terça-feira, 30 de março de 2010

Modernos...???



Ganhem coragem e de uma vez enfrentem o vosso problema.
Tragam os bulldozers e abram alamedas, rectilíneas, rodeadas de casas rectilíneas (cúbicas), com semáforos, passagens aéreas, relva sintética em pequenos espaços ajardinados e néons, muitos néons, muitos estacionamentos, muitos automóveis…
Mandem abaixo as casas velhas, bolorentas, acabem com as ruas estreitas, sinuosas. Impludam palácios, casas senhoris e pátios.
Construam casinos, estádios, autódromos em vez de teatros e museus. (que fazer às Igrejas?)
Assumam-se plenamente Modernos.
Destruam as vossas memórias, as ruas e becos onde brincastes às escondidas. O recanto do jardim onde se trocaram os primeiros beijos.
Sejais Modernos.
Mas acabemos com esta hipocrisia.
Por cobardia, não fazemos nada disso - não destruímos as cidades, mas deixamo-las nesta triste agonia, no mais desprezível abandono e construímos novo. Construímos sempre, mais.
E as cidades definham.
Mas mesmos tristes, sujas e maltratadas recebem-nos e lembram-nos em silêncio, em tristes memórias ecoadas em conjunto com o som dos nossos passos, o vosso crime.
Os que têm memória, respeitam-vos, cidades gente e com rosto.
E sofrem convosco.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Alguém se enganou no caminho

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A formiga no carreiro

A formiga no carreiro
Vinha em sentido cantrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
(Zeca Afonso)

Nesta inconstância destes textos inconstantes regresso a casa.
À cidade que me adoptou e a que hoje chamo de minha.
Uma cidade, austera, seca, pouco dada a espontaneidades , mas que sei hoje: autêntica.
E não são bons os ventos que a fustigam, aliás se fossem bons, não a fustigavam, acariciavam-na numa suave aura.
Enquadrável numa perspectiva inexplicável de renegação do património cultural, procuram os excelentes senhores que lhe gerem o destino, fechar o novel museu do artesanato e instalar nele, uma mostra de um coleccionador privado, de design.
Não valorizemos, nem desvalorizemos as diferentes expressões artísticas.
A Arte é plural.
Mas é necessário este duelo? É necessário que um morra para que o outro vingue?
Não existem, disponíveis, numa cidade cada vez mais vazia, outros espaços?
Não gosto de ver esta cidade como palco de semelhante duelo.
Ela é também plural.
Esta medida, parece enquadrar-se numa aversão geral para com as questões patrimoniais, que se expressa no poder instalado.
Prá frentex, propalam, que o património é coisa do passado.
Claro, património é coisa do passado e no futuro que construímos assim queremos que continue a ser.
Mas como é que alguém pode insinuar que sabe para onde quer ir e falar-nos de futuro, se não sabe sequer de onde veio?
O património desta cidade é a consciência colectiva adquirida da importância do seu Património.
Sabemos de onde viemos e para onde queremos ir.
Enganámo-nos foi no caminho (alguém se enganou), mas vamos corrigir.

sábado, 27 de março de 2010

Dicionários



De forma a permitir uma familiarização mais rápida com determinados conceitos e tendo por adquirido que cada ciência desenvolve no seu âmbito uma linguagem própria, existem por isso diversos dicionários temáticos.
Não é propriamente sobre eles que me quero pronunciar, mas sobre a necessidade de rapidamente alguém poder contribuir para resolver grave lacuna que impera sobre o discurso dito económico e que baralha a percepção.
Gostaria muito de ver previamente clarificados os próprios conceitos de:
Economia;
Finanças
Especulação financeira
Julgo existir aqui uma grande miscelânea de entendimentos, que pode conduzir à apreciação e valorização do supérfluo e à subestimação do essencial.
Confesso que ler jornais ditos económicos é por vezes tarefa agradável. Não sei explicar, mas que é divertido, isso é.
A adaptação da linguagem económica a outras áreas do conhecimento é interessante.
Por esta razão, comecei por falar de dicionários, porque penso que para o caso, têm que ser abertas sub temáticas:
Por exemplo:
De ordem geográfica:
PIIGS – (referem-se, e maldosamente, a): Portugal, Irlanda; Itália; Grécia e Espanha.
BRIC – (referem-se, e aqui elogiosamente, a:): Brasil; Rússia; Índia e China.
RTS – (referem-se a:) Bolsa (aquele jogo tipo monopólio) da Rússia.
Changhai Composite - (idem) da China
Hang Seng – (idem) de Hong Kong
E muitas outras, Dow Jones; PSI (espectáculo, é a de Portugal)

