quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NUS E CRUS

Nus e crus

Os números são divulgados pelo Tribunal de Contas.
O deficit das contas públicas foi em 2009 de 9,3%.
Havia sido, no ano anterior, 2,9%. (grande êxito, recordamo-nos).
Esta derrapagem fica a dever-se (dizem-nos) à crise, essa coisa aberrante de que muitos falam e nem todos sofrem das consequências.
Acontece que só 22,9% (menos de 1/3) do valor desse deficit se devem às denominadas medidas de incentivo à economia.
Destas medidas, de incentivo à economia, 2/3 do valor do deficit foram para os bancos (estas pobres entidades que tanto têm sofrido com a crise).
Para ajuda ao emprego - 1%.

Perante isto ainda são precisas palavras?

Só se forem de espanto.

Porque no mesmo dia em que temos acesso a estes números, nus e crus, ficamos a saber que as sondagens indicam que aquela criatura, que não é político e não faz outra coisa há quase vinte anos, que diz que se não tivesse avisado seria pior e quando é pior foi por ter avisado, que entregava docilmente solenes declarações de bom comportamento aos carrascos do seu povo, que nada mais sabe que uma retórica estafada , que como outros tristes exemplos da nossa história recente e até bem contemporânea, gosta e adora o uso do título : «professor», que cada vez (e são muitas) que aparece na televisão percorre no ar um intenso e agressivo cheiro a naftalina… dizem-nos as sondagens, vai ganhar as eleições à primeira volta.

Por isso, só palavras de espanto aqui fariam sentido.
«Ai nós !!! Ai nós!!! Começa a ser difícil acreditar em nós».

Mas vou deixar para lá as magoas e vou poupar as palavras de espanto.
.
Apesar de tudo, pelos menos cultural e sociologicamente, é Natal, e assim sendo, um Bom Natal.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Contributos para (uma) psicologia

(cada um dá o que pode…)



Alguns traços comportamentais do empresário nacional:

Valores que caracterizam os seus traços comportamentais:

Patriotismo - Utiliza todos os ardis para fugir aos impostos. (cfr caso PT). Sempre que é contrariado ameaça ir embora e levar a sede da empresa (para a Holanda (cfr caso PT), para a Suiça, para o Bangladesch, para onde lhe der na real gana, (sim, também).

Responsabilidade - Por razões conjunturais da economia (o que eles gostam disto) é aconselhável rever a política de investimentos - então está na hora de comprar um novo ferrari. As razões conjunturais aconselham isso sim a reduzir os salários, não é???.

Cultura - Produto em que não gasta dinheiro. Charutos importados, uisques importados, sexo importado, são os pequenos desvios a esse principio (são cultura não são).

Responsabilidade social - Responsabilidade que tem para com a sociedade (accionistas).

Religião - uma coisa chata em que por vezes são forçados a pensar nos outros, Principalmente nos mais desfavorecidos (coitados) …eles até têm pena.
A pensar…mas só a pensar e uma a duas vezes por ano, no natal, na páscoa….até porque o padre, depois da missa e no jantar para aonde o convidam, até é um bom compincha (o que ele gosta da pinga e de…) e isso ajuda a aliviar a pressão.

Caridade - Ah. Sim. A caridade. Aquelas festas no casino, os flasches, as revistas e …

Será dotados destas qualidades, que discutirão hoje o valor do salário mínimo.

Mais 25 euros por mês? Não podes ser.
Ah, já tínhamos dito que sim???
Pois então, lá terá quer ser.
Mas nós dissemos que seria em 2011.
Então a 31/12/2011 ainda estamos em 2011.
Aumentemos a partir de 31/12/2011.


Se a conjuntura económica o permitir.

Sendo assim.
Se a conjuntura económica o permitir.
Um Bom Natal

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O ALTRUISTA

Espalhou o bem pelo mundo - diz ele.
Onde houvesse calamidade ele lá estava - diz ele.
Terramotos, inundações, epidemias, ele lá estava - diz ele.
Viu crianças a correr atrás de galinhas na esperança de estas largarem o pão que levavam no bico - diz ele.
Criou empregos, foi útil - diz ele.
E agora ele, quer cobrar.
Já não lhe bastavam as mordomias, os casinos, as festas de beneficência (caridade).
Ele tem mais para cobrar - diz ele.
E quem não tenha estado em Beirute, não tem qualquer hipótese. Não tem nada a cobrar - diz ele.
Mesmo que tenham sido esses que aqui tenham estado, agindo e lutando para que não hajam mais beirutes, nem crianças que tenham necessidade de correr atrás de galinhas na esperança de que estas deixem cair dos bicos, o pão, seco e bolorento, que bicaram algures.
Mesmo que tenham sido esses que ficaram, agindo e lutando para que todos os homens vivam em dignidade, para que o emprego e o trabalho sejam valorizados, para que haja verdadeira solidariedade e para que cada vez menos seja necessária a caridade.
Mesmo que tenham sido esses que aqui, agindo e lutando, o fizeram sem esperar retornos mediáticos,mordomias,casinos e festanças.
Os que agiram e agem por dever cívico e de consciência.
Os que esiveram e estão no lugar certo da vida em cada momento desta.

Senhor altruísta, há homens e mulheres que fizeram mais pelos seus semelhantes numa só hora das suas vidas do que o senhor fez ou fará no resto da sua vida.
Senhor altruísta, o que o senhor perversamente designou de perverso, foi a história de milhares de homens e mulheres que enquanto muitos se adaptavam (e o declaravam)eles tiveram a coragem para se erguerem do chão e lutar pela liberdade de todos.
A liberdade que hoje lhe permite a perversidade.
Sabe, não o negará, que nesse processo que perversamente o senhor chamou de perverso, muitos homens e mulheres perderam a vida e que muitos outros perderam anos das suas vidas nas masmorras das bestas que retiravam a liberdade a todos os homens e mulheres.
Senhor altruísta, o senhor não tem nada a cobrar.
Ficava-lhe melhor, um gesto, um qualquer gesto, de respeito e homenagem, por todos aqueles, muitos milhares, que construíram, constroem e defendem em cada dia , um país de liberdade e que querem solidário.
Basta de caridadezinha.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alegoria de uma cadeira vazia




Hoje, em Oslo, a cadeira do laureado fica vazia.
Em torno dela, produzem-se discursos e fazem-se elaborados apelos.
Obama, o homem que por acções anunciadas e que agora se confirmam não concretizadas, se sentou na cadeira em 2009, diz, com a eloquência com que diz, que o homem que nela devia estar sentado hoje, encarna valores universais.
O problema em Obama é que à eloquência do dizer não junta a coerência do fazer.
Porque ao «fazer» não atribui importância, não explicou a que valores universais se referia.
E como não o fez, interrogamo-nos se serão os mesmos que partilha (ou partilhou quando em vida de alguns deles) com outros laureados, como por exemplo: Jimmy Carter, Al Gore, Gorbachev, Rabin, Frederik de Klerk.
Incluirá nesses valores universais que referiu a perseguição sem quartel que move ou comanda quem move, contra Julian Assange?
A par da lauta festa de hoje em Oslo e das lágrimas de crocodilo que por lá serão vertidas, ficámos todos a saber que Sakineh afinal não foi libertada e que sobre ela continua a pairar a ameaça atroz de lapidação.
A esta alegoria para a cadeira vazia também associo a efeméride do dia.
Hoje é Dia Internacional dos Direitos Humanos.
E estes, de universais têm pouco.
Diria mesmo que são até muito restritos em número de «utilizadores» e localizados em termos de «geografia» e acima de tudo, são mais «instrumentos de uso» no xadrez político mundial.
Nesta alegoria, a memória que me ocorre para preencher a cadeira e para esclarecer o conceito de Obama é a da constatação de um mundo com mais de 815 milhões de pessoas com fome crónica ou com graves carências alimentares.
A imagem de um mundo com mais 200 milhões de desempregados e em que metade destes, têm entre 15 e 24 anos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Façamos as pazes com o campo



Há apesar de tudo, um clima de bonança que se sente.
Os mercados estão mais calmos.
Os nossos doutos analistas, têm outras preocupações.
O pedacinho de mundial que nos estava reservado foi parar à Rússia.
As grandes democracias do Ocidente - no seu melhor - procuram silenciar - por todos os meios - o site da Wikileaks.
Mesmo sem luzes, o Natal aproxima-se.
Aproveito então, para falar do campo.
Do campo que abandonámos, amaldiçoámos e responsabilizámos por todos os males.
Do campo de onde vinham as alfaces, os tomates, o trigo para o pão, as carnes de porco, ovelha e de bovino. Os frangos e as frutas. As flores. O mel e o vinho.
Agora tudo isto vem do supermercado, devidamente embalado, plastificado.
E os campos aqui estão, quais sinónimos de domínio senhorial, à boa - para pior - imagem feudal.
E para pior, porque nos tempos feudais, poderia ter de se pagar portagem, mas os campos eram transitáveis. Perpetuaram-se direitos sobre caminhos (vicinais) que hoje já não se respeitam.
Tudo é cercado.
Pôr os campos a produzir, isso não, porque:
As quotas da UE não o permitem;
As compensações compensam muito mais que as produções;
As culturas não são compatíveis com a caça;
A mão de obra já não é escrava (eles bem tentam…)
Os produtos não são escoáveis porque as grandes superfícies vão comprar mais barato a Espanha, a Marrocos e onde calhe.
E…
E…
Porque não mandar às urtigas estas certezas impeditivas e juntar vontades e alterar o estado das coisas?
Porque não se dinamizam localmente - as Juntas de Freguesia poderiam ter aqui um papel determinante - pequenos mercados para escoamento dos excessos de produção das hortas, onde fosse possível vender as couves, as laranjas, os espinafres, os ovos, as galinhas, e os coelhos excedentários?
Com o mínimo de cuidados sanitários, mas sem burocracias e policias de costumes.
Proporcionar-se-ia assim um rendimento extra aos reformados que nas pequenas aldeias trabalham hortas; escoavam-se produtos frescos e saudáveis, dinamizavam-se as aldeias (quantos não ficariam para comer na tasca do sítio um feijão com catacuzes feito na panela de barro em lume do chão?).
Lirismo?
Talvez. Mas faz-nos algum mal um pouco de poesia?
Acrescentemos-lhe uma boa dose de ar puro, a descoberta de uma paisagem deslumbrante e dois dedos de conversa e veremos como a sua métrica e sentido nos encantam.
A razão para este «escrito» vem de uma visita a Vila de Frades - Vidigueira.
Faz bonitas e despretensiosas feiras a Vidigueira.
À Vitifrades só para o ano, mas avizinha-se o certame Pão e Laranjas.
Programem um visita e
Ouvirão ecoado de uma adega o genuíno cante alentejano.
Façamos as pazes com o campo.
As cidades ficarão mais bonitas e humanas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Valha-nos ele...

