quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Bananas

 

Roam-se de inveja, seus incapazes. Seus 10 milhões, e mais uns bons poses, de incompetentes. Vós sois uns bananas.

Então um punhadinho de portugueses consegue aumentar as suas fortunas em 11,1% qualquer coisinha como 7,5 mil milhões de euros – num só ano…num anito - e vós estais desempregados?

Que vergonha.

Ainda por cima, quando muitos de vós…muitos?...a maioria! até se ajeitou, ajeita e se disponibiliza para ajeitar, votando nos rapazes deles e tudo…!

Francamente…

Desempregados, com salários de retalho, preparados para emigrar, com dividas por pagar… pefff….

Façam como eles.

Trabalhem.

Sejam competentes.

Seus invejosos.

Bananas…

É o que vos sois.

Trabalhadores competentes os amorinzinhos pois claro.

Bananas.

Ah e a propósito, o velho garanhão que só pagando iludia a sua condição (de garanhão, claro) ….parece que foi corrido.

E ele foi  corrido de lá, lá para onde tinha ido com o voto (de bananas de lá) que muitos querem de novo lá (bananas).

E o problema de tantas bananas, são as bananadas que provocam….

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CULTURANDO

 

Em memória do Queimado

Agendei, e preguiçosamente tenho adiado, a leitura de uma entrevista a Elisio Estanque.

De uma percepção rápida – daquelas que resultam das apressadas e enviesadas leituras- extraio a ideia que algumas das ideias por ele expostas, me seriam agora de grande utilidade. Consequências da preguiça.

Julgo ter ele dito “que em Portugal todos nós estamos muito convencidos que sabemos tudo”. Mais coisa, menos coisa.

Pois, integrado nessa «mania», quando falamos de cultura, logo surge uma mole de entendedores, de discursos fáceis, tão elaborados e requi(e)ntados que afastam do tema qualquer incauto (ou qualquer outro) que sobre ele – o tema - pensasse ter algo a dizer.

Não tem não senhor, a cultura não está ao acesso de qualquer um. Dirão em coro os entendidos e excluindo qualquer veleidade de outros procurarem tal estatuto.

Utilizando a moda, poder-se-á dizer que a cultura é no entendimento deles, um produto gourmet.

Para mim, tenho o defeito de a considerar sempre na perspectiva sociológica e considera-la como o conjunto das formas de agir e pensar que são marcas distintivas de um povo, de uma etnia ou grupo.

Outros, complicam-na para lhe dar «charme»… Misturam com economia, com planeamento, com marketing, misturam água, mexem (deveria falar de mix…) e elaboram estudos com curvas de oferta e procura, e fazem planos que chamam de estratégicos e outros de promoção.

Pois façam.

Soube há dias da morte de um velho (utilizando no termo todo o respeito que certas culturas lhe atribuem) que conheci e a quem ouvi muitas histórias. Gostava da maneira eloquente que punha nelas e a forma como nos transportava para o interior dos enredos que contava, fazendo-nos por vezes sentir como personagens desses mesmos enredos.

Há tempos que não frequentava a Praça. A sua Praça.

Era ali o seu mundo. O espaço da sua construção narrativa. Foi ali que me contou os episódios rocambolescos ocorridos em tempos idos entre mouros e judeus ou outros de tempos também idos mas há menos tempo e passados nos campos das suas memórias lá para os lados de Redondo.

A Porta Nova (a quem fui buscar o pseudónimo) foi obra necessária para suavizar as escaramuças entre os já falados mouros e judeus, que ocorriam ali para os lados da Praça que então era rossio, contou-me.

Ter tomado conhecimento, numa noticia simples de necrologia publicada num jornal local, que o Queimado havia partido, reavivou o episódio em que ele, julgando tratar-se de uma entrevista a publicar em jornal, se disponibilizou par ser meu entrevistado, num trabalho de pesquisa que então desenvolvia.

Foi já há algum tempo. Ainda no tempo das cassetes. Espero encontrar a gravação que então fiz.

Porque, senhores da cultura, as memórias deste homem e de muitos outros homens como ele, com quem nos cruzamos e sobre os quais alguns de vós emprestam ar emproado, são depositários de uma memória e de uma oralidade de fortíssima carga cultural.

Não basta citar e tantas vezes mal, porque por aqui, também quando morre um velho, é uma biblioteca que arde.

Mas ao contrário do que ocorria no Mali e aos fulas (que se perdia quando morria um deles), aqui, se quisermos e se perdermos a sobranceria, podemos encontrar formas de salvar essas bibliotecas.

O D´a Porta Nova

domingo, 17 de novembro de 2013

Sai uma água com gás, por favor

(ou como alternativa, uma boa alternativa…um chazinho – infusão, claro – de erva de s. roberto)

Está na moda a gastronomia. E essa moda passa muito mais pela vertente da culinária, do que propriamente pela dimensão mais alargada da gastronomia.

Arreda-se a vertente cultural, da mesma forma que se arreda de outras áreas.

Cultura pode estragar o prato. Pois este confecciona-se com muita altivez e em total desprezo pelas condições sociais e económicas, assim como em perfeita negação com tradições e padrões culturais.

A culinária da moda, a que despreza a cultura e nega a gastronomia, carrega-nos de exotismos e transporta-nos para cenários irreais.

Usa-se ouro na confecção de pratos, vacas massajadas com cerveja, trufas de preços astronómicos, hambúrgueres absurdos.

Não há, ou há muito pouco, quem fale e promova a gastronomia. Que a encare e respeite como a arte de confeccionar verdadeiras iguarias com os produtos de que se dispõe e de os trazer à mesa de todos com a elegância que merecem. Regados com os bons vinhos da terra e entoados com as canções ecoadas por gerações.

Saberão os master chefes qual é o sabor do agrião selvagem? Saberão distinguir uma trufa de uma túbera? Saberão ao que sabe uma fêvera de um porco alentejano engordado a bolota com sobremesa de abóbora?

Ao que sabe uma lasca de toucinho salgado sobre uma fatia de pão recheado com uma fatia de alho regada com um tinto emborcado ao balcão de uma taberna entoada com cante alentejano numa tarde princípio de noite numa aldeia por aqui perdida?

Escrito assim, sem paragens e sem pressas, da mesma forma  como se come e como se bebe. “Gerúndiando”.  - escrevendo…comendo…bebendo…ouvindo (porque por defeito próprio, não pode ser: cantando), mas às vezes: arranhando.

