quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Voando sobre o ninho de escombros do mundo velho

Vivemos tempos em que claramente se nos afigura a ideia de que algo vai mudar, parece que em breve, mas não sabemos nem como, nem quando.

E esta percepção não é hoje já só oriunda de intelectuais e dos meios académicos – a recorrente expressão de mudança de paradigma - mas é assumidamente partilhada, sentida e expressa em comportamentos, pelo comum cidadão.

Esta perspectiva, traz consigo o medo. Sabemos do que nos despedimos, não sabemos o que nos espera.

A esta questão referiu-se há dias, numa sessão promovida na Universidade de Évora pelo núcleo local do Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Prof. Silvério da Rocha e Cunha, afirmando «o mundo velho morreu, o novo ainda não nasceu».

É com esta referência, ou seja, partilhando, ou julgando partilhar, pensamento deste pensador e autor, que exponho o ponto de vista que aqui quero deixar hoje.

Os sinais (cacos) da morte do mundo velho espalham-se um pouco por todo o lado.

Guerras a que chamam, procurando atenuarem, conflitos.

Ódios. Chacinas.

Fronteiras instáveis. Moles imensas de gente que se expõe ao mar e às balas para procurarem o direito a viver.

Poderei voltar a esta questão geral, tão atual e pertinente, quando na Ucrânia os ucranianos se matam nas ruas, mas hoje pretendo incidir a ideia a que me propus, exclusivamente aqui, neste território a que chamamos Portugal.

Aqui, a nossa guerra, não tem obuses, tiros, bombas e a instabilidade das fronteiras não é física.

Mas provoca vítimas aos milhares (os que têm de sair do país à procura do que aqui se lhe nega; os que cá ficando, subsistem miseravelmente, os que não têm que comer, os que não têm tecto).

E provoca também um número crescente de alienados (os que já não acreditam em nada e em ninguém e que são cada vez mais agressivos e portadores de ódios viscerais contra tudo ou quase tudo).

A fronteira entre os que têm excessos de tudo até de excessos e os que nada têm é cada vez mais vincada. (os números sobre a distribuição da riqueza aí estão para provar que não é retórica a afirmação).

E esta situação provoca assim, naturalmente medo e o medo é um péssimo auxiliar do comportamento humano.

O medo conduz ao alheamento mas também conduz à ação irrefletida.

E é a possibilidade da massificação dessa, que deveria concentrar a preocupação de quem tem ainda a possibilidade de refletir.

Mas, o que verificamos é que alguns, estupidamente, ainda julgam ser possível tirar partido da «coisa» para seu belo proveito e então despedem, baixam salários, exibem os seus excessos com arrogância, berram que ainda aguentam mais do mesmo e imensas outras parvoíces.

Pois…, mas o que será que pode resultar duma massificação de comportamentos irrefletidos por parte de quem já nada tem a perder?

Sabemos todos, que eles, os que trouxeram a «coisa» até este patamar e mesmo agora são pirómanos, não sabem, nem cuidam.

Só cuidam de considerar que eles se «safarão» e bem como sempre.

Pode não ser assim.

Eles estão a olhar com as lentes do mundo velho, e esse morreu.

Outros – muitos – nas escolas papagueiam as diretivas do mundo velho já morto.

Outros – muitos – na política, só cuidam de ver como será o deve e o haver dos votos eventualmente resultante.

Eu, por mim, temo (também disso sofro) sobre o que será esse «saldo» já agora, nas próximas eleições europeias.

Mas pressinto uma perigosa deriva.

Pois… o mundo novo ainda não nasceu. Não sabemos o que será.

E nós, entre os cacos do mundo velho pressentimos um mundo novo desconhecido.

E muitos têm medo….

Ainda uma nota sobre a política caseira – evidentemente enquadrada no que aqui foi exposto – insinua-se estar em construção um novo quadro político, composto por novas formações políticas.

À direita para preencher o espaço deixado em cacos por Passos Coelho e para acolher os que por oportunismo têm vegetado no PS.

À esquerda para dar expressão a desânimos de alguns.

Na extrema-direita para organizar as hienas.

Veremos o que vai dar.