Valha-nos ele…

JMF - Público - 3/12//2010 ((considerando como boa noticia a não aprovação da taxação dos dividendos, como propunha o PCP): “Ela corresponderia à violação de um principio básico de estabilidade do quadro legal fundamental no exercício de qualquer actividade económica” e “Depois, porque a decisão de taxar os dividendos das SGPS é idiota e só as levará a mudarem as suas sedes para outros países, nomeadamente para a Holanda. A médio prazo a receita fiscal diminuirá, não aumentará, mas isso é algo que escapa à mentalidade justicialista de muitos, se não da maioria, dos nossos deputados”.
Valha-nos ele, supra sumo da inteligência e da visão estratégica lusa.
Sem cobrar, sugiro-lhe que leia atentamente, se é que ler os outros não lhe cria «engulhos», o trabalho publicado no «seu» Público, pg.((s)4 e 5 P2. Só para o caso de não ser apanhado no turbilhão das suas certezas…
Mas vamos às suas “ideias”.
Em primeiro lugar a taxação das mais valias das SGPS - coisa que já devia acontecer há muito - está contemplada no OE para 2011.
Logo, os ditos investidores, ou fugiriam para a Holanda a 22 de Dezembro de 2010 ou a 1 de Janeiro de 2011.
Pois então que fossem, se fossem, a 1 de Janeiro mas depois de pagar os seus impostos.
Mas o que está a acontecer é uma labreguice bem lusitana que consiste em chamar nomes doces aos crimes dos grandes senhores.
Em segundo lugar, para que serve ter a sede das SGPS em território luso? Para que possam estar isentas de impostos, contrariamente ao que acontece com a generalidade dos agentes económicos?
O que ganha o país?
E para que querem os holandeses a sede destas sanguessugas?
Em terceiro lugar, é legítimo que se pergunte se o salário não é um principio básico de estabilidade do quadro legal da actividade económica?
È que nestes mexem, sem qualquer preocupação ética ou legal.
Ai como é musica, depois disto, recordar cândidas afirmações de responsabilidade social das empresas.
São tão hipócrita, não são?!.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O amor a Portugal fica-lhes tão bem, não fica?

As confederações patronais querem rever o que já haviam acordado e pretendem não cumprir com os 500 € de salário mínimo para 2011.
Falam da crise e blá, blá, blá.
Descaradamente propõem como alternativa um aumento de 1,7%.
De 475€ para 483€.
8 € por mês.
Aproximadamente 27 cêntimos por dia.
E não coram.
Que crise combatem com esta medida?
E estes mesmos, antecipam criminosamente a distribuição de dividendos, para fugir aos impostos.
PT, Jerónimo Martins, Semapa, Portucel, todos eles anunciam e outros se juntarão, a distribuição antecipada de dividendos dos lucros de 2010.
Afinal tiveram lucros.
De que crise falam quando recusam um aumento de 25 € mês a quem ganha 475?
E, garantidamente, ao domingo, de manhã, ajoelham, rezam a deus e tomam devotamente a hóstia.
Ao almoço, melhor, ao repasto, falarão da economia nacional e das medidas que vão sugerir (???) Que sejam tomadas.
A bem do país, claro.
Só na PT, antecipando os lucros e fugindo aos impostos, vão sacar ao país cerca de 250 milhões de euros.
Normalmente, os dividendos, seriam pagos no final do 1.º trimestre de 2011, quando dos encerramentos de contas. Mas como em 2011 se aplicará uma taxa sobre as mais valias, antecipa-se essa distribuição e poupam-se uns milhões.
A bem do país, claro.
A este propósito, diz o PSD (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias): “O valor da estabilidade fiscal é importante”.
Diz o PS (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias): “taxar essas mais valias seria criar um imposto extraordinário”.
Diz o CDS (que votou contra a proposta do PCP de taxar essas mais valias”: “que o PCP queria era criar outro PREC” (ou uma baboseira semelhante).
São todos iguais não são? Mas todos…ESTES. Com nome e currículo.
E são estes, os que protegem os outros. Os que fogem aos impostos.
Os que querem salvar Portugal. Afundando-o.
Quando roubam aos que pouco têm, quando mexem no salário dos outros com o mesmo à vontade com que o carteirista esbulha o pobre cidadão, quando tiram o abono de família, quando cortam nas prestações dos medicamentos e outras prestações sociais, não os preocupa o valor da estabilidade fiscal? Não os preocupa o efeito de impostos extraordinários que o roubo dos salários representa?
Nunca o descaramento foi tão longe.
E juram amores a Portugal.
Certamente com a mesma lata, com que rezam a deus.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Greve Geral continua nesta agenda...



Porque por aqui não se obedece a uma agenda «mediática» em cujo processo não sabemos se a agenda corresponde ao ritmo determinado pelos acontecimentos ou se à intenção de esta determinar os acontecimentos, volto à Greve Geral.
E volto por força de um artigo hoje publicado no Público, assinado por Miguel Gaspar e sob uma rubrica denominada «uma linha a mais», (julgo que serão mais…). É, apesar de tudo, um artigo interessante e com o mérito de fugir aos jargões habituais nos cronistas de serviço ao status quo.
Retive a afirmação de que foi inegável que foi uma grande Greve Geral, mas que não conseguiu capitalizar todo o descontentamento que existe em Portugal.
Tem razão o cronista, em parte, pois se capitalizou ou não, nem ele, nem ninguém o sabe. Mas sabemos e daí a razão parcelar que nem todos os descontentes puderam expressar o seu descontentamento fazendo greve.
Os reformados, os estudantes, os milhares de trabalhadores a recibo verde, os comerciantes e pequenos empresários, os militares e agentes das forças policiais, os trabalhadores com profissão liberal, os desempregados, entre muitos outros, não puderam manifestar o seu profundo descontentamento.
Não o puderam fazer através da Greve, mas muitos fizeram-no através das mais diversas expressões de solidariedade.
Afirma o cronista que o direito à greve não é um direito universal. Claro que não, como facilmente se constata pela verificação das situações de facto (não ser trabalhador por conta de outrem ou estar limitado legalmente - caso dos militares) ou por situações de condicionamento da livre opção individual (situações de evidente dano social imediato) mas tal constatação não pode ser usada para dar cobertura a interpretações através das quais se procura minimizar o direito à greve. O direito (?) que o cronista diz assistir aos que não querem fazer greve, não lhes pode dar o direito de obrigar os outros a não fazer greve. Não confundamos os conceitos, não existe um «direito» a não fazer greve, o que existe é o «direito» à greve, conquistado com a luta de gerações de trabalhadores ao longo da história.
Usufruir ou não dele, por força da livre interpretação de cada um, essa é outra questão.
Alude, o dito cronista, que o insucesso da greve também pode ser verificado pelo facto de rapidamente ter saído da «agenda» dos media. É caso para afirmar que fazem o mal e a escaramuça pois os ditos agendamentos são processos externos aos trabalhadores e às suas organizações sindicais.
Compara (o que só por perfeita ignorância pode ser comparado) os níveis de mobilização de voluntariado em torno do denominado projecto «Banco Alimentar» e o verificado quando da Greve e manifesta uma certa simpatia pelo que denomina de voluntariado social em detrimento do que ele também denomina de voluntariado político.
Opções. Por mim, prefiro não seguir o caminho da caridadezinha, o que não invalida o meu empenho nas acções de solidariedade social.
Conclui, afirmando que a greve geral foi uma oportunidade perdida e com uma analogia de um rio que desagua num lago e aí fica represo. Veremos.
Pode acontecer que esse rio seja de tal forma caudaloso que o lago não seja suficiente para reter as suas águas revoltas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pois, que assim seja, senhorita



Aqui o diminutivo não é caridoso, é de asco e pejorativo

Disse uma senhorita, que a Greve Geral de 24 de Novembro, foi, quanto muito, um requiem por um tempo que passou.
Não tinha até hoje imaginado, escrever reconhecendo razão a semelhante criatura.
Mas que assim seja.
Pessoalmente julgo que assim será.
Que a Greve Geral tenha sido um requiem por um tempo que já é tempo de dar por terminado. O tempo das faustosas senhoritas, do desemprego, da juventude sem presente e com medo do futuro, dos sacrifícios para os trabalhadores, o tempo das caridadezinhas, dos baixos salários e da ganância para que sejam cada vez mais baixos, dos ferraris de sobranceria face à miséria de tantos.
Que tenha sido o fim desse tempo e o começar de um novo, senhorita.
Você, pobre senhorita, esteve sempre do lado errado da história, mesmo quando em tempos, hipocrita e oportunistamente tenha julgado acompanhá-la.
Você, pobre senhorita, foi sempre desprezível.
Será que agora, em que quase ninguém se lembra da sua desgraçada figura, a senhorita acertou?
Pois que assim seja.
Que a Greve Geral tenha sido um requiem pelo tempo dos hipócritas e das suas novas sanguessugas.

VIVA A GREVE GERAL, porque foi grande e as cócegas que provocou nesta senhorita, assim o põe em evidência.
VIVA UM NOVO TEMPO.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Experimentem...