Sendo madrasta a vida, os alentejanos aprenderam a dar-lhe a volta. E inventaram sopas de tomate, de beldroegas e açordas. Fizeram migas com pão e espargos. Inventaram caldos a que chamaram sopas da panela e juntaram cardo com feijão e poejos.

Ficai pois masters com os melhores do mundo que nós por aqui ficamos com os melhores da terra.

Vou beber um tintinho da Vidigueira que já vai longa a seca.

O D’ a Cozinha do Pobre

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Já não nos atuamos porquê?

 

Poderia simplesmente ter perguntado: «já não nos tratamos por tu, porquê?».

Por razões para as quais o mais certo é não haver uma razão, optei pelo uso de desusado verbo.

Mas o que importa – como sempre – nas questões que para aqui trago, é a essência e no caso, a essência, é o facto de ser hoje quase raro o tratamento por tu entre nós, que partilhamos ideais e formas de ver e interpretar o mundo. Que partilhamos vontades e percursos na ação para a sua transformação num mundo mais justo, mais solidário, mais humano. Ou seja, partilhamos partido.

Se é verdade, que sobre o uso, no meu caso concreto, sempre usei de alguma reserva (nuns casos por deferência, noutros precisamente pelo seu contrário) não é menos verdade que o seu uso era entre nós, generalizado e assumia-se como a forma de partilha, de elo.

O que poderá significar a perda deste uso?

No domingo passado, no comício evocativo do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, em mais de uma situação (aliás em muitas situações) confirmei esta alteração.

Em algumas situações, presenciei mesmo, aquele alheamento que em nós não existia, face à dificuldade do outro, por exemplo na mobilidade de um de nós já mais velho e com dificuldades físicas ou no apoio a outros, que já noite e numa cidade que não conheciam, não encontravam o autocarro para o regresso.

Senti mesmo a desconfiança, quando procurava agir, não como ajuda, mas como solidariedade.

O que é que se está a passar?

Não me respondam por favor que são os sinais do tempo, que a sociedade está toda ela assim, fechada em si e egoísta.

E não me respondam assim, porque se a resposta for essa, ainda agrava mais a minha preocupação.

Pois não somos nós, aqueles que se afirmam dispostos a todos os sacrifícios para mudar a sociedade? Não foi esse o exemplo de vida do Homem que fomos evocar no domingo passado em Lisboa?

Então?!

Transformamos ou rendemos-nos?

 

O D´a Porta Nova

domingo, 10 de novembro de 2013

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VIRGULAS

 

Para os que lhe dão tanta importância assim como para os que as consideram imprescindíveis e para todos os outros que as consideram elemento marcante para a análise dos textos sim para todos elaborei este texto e solicito que usem a vosso belo prazer as vírgulas que inicialmente vos disponibilizei porque quanto muito agora e neste texto utilizarei não vírgulas mas pontos e pronto ponto.

Gosto muito ou deverei procurar melhor sinónimo para substituir gosto e para dizer que gosto de palavras e gosto delas no seu contexto e na sua significância mas numa significância de sentidos ou seja gosto das palavras percebidas… gosto que percebam o sentido que lhes quero atribuir… que percebam os tempos e os ritmos e que percebam que estes não são marcados por vírgulas mas antes por significâncias.

Claro que gostar de palavras não pode significar que agarre nestas e destoadamente as largue por aqui e por ali… podeis crer que não eu nunca faria isso às palavras de que tanto gosto mas tomai nota que também não as usarei cadenciadas ou estropiadas sob regras esquizofrénicas de entalamentos entre vírgulas.

Para vós meus amigos puristas adeptos confessos das regras dediquei este amontoado de palavras e a vós peço que useis as vírgulas iniciais e ordenamente procurem um sentido para as palavras que aqui deixo solicitando no entanto encarecidamente que não alterem o sentido que lhes quis dar.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PRISMAS

 

O expresso, habituou, quem se habitou a tal, a ver os acontecimentos sob um determinado prisma.

Confesso que nunca fui adepto, nem da perspectiva, nem sequer do tique, que uma determinada intelectualidade, mesmo a autodenominada intelectualidade de esquerda, e os seus séquitos, lhe cultivaram.

Tempos houve em que passear sob o braço aquele volumoso monte de papel atribuía estatuto.

Agradecido, reafirmo que não, nunca fui na onda.

Pois, vem agora o expresso encubar a Praça do Giraldo a propósito do seu XL aniversário.

Bem escolhido, o XL.

Por aqui sabemos que o tamanho tem uma relação duvidosa com a qualidade, pesem embora as mais diversas e ordinárias brejeirices.

A exposição com que o Expresso comemora o aniversário, na minha opinião, é esteticamente pobre e o conteúdo, um mero destaque (tipo slogan), de alguns acontecimentos marcantes da história recente de Portugal (1973 – 2013).

O 25 de Abril tem ali o mesmo destaque (se não menos) que tem a vitória da AD.

O importante, foram os acontecimentos que negaram Abril. A esses é dado realce.

A vitória da AD, o fim da Reforma Agrária, a vitória de Cavaco, O Euro, são tudo acontecimentos de destaque e são todos acontecimentos de negação de Abril.

Podem contrapor os «expressistas»: mas foram factos e como tal…

Claro que foram factos, mas sobre eles conhecemos hoje, como sempre conhecemos, o «prisma» sob o qual o Expresso os enquadrava.

Num desses prismas, creio que num dos cubos invertidos, uma fotografia mostra campos abandonados e máquinas decrépitas e merece o título de «o fim da Reforma Agrária».

Sob o prisma do Expresso, esse fim parece ter ocorrido por falência, como se não tivesse havido quem tudo tivesse feito para que ele tivesse ocorrido.

Um pouco como, «isso falhou».

O prisma do Expresso assim trata o acontecimento.

O acontecimento consistiu num fim determinado por uma política criminosa, por uma guerra sem olhar a meios, pela repressão e assassinato.

Muitos desses acontecimentos  - verdadeiros atos de guerra – com  centenas de soldados da GNR, veículos blindados, cavalaria, armas automáticas, cercos de povoações inteiras, invasão e ocupação bélica de cidades – Évora testemunha-o –, agressões, mortes (Caravela e Casquinha) barbárie…isso não foram acontecimentos.

