sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alegoria de uma cadeira vazia




Hoje, em Oslo, a cadeira do laureado fica vazia.
Em torno dela, produzem-se discursos e fazem-se elaborados apelos.
Obama, o homem que por acções anunciadas e que agora se confirmam não concretizadas, se sentou na cadeira em 2009, diz, com a eloquência com que diz, que o homem que nela devia estar sentado hoje, encarna valores universais.
O problema em Obama é que à eloquência do dizer não junta a coerência do fazer.
Porque ao «fazer» não atribui importância, não explicou a que valores universais se referia.
E como não o fez, interrogamo-nos se serão os mesmos que partilha (ou partilhou quando em vida de alguns deles) com outros laureados, como por exemplo: Jimmy Carter, Al Gore, Gorbachev, Rabin, Frederik de Klerk.
Incluirá nesses valores universais que referiu a perseguição sem quartel que move ou comanda quem move, contra Julian Assange?
A par da lauta festa de hoje em Oslo e das lágrimas de crocodilo que por lá serão vertidas, ficámos todos a saber que Sakineh afinal não foi libertada e que sobre ela continua a pairar a ameaça atroz de lapidação.
A esta alegoria para a cadeira vazia também associo a efeméride do dia.
Hoje é Dia Internacional dos Direitos Humanos.
E estes, de universais têm pouco.
Diria mesmo que são até muito restritos em número de «utilizadores» e localizados em termos de «geografia» e acima de tudo, são mais «instrumentos de uso» no xadrez político mundial.
Nesta alegoria, a memória que me ocorre para preencher a cadeira e para esclarecer o conceito de Obama é a da constatação de um mundo com mais de 815 milhões de pessoas com fome crónica ou com graves carências alimentares.
A imagem de um mundo com mais 200 milhões de desempregados e em que metade destes, têm entre 15 e 24 anos.

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