Convém reter esta informação, porque sou levado a supor que ela vai ser mais útil no futuro (próximo) do que saber que países ficam na Península Ibérica, ou qual a capital da Mauritânia.
Nas ciências ocultas incluem-se expressões do tipo:
Mercados sem paciência;
Mercados obrigam lideres;
E isto, porque ninguém sabe o que são… «mercados», se coisa abstracta, se real, se com forma de gente ou de bicho.
É um pouco como «crise».
É omnipresente (em termos de distribuição geográfica) e omnipotente - embora as suas vítimas sejam sempre as mesmas - e por isso parece ter estatuto de deus.
Um estranho deus que dizem querer banir(todos afirmam querer combater a crise), mas que lhe é sempre de grande uilidade.
Estranho e diabólico pacto.
Aguardo os contributos

terça-feira, 23 de março de 2010

Um cento



Conforme havia anunciado hoje vou abrir as portas para coscuvilhar um pouco das intimidades do «espojinho»
Atinge-se assim o 100 texto publicado.
O que começou por ser uma coisa experimental, desenquadrada dos picos de moda e que tinha como razão a necessidade de, de alguma forma me pronunciar sobre as minhas (e de muitos) apoquentações, constitui-se agora como mais um factor para dúvidas, ou mesmo para a dúvida essencial: que fazer?
Confesso que este é um exercício mais exigente do que o que havia imaginado e acima de tudo pesa pelo solidão e pelo silêncio que impõe, embora saiba que é crescente o número dos que ouvem o ruído dos meus silêncios.
Alguns números: 900 visitas de mais de 26 países. 320 visitantes (sei que alguns de forma muito fugaz).
Não esperava.
Para os que o têm seguido, decerto se aperceberam que se subordina a uma orientação mais determinada por reacções emotivas do que propriamente por uma determinada temática, embora pesem temas políticos, económicos e os enquadrados numa determinada perspectiva das ciências sociais.
Quem sabe o que é e já viu um espojinho, sabe que é difícil prever-lhes rumo e duração.
Aproveito este texto para prestar uma informação

Simplex

Em 2008 alteraram regras várias sobre as cartas de condução e publicaram legislação para o efeito. Foi simples, pois já se trabalhava simplex.
Tão simplex que eu, que não me considero propriamente um fora da lei, me apercebi hoje que já há algum tempo sou um …
Além de não me considerar tal, tenho ainda boa opinião (veia narcisista) sobre o meu nível de informação geral.
Mas pelos vistos não foi suficiente.
Para ajudar algum amigo tão incauto como eu informo (isto é serviço público) que as cartas de condução (B) devem ser renovadas quando perfazemos 50 anos (depois aos, 60; 70 e depois de 2 em dois anos) independentemente da validade que tenha na carta actual.
Se perfez 50 antes de 1 de Janeiro de 2008 então só renova quando completar os 60.
Se deixar passar dois anos sobre a data em que deveria proceder à renovação… inscreva-se numa escola de condução e candidata-se à obtenção do título. ..
Não teria sido muito dificilex terem informado, não é?
Mas sabemos que a informação não é amiga, prejudica, porque…informa e cidadão informado é cidadão avisado.
E disto anda o poder (e vizinhos) avisado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Qual é a coisa qual é ela?