Ah… mais uma pequena nota, parece que voltou a haver direita, esquerda e até classes.

Prodígios.

«O da Porta Nova»

(esperando que desta vez o «O espojinho» não se esqueça de pôr a assinatura, como fez com o último texto meu …sei que foi só esquecimento).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Uma vez mais, sobre culpados e inocentes.

 

Há quem passe por cá, passando – outro verbo se quis impor – e há os que, mesmo tendo por vezes dúvidas sobre o caminho a usar, passam caminhando – fazendo ou tentando fazer o seu próprio caminho.

Incluo-me nestes últimos, por mais dúvidas, por mais «aparições», por mais espaços sombra que por vezes nos envolvam.

Fica pois descansado «Espojinho».

Obrigado por acolheres este sem abrigo no teu blogue mas deixa que te diga que em matéria de blogues a coisa está preta.

Há por vezes a ideia – tentação – de transformar os blogues em órgãos de comunicação social e há logo quem disso os aproveite – através de coisas a que chamam comentários - para os transformar em latrinas.

Há exemplos por aqui na cidade.

E é hilariante observar - fi-lo por pouco tempo porque preservo a minha saúde – que certos energúmenos invocam o direito a postar – sim, postar…de postas – em nome do que dizem ser a liberdade.

Espero que nunca deixes tal acontecer por aqui. Se querem postar que o façam nas suas próprias casas.

Por isso reforço o meu obrigado. Abrigaste-me porque sabes que partilhamos muitas ideias, sonhos e até trajetos.

Sei que todos os que assim pensem podem encontrar também aqui o seu espaço.

Demorados que vão estes “salamaqueques”, quase já não tenho tempo para falar do que aqui me trouxe, pois eu pretendia deixar umas dicas sobre a participação dos cidadãos na vida pública.

Quem tem lido, sabe que não partilho da ideia um pouco generalizada de que a «culpa» não tem culpados.

Se temos um governo que nos espezinha e enaltece a pobreza a que nos conduz, a culpa é de outros, nunca de quem é de facto.

Para mim e penso que é uma evidência, a culpa é de quem votou neles.

Quem votou PSD e CDS tem culpa mesmo que agora lhe possamos aceitar que possa declarar-se arrependido.

Porque uma coisa é não assumir a outra é reconhecer o erro.

Fomos todos brindados há dias com um espetáculo abjecto vindo da ocidental e desenvolvida Dinamarca : No Zoo de Copenhaga, entenderam por bem os responsáveis, proceder a um ato bárbaro de matar e esquartejar uma jovem e saudável girafa, em público e com ela alimentar os leões.

Não se tratava de uma girafa velha ou doente, mas sim de uma girafa muito jovem e saudável.

Todos sabemos que os leões são carnívoros e que se têm de alimentar, mas a questão é saber se tem de ser assim, daquela forma brutal

Se há animal com que estabeleço uma certa empatia é com leões.

Pouco sei sobre eles, mas julgo saber que as girafas não serão a sua presa favorita. Um coice de uma girafa jovem e na sua plenitude física pode deixar um robusto leão, no mínimo a ver estrelas.

Ali, naquele acontecimento, não houve nada de «natural», antes pelo contrário, houve mãozinha humana, pelos vistos sanguinária.

No público, estavam presentes inúmeras crianças que incrédulas, desviavam o olhar perante a atrocidade.

Estou em crer que não seria muito difícil escutar, depois do «espetáculo viquingue» os comentários dos papás e das mamãs dos meninos, ditos com os meninos pela mão, no regresso: Isto foi inadmissível, os culpados tem de ser punidos.

Pois…os culpados.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Espargos

 

Num dia como o de ontem, chuvoso e de ventania, daqueles dias típicos de inverno, quando tudo em nós nos transporta para o aconchego quentinho e quando remoramos o crepitar de lareiras, lá estava o homem, enrolado sobre si, abrigando-se sob uma velha sombrinha de praia, sentado num banquinho à beira estrada – agora avenida - vendendo espargos.

Perguntei-me se ao menos os venderá, se alguém ganha coragem para sair ou sequer abrir a janela do carro para lhos comprar.