Fiz a minha iniciação cívica e política no período compreendido entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975. Tinha então dezasseis anos de idade.
Ressalta daqui, desde logo, uma certa perplexidade (se sob os olhares de hoje) sobre a maturidade possível nessa idade. Um tema interessante para voltar mais tarde, com tempo.
Entretanto decorreram 35 anos.
A primeira das datas é a mais generosa oferta até hoje recebida.
Não esquecerei nunca - respeitando e dando continuidade - o esforço de tantos para tornar possível essa oferenda. Obrigado - Sempre.
A segunda das datas, é para mim, a tomada de consciência de que a vida não é um sonho cheio de coisas bonitas.
E que tal como nos processos normais da vida das pessoas, o 25 de Novembro, foi um acontecimento que interrompeu abruptamente uma deliciosa adolescência.
Caldeei pois a minha aprendizagem social e política nas lutas pela defesa dos sonhos que os novembristas queriam destruir.
Nas barricadas que então erguíamos nesse frio e triste Novembro, aprendi o amargo sabor da derrota. Mas aprendi também que os sonhos (esses sonhos realidade) só são destruídos nas pessoas que perdem a capacidade de sonhar.
Recordo-me do silvar provocado pelo atrito das panhards no asfalto e nos gritos mudos de todos nós, que naquela madrugada fomos forçados a deixar passar a coluna dos que iam para Lisboa em sentido contrario à Liberdade e à Democracia.
Mas os sonhos continuam vivos, hoje. 35 anos depois.
Não foram propriamente as questões novembristas (cinzentas e tristes) que motivaram a vontade de hoje escrever.
Foi sim, a já histórica Greve Geral de ontem.
Sobre o patético jogo do governo sobre os níveis de adesão só faço questão de notar uma esclarecedora analogia. Cavaco Silva em 1988 afirmou: “Greve Geral??? Quanto muito uma greve parcelar”. Em 2010, Vieira da Silva, Ministro e socialista afirmou: “Greve Geral??? Quanto muito uma greve parcelar”.
Uma questão de escolha de mentores …e de sentidos de percurso.
Mas o que despertou a vontade de escrever foi ter constatado que a generalidade dos analistas oficiais, de politólogos a sociólogos institucionalizados, convergem na opinião (vontade?) de considerar que não há margem de manobra e que não há alternativa, por mais justas que possam ser as reivindicações (condescendem).
Mas não há margem para quê? Para continuar este caminho de desastre estou em crer que é verdade, não há de facto margem de manobra.
Mas para mudar, inverter rumos e praticar uma nova política (a principal reivindicação da Greve Geral) há espaço e ontem constatou-se que alargado, para iniciar um novo rumo.
Aos instalados, institucionalizados, acomodados, descrentes, frustrados, sem coragem, fica uma palavra: experimentem.
Há um caminho contrário a percorrer.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VIVA A GREVE GERAL



Não, não foi um acto heróico, foi simplesmente o cumprimento de um dever de cidadão.
Foi o renovar do compromisso com a paz e com o direito dos povos à autodeterminação.
Foi o repúdio à ingerência, à ocupação, à guerra e à morte.
Muitos mais o fizeram.
Foi, como dissemos: “Somos muitos, muitos mil…”
E quarta-feira temos uma nova etapa, uma nova jornada, neste processo de construção de uma sociedade que queremos mais justa.
Uma e outra, são jornadas de afirmação da dignidade humana.
No sábado procuraram calar o nosso protesto. Assustaram. Mobilizaram todos os meios - alguns nem sequer chegaram a tempo - para o associar (o nosso protesto) a atitudes vazias e de show off,
Agora procuram o mesmo.
Definem serviços mínimos, ameaçam com requisição civil, arvoram-se em defensores dos direitos dos que querem impedir o livre exercício dos nossos legítimos direitos.
Procuram esvaziar o direito à greve, fazer dela um uso banal.
È preciso salvaguardar o direito dos que não querem fazer greve, dizem embevecidos. E que direito é esse e quem o viola?
Direito a obrigar os que têm direito a fazer greve, a transportar os que não a fazem?
A limpar as ruas, a dar aulas e a tomar conta dos seus filhos?
A confeccionar as suas refeições, a prestar-lhes informações e serviços?
Como podem invocar serviços mínimos em serviços que não têm qualquer justificação (porque não essenciais)?
E porque não o fizeram quando mandaram parar muitos desses serviços (vejam-se todos os sedeados no Parque das Nações)?
Não vai ser fácil. Sabemos. Mas tal como sábado não fomos heróis, mas sim cidadãos socialmente responsáveis, na próxima quarta-feira, faremos o mesmo.

VIVA A GREVE GERAL

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Paranoias

Cada vez que abre a boca…
Aumentam os juros da dívida pública:
Ninguém «concorre» à privatização do BPN.
Meio mundo grita que o FMI vem aí.
Biliões do nosso dinheiro ( 5 a 7, nem se sabe bem - mais coisa, menos coisa, metade do déficit) vão parar não se sabe onde por força da nacionalização do BPN.
(Nacionalização que ora não era precisa, ora se apresentava como indispensável à solidez da nossa economia e do nosso sistema financeiro).
Pois, por cada vez que o homem abre a boca…
Sai-me dinheiro do bolso.
Por isso, mandem-no calar, por favor.
Se for preciso pedir ajuda ao Rei de Espanha (já tem experiência), que alguém o faça, mas urgentemente.
É que sempre que o homem fala…
E somos sempre os mesmos, a pagar a factura dos disparates dele (es).

Um país a dois tons

Os trabalhadores portugueses não prestam, têm baixos índices de produtividade.
Em contrapartida os gestores portugueses são dos mais bem pagos do mundo.
Por não querer ficar mal na fotografia, Sócrates faz-se pagar em mais 20 000 € que o seu congénere espanhol.
Amigos, amigos, competências (e salários) à parte.

E com muitas paranóias.

Uma:
Ontem tocaram os sinos a rebate numa determinada aldeia, para mobilizar o povo para impedir que três assistentes sociais, uma professora e uma auxiliar, no cumprimento de um mandato legal, retirassem a quem as negligencia e agride, duas crianças, ao que indica, vítimas de maus tratos por parte da mãe.
Não vi nenhuma noticia que relatasse mobilização semelhante para proteger as crianças vitimas dos maus tratos.
Outra
Hoje noticia-se que a GNR prendeu dois cidadãos espanhóis (as fronteiras estão de novo sob controlo por causa dos senhores da guerra) por terem em sua posse armas brancas (que perigo para os ditos…) e panfletos anarquistas. A noticia é mesmo assim.
Fica a dúvida se foram presos pelas armas ou pelos panfletos?
Que prova pesará mais em Tribunal?
Se for a Badajoz, às compras vou cuidar de verificar se não levo comigo o meu inseparável canivete (à MacGyver) e retirar todos os comunicados de apelo à Greve Geral do próximo dia 24.
É que pelos vistos não foi só a livre circulação que foi suspensa, mas parece que a própria democracia.
E outra:
Ainda por causa da mesma gente, as pontes (25 de Abril e Vasco da Gama) o Eixo Norte Sul e a 2ª Circular vão estar encerradas em períodos da próxima sexta-feira e sábado.
Não abrem nem um corredorzinho de emergência?
E se alguém está em trânsito de emergência? Vá morrer longe não empate.
Ah …e que ninguém pense em emergências médicas. O INEM está de serviço à cimeira. Ponto.

Mas vamos cá ter o Obama, o Sarkozi (e a respectiva, pensa-se), a senhora alemã da cabeça esparrachada nos ombros e outras figuras ilustres, muitas.
Olaré.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O QUE TEMEM OS SENHORES DA GUERRA?





Peça a peça, montam o cenário.
Compram novas armas e novas viaturas, mobilizam todos os recursos humanos, propõem-se vasculhar céu, terra e mar.
Deixam ficar claro que todos os recursos (materiais e humanos), das forças de defesa, estarão por estes dias, por ali.
Encenam cargas policiais, difundem esquemas para intervenções possíveis.
São adiados jogos de futebol, decretada tolerância de ponto para os funcionários públicos, empresas encerram portas, lojas, bares, restaurantes, estacionamentos, estações , tudo fecha.
Os moradores têm de pedir licença para entrar em casa e deixarem revistar os sacos e tudo o mais.
Mas longe de transmitirem eficácia o que pretendem é transmitir medo.
Aliás, é o que a NATO faz no mundo. Transmitir medo. Praticar a violência. Impor a lei do mais forte, do vencedor.
E com essa transmissão de medo pretendem calar, ou minimizar a voz os protestos. A voz dos que têm coragem de se erguer contra a tirania, a violência e a guerra.
Eles pretendem transformar as manifestações de protesto em guerras campais.
Mas estou certo que isso não acontecerá.
E que pacificamente, porque lutadores pela paz, milhares farão soar os seus gritos de revolta.
Se não fosse para difundir o medo, de que têm então medo os senhores da guerra?
Senhores de arsenais poderosíssimos, de armamento letal (em massa), senhores do mundo, exércitos gigantescos como o americano, inglês, francês, alemão, turco, o que temem?
Portugal ajoelha, uma vez mais. Arranja a sala, as passadeiras, faz a festa.
Nem importará fazer aqui uma análise de custos (o que é isso num país como o nosso, comparando com a importância de tão nobres visitas?), bastará perguntar: e se nesse dia, noutro sítio, acontecer uma alteração à ordem, ou um acidente de grandes dimensões, ou um desastre natural , como vão reagir as forças de segurança se tudo está no Parque das Nações - Nesse dia Parque das Nações da Guerra?
A que ficará ligado o nome de Portugal desta vez?
O Tratado de Lisboa (UE) está associado à perda da nossa ( e de outros) soberania económica.
A Cimeira dos Açores, a milhares de mortos, destruição e miséria. (Iraque).
E esta Cimeira a que ficará ligada?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

MERCADOS



Viajo muito menos, mas muito menos mesmo, do que aquilo que gostaria.
Tal facto é consequência e não opção.
Mas sempre que o faço, nutro uma grande simpatia por mercados e só por manifesta impossibilidade não os incluo no roteiro.
E assim, um dia, descobri aquela expressão suprema de cores e harmonia que é o Mercado de La Boqueria em Barcelona. Um espaço aonde apetece voltar a cada momento, com tempo, fogão e tacho para complementar aquele quadro da natureza no quadro das pinceladas gastronómicas possíveis.
E o Mercado de Olhão, onde a perfeição se expressa na anarquia dominante, na mistura absurda de elementos conjugando-se num resultado final de extraordinária expressão da diversidade social, étnica e cultural.
E o Mercado de Évora, a quietude da planície nas bancas dos quintaneiros. Nos espargos bravos, diospiros e azeitonas pisadas.
E o Mercado de rua de Estremoz. Pedacinhos de campo e história expostos nos passeios. Galos capões, patos marrecos, gansos, coelhos, melros e tordos.
E o pequenino e abalroado mercado de Armação de Pêra. Amostras do mar vivo.
E Vila Real de St. António, ali onde desagua o grande rio do sul e onde as conchas das conquilhas parecem ter sido trabalhadas nos seixos soltos de S. Domingos. E o atum, escuro, grande e apetitoso.
E…
Sim, foi possível.
Falei de Mercados.
E julgo não ter assustado ninguém.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dúvidas

Compreendo que tenham lido dívidas...