Que afirmando uma coisa a nega. Que diz tratar de alhos, mas só fala de bugalhos.
Que se dá ares de entendedora em ciências diversas e que se aloja no seio de uma que destrói.
Que fala em ciclos e em depressões.
Que uma vezes parece dominar as ciências médicas e logo de seguida dá ares de entendida em meteorologia.
Que tem estrelas sem luz própria, mas que brilham (como em nenhuma outra área se conhecem) com grande intensidade (por reflexo dos holofotes).
Posso, procurar dar uma ajudinha … é muito dada a, inevitabilidades…
E mais ainda, a certezas gerais e absolutas.
Estranha ciência…
Os seus gurus, passam muito do seu tempo em palestras, são muito bem pagos e ninguém, incluindo muitos deles, sabem muito bem o que fazem.
São convencidos e repetitivos, mas muito coerentes:
Os seus ensinamentos - construções teóricas de grande densidade - giram em torno de três questões centrais:
Aumentar impostos
Diminuir os salários
Flexibilizar o emprego (destruir).

A ordem de aplicação é aleatória, com excepções pontuais provocadas pelo clima.
Os gurus endeusam-se, julgam-se insubstituíveis e protegem a espécie, embora se tivessem já registado aqui algumas excepções, mas sempre para defender… a espécie e o seu habitat.
São muito dados às questões transcendentais.
As crises vem de nenhures, não têm pai nem mãe.
O mercado é uma divindade que nenhum sabe definir mas que invocam por tudo e por nada.
Sobre este, é habitual ouvirmos: hoje está muito volátil, ou (usando por vezes o plural) hoje estão muito nervosos e identificam rapidamente uma causa para o nervosismo.
Abrem em alta, abrem em baixa, são de marés.
O que é conhecida, sobejamente e tristemente conhecida, é a mole imensa das vítimas destes brincalhões.
Qual é então a coisa?

sábado, 20 de março de 2010

Esquerda, Direita



«não é só uma questão de saber onde se sentam, é acima de tudo uma questão de saber como se comportam»

Para breve, quando completar o 100.º texto (ou post?) prometo uma análise introspectiva ao espojinho.
Dispensados estarão os psicanalistas (com todo o respeito por todos os que se movem neste campo), mas convocados estão todos os amigos que, em silêncio, e por vezes com dúvidas, têm acompanhado estes gritos mudos.
Tenho a certeza que alguns, perante a ambiguidade que a síntese obriga, já se terão interrogado sobre a verdadeira natureza deste escrevedor, já que por vezes, parece que ressaltam dúvidas sobre o verdadeiro sentido de alguns textos.
Garanto-vos - é mesmo só aparente.
Resulta muito da minha preocupação com o plano das ideias - com a teoria - esse instrumento prático indispensável no pensamento marxista.
Podeis ir por aqui com segurança para a percepção do que procuro dizer.
E é por aí que sigo.
Declarações recentes, vindas do interior do PS, parecem responder a dúvidas que aqui já havia expressado e que em suma se consubstanciavam na expressiva apatia ou mesmo concordância com que todos, neste partido que se empertiga de esquerda, aceitavam e mesmo apadrinhavam, tão vergonhosa política de direita.
Tendes de ser pragmático - parece que oiço alguns. Já não existem esquerda e direita e por isso,,, nós somos pragmáticos.
Mas, existem. Esquerda e direita. E o PS de Sócrates (e de outros) é de direita.
Mas o que diferencia, em um entender, esquerda e direita?
A primeira pelos valores humanitárias que defende, por entender a economia como meio para o bem estar e felicidade de todos, por defender o diálogo e a sã convivência de culturas, por acreditar na paz e no diálogo como meio para a resolução de divergências e conflitos, por entender a cultura como traço distintivo dos povos, por respeitar o ambiente.
A segunda por incentivar ao individualismo e ao salve-se quem puder, por colocar a economia ao serviço de alguns - poucos - em detrimento de todos os outros, por ser arrogante e não poucas vezes xenófoba e racista, por considerar a via belicista como caminho par a resolução dos conflitos, por entender a cultura nas suas perspectivas bacocas, não como identidade, mas mais como produto que importa impingir - para neutralizar as vontades próprias.
Porque acredito que há esquerda e direita.
Porque vejo, sinto e me revolto contra esta política que é de direita.
Eu sou, naturalmente de esquerda. Convictamente e procurando que ideologicamente fundamentado.
E acredito que muitos (ou alguns) no interior do PS também o são.
Espero (amos) mais sinais.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Coisas soltas… ou talvez não