Acontecimento, para o expresso, só foi, a consequência disso.

E isso não trata o Expresso.

Estou ansioso de voltar a ver a Praça, sem tais prismas.

O D´a Porta Nova

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O espojinho fez (faz) anos

 

A 29 de outubro de 2009 publiquei o primeiro texto numa atitude que então defini como sendo um pouco contra senso (dada a pouca empatia com blogues, outros produtos similares da altura e inovações posteriores).

Decorreram quatro anos. Publiquei entretanto, a um ritmo que sabemos muito variável, quase mais quatro centenas de outros textos.

Com focagens das mais variadas, mas sempre com um mesmo enquadramento.

Algumas coisas mudaram. Pouco.

Trinta mil visitas de página, alguns artigos lidos por mais de 2000 pessoas (Alqueva, p.e. pub a 8.06.2010), são algumas das expressões quantitativas a realçar.

Para mim, continua a ser o que sempre quis que fosse.

Um espaço – um outro – onde registo as revoltas e estados de alma. Um espaço onde quero fazer ecoar os meus gritos mudos.

Na cidade, abriram-se recentemente janelas que não duvido, varrerão o mofo entranhado de 12 anos.

No país, continuamos amargurados por uma política de gente sem escrúpulos e com sede de vingança contra tudo o que lhes cheire a Abril.

No mundo…no mundo são poucos os vislumbres de esperança.

Pois, então.

Cá vamos.

domingo, 3 de novembro de 2013

ONDAS

 

Não há – melhor dito, quase não há – terra, terreola, vila e vilarejo que não tenha um parque de feiras e exposições.

Por vezes, recheados com os pomposamente chamados pavilhões multi uso, outras, simplesmente, meros recintos aramados.

Não será certamente, por mera influência destes novos espaços, mas a verdade é que, paralelamente a este crescimento «logístico» ocorre o definhamento das feiras.

Muitos – e preocupantemente, muitos destes com responsabilidades na gestão autárquica – dominados por uma produção de discurso homogeneizado, esquecem os valores identitários da cultura e importam soluções tipo sopa de pacote.

A Feira de S. Francisco em Redondo era bonita e atraía quando preenchia as ruas da vila desordenadamente. Agora, cercada e aramada, perdeu áurea.

A Cozinha dos Ganhões, uma primeira referência no capítulo das feiras ou mostras gastronómicas, virou mais do mesmo. Uma coisa sem raiz, sem memória, sem futuro.

Nas feiras tem que se cheirar a fritos de massa – porra frita, burrinhol, farturas - , o cheiro do frango assado tem que ser misturado com o cheiro do polvo assado na brasa. Tem que haver pó e ruas augadas.

As conversas têm de ser sussurradas porque os carrinhos, os carroceis, as rodas e outras ilusões difundem a música e os anúncios de forma estridente.

Tem de haver quinquilharias, deslumbrantes relógios que vão marcar por curto tempo os nossos dias que queremos longos, ladainhas, «abra o olho, são cinco euros», botas, sapatos, cintos, gravatas, gelados de máquina, tudo em organizada convivência anárquica.

O que fizeram às feiras, foi destrui-las.

Modernizar não significa descaracterizar.

No sábado visitei a Feira dos Santos em Borba.

Deixou de ser dos Santos (aqui, com a ajuda de Passos) e passou a ser dos Finados.

Uma Feira, mais uma, finada.

Segundo ouvi, passou a ter uma distribuição espacial policêntrica.

Só consegui encontrar parte.

Com sorte, ainda consegui comprar figos, passas de abrunho e pouco mais.

Salvem as feiras.

D’a Sopa de Pedra

sábado, 2 de novembro de 2013

Os meus demónios

Sentei à minha mesa

Os meus demónios interiores

Falei-lhes com franqueza

Dos meus piores temores

Agradeço, obviamente, a Jorge Palma, a introdução que me permite falar dos meus…

Dos meus fantasmas, obviamente.

Juntei-os à minha mesa e nada me disseram.

Não sei porque carga de águas tenho por obrigação voltar a juntá-los.

Fico quase com a sensação que vou ter que elaborar um guião.

Coisa agora em moda, quando nos querem distrair.

Esperei que o D´a Porta Nova me falasse da nova governação da minha cidade mas dele só fiquei a saber que preciso de aguardar…

Cuidado. Enquanto aguardamos, alguém se movimenta.

Esperei que o D´o Jardim de Diana me falasse dos planos maquiavélicos (coitado… de Maquiavel) com que a direita fascistóide quer destruir Abril…

Esperei até que, e já em desespero de causa, o D´a Sopa do Pobre, me trouxesse uma sugestão…uma só que fosse…sei lá…com coentros e ovos à mistura, mas …

Nada. Nada me trouxeram.

Os meus fantasmas nada me trouxeram.

Pois, sendo assim.

Assina: O Espojinho.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Eles andam aí…

Sim.

Cada vez mais perigosos…e descarados.

Quem por aqui passa, sabe que por mais que uma vez, se chamou a atenção para o facto de estar em marcha um processo de perda continuada dos valores democráticos e consequentemente, em construção, um sistema ditatorial.

Nessas chamadas de atenção referimos que os contornos dessa ditadura não seriam observáveis à luz da comparação com as práticas conhecidas e associadas à ditadura do nosso passado recente.

Não precisarão de chicote, prisões, torturas, denuncias.

Citámos Boaventura Sousa Santos e falámos daquilo que este define como fascismo social.

PSD e CDS coligados no governo estão profundamente empenhados nesse processo. Os ataques quase frenéticos que vêm fazendo à Constituição, os desafios e afrontas diários e o eco de que precisam fazer reunir (declarações de António Barreto, por exemplo) são a clara expressão dessa vontade.

A Constituição é só um dos últimos obstáculos que têm de ultrapassar…

Maioria já têm, governo já têm, presidente já têm, comunicação social amestrada já têm e os magnatas das finanças já têm tudo isto.

E nós, cada vez menos direitos…

E eles até nos podem manter o direito de expressão…desde que nos expressemos dentro das ordens estabelecidas… nada de perturbação da ordem pública!

E esta, pode ser a ideia aqui desabafada, mas o que é um facto é que ela começa a ser partilhada por muitos.