Nunca fui muito dado a regatear preços.
Já me alertaram que em determinados contextos e culturas este meu «princípio» pode mesmo ser mal interpretado. A ser assim e acredito que seja, se forçado assim farei, mas penso que «regatearei» mal.
Alertaram-me também que, se partir de mim o estabelecimento do preço, ou seja se eu disser: «por isso dou-lhe tanto…» não será depois uma atitude digna da minha parte se não consumar o negócio .
Vem esta nota a propósito da situação decorrente dos negócios da dívida pública portuguesa e a voracidade dos mercados (jarrões que não carecem de explicação dada a profusão de uso).
Queixa-se o Sr. Ministro das Findanças, perdão, das Finanças, que os mercados estão a praticar taxas muito elevadas (6,67 verificados ontem), mas não foi ele próprio que afirmou que o país não suportará taxas acima dos 7%?
Então, para o que o Sr. Ministro se mostrou disponível para pagar ainda existe uma margem para os agiotas, ou seja ainda podem vir buscar mais 0,33%.
Foi ele que estabeleceu o preço, porque se queixa?
Razões de queixa temos nós, os que pagamos.
Uma outra questão merecedora das minhas dúvidas prende-se com o Candidato que é Presidente, mas que não é Candidato e aqui estas, as dúvidas surgem em turbilhão:
Disse-nos (ou mandou dizer) que se não fossem os seus avisos a «situação» estaria muito pior.
Sabendo quão negra está a «situação» fica por esclarecer, o que conseguiu evitar?
Diz-nos (ou mandou dizer) depois da aprovação do Orçamento (instrumento que todos afirmam penalizar trabalhadores e a população desfavorecida) que na sua discussão na especialidade se deve procurar distribuir equitativamente os sacrifícios.
Referir-se-á à distribuição equitativa pelos mesmos de sempre não é verdade?
Sabendo-se que acumula pensão com vencimento e preocupado (como mandou dizer que está) com os mais desfavorecidos, porque não tomou a iniciativa de prescindir ou do salário ou da pensão?.
Não é verdade que o Sr. Candidato que é Presidente, mas que não é Candidato, foi Ministro das Finanças e do Plano entre 1980 e 1981 ; Presidente do Conselho Nacional do Plano em 1981; 1.º Ministro de Portugal entre 1985 e 1995; Presidente da República há quase 5 anos a que quer acrescentar-lhe mais 5?
Tem portanto na bagagem 17 anos de actividade política ao mais alto nível.
Não tem culpas no cartório? Será que sou eu que as tenho?
Afirma abnegar a «política» (ou manda afirmar) e nós interrogamo-nos o que seria se gostasse?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

INDIGNAÇÃO



Ao longo da minha infância e adolescência, ouvi vezes sem conta o desabafo lastimoso de um familiar próximo que dizia, perante a dor de uma perda: «o meu chorar é seco. Já verti todas as lágrimas».
Revivi agora esta triste memória quando me confronto com uma certa incapacidade que começo a sentir, de me indignar e pergunto-me se, não terei já perdido ou secado a indignação.
Perante a avalanche de medidas penalizadoras para os trabalhadores e os desfavorecidos (e volta de novo a política económica e financeira e o orçamento) confrontamo-nos com uma outra de noticias sobre mordomias que nem sequer conhecíamos.
Publicita o «Público» (relemos por parecer incrível) que o total das remunerações em 2009 dos 12 membros do CA da REN foi de 3,152 milhões de euros. Se tivesse sido equitativa essa distribuição, cada uma dessas preciosidades arrecadou 262 667 Euros.
Numa outra, tomamos conhecimento que os quadros superiores da REFER suspensos (?) no âmbito do processo «Face Oculta» continuam a receber por inteiro todas as suas mordomias. A um deles foi necessário enviar a Policia para que restituísse a viatura de «serviço».
Ficámos também a saber que a administração da PT pretende pagar antecipadamente um dividendo excepcional que permitirá aos 15 maiores accionistas (95% do capital) pouparem 260 milhões de euros (que o Estado deixa de arrecadar).
É esta PT a do interesse estratégico para Portugal, lembramo-nos.
Anuncia-se pela enésima vez que vão acabar as acumulações de pensões e salários públicos, mas a verdade é que elas continuam escandalosamente (Não é Sr. Presidente, desinteressado da política???)
E vimos empresas públicas com estruturas tão densas, tão densas, que se fica com a curiosidade de saber como se articulam administradores, directores, gestores, directores de departamento, chefes de divisão, assessores, secretárias e motoristas.
E vemos agiotas dizerem que a culpa é do RSI.
E vemos estúpidos dizerem que a culpa é dos desempregados.
E vemos beatos retirarem o abono de família às famílias.
Ignorantes a aplaudirem o corte nos salários da função pública.
E vemo-los juntos, alienados, proclamarem que agora vão votar no empregado dos banqueiros.
Por isso, questiono-me por vezes: ainda mantenho a minha capacidade de indignação?.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Pior



Diz-nos o empregado dos banqueiros que o pior ainda está para vir.
É verdade.
Ele sabe do que fala.
É ele próprio.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ANIVERSARIO



Faz hoje um ano que este espojinho se anunciou.
Sabendo ao que vinha não sabia no entanto como viria e quanto tempo se demoraria.
Deambulou, com maior ou menor intensidade, pela sua cidade, pelo seu país e pelo mundo.
Ao sabor de impulsos emocionais e norteado por imperativos morais foi expondo os seus pontos de vista.
E em silêncio, num silêncio cúmplice que se pressente, foi ganhando simpatias e partilhando amizades.
Albergou 194 textos.
1974 (lindo número se o associarmos a uma data) visitas.
2968 páginas visitadas.
560 visitantes de 30 países dos quais se destacam: Portugal (naturalmente), Espanha; Brasil , Venezuela.
Em Portugal, teve visitas oriundas de 43 localidades com destaques para: Évora; Lisboa; Porto; Portalegre; Funchal; Barreiro; Braga; Setúbal e Almada.
Quis, por vezes, assentar. Tornar-se temático, incidir só sobre a sua cidade, mas o turbilhão de acontecimentos impôs-lhe outras opções.
E assim parece que vai continuar a ser.
E mesmo hoje, no seu aniversário, não pode deixar de emitir uma nota, um pequeno comentário:
No dia em que, no 2.º acto da peça encenada em torno do orçamento, os actores saíram de cena anunciando a ruptura, o serviço noticioso da RTP, de certo inspirado na mesma senda melodramática, apresentava-nos os mais tenebrosos cenários. Para os fundamentar recorreu a gráficos, gravações, declarações e a todo a panóplia de instrumentos usados em filmes de terror.
Interessante foi ver a apresentação das contas com as perdas verificadas nesse dia no joguinho da bolsa. Este joguinho, como jogo que é, tem perdas e tem ganhos, é conforme está o vento e mesmo quando muda continua a ser conforme está o vento. Mas naquele dia perderam-se milhões porque não houve acordo.
Só que, no dia seguinte, o vento estava de ganhos. Expressivos disseram, e fiquei curioso por saber a que se deviam e esperei para ver à noite o noticiário da RTP.
Até hoje, aguardo.
Adiante pois, porque hoje o espojinho faz anos.
Tenham um bom fim de semana e continuem preocupados: o país vai ter orçamento.
Aos amigos que têm acompanhado este ano de desabafos, um abraço.
Nós acreditamos e lutamos por melhores dias.
Haverá um dia essa alegria.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

POIS...



Pobres homens do Teatro, para além de todas as sacanices e gravilhices a que têm estado sujeitos, são ainda agora alvo de concorrência desleal na prática da sua actividade.
Aguentem amigos, em muitas outras áreas isso já vinha acontecendo…
Mas têm que admitir que têm concorrentes de peso.
Como actor, aquele fulaninho do Brasil - o que foi barbaramente atingido por uma bolinha de papel - não está nada mal pois não? - Talvez uma melhor coordenação dos tempos, mas caramba o homem não se apercebeu logo da agressão, teve que receber a dica pelo ponto - via telemóvel.
Como encenadores, os homens do PS e os do outro PS com D, são magníficos. O ambiente e a envolvência que criaram em torno do Orçamento é digna dos grandes criadores.
Suspense até ao fim.
Uma carga dramática impressionante.
A bolsa deu um trambolhão.
O gráfico da divida pública subiu vertiginosamente.
Mas, deixando por agora o teatro e voltando ao real, uma pergunta se me impôe: se o que é preciso é ter um orçamento, um qualquer, mesmo um mau orçamento, (dizem) porque não um que:
Não roube salários e pensões.
Não agrave com impostos as precárias condições de vida;
Promova o investimento e o emprego.
Porque não???
Uma pergunta, uma simples pergunta.
Adiante.
Não tendo saído fumos, nem brancos, nem negros, das reuniões dos com e sem D, saiu pelo menos algum que indicia quem são os homens dos «mercados».
Bancos de França e da Alemanha e os seus porta vozes , o senhorinho e a senhorinha, querem dar tautau aos seus embaixadores locais pois temem poder haver aqui alguma interrupção no fluxo da usura que estão a praticar.
Começam a ter nome e rosto os ditos «mercados». Mesmo que ainda só os nomes dos seus ponta de lança sejam por agora conhecidos.
Termino com algumas dados sobre «Economia»:
Lucro da Jerónimo Martins cresce mais que o previsto;
Lucro da GALP sobe 18,4% e bate estimativas;
Lucros do BCP aumentam 22%
Liga dos Clubes teve lucro de 180 milhões.
Pois…

domingo, 24 de outubro de 2010

ABSURDO ?