Hoje, sem imagem...soltou-se!

Tiros nos pés

Dando uso à linguagem bélica que tanto gostam de usar alguns fazedores de noticias e de opinião, assistimos nos últimos dias a uso com muita profusão da expressão: «o PSD deu um tiro no pé » - a propósito da não menos famosa «lei da rolha» e constatamos que o tiroteio promete continuar e que muitos pés vão ser atingidos. Narciso Miranda promete revelações sobre as recentes expulsões a que o PS procedeu muito recentemente. Acrescento da minha autoria: «Quem tem telhados de vidro…».
Ontem já aqui havia alertado para esta possibilidade.

PS entrou numa deriva à direita

Afirma João Cravinho no mesmo dia em que Paulo Pedroso afirma que se sente feliz por não ser deputado com este PEC. Falta saber se sente feliz com este PS que o produziu.

Uma questão de abrandamento

Estupefacto li: «Desemprego abranda mas atinge valor mais elevado de sempre» se não tivesse abrandado não o teria atingido?

Uma simples questão semântica?

As primeiras e últimas eleições livres na Alemanha do Leste (18 de Março de 1990). Fugiu-lhes a boca para a verdade?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Partidos


Para quem tem seguido estes textos, envoltos neste espojinho que por aqui sopra desde os finais de Outubro do ano passado, não é novidade a minha curiosidade sobre os processos de formação de opinião.
E por isso, volto de novo ao tema.
É actual a controvérsia sobre a liberdade garantida pelos partidos aos seus militantes. A este propósito caiu que nem sopa no mel a deliberação do ultimo congresso do PSD que alguns (carentes de manobra de diversão) denominaram de lei da rolha. Considero que a adesão a um partido, implica a alienação de parte da liberdade individual, o acto de adesão livre deve pressupor esse facto. Não é expectável que a adesão a um partido possa englobar a livre decisão de votar em quem entender. Quem o queira fazer tem duas possibilidades: não aderir ou demitir-se caso já tenha aderido.
Este entendimento não pressupõe nem engloba a aceitação de comportamentos tipo ditatorial, mesmo que estes ocorram no seio dos conclaves partidários. A liberdade de participação deve estar garantida nas fases de discussão, preparação e tomada de uma decisão mas não se deve perder a noção de que a construção de uma «ideia colectiva» implica o abandono de «ideias individuais».
Assim e dando a dimensão menor à questão da lei da rolha - todos os partidos - de uma ou de outra forma a aplicam, centro a minha preocupação num outro facto, esse sim, a que atribuo importância crucial: como é possível aceitar, militar e defender um partido que na sua actividade prática tudo faz contra elementares direitos de muitos dos seus apoiantes?
De forma mais directa: como é possível aceitar, militar e defender um partido que por força da sua actuação governamental nos força à greve, às manifestações e a outras formas de luta?
É que esta contradição não é só a negação da liberdade individual, mas mais do que isso, é a violentação da nossa condição social.
Dizem-me que os partidos são hoje interclassistas, não ideológicos e como tal enquadradores destas contradições . Se assim é, para que servem?
Evidentemente que quem difunde estas ideias (e têm-no feito com muita eficácia e eficiência) se situa num quadro de referências políticas e ideológicas de muita proximidade, que alguém designou como o «centrão»,.
Os partidos, embora alguns publicamente o neguem, são construções ideológicas de matrizes diferenciadas.
Abreviando concluo: o que há é muito boa gente (pelo menos na hora do voto) que ainda não percebeu ou se deixou iludir, ou já não tem capacidade de discernir, que aqueles a quem dá o seu voto, o vão usar contra si.
Eis o desgraçado resultado.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ouvimos e não queremos acreditar