Exclusivamente por razões associadas ao espectro ideológico de partida, refiro as tomadas de posição recentes de Jorge Miranda e Freitas do Amaral. O primeiro considerou impróprios de um estado de direito os ataques dirigidos à Constituição e ao Tribunal Constitucional e o segundo alertou que, a continuarmos assim, qualquer dia estamos em ditadura.

Atentemos…

D´o Jardim de Diana

sábado, 26 de outubro de 2013

OUTONICES…

 

A chuva tem andado por aqui. Por vezes forte.

É outono, diz-nos ou procura lembrar-nos.

E esse não sei quê de outono sente-se também na forma como vamos enfrentando as agruras da vida.

Aviso vermelho para mau tempo – orçamento para 2014 – chuva forte de redução de salários, ventos ciclónicos de impostos a varrerem o país de lés a lés, demissão das funções sociais do estado, tudo isto acompanhado de trovoadas de tiques fascistóides.

E os meteorologistas de serviço, protegidos das agruras, anunciam como medidas de precaução: mais chuva, mais ventos, mais tempestades.

Um pensador a metro, que tem pensado em tudo desde que julga que pensa, que é pago em produtos de mercaria, anuncia com a pompa que lhe é habitual: «É inevitável: temos que rever a Constituição».

Claro.

Aproveitando a temática meteorológica lhe digo: «Vá pró raio que o parta!»

Por mim, aproveito o outono, asso no forno uns marmelos e umas batatinhas doces, vou procurar um sitio no campo que não esteja aramado e apanho nas terras leves os primeiros espargos.

Convido os amigos. Bebemos um tintinho e retemperamos forças.

Amanhã, ainda por cima, transformam – gente sem rosto – os dias curtos em dias ainda mais curtos e fazem com que anoiteça mais cedo.

Para que seja de novo primavera temos que passar por isto.

D´a Mesa do Pobre

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Quem suporta os custos?

 

É muito habitual ouvirmos, de quem estacionou onde não devia e foi multado, de quem excedeu o limite de velocidade e sofreu igual penalização, ou de quem conduzia e telefonava, que assim: «é uma vergonha…isto é caça à multa».

Da mesma forma se comportam os ministros e o seu chefe primeiro.

Planeiam e agem contra a Constituição e depois culpam o Tribunal Constitucional.

E fazem-no com o maior dos descaramentos.

Há dias, no México, sentado à direita do seu padrinho, afirmou o chefe: «nós tentámos por todos os meios evitar conflitos com a Constituição».

E o padrinho nem tossiu. Tentaram?!. Mas o cumprimento da Constituição não é algo a que estão obrigados e que foi objecto de juramento?!.

De igual forma fala o condutor «manhoso», ou seja, ele também tenta não ser apanhado.

Nesse mesmo dia, também foi afirmado, no mesmo sítio, só com a pequena “nuance” de, neste caso, este orador estar sentado à direita do senhor que estava à direita da parede, dizia eu que, nesse mesmo dia, esse senhor, que foi eleito para ser o garante do cumprimento da Constituição, afirmou que, em matéria de apreciação de constitucionalidade do orçamento – este ano, assim como no passado – que analisa sempre, em primeiro lugar, os «custos» e só depois, a constitucionalidade.

Julgávamos nós que a responsabilidade dele era para com a Constituição!

Mas mesmo em matéria de custos de que custos fala ele?

E quem suporta os custos de que fala?

Sem outras apreciações, vem logo à memória os subsídios de férias e de natal, subtraídos em 2012 e que o TC considerou a medida como inconstitucional.

Como se sabe, por razões que sabemos (1) quem ficou sem eles foram os  legítimos detentores do direito a eles.

Ele pode ter pesado os custos.

Só que, como sempre, quem os suporta somos nós.

(1) Ele primeiro analisa os custos…

D´O Jardim de Diana

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sim, senhor ministro.

 

Os mais pobres não estiveram lá.

E ele tem razão, porque sabe bem onde estão eles – estão no gueto social para onde ele e os seus comparsas empurram cada vez mais os portugueses.

Os pobres, que não estiveram em Alcântara:

Estiveram a trabalhar para os belmiros amigos do sr. ministro por tuta e meia abençoada - a renda da casa e a garrafa de gás assim o exigem.

Outros e outras, a lavar, a arrumar, a passar a ferro, a limpar o pó das casas e palacetes dos senhores e senhoras do tempo do tempo do sr. ministro.

Outros fazendo biscates depois de uma semana de escravidão, para acrescentar um pouco de pão na mesa da família.

Outros cavando na beira das estradas à espera que a terra lhe devolva o suor, em cenouras e batatas e temendo que a qualquer momento lhe surja uma besta berrando: «fora daqui que a terra é minha».

Outros vendendo ilusões em feiras onde vão os pobres e onde de tempos a tempos aparece o sr. ministro vendedor de banha de cobra: quando quer espoliar o voto dos pobres.

Outros retemperando-se de mais uma noite dormida sobre papelões e esticando a mão para a esmola dos outros.

Outros, porque estavam longe, fora do país, à procura daquilo que aqui não encontram: trabalho e dignidade.

Mas estavam lá outros sr. ministro.

Estavam lá aqueles que ainda não foram para o gueto.

Aqueles que o sr. ministro ainda não conseguiu pôr no gueto mas para o qual se esforça diariamente.

Estavam lá aqueles que querem assegurar a dignidade.

Os que sabem e praticam os valores da solidariedade.

Os que são homens com aga e mulheres com eme.

O sr….

O sr. devia ter tido vergonha na cara antes das baboseiras, mas pedir-lhe o impossível não abona a meu favor.

Continue com a sua caridadezinha da treta…

A mamã, as titis e os outros gostam muito de ver o menino ser assim…

D’ o Jardim de Diana

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vamos dar alguma ordem aos caos

Sendo necessário, previamente, explicar que como ordem[1] , entendo a definição de um certo rumo.

Após alguns anos de errâncias, da fidelização de amigos e certamente de partilhas, julga-se por bem proceder a alguns arranjos na casa.

Assim, surge a ordem. Que quer dizer rumo e que virá de:

D´a Porta Nova – Um amigo recente, virão comentários, desabafos e certamente algumas parvoíces sobre esta cidade onde nos cruzamos.

D’ o Jardim de Diana – Virão os comentário e desabafos dispersos. Daqueles que por ali se espraiam pelo mundo em pretensas filosofias de ocasião.