O Parlamento Europeu , instituiu em 1985, pelas razões que sabemos mas que por agora opto por «deixar para lá», o denominado Prémio Sakharov, para premiar, disseram , pessoas ou organizações que se tenham destacado em acções de defesa dos direitos humanos e da liberdade.
Honrando excepções (Mandela - 1988; Mães da Praça de Maio - 1992 e alguma outras) os galardoados são-no sempre ou quase sempre, escolhidos por força de uma estratégia e de interesses políticos dominantes.
Os que julgam que ganharam a história (e que esta acabou, lembram-se?) a procurarem escrevê-la com os seus próprios caracteres de preconceito, sobranceria , ódio.
Pensando em torno disto e do próprio Nobel e pensando na barbárie e nas milhares de vitimas do canalha ataque ao Iraque (violações, tortura, humilhações de todo o tipo, assassinato de mais de 80 mil homens, mulheres e crianças) pensei em nomes para o próximo laureado com Sakharov:
Busch - O mandante primeiro, o cobarde mentiroso que mandou (resguardado) a matança.
Obama - O mandante das boas falas e da continuidade das mesmas praticas.
Sadam - O ditador (os comunistas iraquianos e o povo iraquiano são os únicos que poderiam usar esta designação por doloroso conhecimento de causa) que acabou por ser vitima.
O prémio honrando-se!
É negro o sarcasmo? É!
Como são negros e horríveis os relatos que nos chegam do que foi feito no Iraque.
Um abraço para os homens e mulheres da minha mítica mesopotâmia, que um dia, tal como nós, hão-de ser livres.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Verdade, verdadinha



Qualquer um de nós, possuirá os registos mais diversos sobre as afirmações das verdades.
Dos mais beatos: «deus sabe que o que estou a dizer é verdade», aos científicos: «é verdade, não há duvida, está cientificamente provado», aos ontológicos «é verdade, isto foi sempre assim»; aos ditatoriais. «claro que é verdade e não admito que duvidem da minha palavra».
Entretanto, surgiram nos últimos tempos, no léxico econofinanceiro dominante, novas versões.
Mesmo no plano semântico as verdades destes senhores passaram a ter uma outra significação e uma amplitude que se dirá…quase mítica.
Ou seja, não só é verdade, como é inevitável, inadiável, imutável. Em suma…Sagrado!
Quem assim não pensa, não sabe o que diz.
Só há este caminho para a economia, dizem.
Mesmo o mais caloiro do econofinanceiro, acabadinho de sair da faculdade onde venerou o econofinanceiro sénior, proclama: «É assim, não há volta a dar».
Encontramos no entanto, econofinanceiros de dois tipos:
Um, implacável, que assevera que os danos sociais provocados são meros danos colaterais, necessários ao sucesso da «medida» e outro, mais sensível, que toma as mesmas posições mas que afirma ter dores em tudo o que é sitio por as ter tomado.
E falam-nos de entidades intangíveis. Algumas tenebrosas, sendo a mais tenebrosa de todas a que eles denominam de “mercados” e que parece ter um apetite insaciável.
A discussão paradigmática aceitável cinge-se em aplicar um ou dois por cento sobre a taxa de iva e em saber se a margarina e o leite com chocolate passam da taxa reduzida para a taxa máxima.
Toda e qualquer outra ideia é inaceitável, impraticável, utópica.
Não tem enquadramento na verdade dominante da esplendorosa «nova ciência» econofinanceira.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

LIDER



Confesso que não é fácil resistir à tentação (quase imperativa) de voltar à temática do orçamento e à encenação bacoca do dramatismo que as figuras instaladas lhe proporcionam.
Estes personagens, senhores imaginados da verdade verdadeira, ditam sentenças com a rapidez da luz, talvez cegos por esta, não vêem para além da sombra das suas anafadas barrigas.
Da Grécia; Espanha; França, Reino Unido (sim); Itália e tantos outros, chegam-nos indicadores que, alguém com preocupações, que saiam do mero campo da sua mesquinhez, é levado a seguir com atenção e procura identificar rumos futuros.
Mas é pedir de mais. Adiante então. Deixo-os por agora à mesa do orçamento.
Dia 24 de Novembro (como antes e depois) eu cumprirei a minha obrigação.
Mas hoje decidi escrever sobre liderança e lideres, ou melhor lider.
É usual, mesmo banal, na CS, apresentarem-nos um pretenso «líder da oposição».
Como andam gastos os conceitos...
Apresentam-nos jogadores de casino e dizem-nos economistas.
Chefes partidários que são funcionários de banqueiros (não confundir com bancários).
Presidentes que antes haviam sido carrascos agora são coveiros.
Malabaristas das palavras que sempre foram mentirosos.
Mas, voltemos a lider.
Líder da oposição? Antes um duplo choque de conceitos desfasados.
Quanto muito é fúhrer do seu partido.
E oposição pressupõe o acto de a algo opor algo.
Mas este não opõe… apõe.

domingo, 17 de outubro de 2010

Revista de Imprensa (com um cheirinho de radio)



Prevenido sobre os riscos (gastrites), vou deixar por agora a declaração de guerra aos mais desprotegidos que se consubstancia no Orçamento por tantos tão desejado e vou procurar fazer aqui uma espécie de revista de imprensa.
Notas soltas deste fim de semana:

Da Bélgica de novo…uma figura sinistra.

Um tal monsenhor, pastor chefe de uma igreja que em vestes de púrpura e coberta de oiro tem por hábito sentar-se à mesa dos tiranos e farta proclamar as suas caridosas preocupações com os pobres e desvalidos, afirmou: «a epidemia da sida é uma forma de justiça imanente».
De batina, com ar de beato e falando em nome de deus…
Um, mais um, bruto de batina.

Na EN 125, nu em Outubro


Um operário foi detido na EN 125 (Algarve) por protestar nu contra o facto da empresa onde trabalha, não lhe pagar salário há SEIS meses.
Tem três filhos a passar fome.
Agitador, deve berrar o caloteiro enquanto bebe o seu uisquezinho de malte…

Viva a liberdade de (dizer bem de mim) na imprensa

O tal produto mal esgalhado, filho do cronista destilado, que apareceu aqui pelo Alentejo (sabemos bem como), acrescenta mais uma ao seu longo corolário de afirmações e comportamentos democráticos.
Ingeriu-se na linha editorial do Diário do Alentejo. A liberdade de imprensa, claro … mas não para dizer mal do fulano.
O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas condenou por unanimidade tal atitude.
Palavras para quê, é democrata, ha! E socialista, logo… de esquerda, não é?!

Sócrates acusa a esquerda

Ou ouvi mal (noticiário de esta tarde na Antena 1) ou pela primeira vez sou obrigado a reconhecer a digna atitude de SE. O PS de Sócrates e do fulano a que se refere o texto acima, não é de esquerda.
Nós já o sabíamos, mas não há como a confissão.
Dizem que atenua…

Faça alguma coisa por este país


Pede um popular à outra SE, Cavaco de seu nome.
Mas o homem já fez.
Durante 10 anos a que está a acrescentar mais 5 e quer outros tantos.
E nós estamos a pagar a factura.

Cheques

Brincaram com cheques (como já o haviam feito antes com cheques e com o respectivo dinheiro) durante o debate na AR. Um dizia que não passava cheques em branco ao governo e o outro retorquia que quem precisava desse cheque era o país (pudera).
Mas o que acaba por acontecer é que vão passar cheque … mate ao país e aos portugueses. ((aos portugueses que pagam as crises).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

GASTR ITES



Estas coisas da crise, dos orçamentos, das hipocrisias e das pouca vergonhas andam a azedar-me.
Vou ter que me cuidar não vá agravar as coisas com uma gastrite ou qualquer outra coisa terminada em ite, como socratite, cavaquite, bochechite, coelhite.
As ites de sempre, que nos azedam e angustiam.
E assim, para descongestionar, vou dedicar-me por agora à futurologia.
Já dotado dos seus grandes saberes e poderes, posso desde já afirmar, em primeira mão e sem que ninguém mais saiba (porque raio não poderei também usar da redundância?!) que : VAMOS TER ORÇAMENTO - PS sem D vota a favor (novidade?); PS com D abstém-se (convém-lhe); CDS vota contra (para o alarido); BE vota contra, PCP vota contra e Verdes votam contra.
E assim temos orçamento. A BEM DE PORTUGAL.
Votam também a favor: Banqueiros; Especuladores; Jogadores de Casino; Belmiros; Amorins, Confederações Patronais; Bastonário da Ordem dos Advogados; Balsemão; o Mário da Fundação e o seu candidato Cavaco; a minha vizinha tonta que dizia que o aumento do IVA não a afectava.
E todos juntos, com a taça (que pelintrisse), queria dizer com a floot, brindarão e arrotarão vivas a Portugal.
E os portugueses verão agravadas as suas condições de vida e nem gastrites poderão ter, pois neste país fantástico podem-se dar fenómenos como aquele que noticiava hoje um dos serviços televisivos da hora de almoço: «Os medicamentos baixaram hoje em média 6% mas os utentes vão pagar mais».
Cuidado pois com elas: as gastrites, e muitas outras ites.
A propósito, de que país falam eles e a que brindam quando falam de Portugal?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ridícula encenação



