Gaspachos
Porque lá fora, impiedoso, o sol fustiga,volto aqui.
E, a crer no que se anuncia, os próximos dias serão de calores um pouco acima dos máximos que alguns dias por ano se verificam.
Dizem os de barba rija: «já estamos habituados...» e correm a pôr os pezinhos de molho ou a bater uma soneca sobre esteira fresca.
Não se admirem pois que apareça por aqui mais vezes.
Sair não é boa ideia.
O asfalto derrete-se.
Uma mão na chapa do carro e é queimadura garantida.
As bermas das estradas, que deviam estar limpas mas muitas não estão, com matos tão secos e altos, assustam quando pensamos em fogos.
A água aquece de tal forma que se torna impropria.
A cidade não tem sombras e não tem bebedouros.
Claro que tem hotéis, frescos, com piscinas frescas e drinks frescos.
E é sempre a mesma coisa.
Por isso volto ao «espojinho»
Onde desabafo.
E para os que estão como eu e são muitos, deixo como sugestão para suprir a preguiça com que se preparam para enfrentar a preparação do jantar, que façam um gaspacho ou dois...
Gaspacho um (não digo «alentejano»para não ferir susceptibilidades aos puristas):
Ingredientes:
Meio pepino cortado em cubos pequenos
Meio tomate (com grau de maturação de salada) igualmente em cubos
Algum pimento verde (não muito) com igual tratamento
Meio alho pisado em sal.
Três dedos de linguiça em cubos
Azeite (uma colher de sopa por pessoa)
Um quarto de uma cebola pequena picada
Vinagre
Orégão a gosto.
Preparação
Numa tigela envolva os cubos de pepino, tomate, cebola e pimentão verde com o alho pisado, acrescente o azeite, os cubos de linguiça e ponha muitas pedras de gelo, acrescente água conforme o número de comensais. Ponha vinagre a gosto ( o gaspacho é um prato avinagrado), rectifique de sal e ponha cubos de pão duro.
Tem de estar muito fresco.
Se tiver uns jaquinzinhos fritos...
Gaspacho dois (não digo «andaluz» pelas mesmas razões
Ingredientes:
Dois tomates maduros (Com grau de maturação para sopa) pelados e sem grainhas.
Meio pimentão verde.
Meio alho pisado com sal
Orégão a gosto.
Azeite (uma colher por pessoa)
Uma mão cheia de pepino picado em cubos muito pequenos.
Sal
Vinagre
Alguma gotas de molho inglês (heresia das heresias)
Gelo.
Modo de preparação:
Num liquidificador ponha tudo menos o pepino picado.
Escolha a textura a gosto (espessa- não precisa de água - mais liquida - acrescente água)
Depois de liquidificado acrescente os cubinhos de pepino e coma com uns cubinhos de pão alentejano bem endurecido..
Fresco. Muito fresco
Tanto um como outro dão para duas a três pessoas.
Bom apetite
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
quarta-feira, 16 de maio de 2018
Smart Cities
Smart Cities
Podem-se acrescentar outras definições.
Em inglês, como convém para dar um ar, digamos…erudito.
Podemos falar de cidades sustentáveis. Verdes. Ecológicas.
Inclusivas.
Mas permita-se um comentário menos in.
As cidades, que deveriam ser gente, têm sido construção e
automóveis.
Falamos muito de mobilidades suaves e descarbonizadas e
desprezamos a mais suave e descarbonizada delas, andar a pé.
Permitam-me uma pequena novela:
Faço o percurso entre casa e o emprego a pé.
Num terço do trajeto o passeio tem a largura do lancil e
espaço para um dos pés.
No outro terço, o passeio já é mais largo e por isso está
pejado de automóveis que forçam a minha mobilidade pela via que lhes é
reservada.
O piso dos passeios, onde há passeios com piso, é irregular
e de pedras bicudas.
No piso (macio e liso) para os automóveis, onde tenho que
seguir no terço do trajeto como disse, quando chove faz-se um lençol de água
que em chuvadas mais intensas chega a ter a altura do lancil.
Escusado é dizer o estado em que fico.
Escaldado…queria escrever molhado, opto por me proteger
colocando entre mim e as ondas de água projetada, o guarda-chuva, levando com a
que cai do céu.
No trajeto, acabado o primeiro terço – o melhorzinho dos
três em que dividi esta novela – atravesso uma bifurcação (?) e tenho de me
munir de todos os cuidados. A visibilidade é nula e as velocidades altíssimas.