Depois de um bonito jogo de futebol, ainda sentado no sofá e de rompante, como se no último minuto dos descontos um penalti viesse alterar o rumo de um apuramento, o pivot do jornal televisivo anuncia-nos que a PT atribuiu um milhão de euros de prémio ao seu ex executivo Sr. Rui Soares e a REN 250 mil euros ao Sr. Penedos. isto um pouco antes de sermos esclarecidos que com o PEC, os rendimentos superiores a 500€ mensais serão tributados anualmente, em matéria de IRS, em mais de 100€, podendo chegar aos 700€.
Estamos a falar de rendimentos e salários (a maioria dos quais vão ser objecto de congelamento) que abrangem um universo bastante abrangente dos trabalhadores e famílias dos portugueses.
Perante o escândalo, nem importa muito procurar identificar a natureza das empresas citadas, ou seja se o seu estatuto é público ou privado.
O que é público é a gritante brutalidade das medidas.
A que século correspondem estas atitudes?
Que gestores são estes? De que rasgos de génio são dotados para merecerem (???) estas principescas mordomias?
Uma coisa sabemos, quem decide e quem aceita, não tem um pingo de vergonha.
Os trabalhadores sem trabalho, os jovens explorados a prazo, os que auferem salários de miséria, os pensionistas sem dinheiro para os medicamentos são ofendidos por esta gente.
E são estes e outros similares que aplaudem o PEC, que agridem a dignidade dos funcionários públicos (não a dos rapazes nomeados), que culpam os desempregados pelo desemprego, que vão cortar nas paupérrimas contribuições sociais dos mais desfavorecidos.
Tenham (pelo menos) vergonha porque outros atributos éticos e morais não nos atrevemos a pedir-vos.

domingo, 14 de março de 2010

O fim do Inverno e o bailinho mandado




A fazer fé no calendário o Inverno estará de malas aviadas.
Os últimos dias parecem confirmar essa despedida.
O sol tem brilhado e a chuva deu-nos algum merecido descanso.
Há até quem já tenha visto as andorinhas.
Mas será?
Eu não consigo vislumbrar esses sinais de melhoria do tempo.
É que duns lados chove e de outros faz vento
Uns, PECam na tecla da contenção salarial, do aumento dos impostos sobre os rendimentos do trabalho (sobre as mais valias bolsistas deve-se aguardar…) e advogam a retirada de contribuições sociais.
Outros, EsMAFRAm sobre as mesmas medidas apresentando-as com diferente papel de embrulho.
E vão-nos embrulhando.
Ora agora canto eu, ora agora cantas tu (quando não é, cantas tu mais eu) e o baile mandado continua.
Esteve mesmo, num desses bailes, o verdadeiro mestre dos bailinhos mandados, vindo de uma região que tem agora vontade de tudo, menos de bailinhos, mandados ou não.
E foi um fartar minha gente. Horas seguidas em tudo o que é canal ou páginas e páginas em tudo o que é papel.
Noticias, pseudo noticias, fait divers, folclores, perdões e recusas, sento-me ao pé deste que é mais jeitosinho, claques, apupos, poliglotas, a vidinha contada desde pequeninos, água não quero ainda se fosse um copo de vinho… para concluírem e decidirem com a solenidade de um congresso… que é proibido dizer mal dos chefes nos sessenta dias antes das eleições.
Nos seguintes… tudo bem.
E depois querem que levemos a sério…
Que tomemos consciência da gravidade que o país atravessa…
Que não pensemos em greves, essas coisas antiquadas, e pensemos unicamente em trabalhar para salvar a pátria.
Acredito que mais cedo que tarde, a mole imensa da gente que acertadamente diz que é tudo a mesma coisa acerte e perceba que o tudo, não é o todo.
Tudo, é o conjunto dos que alternadamente têm comandado este bailinho mandado.
Todo, é o conjunto da diversidade que compõe a sociedade humana, na qual encontramos um leque crescente de homens e mulheres que sabem que as coisas não podem continuar eternamente assim e que agem e lutam para que mudem.
Afinal, parece que a primavera está quase aí.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Alienação