Ex presidentes, banqueiros, ex - ministros, figurões de sempre, palradores, governadores de qualquer coisa ainda cá ou já por lá, todos e em todo o momento sabem a sua deixa: é imperioso aprovar o orçamento.
Mesmo que esse orçamento provoque, como é o caso, já demonstrado por diversas entidades, uma recessão na economia.
E que essa recessão acrescente mais desemprego ao exercito de desempregados, mais falências de pequenas e médias empresas, mais pobres e mais miséria.
Imprescindível é ter Orçamento.
Só falta vir o papa, mas conhecendo-se a figura é homem para não recusar dar a sua valiosa contribuição.
O Orçamento é condição para evitar o desastre.
Mas não é por causa deles que estamos como estamos?
Ou seja, não tem havido orçamentos nos anos anteriores?
Não foi nesses orçamentos de «estabilidade» que se consubstanciaram:
4 mil milhões para queimar no BPN .
1,1 mil milhões (há quem diga mais) para afundar em submarinos.
1,5 mil milhões para modernizações da FAP que incluem a compra de aviões de sucata holandesa.
Compra de centenas de viaturas topo de gama (Águas de Portugal e outras ainda mais inquinadas).
Carros blindados que de tão blindados nem andam.
Festas de bar aberto, comemorações de aniversário de agências, festas das maravilhas (que pelo preço, são garantidamente mais de sete).
Administração aberta para os boys.
E assim sendo (porque foi, não foi?) é porque correm o risco de fazerem o mesmo mas em duodécimos que vos preocupa tanto a não aprovação do Orçamento?
As vítimas dos orçamentos anteriores e do que se projecta, os mesmos que são vitimas dos vossos crimes (praticados pelos que lá estão hoje e dos que estiveram antes e hoje fazem o joguinho do voto não voto) essas não temem as vossas ameaças de crises tenebrosas resultantes da não aprovação do orçamento.
O que temem e têm sofrido, é a crueldade e desumanidade dos vossos orçamentos que consubstanciam as vossas tenebrosas políticas.
Por isso, meus senhores …
Deixem-se de encenações…nem para isso têm jeito

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A nossa vida não tem de ser uma merda

Hoje emergem da terra e para a vida os mineiros chilenos.
Bem ajam.
Aproveito para dizer o que sei que sabem: nada mudou de substancial desde o soterramento da vossa saída.
O mundo continua igual. Por aí e por aqui.
Acredito que ao retomarem o contacto pensem, por momentos, que afinal parece que algo mudou.
Tendes um mundo de gente, holofotes, jornalistas e até o presidente à vossa espera.
Mas vós sabeis como são tratados os mineiros
Vós sabeis como ireis ser tratados logo que acabe a febre mediática..
Por aqui, neste meu país de vós distante, as atenções mediáticas convergem para uma encenação dramática que visa, ao invés de salvar, agravar intoleravelmente as condições daqueles que vivem como vós: da força do seu trabalho.
Apresentam uma proposta que visa assegurar que a lei - do Orçamento - consagre o principio da espoliação. Espoliação de direitos, de salários, de pensões, de serviços de saúde.
Bebericam champanhe e saltitam gulosos entre umas delicias de lagosta ou um souflé de cherne e falam de crise.
E encenam o espectáculo. Juntam-se velhos comensais do banquete permanente e babando-se proclamam desgraças sem fim se não «houver orçamento».
Juntam-se as sanguessugas donas do dinheiro impresso com o nosso suor e vão à casa do seu político seu empregado impor-lhe que mande os seus rapazes votar «o Orçamento», senão… desgraça das desgraças…
E os bichos maus ameaçam com outros bichos maus e dizem: «os mercados andam nervosos».
E o «Orçamento» sem o qual todas estas desgraças acontecem ao «País» é tão só a materialização do mais vil e canalha roubo feito a quem trabalha.
O «País» que estas sanguessugas, velhas e novas, falam, é o país centrado nos seus gordos umbigos, de salões de seda empestados a naftalina e tresandando a croquetes rançosos. É o país das coisas boçais. Das pessoas sem escrúpulos e gananciosas.
É o país dos que julgam que sempre assim será.
Não contem.
Há um outro país.
De homens e mulheres solidários. Obreiros disponíveis para construir um mundo novo.
Mais justo e mais fraterno.
O mundo velho está podre.
De França vêm sinais.
Uma jovem dizia: È tempo de agir, se não a nossa vida vai ser uma merda.

domingo, 10 de outubro de 2010

SACRIFICIOS




Os mercados andam nervosos, quais deuses famintos…
Nada lhes amaina os apetites.
Já entregámos em sacrifício as benesses de sempre.
Salários, direitos, funcionários públicos, emprego, reformados… e eles continuam famintos…
Obviamente, resguardam-se os crentes e a fé.
Não se espera que os servidores, sempre fiéis, sempre de acordo, sempre disponíveis, sejam eles próprios entregues em sacrifício, pois não ???
Porque continuam tão nervosos, os mercados, então???
Que mais lhes podemos entregar?
Os deuses pedem mais. Pedem um sacrifício supremo.
Pois que subamos ao Monte Moriá e lhe entreguemos Isaque.
Ou Teixeira…
Ou o próprio José
Mesmo que tal implique uma certa desordem cronológica.
Nada que Saramago não tenha já tratado magnificamente no jogo dos presentes em Caim.

Coisas leves... de domingo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

TEMPESTADES



Vivemos os tempos das grandes tempestades.
As noticias delas aí estão. Monções, chuvadas torrenciais, deslizamentos de terras, inundações.
E desgraças e perdas de vidas.
Habituámo-nos, ao longo do percurso humano, a enfrentar as suas fúrias e a reconstruir o que elas destroem.
Num misto de esperança e determinação convencemo-nos que após elas, vêm as bonanças.
Para alguns, não todos infelizmente, assim parece ser de facto.
E há tempestades, outras tempestades, que não são de chuva, nem vento e que por vezes, são carregadas de esperança.
Que varrem e destroem coisas obsoletas e que permitem construir novo e melhorar a vida dos homens.
Sabemos dessas tempestades, somos mesmo o resultado das novas construções delas resultantes.
Mas não essas as tempestades que agora nos fustigam.
Estas, que não são de chuva, nem vento, não trazem esperança e nenhuma bonança se espera que se lhe possa seguir.
São tempos de perda de direitos, de descaramentos como não há memória, de revanchismo, de hipocrisias, mentiras e engodos.
São tempos em que só a descrição dos factos, a invocação dos indicadores e a própria análise nos criam repulsa.
São os tempos em que com o dinheiro dos nossos impostos se queimam 4 mil milhões no BPN, se afundam 1,1 mil milhões em submarinos para guerras estúpidas e alheias, em que se atiram ao ar 200 milhões para aviões de sucata.
São os tempos em que roubam os salários dos funcionários públicos, em que lhes destroem as carreiras, em que vilmente tiram pensões e obrigam velhos doentes a pagar medicamentos que não podem comprar.
São os tempos em que um velho, sempre engordado e abochechado nos dinheiros públicos, diz candidamente que é fácil pedir mais dinheiro para os salários o e que o difícil é saber de onde vem o dinheiro.
Senil e duplo erro. Não é fácil. A luta é difícil e o dinheiro sabe-se bem de onde vem - dos nossos impostos e sacrifícios - às vezes não sabemos bem é para onde ele vai …
Tal pensamento foi seguido por outros. Um, disse mesmo que este não é o tempo para «agitações».
Talvez para recolher obrigatório seja o tempo que esta triste figura preconiza. As únicas agitações que gostaria de ver seria a de bandeirinhas aplaudindo os seus desmandos…
Mas vão ver outras bandeiras. Vermelhas. De Luta.
Porque estes são tempos de agir.
Porque ainda há quem resista e ainda há quem lute.
Neste tempo de tempestades pode, até com a ajuda de pequenos espojinhos, levantar-se uma tempestade carregada de esperanças, que varra este mundo velho e injusto e que permita aos homens construir um mundo melhor.
O que estes velhos nos apresentam como eterno e inevitável é findável e evitável .Pode ser levado com o vento.
E esse vento é criado por nós, quando brandimos as bandeiras das nossas lutas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Palavras e com(textos)



Televisões, rádios e jornais abriram os seus noticiários de hoje com a bombástica «caixa» : «Chavez perdeu a maioria».
Ontem, num trabalho marcado pelo rigor informativo publicado num diário da nossa praça, um jornalista proclamava: «A partir de hoje, o Parlamento Venezuelano perderá a hegemonia vermelha» .
A constatação de «hegemonia vermelha» assenta que nem uma luva nos contextos anteriores (recentes) em que Chavez tinha sempre o epíteto de ditador.
É preciso ler depois as «miudinhas» para saber que afinal, Chavez ganhou com maioria absoluta de mandatos (90 em 165) as eleições legislativas, não tendo conseguido atingir o objectivo a que se tinha proposto de uma maioria qualificada de 2/3.
Mas a mensagem passou. Para o cidadão comum intoxicado, a conclusão é simples: O ditador Chavez perdeu as eleições. Nem perderá um minuto (porque o grau de alienação já não lho permite) a tentar perceber: «como é que um ditador perde eleições?».
Assim como não perderá para procurar saber que a hegemonia vermelha que existia no Parlamento se devia ao facto de «os democratas» incapazes de aceitar o veredicto do povo, se terem recusado (em 2005) a apresentar-se perante o eleitorado.
E tinham sido esses mesmos democratas que já haviam tentado de tudo - inclusive a prisão do Presidente democraticamente eleito - para através de golpadas assegurarem o poder e assim perpetuar os seus desumanos privilégios.
Há na América Latina sobejos exemplos dessa escola democrática.
E são esses «democratas» que a comunicação social idolatra em Portugal (para situarmos as coisas).
E idolatram os estrangeiros e os seus comparsas nativos.
A Comunicação Social é a voz do dono e o dono é desse calibre - tem essa formação «democrática».
Por isso nada nos admira.
As palavras não têm para eles qualquer importância, o que conta é a sua «contextualização».
E assim, para eles e porque têm de agradar aos donos, democratas são os que exploram, escravizam e aniquilam a dignidade dos povos.
«Ditadores» os que - mesmo errando - abrem as portas da esperança aos povos sempre oprimidos.
Mas há quem tenha dicionário e vos saiba decifrar e muitos vão aprender também a fazê-lo e então, quando assim acontecer, as palavras voltarão a ter a importância que sempre deveriam ter tido.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Providência cautelar



