sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PRISMAS

 

O expresso, habituou, quem se habitou a tal, a ver os acontecimentos sob um determinado prisma.

Confesso que nunca fui adepto, nem da perspectiva, nem sequer do tique, que uma determinada intelectualidade, mesmo a autodenominada intelectualidade de esquerda, e os seus séquitos, lhe cultivaram.

Tempos houve em que passear sob o braço aquele volumoso monte de papel atribuía estatuto.

Agradecido, reafirmo que não, nunca fui na onda.

Pois, vem agora o expresso encubar a Praça do Giraldo a propósito do seu XL aniversário.

Bem escolhido, o XL.

Por aqui sabemos que o tamanho tem uma relação duvidosa com a qualidade, pesem embora as mais diversas e ordinárias brejeirices.

A exposição com que o Expresso comemora o aniversário, na minha opinião, é esteticamente pobre e o conteúdo, um mero destaque (tipo slogan), de alguns acontecimentos marcantes da história recente de Portugal (1973 – 2013).

O 25 de Abril tem ali o mesmo destaque (se não menos) que tem a vitória da AD.

O importante, foram os acontecimentos que negaram Abril. A esses é dado realce.

A vitória da AD, o fim da Reforma Agrária, a vitória de Cavaco, O Euro, são tudo acontecimentos de destaque e são todos acontecimentos de negação de Abril.

Podem contrapor os «expressistas»: mas foram factos e como tal…

Claro que foram factos, mas sobre eles conhecemos hoje, como sempre conhecemos, o «prisma» sob o qual o Expresso os enquadrava.

Num desses prismas, creio que num dos cubos invertidos, uma fotografia mostra campos abandonados e máquinas decrépitas e merece o título de «o fim da Reforma Agrária».

Sob o prisma do Expresso, esse fim parece ter ocorrido por falência, como se não tivesse havido quem tudo tivesse feito para que ele tivesse ocorrido.

Um pouco como, «isso falhou».

O prisma do Expresso assim trata o acontecimento.

O acontecimento consistiu num fim determinado por uma política criminosa, por uma guerra sem olhar a meios, pela repressão e assassinato.

Muitos desses acontecimentos  - verdadeiros atos de guerra – com  centenas de soldados da GNR, veículos blindados, cavalaria, armas automáticas, cercos de povoações inteiras, invasão e ocupação bélica de cidades – Évora testemunha-o –, agressões, mortes (Caravela e Casquinha) barbárie…isso não foram acontecimentos.

Acontecimento, para o expresso, só foi, a consequência disso.

E isso não trata o Expresso.

Estou ansioso de voltar a ver a Praça, sem tais prismas.

O D´a Porta Nova

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