E refiz pensamento que já em outras situações havia tido: se estivesse melhor de dinheiro, comprava todos os espargos ao homem, pedir-lhe-ia que fosse, pelo menos naquele dia, abrigar-se em sítio mais quente e eu, convidaria amigos para um petisco com espargos.

Quem sabe, não convidaria o homem.

Embora aceitasse que pudesse recusar…

Brr espargos…ainda se fosse um petisco de jeito….

Pois eu vou cortar em pedaços pequenos os seus caules, parando onde estes já fazem resistência ao corte, saltear em banha quente quadrados de linguiça de porco preto, a que junto a meio alguns dentes de alho esmagados e uma folha de louro. Entram depois os ditos cujos, tempero de sal e pimenta preta moída ao momento e na parte final os ovos, previamente batidos, que faço envolver.

Salpico de salsa picada. Acompanho com pão – pão – um tinto alentejano – quase todos são bons – azeitonas salpicadas de sal grosso e orégãos.

Anotem que se estiver sozinho, isto é incomestível. Nada presta.

Assim pensei.

Mas, como o se, se mantem…

Fazendo a  viagem  de regresso.

À tarde, já noite porque esta chega cedo no inverno, lá estava ainda corcovado o velho homem e com os espargos por vender.

O «Da Sopa dos Pobres»

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O que é que ele quis dizer?

 

Uns, julgarão que disse por dizer, um impulso que lhe deu naquele momento para o dizer, e assim o fez.

E a julgarem assim, considerarão que fará uso um pouco irresponsável de palavras e conceitos.

Abre a boca, melhor, solta a escrita e pronto.

Outros, não julgarão nada, porque pura e simplesmente não leram. Mas esses, também não serão motivo para a minha preocupação, porque se não leram, não interrogam, não é verdade?

No meu caso, como como li e me interroguei, procurei saber de que raio de «Aparição» falava “O da Porta Nova” naquele post enigmático que aqui publicou.

Como sabem os que por aqui passam, ele e o “da Sopa dos Pobres” partilham comigo este espaço de desabafos.

Cada um com seu jeito desajeitado.

Um, que pretende falar de espaços e vivências.

Dá-lhe por vezes para fazer incursões por áreas aparentemente de sombra que convenientemente se designam por filosóficas.

Outro, procura falar de usos, dedicando à gastronomia mais paleio do que escrita.

Como se de sem abrigos se tratassem, abriguei-os por aqui.

E a eles vou ganhando alguma afeição.

Eu sei que “O da Porta Nova” tem andado muito amargurado. Zangado com a forma como lhe impõem a vida.

Desiludido também, com certos rumos.

Sei que lhe custa muito, o tomar de consciência que o seu espaço de partilhas começa a estar, ele também, conspurcado com os mesmos lixos tóxicos que conspurcam a sociedade que quer transformar.

Que a palavra camarada já não se usa e os que a usam, não a respeitam.

Sei que sim, que isso o incomoda.

E por isso procurei saber de que «Aparição» falava.

Mas «O da Porta Nova» tem-se remetido ao silêncio.

Fiz então o que é useiro fazer: procurar «analisar» …

Nem sequer imagino o incómodo de muitos dos “analisados” com a panóplia de análises que recaem sobre si.

Cada um diz sua coisa.

Pois a análise a que agora procedo é somente a coisa que digo sobre o que disse «O da Porta Nova»

E conclui que a «Aparição» de que falou – não sei se numa analogia distante com a obra cujo enredo decorreu por aqui – se lhe apresentou como uma constatação brutal do real – o que na gíria se traduz por “o cair em si”.

Que se lhe pode ter afigurado como um estímulo para agir, pois se o que se lhe apresenta – lhe aparece – não corresponde aos seus sonhos, pois então passará a intervir contribuindo para que passem a corresponder.

Uma certa forma de negar o estado de resignação a que parecia , parece, entregar-se.

Como se fosse, seja, um grito de basta.

Uma promessa de que se dispõe a ser mais interventivo e menos dado à resignação.

Um reencontro consigo.

Será?

Não será, mais resignação?

«O espojinho»