Por mais que insista em procurar estabelecer um rumo e uma cadência editorial, não consigo.
A periodicidade e a temática dos textos que aqui publico, continua pois a ser dominada pelos impulsos diversos a que estou sujeito.
Confesso que a figura abjecta que já me fez tirar do sério mais que uma vez, voltou à carga. (é Sexta-Feira e o Público dá-lhe guarida) Ignoro-o por agora, sem que antes me confronte com pensamentos no campo da genética e nos desgraçados efeitos desta - no caso em apreço - para as gentes de Beja (estes sabem do que falo) - Adiante.
Hoje estou mais na interrogativa.
Quem terá atribuído o direito a tanto gato pingado para falar do meu salário e propor-lhe cortes?
É verdade que o empregador é uma entidade pública, mas por o ser está acima da lei e pode-se dar ao luxo de não respeitar compromissos legais e regulamentares?
Ah e tal, agora não tenho dinheiro, vou ficar com o teu 13.º mês! Assim, sem mais nem ontem?!
Espero sinceramente que a assim acontecer, os Sindicatos saibam desenvolver as acções adequadas também no plano jurídico e accionem todos os mecanismos possíveis, nomeadamente recorrendo para os tribunais (nacionais e comunitários) por violação contratual.
Julgo mesmo que faria sentido accionar-se de imediato uma providência cautelar.
Não é o aconselhável perante a iminência da prática de um crime?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Números redondos



Tanta crise, tanto número, tanta desfaçatez, tanta insensibilidade social, tanta grosseria…
Agora (envergonhados?) põem a falar das medidas que eles tomam, directores gerais e de institutos que falam de pessoas como se estivessem a falar de coisas e transformam cada beneficiário de uma determinada prestação social num miserável, corrupto, oportunista que vai ter que ir para a fila de abate provar que não é assim tanto e até tem uns laivozinhos de ser honesto.
Talvez…talvez e sendo assim, bem…temos que ser caridosos, não é?
Socialistas, hein?
Agora gabam-se de terem poupado tostões nos cortes canalhas que fizeram às prestações sociais … e vão cortar mais!
Anunciam baixas no preço dos medicamentos (em 6%) mas tudo indica que os mais usados vão aumentar de preço e os idosos carenciados vão passar a pagar sobre eles o que até agora não pagavam.
Porque aqui é usual dizermos: “é preciso ter lata”!
Perante todo este nevoeiro em que nos entretêm e nos exploram, procurei alguns indicadores pois hoje tudo nos é apresentado em percentagem ou em números tão redondos que redundam em redondo.
E assim fiquei a saber:
Os submarinos tridente custam qualquer coisa como mil milhões de euros. Brinquedos de almirante que ninguém questiona.
Mas questionam os 2,4 mil milhões de euros que parecem custar (no percurso em território nacional) a ligação TGV de Lisboa a Madrid. Será porque a mesma passa pelo Alentejo, tem uma estação em Évora e é um investimento que pode contribuir para o desenvolvimento desta região?
E calmas que estão agora as águas (aproveitando e dando sequência à questão dos submarinos), depois da patriótica intervenção do nosso 1.º Ministro em defesa dos interesses estratégicos da pátria economia - Negócio PT /Vivo / Telefónica - e quando vão entrar (onde?) 4 dos 7,5 mil milhões (o resto virá para o ano), quanto vai entrar nos cofres do Estado?
Se aplicado o IRC era expectável que entrassem 0,8 mil milhões (agora) e (0,7 mil milhões) para o ano.
Pois…, era expectável, mas a verdade é que não vai entrar um cêntimo.
Porquê? Ora porquê?! Porque… o que é preciso é combater os usos indevidos do RSI.
E acabar com o investimento público.
E acabar com o Estado Social.
E acabar com os serviços públicos (Escola, Serviço Nacional de Saúde…)
E acabar com essa mordomia que consiste na impossibilidade de alguém ser despedido sem justa causa.
Desde que se passe para lei a causa (e tão fácil que é) então passará a ser possível legalmente despedir por: “causas legalmente aceitáveis”.
Quem quiser saber a diferença entre justiça e lei tem aqui um bom exemplo.
Nós sabemos bem quão injustas são tantas leis…

Que texto mais redondo!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CONFISSÃO



Tenho um vicio diário.
Libertado que estou de um outro, com outro tipo de malefícios (não sei se maiores) mantenho no entanto este que perdura há anos e que se traduz na necessidade imperiosa de ler um jornal antes de começar o dia de trabalho.
A escolha - dado o panorama actual - recai sobre o Público.
E nesta dependência estabeleço quadros de um certo conservadorismo, que me levam a amuar perante uma reformulação gráfica, ou quando diminuem o tamanho dos caracteres nas palavras cruzadas ou quando da retirada (imperdoável) da tira de Calvin.
Apesar de tudo, são menores - ou de menor projecção cénica - as doses de toxicidade a que estou sujeito quando leio o Público, do que as que sou exposto quando vejo televisão ou quando se percorrem certos pasquins.
No entanto…
Há dias em que ao folheá-lo - o Público - ou simplesmente ao segurá-lo, ficamos com as mãos empestadas de imundice. Tal facto ocorre muito às Sextas-feiras. Hoje foi o caso.
Na última página, alguém verteu asquerosamente, todo o seu ódio e raiva de uma forma tão suja que se tornou difícil pegar decentemente no jornal. Fá-lo recorrentemente às Sextas-feiras.
Desta vez embirrou com Fidel (o que também é recorrente), declarou a sua morte (coisa já tão natural) e proclamou, qual Zandinga, o regresso de Cuba ao capitalismo.
Julgo mesmo que já se imagina nos seus bordeis, bebendo rum com Fulgêncio (ou este já morreu mesmo?) enquanto se baba sobre a companhia alugada.
Na sua verborreia, mata uns (Fidel), bate noutros já mortos (Sartre), proclama como verdades inquestionáveis as suas vontades.
Esta insignificante figura gosta de se arvorar em homem culto, conhecedor - o mais culto e mais conhecedor de entre todos os outros insignificantes seres.
Coitado, não consegue distinguir entre «saberes enciclopédicos» - de que ele se constitui como caixa de arquivo bafienta - e a inteligência que permite aos homens articular esses dados e construir assim novos saberes.
E assim, confunde - todo ele é uma confusão - as medidas económicas anunciadas para Cuba, como o reconhecimento inquestionável das supremas qualidades do capitalismo e distorce grosseiramente o que de facto foi dito.
Fidel disse que o modelo económico até agora vigente JÁ não é solução. Ele omite o JÁ.
O regime anuncia a abertura de novas actividades à iniciativa privada. Ele consagra tal facto como o reconhecimento do capitalismo como via salvadora.
Aconselho então que na sua bafienta caixa de arquivo procure definições para capitalismo (qualquer uma) e certamente constatará que o capitalismo é um sistema político - económico (Cuba não deixou de se proclamar como Socialista) e que pressupõe a propriedade plena da propriedade privada e a possibilidade da acumulação de capital por força disso - através de processos brutais de que todos somos testemunhas - (em Cuba, anunciam-se concessões para o exercício de actividade privada - não para a posse plena, coisa bem diferente).
Não aprofundou - porque não sabe articular - e porque o ódio o cega, outros modelos económicos presentes em projectos de Partidos Comunistas, onde estes preconizam a coexistência de uma economia com os pilares privados, públicos e cooperativos.
Em que se enquadram as medidas anunciadas para Cuba.
Conclui, porque lhe convém, que a solução é o capitalismo.
E essa «solução» causou no mundo 1,2 mil milhões de seres humanos em situação de pobreza extrema.(Citando só um dos enormes males que provocou e provoca)
Não creio que se justifique que perca mais tempo com sujeitos desta laia.
Vou lavar as mãos.
E depois pensar sobre o que devo fazer nas próximas Sextas-feiras. Coloco três hipóteses:
1. Continuar a comprar o jornal e assim acompanhar o evoluir do estado de demência do dito.
2. Ignorá-lo, o que é difícil pois ele é tipo sarna e manusear o jornal com luvas.
3. Deixar de comprar o Público.
Obs. A hipótese aventada em 1 não dispensa o uso de luvas e dependendo da evolução, provavelmente, será necessário o uso de máscara.
Vou pensar.

sábado, 11 de setembro de 2010

Sustentabilidade



Não é por muito falar nas coisas que as coisas passam a coisa.
Por exemplo, falamos muito de desenvolvimento e ultimamente de desenvolvimento sustentável e no entanto os indicadores, quando existem, só expressam crescimento - ao invés de desenvolvimento - e assim sendo, sem nenhuma sustentabilidade.
Mas não nos limitamos a falar, instituímos mesmo colossais corporações que se encarregam de difundir e de «homologar» esses conceitos virtuais.
É assim que nos deparamos com estatutos diversos - bandeiras azuis, verdes e outras - cidades inteligentes, educadoras, amigas do ambiente, capitais disto e daquilo, certificações iso e de todo os outros tipos, provedorias para todos os fins.
E aplicamos esses estatutos, aos sítios, às organizações, às cidades.
E no entanto cada vez mais os cidadãos se afastam da participação na gestão desses sítios, organizações e cidades.
Parece até mesmo que esse é o objectivo, ou seja, cria-se a doce ilusão de uma sociedade «preocupada» e «activa» e cria-se uma sociedade alheada.
E sem participação activa da sociedade - das pessoas - não é possível dar curso a verdadeiros processos de desenvolvimento e muito menos de desenvolvimento numa perspectiva sustentável.
Outro factor que parece contribuir para o alheamento é o que está relacionado com a competitividade territorial - fala-se mesmo de marketing territorial.
A competição tem-se constituído, não como factor de desenvolvimento, mas como produtora de efeitos contrários.
Ao invés de competirem entre si, os sítios e as cidades deviam adoptar políticas de parceria e cooperação.
Tomemos como exemplo o turismo no Alentejo. A taxa média de estada dos turistas só aumentará, não enquanto perdurar a competição entre sitios, mas quando estes se complementarem e proporcionarem ofertas integradas.
O Alentejo pode oferecer planície (Beja / Castro Verde), serra ((Marvão / Castelo de Vide) lago (Alqueva) Património Monumental (Évora / Monsaraz / Serpa / Vila Viçosa) praia (Odemira / Grândola), rio (Mértola / Alcácer / Gavião), tomando só algumas referências como ponto para exemplo.
E assim, numa perspectiva integrada, pode levar a convidar a estarem mais por aqui, os visitantes.
O grande lago, o Tejo, o Guadiana, o Sado, as Praias, as Serras de S. Mamede, Ossa, Portel, as cidades, vilas, a gastronomia, o cante e as gentes, acima de tudo as gentes, são património de grande riqueza.
E é com estas e para estas gentes, que temos que mudar e inovar.
Falar pois de desenvolvimento sustentável deve pressupor a tomada de medidas concretas e o abandono do discurso estéril.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