Talvez a propósito de uma propositada sondagem que hoje veio a público, renovei a vontade de escrever sobre alienação.
Obviamente tendo Marx como referencia, ou pelo menos assim o procurando.
Falei em renovação de vontade porque, a vontade primeira, surgiu quando da verificação dos níveis de adesão à greve geral da função pública.
Deixando de parte a grosseria e reacionarice dos números apresentados pelo governo e cingindo-me aos números reais, é fácil constatar que mais de 100 mil trabalhadores da administração pública não fizeram greve.
E cheguei a esta conclusão, admitindo um universo de 500000 trabalhadores e aplicando as taxas de adesão que os sindicatos difundiram (80%).
Todos nós conhecemos alguém que não fez greve.
E não fizeram, não porque considerassem não haver razões para a sua concretização, mas porque, na grande maioria, já não são senhores de si.
Variadas razões os afastam da capacidade objectiva de julgar.
É um erro e constata-se que muitos dirigentes sindicais caiem frequentemente nele ao considerar que a dimensão dos problemas é por si só suficiente e catalizador da vontade para a luta.
Muitos já não são capazes de reagir. A luta já não é caminho que sejam capazes de escolher.
A este propósito recordo de alguém me ter dito - há alguns anos - que se a fome fosse condição para a luta, o que não faltaria seriam revoluções por esse mundo fora.
E é crescente o número dos que falam das telenovelas e dos seus enredos, conhecem as peripécias ao minuto de cada jogo de futebol que viram no canal por cabo, sabem da família carreira todos os pormenores, veneram tudo o que é doutor ou similar e que de si próprios têm uma noção pouco clara.
E uma vontade cada vez mais fabricada e cada vez mais distante do seu âmago.
Em pleno período eleitoral recente ouviu-se de alguém, num espaço público desta cidade: para pobre já basto eu, quanto mais ir dar o meu voto ao partido dos pobres…
Não me espantam pois os resultados da sondagem que agora veio a lume.
É longa a jornada…

quarta-feira, 10 de março de 2010

De que século é a soberba?




Um senhor administrador - deverei dizer CEO? - de uma empresa pública, declarou hoje solenemente que as greves são coisas do século passado.
Não tão velhas assim, já que o novel só tem 10 (ou 9?) anos, apraz-nos dizer como primeiro comentário.
Se vamos datar, datemos então.
Quantos anos tem a mentalidade do dito senhor? Prefere medir em séculos? Em que século começamos?
E ainda por cima anda distraído. Antes dele, muito antes, ainda mesmo no século passado, já outros figurões haviam dito o mesmo.
Confundem vontades com as realidades.
Demos então a primazia aos factos em detrimento das datas.
Quem se julga esta celebridade? De que dotes se julga dotado? Ele e muitos outros da mesma estirpe.
Administram o dinheiro que não é seu.
Os prejuízos são pagos com a miséria dos outros.
E vivem principescamente.
Têm prémios que ofendem e salários que agridem.
Motoristas, secretárias e cartões de crédito.
Porquê e para quê?
A obra está à vista. É um fracasso.
Mas eles julgam-se superes.
Bernie Madof diz-lhes alguma coisa?
Talvez. Mas querem esquecer não é?
Talvez lhe tenham entregue também um pouco da vossa ganância.
Ponha-se no vosso lugar e desçam dos pedestais que vocês próprios criaram.
Só são deuses no vosso imaginário.

terça-feira, 9 de março de 2010

Crise?