Há um sinal limitador de velocidade – 30 kms mas creio que se esqueceram do 1 à
esquerda do 3.
Atravesso mais duas vias que entroncam na via principal onde
sigo. Numa, não tenho problemas, mas na outra que é um acesso a uma escola de
gente com dinheiro para pôr lá os meninos e as meninas e para comprar grandes
bólides, é correr para não ser passado a ferro.
E resmungam-me. Já dei por mim a pensar se um dia tenho uma
cãibra a meio…ui…
Depois desta destemida e aventurosa travessia, tenho pela
frente um passeio largo, qual oásis, que circunda um grande e moderno edifício
sede de serviços públicos onde funcionam os serviços de planeamento e ordenamento
do território.
Este largo passeio, já protegido em escassos metros por
pilaretes metálicos, é, para mal dos meus pecados e dos meus companheiros de
infortúnio, zona de estacionamento em massa e de atravessamento para
estacionamento improvisado nas traseiras do edifício, para funcionários e
utentes (e os utentes, por vezes, têm fardas e carros com pirilampos e dísticos
de psp e gnr)
Garanto que se houvesse ao longo do percurso um banquinho
para descansar, chegado aqui ou passado daqui, me sentaria a descansar um
pouco. Se houvesse uma sombra…se houvesse um bebedouro…
Finalmente, estou na cidade velha. Aqui não se pode
construir de forma moderna nem abrir vias modernas (para automóveis), cirando
por entre pessoas por debaixo dos arcos. Até pode chover…o sol até pode estar
impiedoso…
Aqui é a cidade velha.
Não havia, no tempo velho em que a construíram, smart
cities.
A propósito, ou não, expresso aqui a esperança, que um dia,
os que pensam as cidades, pensem que elas também são para as pessoas.
Parece-me.
E que andar a pé pode não ser piroso e de pobrezinho.
Horas e oras
Horas e oras…
Sabemos que os rios correm para o mar (mesmo que por vezes
se juntem a outros rios ou descansem num qualquer lago) e por o sabermos, não
duvido que aquele que agora contemplo esteja a seguir esse destino, mas não
parece.
Tão calmo. Tão sereno.
São quase impercetíveis os murmúrios das suas águas.
Talvez porque o mar já esteja perto e ele não tenha pressa.
Talvez porque todo o seu trajeto foi feito devagar,
calmamente na planície.
Talvez…porque é assim. É a natureza.
Quem criou o mundo teve falhas grandes e uma delas foi a
criação do homem mas era um arquiteto paisagista de primeira ordem.
Ali, naquele sitio tão perto e aonde nunca tinha ido, tenho
claramente essa perceção.
Oiço com perfeita nitidez as seis badaladas do relógio da
Igreja.
Pouco depois, segundos talvez, oiço com menos nitidez,
vindas do outro lado do rio, da igreja que se destaca no triangular casario
branco, sete badaladas.
São sete horas em Salúncar e são seis em Alcoutim. Uma hora
de diferença inventada pelos homens.
Umas breves remadas e os de cá chegam lá e os de lá vêm cá.
A obra da natureza está ali, imponente e bela.
A obra dos homens, troca-lhes as horas.
terça-feira, 1 de maio de 2018
terça-feira, 17 de abril de 2018
Tempo
Alguns, zangam-se e dizem que ele é rápido.
Que mal começamos e já se vislumbra o fim.
E zangados, queixam-se, vociferam.
Passou tão rápido.
Ainda ontem…
Mas dispõem dele…
Quem não se queixa do tempo são os que já não podem dispor
dele.
Por mim, resolvo não me queixar do tempo.
Mas queixo-me do que não se faz com ele
Ou do que se faz e não devíamos fazer.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Latoeiros
Sem ofensa para os que ainda usam a lata como matéria para o
seu trabalho
Aquelas três figuras que basta olhar para elas para nos
inteirarmos da confiança que nos merecem, mandaram sobre a Síria uma chuva de
misseis.
Já tinham feito o mesmo em muitos outros sítios. Em alguns,
ali bem perto, usando dos mesmos argumentos.
Se lhes desse para corar já não teriam rosto.
Veja-se agora a desfaçatez:
(clique)
Macron, já havia afirmado que não tinha declarado guerra à
Siria.
Pois não, não declarou, nem para isso lhes sobrou uma réstia
de vergonha.
Pura e simplesmente deu ordem para disparar.
sábado, 14 de abril de 2018
Pensar mói
E por vezes faz doer. Falo por mim.