FESTA



Apesar da multidão, dos sons e cores, dos encontros que nos arrancam momentos, é bom, por momentos, breves momentos que sejam, percorrer em silêncio a festa.
Circular memórias. Projectar futuros.
Saltar da FIL - o tempo primeiro - para o Jamor dos primeiros tempos para depois contemplar o Tejo do alto da colina de Lisboa que tanta cor e projecção deu à festa.
E olhar o Tejo, agora aqui resguardado num cantinho sereno do seu estuário.
Saborear cada momento, cada passo deste caminho onde confluimos nesta terra dos sonhos.
E tremer por dentro mesmo na presença do mais banal de um acontecimento - um jovem alemão carregando nos erres e soletrando palavras de ordem muito nossas - e sentir e conter as alegrias que querem sair na forma de lágrima e encontrar amigos e saber deles e eles de nós e
Lembrar o amor amando.
E sabendo quão diferente é o mundo procurar saber se é verdade, se é mesmo verdade, que aqueles que sabem fazer aquela festa também saberiam fazer um mundo melhor.
E percorrer o país e o mundo numa passada. Comer uma alheira em Trás os Montes e beber um mojito em Cuba.
Abraçar um amigo em Itália e interiorizar, enternecido, o beijo de dois jovens namoradeiros, em Santarém.
Vivemos em intensa lucidez três dias felizes sabendo do desemprego, das carências, das dificuldades.
E tudo isso lembrámos e lutámos, nos debates, nos slogans, nas reuniões e no comício.
E por isso mesmo, em festa, lutando, lutámos.
Estes não são os dias de descanso dos guerreiros, mas são os dias em que estes, festejam a vida e retemperam energias para continuar a luta.
E cá estamos.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um abraço para os mineiros Chilenos



Sem pretensões, simplesmente desabafando, percorro temas e áreas variadas.
Vou escrevendo, umas vezes mais, outras menos, mas sempre sob o impulso das emoções - nunca numa perspectiva planeada.
Às vezes escrevo sobre cortes nas prestações sociais (indignado), outras sobre questões patrimoniais (preocupado), cultura (estupefacto), economia (escandalizado), política (envergonhado).
A amplitude temática não quer significar «domínio» dos temas - o que seria pretensioso - mas sim é a expressão de impulsos emotivos vários.
E assim (angustiado) escrevo hoje sobre os mineiros do Chile.
Pelo que já passaram e pelo que se lhes anuncia passarem.
Eu que tenho tiques claustrofobicos não consigo sequer imaginar a dimensão do sofrimento.
A 700 metros de profundidade, há mais de três semanas, 33 homens resistem ao enclausuramento, ao calor, à humidade, às doenças, às privações de todo o tipo, às saudades e à angústia.
À superfície muitos estão solidários e alguns tentam tudo para resolver o problema.
Outros, os que têm responsabilidades sobre esta e outras desgraças (os donos da mina - associados a um historial de «acidentes») estudam caprichosamente a forma de sacudir as águas dos seus capotes. Canalhas, estes - numa só palavra.
Também aflige, que as soluções técnicas sejam tão rudimentares como parece ficar demonstrado, mas esta é uma outra questão, já aqui abordada e que só vem juntar-se a outras em que se demonstra que o homem moderno criou erradamente a ideia da infalibilidade da técnica.
Assim não é para mal daqueles que estão à espera, algures a 700 metros de profundidade, numa mina chilena.
Pedindo emprestada esta canção, que veio daí, desse Chile marcado por desgraças destas e outras, aqui a deixo, neste meu desabafo solidário.
Que regressem rápido à luz , com saúde, para abraçarem a família, os amigos, a vida.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Higiene oral



Vivemos tempos muito «higiénicos» e tanta «higiene» assusta.
E assusta ainda mais a desfaçatez com que certas afirmações são feitas.
A propósito dos vergonhosos cortes nas prestações sociais, dizia um senhor responsável pela segurança social: «Sabe, antes o 1.º adulto valia o mesmo que o segundo adulto e agora este vale menos que o primeiro». Agora vale menos???, estaria o senhor perturbado e referir-se-ia ao carro que havia comprado há seis meses?
Perante o problema (grave) da obesidade infantil, defendeu um responsável: «deve-se ponderar a retirada destas crianças aos seus pais, pois estes dão provas de comportamento negligente».
E creio que não questionou, em nenhum momento, que uma dessas crianças, sabendo ler e percebendo, poderia estar a folhear o jornal e a ler este título.
Já tinham havido campanhas paranóicas sobre o tabagismo e as encenações mediáticas da segurança alimentar e da intervenção da asae.
Há muitas coisas, que alguns, gostariam de ver higienizadas...
Sobre os «valores» dos cortes das prestações sociais, será que o dito responsável, nos saberá dizer quantos audis novos pode o governo comprar com o que poupou?
Sobre a obesidade infantil, saberá o dito responsável, que a obesidade é também o reflexo das graves carências económicas de milhares de famílias? E porque não defender também o internamento compulsivo dos pais dos pais, os ditos avós e outros, o dono da mercearia, por exemplo?
Perante o gravíssimo drama dos fogos florestais, advogava Paulo Portas que deviam ser dado poderes à policia para prender aqueles que lhe parecessem suspeitos. Sem intervenção judicial. Só na base da suspeita (fundada, ou infundada).
Ou seja, sem mais nem menos, como noutros tempos.
Mais tarde alargar-se-ia esta possibilidade para outras actividades… e ele anda disso tão ansioso!
Nem vou perder tempo, para lembrar campanhas de «higienização» de tempos passados e algumas presentes. Só a ideia arrepia.
Assim. evitando conspurcar este meu texto e para os arautos das «limpezas» endereço um conselho:
Antes de quererem «limpar» o que quer que seja, limpem primeiro a cabeça e com especial atenção a língua.
Com muita água e algum sabão.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As cidades (tambem) morrem de pé



A lógica moderna da vida nas cidades é marcada pela construção desenfreada. Pelo rasgar de avenidas longas e rectilíneas. Pelas construções esquadráticas e em altura. Pela normalização de tubos, ligações, perfis, parafusos, canos, coberturas, caixilharias.
Por periferias ricas com vivendas, garagens, piscinas, relvados e zonas de churrasco, tudo devidamente amuralhado - qual reminiscência medieval - e protegido por ferozes cães.
Pontificam os jipes, motos quatro e de água, barcos, skis para a neve - que dista centenas de quilómetros - e milhares de outros visíveis adornos.
Esta lógica moderna está a matar as cidades enquanto espaço de socialização, democracia e liberdade.
As cidades estão a virar meros aglomerados, de centros vazios e decadentes, de costas viradas para a história e para a cultura.
E a par desse processo, no Alentejo, as cidades seguem o curso de esvaziamento demográfico do meio envolvente.
Parece ter-se registado aqui um fenómeno de migração bietápico. Numa primeira fase dos campos para as cidades da Região e posteriormente destas para as grandes cidades do litoral.
Nem Évora é já excepção a este cenário.(Havia sido nas ultimas décadas)
O centro está abandonado e as suas casas e palacetes vão ruindo com o passar dos anos.
Os velhos arrastam-se pelas suas velhas ruas em perfeita simbiose no adeus.
O crescimento - que tantos insistem em apresentar como factor de desenvolvimento - leva a que grandes manchas da área urbana estejam sujas, feias, decadentes.
A cidade está vazia. O café toma-se encapsulado em casa.
Perde população, envelhece a que fica, a actividade económica está fragilizada, perde dinâmica social e cultural.
Estes são os traços de uma cidade, não só em processo de decadência acelerado mas que está a morrer, de pé.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cidades e Campo, Campo e Cidade



Agora que as matas ardem e com elas arde o sustento de alguns (muitos), que os campos não dão trigo nem cevada, em que não há legumes nem frutas, em que as escolas, centros de saúde, postos da gnr e outros serviços, encerram portas, agora… talvez fosse oportuno.
Talvez fosse oportuno, falar do campo.
Do campo que odiámos, abandonámos e entregámos à sua desgraçada sorte.
Antes, viemos para as cidades à procura de trabalho, casa, lazer, ensino e liberdade. O campo não nos facultava esses atributos.
Era um meio austero e duro. «O trabalho do campo é pra homens de barba rija» sempre me impuseram.
Ele tinha que ser penoso, pois só assim era honroso. Podia um homem apanhar azeitona de joelhos? Nem pensar! Que vergonha! - Mesmo se apanhasse mais que curvado e cravejado de dores lombares.
E hoje, as barbas dos homens continuam rijas mas os homens definham arrastados pelo passar dos muitos anos.
E as mulheres curvam-se sob o peso dos anos, das dores e dos resquícios do trabalho duro dobrado.
Só abrem rasgos de esperança no sulcado dos rostos quando os filhos e os netos, numa fugaz passagem, os visitam num final de tarde de um fim de semana.
E os homens, com responsabilidades, parece que tudo fazem para acrescentar ainda mais abandono.
É tempo de repensar estratégias.
De encontrar formas de intercalar e harmonizar campo e cidade.
De encontrar formas que «honrem» o trabalho nos campos e a vida nas aldeias.
A ciência e a técnica facultam-nos hoje meios que podem ser postos ao serviço desta articulação e da harmonização da forma de vida nos dois meios: citadino e rural.
Não precisamos de proclamar um regresso ao campo.
Mas julgo que precisamos de fazer as pazes com o campo.