelo seu conteúdo.
Não importa se o que fez foi visto pelo buraco da fechadura, importa pois o que agora se sabe que fez.
Que fronteira é essa entre o ser público e o privado?
Quando escolhemos o público não estamos a pressupor sobre o privado?
Não conhecerá o Sr. Primeiro Ministro o velho ditado: «à mulher de César não basta ser honesta, é preciso que o pareça».
Presume-se que a outra mulher bastará (ser séria), mas à de César não.
Hoje já consegui perceber porque me lembrei do conto do buraco da fechadura que ontem aqui coloquei.
A propósito de novos alentos… o que se passa com o Sr. Ministro das Finanças? A carta de demissão demora assim tanto tempo a redigir?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O buraco da fechadura



Dando continuidade aos textos enigmáticos, quero hoje contar um conto.
Necessariamente um pequeno e sintetizado conto, que como quase todos, começa por: era uma vez…
Uma pequena aldeia deste Alentejo, estremenha (com o Ribatejo), mas genuinamente alentejana.
Estávamos no principio do Verão e já tinha começado a tirada da cortiça.
Para ali tinha vindo um rancho de homens, não porque a mão de obra fosse escassa, mas como represália pelas reivindicações salariais dos da terra.
Viviam em grupos nos casebres que ladeavam a rua do monte.
Quase invariavelmente, estes casebres, tinham uma divisão de entrada onde se situava uma enorme chaminé e uma divisão interior que servia de camarata. Eram todas ou quase, de terra batida.
Nesse monte, também moravam alguns nativos. Em casas já não de terra batida, mas não muito diferentes.
Era nestas que viviam o Zé Francisco e a sua mulher Francelina, Ele padeiro com padaria na vila próxima. O Tonho João que é guarda venatório da herdade e a sua mulher Zefa. O Carlos, boieiro, e a sua mulher Raquel - estes tinham um filho, já entradote, para aí com uns doze anitos, chamado de Rui. Muito curioso, o gaiato.
Ouvindo coisas levadas da breca em relação ao rancho de forasteiros, não poucas vezes, saía sorrateiramente de casa - aproveitando a distracção da mãe e a ausência do pai - e vá de espreitar pelos buracos das fechaduras, coscuvilhando os afazeres alheios.
E na sua senda coscuvilheira, tanto se centrava na vida dos forasteiros, como na dos seus próprios vizinhos conhecidos.
Foi assim que um dia estranhou ver na casa do padeiro, o Tonho João, o guarda venatório. Mas passou à frente. Nem contou, nem comentou. Para ele não havia nada a contar ou a comentar.
Numa dessas incursões, espreitando - pelo buraco da fechadura - e instigado pela curiosidade que lhe gerou a grande algazarra que vinha de um dos casebres que albergavam o rancho de forasteiros, assistiu a um jogo de empurrões e alguns murros, entre dois homens.
Alguns dos palavrões escutados, ele não os conhecia até então.
Pelo chão, já rolava um garrafão e era notório que já se empapavam aqui e acolá pequenas poças de vinho.
Se este não era a causa, tinha pelo menos culpa. Mas sabia-se que aqueles dois homens que estavam à luta, já tinham tido as suas porras por ali.
Já as traziam de longe, da terra de onde tinham vindo.
Já assustado, porque a violência era crescente, preparava-se para dar por terminada a bisbilhotice, quando viu que um dos homens, sacando de uma navalha a crava num ápice na garganta do outro. Reteve nitidamente a feição dos dois. O que sacou da navalha e daquele que, pálido e cheio de sangue acabava de se estatelar silenciosamente no chão.
Fugiu assustadamente para casa e só de lá saiu quando a rua do monte, já noite alta, se encheu de luzes dos jipes da guarda.
Reparou que, para dentro de um deles era empurrado, com as mãos presas atrás das costas, o Janeca, um dos homens do rancho de forasteiros, que era um pouco sonso, ou seja não era tido por certo.
Aproximou-se.
Viu e ouviu o Farfalha - o homem da navalha, dizer para a guarda: “Ele é um pouco tonto e às vezes a malta gozava-o e ele hoje não foi de medidas… sem ninguém esperar, por trás, espetou a navalha no Tonho Augusto”.
O Janeca já estava no Jipe. O guarda já fechara a porta e tudo parecia que, apesar do triste fim, se tinha encontrado rapidamente o seu fecho.
Quando tudo parecia acabado. O Rui, puxando pela aba do casaco de um dos Guardas - larga-me o casaco, o gaiato é maluco ou quê? - lhe disse: Não foi esse homem.
Não foi? Então quem foi?
Foi aquele e o Rui apontou para o Farfalha.
Como é que tu sabes?
Eu espreitei pelo buraco da fechadura e vi.
Não faço a mais pequena ideia do porquê de me ter lembrado desta estória.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A crise




De tanto falarmos nela, até mesmo os que mais a têm desmistificado, acabam por perder a noção do seu significado real.
O que é? Quem a gerou? A quem beneficiou (Se alguem perdeu, garantidamente alguém ganhou).
As vítimas, essas sabemos quem são.
E o que é então a crise?
Parece que se caracteriza pelos traços seguintes:
Diminuição do produto (PIB);
Aumento do desemprego;
Diminuição da exportações;
Aumento da dívida pública.
E o famoso deficit.
Tudo, como sabemos, consequências naturais, de ciclos, conjunturas e outros que mais.
Não há responsáveis. Tudo ocorre por força de uma força que ninguém conhece e domina.
E nós, insignificantes espectadores à força para este jogo e as principais vítimas das suas consequências, inquietamo-nos em dúvidas:
Porque diminui o PIB?
Porque diminui a produtividade responde o anafado economista.
E porquê, perguntamos incrédulos, passámos todos a trabalhar menos?
Porque aumenta o deficit?
Porque tivemos de salvar a banca dos efeitos dos seus joguinhos de monopólio, perdão… corrige o anafado economista, porque tivemos de garantir a estabilidade do nosso sistema financeiro.
Porque aumenta o desemprego?
Porque é necessário destruir direitos e baixar salários, perdão … corrige o anafado economista, porque a economia portuguesa perdeu competitividade.
E que medidas? Perguntamos.
Baixar salários e aumentar impostos, respondem em uníssono todos os anafados economistas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Xi…a coisa foi preta