CGD; BCP; BES; Santander/Totta e BPI obtiveram em 2009, 1700 milhões de euros de lucros - 4,7 milhões por dia.
EDP mais de 1000 milhões de lucros em 2009.
PT 683,9 milhões de euros de lucros no mesmo ano
OCDE apresenta indicadores de recuperação económica.
De que crise nos falam?
Talvez da crise que sentimos.
A crise é o desemprego.
665 mil portugueses no desemprego.
Quatro milhões em Espanha.
Vinte e dois milhões e novecentos e setenta mil na Europa a 27.
Talvez por extenso se tenha uma aproximação mais real ao drama.
Esta é a verdadeira crise.
Ela visou unicamente destruir direitos sociais e criar um exército de mão de obra barata e submissa.
À qual se somam os que tendo trabalho, vivem em situações de pobreza extrema
Só em Portugal calculam-se dois milhões de pobres.
Como é possível que neste quadro haja homens que têm o descaramento de falar em congelamento de salários e na diminuição das contribuições sociais?
Que nos dizem que não aumentam impostos e que nos forçam a pagar mais IRS.
Que homens são estes?
Que se albergam sob bandeiras que antes foram vermelhas e se dizem socialistas?
Que ostentavam Marx nas fotos de honra das suas sedes.
Que esperam estes das suas vitimas?
Julgam eterna a esperteza bacoca? Julgam mesmo que o exercito de alienados lhes permitirá o domínio eterno?
Julgam que podem continuar a fazer roncar os seus ferrraris sobre a mole imensa de desempregados e miseráveis que geraram?
Mas não leram Marx, citaram-no vezes sem conta, mas não o leram.
Ou se leram, não compreenderam (coitados) que será no âmago das contradições internas do capitalismo que este se afogará.
Esse dia chegará.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia da Mulher



Faz sentido, por muitas e actuais razões que se comemore o Dia da Mulher.
Dizem-nos alguns que os princípios a ele subjacentes devem estar presente todos os dias e não apenas a 8 de Março.
É verdade, mas também é verdade que os princípios subjacentes à liberdade devem estar presentes todos os dias e tal não invalida a nossa Festa (de homens e mulheres) a 25 de Abril de cada ano.
E de igual forma no 1.º de Maio - a Festa e luta de homens e mulheres pela dignidade no trabalho.
Porque ser mulher ainda significa mais descriminação e mais baixos salários, mais desemprego e menos oportunidades, faz todo o sentido este dia que lhes é dedicado e ao qual estão associadas muitas lutas de gerações de homens e mulheres no combate à descriminação e pela dignidade.
Aos que, homens ou mulheres, fazem deste 8 de Março mais um dia de luta um fraterno abraço e a reafirmação de que, tal como nas greves, nas manifestações e em todas as lutas, fazemos juntos também esta caminhada.
Aos que, homens e mulheres, trocam flores sem sentido, frases patetas e marialvices diversas a propósito (assim julgam) do dia da mulher remetemos também uma saudação na esperança e com o objectivo de contribuir para poderem perceber, mais cedo que tarde, que este é um Dia de Luta.