Sei, também por experiência própria, que adquirir pensamento
alheio -feitinho a preceito para tal fim – é mais fácil e não dói.
Por exemplo:
Pensamento fresco acabadinho de ser posto à nossa
disposição: «Os EUA, o Reino Unido e a França fizeram muito bem em bombardear a
Síria. Assad precisava de uma lição depois de ter lançado bombas químicas sobre
populações inocentes».
Fácil. Todos vamos pensar assim. Vamos comentar assim e
pronto é assim.
E se não fôr…?
E porquê bombardear na véspera da ida dos inspetores para
investigar o propagandeado bombardeamento?
E que mandato tinha este trio de incendiários para
bombardear um país soberano?
E?
Uff que canseira e ainda por cima é sábado.
Ide vestir o fato de treino adidas e ide comprar uns
peixinhos de alguidar ao super da moda.
Aonde esteja mais gente e aonde se esteja mais tempo em
filas.
Dará para ver outros modelos (de fatos de treino) e para
usar o pensamento adquirido (em grande promoção, diga-se) e para empanturrarem o ego ao verificar que o doutor
silva, aquele vizinho do audi que é chefe ou qualquer coisa ainda mais que
chefe na repartição de finanças também pensa assim.
Bom fim de semana e bons pensamentos (estejam atentos às
promoções).
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Blogues, redes
sociais e outras modernices
Zuckerberg parece que tendo-o criado, nunca o quis
controlar. O monstro.
Com ele parece ter sido possível monitorizar milhões de
informações sobre milhões de cidadãos.
Com este e com outros monstros.
Um deles é usado por Trump para bombardear o mundo – por
enquanto - em sentido literal, só partes do mundo.
Russos e Americanos entretêm-nos com historietas (sérias) de
ingerência e manipulação de resultados eleitorais.
O criador do monstro afirmou que na Rússia há pessoas cujo
trabalho consiste em usar o monstro para criar danos (ao e aos criadores).
Valha-nos isso. Ficamos mais descansados em saber que o
problema está isolado, ou seja cinge-se à Rússia.
A bisbilhotice, a injúria, a calúnia, os boatos e as
mentiras não são práticas novas.
Sempre existiram.
O problema é a difusão que assumem quando difundidas através
das denominadas redes sociais e mais grave ainda a dimensão dos nefastos
efeitos.
E parece que Zuckerberg não foi só o criador de um monstro
que afirma nunca ter tido intenção de dominar como, com ele, ao invés da tão
propalada generalização do acesso à informação se fazer exatamente o contrário.
Com as redes sociais difundem a poeira com que escondem a
informação.
E todos, quase, lá postamos a nossa data de aniversário (recebendo
parabéns de quem não conhecemos de lado nenhum) informação pessoal que não se
sabe para que fins poderá ser usada, «gostos» com os quais se constroem perfis,
fotografias nossas e de filhos.
Sabem por onde andamos, com quem andamos, o que comemos, do
que gostamos, o que pensamos.
E disso não fazem segredo. Dizem-no.
E, sabemos, que não só na Rússia, mas em muitas outras
partes do mundo, alguém tem como trabalho usar, trabalhar e «construir»
informação.
Os fins a que esse trabalho se destina não serão os mais
filantrópicos garantidamente.
Ficámos a saber que alguém compra. E paga. Como objetos do
negócio não recebemos nada.
As redes sociais não vieram democratizar a informação,
vieram isso sim, constituir-se como a mais moderna e perigosa ameaça à
democracia.
Por tudo isto e enquanto ela subsiste e assim o permite, vou
dedicando (ou dedicar) algum tempo ao blogue.
Aqui, só lê quem quer.
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Injustiças
Do fundo da sala, em tons baixos, escuto desfado de Ana Moura e vou soletrando, desajeitadamente: "ai que saudades que eu tenho de ter saudades".
E assim percorro pelos caminhos da memória o tempo que aqui tendo estado, não estive.
Não visito o «espojinho» o meu espaço e depósito de memórias desde os finais de Novembro.
Um Inverno inteiro.
Até parece que nada se passou que merecesse a minha atenção e passou-se um turbilhão de coisas.
Fui por aqui bradando contra as falsas noticias. Eu sei que é «fino» e mais credível se o disser em inglês...mas fica assim.
Verifico com prazer que o tema já é cátedra e que existem inúmeros especialistas.
Muito bom.
Muito bom, mesmo.
Mas continuam a proliferar falsas noticias.
Ou seja, não noticias.