D´a Mesa do Pobre – Virão frigideiras de misturas desordenadas de sabores e disparates, adicionadas por memórias presentes e futuras.

Assina: O Espojinho, que pode estar ou não em todas.


[1] Não esperariam outra definição, pois não?. Lagarto…lagarto…lagarto.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

D´a Porta Nova

Tempos novos

Iniciam-se por estes dias tempos novos na forma de governação da minha cidade.

Uma espécie de aragem fresca nestes tempos tão negros que vivemos.

Assim se afirmam. Tempos novos.

E assim o esperam os muitos que empenharam as suas esperanças.

Será trágico. Repito: trágico. Se assim não acontecer.

Se nada de novo acontecer.

Se tudo o que acontecer, for igual ao que no velho acontecia.

Os primeiros vislumbres, agoiram.

Lenine defendia um passo atrás para ganhar as condições para dar dois em frente.

Parece que alguém anda a interpretar mal.

Não creio que recuando – voltando atrás no tempo – se caminhe em frente.

Espero que seja um mero tropeção dos primeiros passos…

Assina: D´a Porta Nova

Espantos

Vivemos um tempo em que não há lugar a espantos.

Cortam-se salários como quem corta lenha, desrespeitam-se contratos com mais à vontade com que se fala ao telemóvel enquanto se conduz, desrespeitam-se as leis, a Constituição e a dignidade de um povo e faz-se tudo isto com aquela cara de parvos, própria dos parvos que têm como adquirido de que é assim, será assim e sempre assim será.

Será?

Não haverá um dia em breve em que os nossos espantos os espantem?

Nada me espantará que esteja para breve o dia esse dia, não o dia da gloriosa madrugada – porque esse, novo, tarda - mas o dia em que os espantos nos espantarão.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

RITUAIS DE PASSAGEM

 


Para chegar a algum lugar, precisamos de passar por outro ou outros lugares.
Ah pois, assim é.
E não creio que seja necessário fazer aqui eco de um desgraçado francês que por tudo e por nada costuma ser chamado a dar ênfase teórico irónico a frases badalhocas como a que hoje aqui trago.
Assim é e creio que serão poucos os que discordarão.
E assim sendo observo  por estes dias interessantes rituais de passagem, aqui por esta minha cidade (que partilho com o mundo).
Esvaziamento de gabinetes, azias de todo o tipo, pseudo ironias de catarse .
Mas, bonito, bonito de observar é a dança dos cisnes.
Ou melhor dos patos velhos.
A essa dança, juntam-se outras aves, de ribalta algumas.
Os patos velhos, procuram dar novas cores às plumagens já descoradas por recurso abusivo ao método.
A estes juntam-se e com outros fins, mas na mesma dança, uma espécie, de pequena estatura,  canora, mas com um comportamento bizarro: enchem o peito querendo fazer-se passar por grandes.
Nestas, nas aves desta espécie, só  o que é grande, é a mania.
Comportam-se como as detentoras de todas as purezas - delas não sai gripe alguma. E  de todas as virtudes.
E os seus grasnares, são cada vez mais parecidos com os grasnares dos passarões.
Por vezes até parece que grasnam em coro.
Estou a começar a ganhar por estas, um certo azedume.
De tal forma que quase me esquecia de que os rituais de passagem de que queria falar eram os que associo  aos dias - por vezes longos - que separam os dias - por vezes curtos - de sol , calor e luz.
Os dias, que agora se iniciam e que de forma a facilitar a conversa, designo por época das chuvas.
E neles, tanto nos dourados que se projetam dos dias solarengos de princípios de outono, como nos dias cortantes de frio de dezembro ou nos dias de chuvas persistentes de fevereiro encontramos os antídotos que nos ajudam enquanto aguardamos pela primavera e pelo verão.
A natureza sabe cuidar-nos. Assim soubéssemos nós retribuir.
E cuida-nos, quando nos põe na mesa as nozes, os dióspiros, o vinho, os marmelos e gamboas, as batatas doces.
Quando nos põe na lareira os grossos madeiros de azinho com que aquecemos e fumamos os corpos.
São bons estes rituais, quando a tudo isto, juntamos amigos, conversa boa, migas e carne frita.
São rituais de passagem.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Respeitar a palavra dada

 

Agora, terminada a batalha das autárquicas, a luta continua.
Foi assim e sem que se tenha ensaiado, que  de forma espontânea  os apoiantes da  CDU responderam à saudação que Jerónimo de Sousa  entendeu por bem vir trazer a Évora.
E a luta, que tem que continuar, deve desenvolver-se em diversas frentes.
A que me motiva a deixar aqui estas notas, prende-se com a necessidade imperiosa de respeitar e fazer respeitar a palavra dada.
É condição de honra não defraudar as esperanças dos que acreditaram.
Aos comunistas - principalmente a estes - não se desculpam «variações», «ziguezagues» e outras «manobras».
Sabemos que aos outros, basta mudar de «rosto».
O PS de Sócrates não presta, substitui-se Sócrates por Seguro.
O PSD de Coelho não presta, troca-se (assim se preparam) por outro.
As  sacanices de um e de outro, ficam assim «atenuadas».
Aos comunistas, o povo não permite isso. As sacanices eventuais de um, são sacanices de todos.
Por isso e sabendo que essa é a vontade, cumpram em cada dia - em cada dia - a palavra dada.
Vai ser árdua a tarefa que vos espera.
Uma Câmara estilhaçada, sem dinheiro, atolada em dívidas, uma estrutura orgânica feita para acolher os «afilhados» e consumir em rodopios internos estéreis as energias e vontades dos que persistiram em tê-las, trabalhadores desmotivados, serviços dispersos., estratégias de estratégia nenhuma.
Ao  iniciarem, façam-no com os olhos postos no futuro. Olhar para trás, só para desminar e responsabilizar, nunca para aí encontrar soluções.
Elas aí não existem.
E este olhar em frente é condição objetiva - não é frase feita.
Ou seja, não reeditem estruturas e chefias que já mostraram a incompetência e contribuíram para que os eleitores se tenham afastado num passado não tão distante.
Tendes a maioria, usai a imaginação.

sábado, 21 de setembro de 2013

Na minha cidade tenho um governo de faz de conta

 