O jogo dos meninos ricos - em que alguns pobres caiem na esparrela - estatelou-se ruidosamente.
Quem abalou com o nosso dinheirinho… ? somado ao fanado aos gregos , imagino.
O Sr., Ministro franjinhas - lembram-se do franjinhas da olá? - reuniu a rapaziada e bradou: assim não pode ser!.
Aguardamos todos ansiosos para ver como vai ser, porque pelo menos em parte já sabemos como vai ser.
Primeiro eram arrogantes porque tinham a maioria, agora são arrogantes e chantagistas.
Pois se querem ir-se embora pois que vão.
Mas eles não querem e quando quiserem é para voltarem outra vez na «mó de cima». É que eles têm mais experiência em arrogância do que em chantagem.
A juntar a isto, o dia… cinzento, quase negro e o episódio de violência ali para os lados de Barrancos.
Chiça.
Pois amanhã estaremos nas ruas de Lisboa junto a muitos, muitos mil, que não consideram que a luta seja foleira. Se a razão nos assiste…
Espero noticias do Sr. Ministro.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quando chega de novo a primavera?





Noventa e poucos mil quilómetros quadrados, praias, peixe, planícies, serra, sol.
Um País de Abril florido de cravos vermelhos.
De poetas.
Navegadores, descobridores e construtores de impérios cujas fronteiras são a língua portuguesa.
Um país com quase tudo, excepto - até ver - petróleo e ainda bem.
Um país agora governado por quem fala para o coração de uns e para a carteira dos outros.
Onde crescem as desigualdades na distribuição dos rendimentos.
Um país com 600 mil desempregados e mais de dois milhões de pobres.
Um país de que nos dizem «não pensem que é fácil de governar».
E onde a plebe acredita que sim senhor não é fácil.
Um país onde nos dizem «a culpa é dos privilégios da função pública»
E onde a plebe acredita que sim senhor, são uns privilegiados.
Onde se clama «pagar impostos pelos prémios (criminosos) - dos banqueiros? Então vamos daqui embora.
E ficam assustados com tal possibilidade e não os assusta que cientistas e investigadores de renome tenham de exercer não aqui.
O jogador de «poker» esse é um crânio indispensável o outro que vá investigar e descobrir para outro lado.
Estamos assim condenados?
Até quando?
Com todo este mar e sol e gente que resiste (não muita), que sabe dizer não,(não muitos) quando chega de novo a primavera?
…Mas são tão negras as nuvens!
Prepara agora o povo que se diz de deus, uma manifestação contra o casamento abreviadamente designado por homossexual.
Não há nada mais a preocupar o rebanho.
Que triste melodia sai dos seus chocalhos…

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sem dias e sem noites



Esboço do que poderia ser uma crónica feliz

Parece que antes de tempo, tal é a ansiedade, o Governo de Sócrates, imprimiu a pompa propagandística habitual e decide comemorar ao 99.º dia os seus cem dias de governo.
Uma crónica feliz não começaria certamente por exaltar tal facto, mas o seu contrário.
Exaltaria a existência de um Governo plural e cuja orientação se subordinasse em exclusivo ao exclusivo respeito pela Constituição, que valorizasse a vida humana, que apostasse na juventude e que trabalhasse para garantir um desenvolvimento sustentável.
Um Governo que privilegiasse os mais necessitados, que premiasse os mais capacitados, que estimulasse a cultura.
Um Governo de solidariedade e de equilíbrios intergeracionais.
Um Governo para Portugal e de Portugal no Mundo.
Mas estes seriam os esboços de uma crónica feliz
A que escrevemos corresponde a 100 (99) dias de amargura (adicionados a tantos outros cem). Em que vimos crescer o desemprego, a crónica que não pode deixar de referir 2 milhões de pobres, a que se confronta com a angústia de milhares de jovens em tudo a prazo.
A que se defronta com o povo em luta, os enfermeiros, a função pública, os trabalhadores sem salários e aqueles a quem lhes fecharam as portas.
A crónica que não pode deixar de se interrogar sobre se a liberdade (pelo menos a sua fachada formal) está efectivamente garantida ou se os episódios de Manuela Moura Guedes e agora Mário Crespo, não serão perigosos prenúncios.
Como seria bom poder escrever a crónica dos sem dias e sem noites de Sócrates e da sua política, mas..
por culpa de …ninguém, assim não pode ser.
Afinal era preciso o «nosso» sacrifício…porque senão podia ganhar a direita, não erra?
Votar nos que sempre alertaram e que propunha um novo rumo, que poderia permitir viver a crónica feliz, era foleiro não era?
Amanhã voltaremos a fazer o mesmo não é?
E as crónicas continuarão a não ser de dias felizes, não é?
Não será politicamente correcto, mas advogo que temos de ser responsabilizados pelos nossos actos.
Chega, porque…
Sim é possível sermos felizes…
ou ficará mais bonito (e não foleiro) se dito em inglês?