segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Façamos as pazes com o campo



Há apesar de tudo, um clima de bonança que se sente.
Os mercados estão mais calmos.
Os nossos doutos analistas, têm outras preocupações.
O pedacinho de mundial que nos estava reservado foi parar à Rússia.
As grandes democracias do Ocidente - no seu melhor - procuram silenciar - por todos os meios - o site da Wikileaks.
Mesmo sem luzes, o Natal aproxima-se.
Aproveito então, para falar do campo.
Do campo que abandonámos, amaldiçoámos e responsabilizámos por todos os males.
Do campo de onde vinham as alfaces, os tomates, o trigo para o pão, as carnes de porco, ovelha e de bovino. Os frangos e as frutas. As flores. O mel e o vinho.
Agora tudo isto vem do supermercado, devidamente embalado, plastificado.
E os campos aqui estão, quais sinónimos de domínio senhorial, à boa - para pior - imagem feudal.
E para pior, porque nos tempos feudais, poderia ter de se pagar portagem, mas os campos eram transitáveis. Perpetuaram-se direitos sobre caminhos (vicinais) que hoje já não se respeitam.
Tudo é cercado.
Pôr os campos a produzir, isso não, porque:
As quotas da UE não o permitem;
As compensações compensam muito mais que as produções;
As culturas não são compatíveis com a caça;
A mão de obra já não é escrava (eles bem tentam…)
Os produtos não são escoáveis porque as grandes superfícies vão comprar mais barato a Espanha, a Marrocos e onde calhe.
E…
E…
Porque não mandar às urtigas estas certezas impeditivas e juntar vontades e alterar o estado das coisas?
Porque não se dinamizam localmente - as Juntas de Freguesia poderiam ter aqui um papel determinante - pequenos mercados para escoamento dos excessos de produção das hortas, onde fosse possível vender as couves, as laranjas, os espinafres, os ovos, as galinhas, e os coelhos excedentários?
Com o mínimo de cuidados sanitários, mas sem burocracias e policias de costumes.
Proporcionar-se-ia assim um rendimento extra aos reformados que nas pequenas aldeias trabalham hortas; escoavam-se produtos frescos e saudáveis, dinamizavam-se as aldeias (quantos não ficariam para comer na tasca do sítio um feijão com catacuzes feito na panela de barro em lume do chão?).
Lirismo?
Talvez. Mas faz-nos algum mal um pouco de poesia?
Acrescentemos-lhe uma boa dose de ar puro, a descoberta de uma paisagem deslumbrante e dois dedos de conversa e veremos como a sua métrica e sentido nos encantam.
A razão para este «escrito» vem de uma visita a Vila de Frades - Vidigueira.
Faz bonitas e despretensiosas feiras a Vidigueira.
À Vitifrades só para o ano, mas avizinha-se o certame Pão e Laranjas.
Programem um visita e
Ouvirão ecoado de uma adega o genuíno cante alentejano.
Façamos as pazes com o campo.
As cidades ficarão mais bonitas e humanas.

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