O governo da minha cidade, escolhido pelos meus vizinhos, alguns amigos e  restantes concidadãos é um governo de faz de conta.
O presidente faz de conta que foi eleito para ser presidente, quando na verdade foi eleito vereador.
O presidente que foi eleito presidente faz de conta que nem esteve por aqui até quase meio do corrente ano.
Os que foram eleitos a expensas dele fazem de conta agora que nem o conhecem.
Os secretários do que faz de conta que é presidente, fazem de conta que secretariam o presidente faz de conta, mas na verdade são secretários do partido faz de conta.
No intervalo, fazem de conta que gerem a cidade.
E nós passamos pelas suas ruas sujas, nauseabundas (digam-me que é exagero), por uma cidade sem cinema, sem cultura, sem emprego - perdemos mais de 1800 empregos na última década .
Numa cidade triste e acabrunhada.
E os «faz de conta»  que sempre fizeram da mentira e do embuste um modo de vida, fazem agora dela - a mentira - a sua única forma de apresentação pública.
A REFER melhora a linha e remodela a estação - a obra foi deles.
A Universidade faz obras - a obra foi deles.
As obras que há doze anos herdaram já em fase de produção - a obra foi deles.
Os encargos com essas obras …a dívida é dos outros.
E assim se apresentam.
Programa? O que é isso?
Se questionado sobre o n.º de turistas que afluem a Évora, atiram…mais de 600000. Poderiam com o mesmo desplante ter dito um milhão ou dois…
Mentir é fácil.
Falar verdade dá trabalho.
E dá trabalho porque é preciso, no que às acções diz respeito, fazer coincidir palavras com atos e no que  às meras informações se refere, precisam as mesmas de dados e de fundamentação.
Ao falar de turista, é preciso saber do que se fala.
Falar de afluência turística é preciso fundamentar .
Dou o meu contributo:
Em 2011 (O INE ainda não disponibilizou os dados de 2012) deram entrada nos estabelecimentos  hoteleiros da cidade 169 670 hóspedes.
A ONU e a OMT definem turismo como a atividade do viajante que visita uma localidade fora do seu local habitual de residência e com propósito diferente do exercício de atividade remunerada por entidades do local visitado e aí pernoita, pelo menos uma noite.
Explique então sr. Presidente faz de conta, se aquilo que o sr. afirmou foi a constatação de que existirá aqui, nesta cidade, uma dimensão gigantesca de alojamento clandestino?
E o sr. não fez nada ao longo deste anos todos?
Ah…o sr. estava a referir-se a visitantes - excursionistas - ?
Como os contou?
Vamos fazer de conta que acreditamos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

I have a dream

 

Sim. Tal como muitos outros. Eu tenho um sonho

E se partilho do sonho de Luther King e me revejo na condição de que todos os homens são iguais, também partilho de tudo o que a essa condição está ligado.
Não me preocupa se hei-de tratar o meu amigo, por negro ou por preto. E se ele me deve tratar por branco ou mestiço.
Trato-o por Pedro se esse for o seu nome e ele que me trata por Afonso, se por acaso for esse o meu nome.
Não  acalento ideias tolas de  que todos os maus estão de um lado e por conseguinte os bons estão no lado oposto e muito menos quando os lados são definidos pelas cores da pele.
Se por acaso ainda me restassem dúvidas, punha os olhos em Obama e logo as dissipava.
No sonho que partilho com o sonho um dia tido por King predomina a ideia de paz.
Da convivência harmoniosa entre todos os homens do mundo.
King condenou a guerra do Vietname (e talvez por isso, fundamentalmente por isso, tenha pago com a vida o atrevimento).
Se hoje estivesse vivo, aceitaria que a seu lado, na mesma tribuna, um que se afirma dos seus, enaltecesse enfaticamente o seu “I have a dream” ao mesmo tempo que se prepara para mandar sobre o povo sírio uma saraivada de mísseis?.  

Há sonhos e sonhos

E, muitos, hipócritas.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Exportações

 

Estamos à beira de mais exportações…de democracia.
Sob a forma de mísseis.
A exportação por via terrestre não resulta e por isso…
Lá vai bomba.
Assim foi no Iraque. Afeganistão. Libia.
Assim se preparam para que seja na Síria.
Operações relâmpago, dizem.
E sobre os sírios, o ribombar das bombas.
E a democracia veste as cores do luto.
Entoa os cânticos da morte.
E provoca o choro dos vivos.
E dizem os mandantes com um descaramento tão grande quanto a sua canalhice:
É para proteger a população civil indefesa…
E muitos mil vão juntar-se aos muitos mil já mortos.
E eis a Turquia a juntar-se à Grã Bretanha e aos Estados Unidos a exportar aquilo de que não faz uso em casa.
E a Arábia Saudita, um exemplo acabado de genuína democracia interna, também exporta democracia sob a forma de morte..
E Israel também exporta a ganância de instalar mais uns colonatos.
E o traidor das esperanças francesas junta-se ao grupo. Pobres homens que votando acreditaram que estavam mudando…
E nós…
Bebericamos uma cervejita fresquinha e ala.
E se um dia sob os nossos céus cair uma saraivada de democracia desta?

domingo, 25 de agosto de 2013

Assim pergunta Zaratustra

 

E afirmei eu conhecer  Zaratustra.
Se conhecesse…se realmente o conhecesse, não duvidaria que, tendo ele se aproximado daqui e sendo ele um perguntador crónico, pois voltaria à carga.
E eis que volta.
E pergunta, perturbando.
Não me admira mesmo nada que já tenha passado pelo que passou.
Dizem-me, que perguntar não ofende.
Ai não que não ofende.
Aturem Zaratustra e vereis.
Se ele continuar por aqui. Aturem-no. Ou então… (mas para isso ele também está preparado).
Cansado de ver quase tudo materializado em números, perguntou-me há dias porque carga de águas, tão preocupados que se afirmam com o controlo dos custos, porque não legislam no sentido de acabar com os chamados gabinetes de apoio pessoal de presidentes de câmara e vereadores.
Quantos são os funcionários dos partidos  (de todos os partidos) pagos com o dinheiro de todos?
E Zaratustra não é anti partidos (porque não é fascista) mas interroga-se (o seu crónico defeito) se o trabalho que agora é feito por secretários e afins, não poderia ser feito, por correligionários dos presidentes e dos vereadores pertencentes  aos quadros das autarquias e auferindo os vencimentos que já auferem?

Assim pergunta.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Estrangeiro de mim

 


Assim me sinto.


Procuro perceber-me e a própria linguagem se me insinua estranha, como se eu nunca tivesse conhecido os seus códigos, como se nunca tivesse havido comunicação.
Compreendo-me da mesma forma que compreendo o estranho com que me cruzo.
Ou seja. Nada conheço. Nada me conheço.
Foi Marx que disse que o homem é ele e as suas circunstâncias. Assim julgo ter dito.
E a mim parece-me que conheço melhor as minhas circunstâncias do que me conheço a mim.
É estranho este ser.
E sempre impelido para escrever sem nada saber desta arte.
Leio os outros. Oiço os outros e julgo até saber muito deles.
Mas nada sei sobre mim.

Assim me falou, um Zaratustra meu conhecido.
Contemplador de astros e sonhador.
O que terá ele mais para me dizer?
Dirá?

Centro Histórico de Évora

Nota de enquadramento: Quando se aproximam as eleições autárquicas e com elas temos a oportunidade de escolher as pessoas que queremos à frente dos governos das nossas cidades e quando, teimosamente acredito, que essa escolha por parte de cada um de nós é efetuada com base numa criteriosa análise aos programas com que essas pessoas se apresentam perante nós, eleitores, julgo importante publicar o artigo que se segue e que um amigo me fez chegar.

Trata-se de um contributo para analisar os graves problemas com que se defronta o CH de Évora, classificado pela UNESCO Património da Humanidade.

Assim o exemplo tenha sequência.

Porque senão a campanha eleitoral será uma enorme chalaça (ver, Diário do Sul , 22.08.2013 – arrazoado de um tal Chalaça – uma chalaça pegada).

 

Uma abordagem em torno da dinâmica populacional

1991 - 2011

 

Confesso que, nos momentos em que tudo parece ser analisado pela lógica dos números e de rácios construídos, cheguei a considerar contraproducente abordar a temática populacional.

De facto, eliminam-se feriados e atenta-se contra a memória histórica em nome de um rácio que se estabelece entre o PIB e cada um dos dias do ano, encerram-se maternidades e forçam-se partos à beira da estrada, por vezes em país alheio, por força de uma relação que se estabelece com base no número de parturientes por ano, encerram-se serviços públicos, carreiras de transportes públicos, estações de correio e postos das forças de segurança, sempre com base nos mesmos argumentos.

Por isso, repito, o meu constrangimento em abordar a dinâmica populacional do Centro Histórico de Évora nos últimos anos. É que, face aos números temi que se corre-se o risco de alguém propor como solução, que o mesmo seja fechado.

Imaginemos o letreiro, provavelmente redigido em Português, Francês e Inglês: «Por motivos de uma diminuição acentuada de população e consequente diminuição de receitas, vemos-nos forçados a fechar o Centro Histórico. Para qualquer assunto, toque a campainha s.f.f.»

Mas, como considero que, apesar desta perspectiva, o desconhecimento dos factos ou mais apropriadamente o alheamento sobre os mesmos,não é de certo estratégia e são mesmo razões, entre outras, para a ausência de medidas de correção da tendência e que, sem elas, o cenário irónico pode muito bem ser o cenário real dentro de pouco tempo, trago para reflexão, alguns números:

População do Centro Histórico de Évora (1991 - 2011)

 

Freguesia

1991

2001

2011

Saldo entre 1991 e 2011

St. Antão

2068

1473

1303

765

S. Mamede

2920

2170

1725

1195

Sé e S. Pedro (1)

2894

2025

1691

1203

Total

7842

5668

4719

3 163 (40,3%)

Fonte: Para a generalidade dos dados : INE - Censos 91;01 e 11

(1) Esta freguesia foi criada em Julho de 2007 e resulta da junção da anterior freguesia de S. Pedro com a parte remanescente da Freguesia da Sé, situada dentro das «muralhas» (Centro Histórico). A freguesia da Sé foi extinta e deu lugar às Freguesias urbanas «fora das muralhas»: Bacelo, Horta das Figueiras, Srª da Saúde e Malagueira.

(2) Soma do n.º de habitantes da Freguesia de S. Pedro com o resultado da aplicação de um cálculo sobre o número de habitantes da parte remanescente da Freguesia da Sé (Fonte: Anexo PDM - CME).

A perda de 3163 habitantes em vinte anos, o que representa 40,3% face à população de 1991 demonstra friamente, uma preocupante realidade. O CH esvazia-se de gentes e consequentemente de funções.

Basta percorrermos as suas ruas, becos, ruelas e praças para constatarmos «in loco» os efeitos destes «números»: casas degradadas, comércios encerrados, solidão.

E só o facto de algumas funções ainda se manterem no CH (como por exemplos, a hospitalar, a cultural1 a financeira2) a que se juntam as consequências da existência de uma Universidade (cujo campus é o próprio CH) vai contribuindo para «mascarar» o problema.

Mas os  efeitos resultantes da ainda concentração dessas funções no CH são transitórios e tem pouca expressão na dinâmica populacional.

O CH de Évora funciona com horário de escritório das nove às sete e como destino mais tardio para noctívagos em busca dos bares.

O arrendamento temporário, no CH, de casas e quartos por parte dos estudantes deslocados, sofre os efeitos da diminuição do número de alunos (consequência da grave crise económica do país e de uma política de ensino cada vez mais restritiva aos que têm pouco) e por outro lado, também de uma oferta crescente «fora das muralhas» de maior qualidade.

Os bares e os hábitos associados ao seu uso, se por um lado trazem população flutuante à noite na cidade, são por outro, factor de perturbação com a população residente envelhecida e com hábitos de vida diferentes a queixar-se das constantes violações ao seu direito ao descanso.

Não estão devidamente identificadas as causas determinantes para este êxodo populacional (verifique-se que ocorre em sentido diverso à dinâmica geral da cidade e até mesmo do total concelhio3) mas não é difícil supor como sendo prováveis: as de natureza administrativa e patrimonial; a área reduzida da maior parte das habitações; os custos de recuperação; as dificuldades de realização de obra; os acessos, as normas apertadas no uso de materiais e de construção; as problemáticas associadas ao carro (tornadas culturalmente centrais); a inexistência de profissionais habilitados à recuperação, a difusão e assunção de determinados «valores culturais», serão certamente, algumas delas.

A par da perda de efetivos populacionais, acrescem como problemas, os que derivam da estrutura etária nomeadamente os indicadores de um acentuado envelhecimento.

Estrutura demográfica da população do CH


1991 T 2001 T 2011 T

00-14 15-24 25-64 >65 00-14 15-24 25-64 >65 00-14 15-24 25-64 >65
Sé S. Pedro 373 317 1392 772 2854 164 210 922 729 2025 142 160 844 545 1691
% 13,07 11,11 48,77 27,05
8,1 10,37 45,53 36
8,4 9,46 49,91 32,23
















S.Mamede 420 360 1405 735 2920 205 241 990 734 2170 138 165 851 570 1724
% 14,38 12,33 48,12 25,17
9,45 11,11 45,62 33,82
8 9,57 49,36 33,06
















Sto. Antão 227 238 1039 564 2068 118 173 654 528 1473 124 107 672 420 1323
% 10,98 11,51 50,24 27,27
8,01 11,74 44,4 35,85
9,37 8,09 50,79 31,75
















Total CH 1020 915 3836 2071 7842 487 624 2566 1991 5668 404 432 2367 1535 4738

13,01 11,67 48,92 26,41
8,59 11,01 45,27 35,13
8,53 9,12 49,96 32,4

 

No total do CH a população com mais de 65 anos passa de uma percentagem face ao total, de 26,41% em 1991 para 32,4% ao mesmo tempo que a população com menos de 15 anos passa de 13,01% para 8,53%.

Acrescente-se que este cenário ocorre num contexto, já descrito, de forte diminuição de efetivos.

Para uma outra abordagem, haveria a necessidade de analisar outros outros indicadores nomeadamente ao nível da mortalidade, dos saldos naturais e migratórios.

Esta estrutura etária dá origem aos índices seguintes:



Indice Juventude ìndice Envelhecimento Indice Dep Idosos

Sé e S. Pedro

1991 48 207 45

2001 22 445 64

2011 26 384 54

S.Mamede

1991 57 175 42

2001 28 358 60

2011 24 413 56

Sto. Antão

1991 40 248 44

2001 22 447 64

2011 30 339 54

Total CH

1991 49 203 44

2001 24 409 62

2011 26 380 55

Assim, enquanto em 1991, a relação entre o n.º de jovens e o n.º de indivíduos com mais de 65 anos era de 49, em 2011 essa relação passa para 26. Ou seja, para cada 100 indivíduos com mais de 65 anos, existem 26 com menos de 15.

O índice de envelhecimento passa de 203 para 380 e o índice de dependência de idosos (relação entre o número de indivíduos com mais de 65 anos e os que situam entre os 15 e os 64) de 44 para 55.

Procedendo à comparação com os contextos: concelhio, regional (Alentejo sem a NUTS Lezíria do Tejo) e nacional (continente) (dados 2011):

 

Índice Envelhecimento

Índice dependência idosos

Centro Histórico de Évora4

380

55

Évora (total concelhio)

138

30

Alentejo (sem Lezíria do Tejo)

194

41

Portugal (continente)

131

29

O quadro mostra à evidência que, os valores registados no CH para os dois índices são extraordinariamente superiores, seja qual for o contexto base para comparação.

A conclusão possível para o demonstrado, quer nesta questão do envelhecimento, quer na diminuição dos efetivos populacionais só pode ser: temos aqui um problema, grave.

Vejamos em seguida sobre a perspectiva comparativa do efetivo populacional do Centro Histórico com a população da cidade.

Relação do peso populacional do CH com a cidade

  1991 2001 2011
Cidade (1) 38952 41164 42092
C. H. (2) 7842 5668 4719
Peso Relativo CH/Cidade 20,13 13,77 11,21

1.Operacionalizado através de um rácio estabelecido entre o somatório das Freguesias “da cidade” e a população que corresponde ao interior do seu perímetro urbano - cidade de facto. Tal atitude já é tomada quando dos trabalhos de caracterização que constam dos anexos à revisão do PDM, no entanto, segui critério ligeiramente diferente (que produz resultados com diferenças praticamente inexpressivas) e, considerando que o (INE - Atlas das Cidades - 2004) com base em dados dos Censos de 2011, identifica para a cidade 41164 habitantes, não só trabalhei com esse dado para 2001, como estabeleci a relação com a população das freguesias já referidas e apliquei rácio obtido (91,87) a 1991 e 2011.

O quadro reforça o que já se havia demonstrado: o esvaziamento populacional do Centro Histórico, teve neste últimos 20 anos expressão muito expressiva.

Para a análise desse processo e sem se pretender de forma alguma minimizar os factos, não podem deixar de ser considerados os factores seguintes:

Ao invés do que ocorre na zona «extra muralhas», no CH são naturalmente escassas as possibilidades de oferta de terreno para construção nova.(Anotemos por exemplo, como exceções: Edifício de St. Catarina; Convento de S. Domingos – onde se verificou um misto de reconstrução e de construção nova) e Cerca de Stª Mónica;

Por outro lado,

Não seria certamente de bom censo, esperar que a população do CH tivesse hoje níveis semelhantes aos verificados nas décadas de 60 ou 70. Os níveis de qualidade de vida e as exigências atuais são incompatíveis com a densidade populacional que então se verificava.

Ressalvadas que sejam estas duas premissas, convém não as levar em excessiva linha de consideração ou seja, partir da sua constatação para justificar o que não justificam para o todo (só para uma parte) do problema.

 

Não cabia no objectivo desta abordagem apresentar propostas ou sugerir medidas.

Pretendeu-se minimamente contribuir par o diagnóstico do problema e como se afirmou o mesmo é muito grave.

O Centro Histórico de Évora está em grave declínio e deve ser encarada com urgência terapia que estanque o problema e que tenha as pessoas no centro das suas atenções.

Por mais bonito e grandioso que seja o enquadramento paisagístico da acrópole e por mais pujante que possa estar o Templo, convém não deixar de ter presente que as cidades são a sua condição e as pessoas que as habitam.

Um Centro Histórico sem gentes a habitar as suas casas e fazer das suas ruas as suas convivências, é um espaço sem «património».

1 No essencial, por força da localização do Teatro e da generalidade das sedes de associações.

2 E já com muitas e significativas exceções.

3 Embora ligeiro, há crescimento populacional no total concelhio, diminuição no espaço rural (e no CH como estamos a constatar) e crescimento na zona de transição (Canaviais).

4Conceito operacionalizado de acordo com as referencia já aqui prestadas