quinta-feira, 4 de março de 2010

GREVE




Os resultados da greve ficaram abaixo das expectativas diz-nos sem corar, o senhor secretário - de estado - dizem, mas que é mais do estado a que isto chegou.
De que expectativas fala o personagem? Das suas, certamente.
É uma tristeza ver que nem nisto são diferentes.
Sempre a mesma conversa das adesões diminutas.
Estranho mesmo porque não falam de uma mole imensa de funcionários públicos cantando hinos de louvor à sua política e passeando em ombros o grande líder.
Talvez porque ele não está, só por isso garantidamente.
Porque fiz greve, tive tempo para reflectir um pouco sobre a «coisa pública». E concluí que quem orquestra medidas como as que foram tomadas por este governo só pode ser um grande ressabiado com a função pública, alguém que deve ter concorrido e que não obteve classificação suficiente nem demonstrou capacidades suficientes para isso - ao olhar para alguns dos projectos de obra que por razões outras vieram a público dá para perceber claramente o porquê.
A obra ressabiada traduz-se pela destruição das carreiras (agora estamos todos integrados em 4, a saber: Técnicos Superiores; Coordenador Técnico; Assistentes Técnicos; Assistentes operacionais).
Nos técnicos superiores, integraram mesmo os que não o eram e os não detentores de formação superior (que importância tem o canudinho, não é?).
Coordenador técnico é o novo nome (mais pomposo) para os Chefes de Secção).
Assistente técnicos, inclui uma panóplia de quadros técnicos intermédios e os anteriores assistentes administrativos.
Nos assistentes operacionais integram-se todos os outros.
Parece uma simples e disparatada brincadeira, mas não o é. Antes, cada carreira tinha o seu conteúdo funcional definido, sabia-se o que esperar de cada um.
Agora, de cada um, espera-se o que o chefe determinar - acima de tudo espera-se que seja servil.
Para completar essa nova «funcionalidade» - «ser servil» criou-se o SIADAP que a premeia.
Para garantir a neutralização dos que não aceitem esta nova funcionalidade, tratou-se de assegurar que a segurança no emprego fosse transformada em contrato, que os quadros de pessoal fossem transformados em mapas anuais de pessoal e - qual cereja - inventaram mecanismos de mobilidade (para o desemprego, devagar e docemente)-
Mas a função pública também é quintal para arrumar amigalhaços e filhos de amigalhaços e é ver as lufadas de gente que para aí enviam - quem lhes paga os salários acabamos por ser nós todos .
Claro, estes hoje foram trabalhar.
E a função pública é também espaço apetecível para quem não quer deixar migalhas por abocanhar. Escolas, Hospitais, fornecimento e distribuição de água, limpeza pública, transportes e …tudo, pode ser privatizado. Tudo pode dar lucro.
E esse lucro será ainda maior, se o trabalho for prestado por trabalhadores sem direitos.
E uma função pública sem direitos é uma condição para empregar sem direitos.
É pena que por vezes, nem todos os trabalhadores, tenham disso consciência.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Foi feio de ver pá




Confesso que apaguei por completo o texto que já havia escrito sobre o encontro de hoje entre Sócrates e Jardim.
Resumo numa frase plagiada o que havia escrito: foi feio de ver pá.
A bóia a que se agarram, desesperadamente, está marcada com a dor de muitos.
Tenham um pingo de bom senso.
Adiante então.
O Público de hoje apresenta-nos algumas notas a propósito do estudo «Representação política - O caso português em perspectiva comparada, organizado por André Freire e José Manuel Leite Viegas.
Conclui o articulista (Nuno Simas) e não fica claro se os autores do estudo partilham da mesma ideia, que a satisfação dos portugueses com a democracia bateu no fundo.
Apresenta como fundamento para o facto, a tendência de esquerda que fica perceptível por parte dos entrevistados, o não gostarem de maiorias absolutas de um só partido, não gostarem do monopólio dos partidos e de se terem manifestado adeptos de uma maior participação.
Pela minha parte tenho algumas dificuldades em aceitar estes indicadores como expressão da diminuição de confiança dos cidadãos na democracia e irei aprofundar se os autores tiram esta conclusão.
Julgo mesmo que, a aversão a maiorias absolutas de um só partido, a critica à forma monopolizada com que alguns partidos entendem a vida política, bem como a recusa à negação ao direito de participação, se constituem antes, como expressões de vitalidade democrática.
Irei pois aprofundar que causas apresentam os autores do estudo para a comprovada insatisfação dos cidadãos para com o funcionamento democrático. A natureza comparativa que ressalta do título, é também factor de curiosidade. Estarão mais ou menos confiantes na democracia os portugueses ou os italianos, por exemplo?
Como interferem na formulação deste valor, os problemas económicos. Como avalia o funcionamento da democracia o cidadão desempregado? Ou o cidadão com baixos salários?
Devem ser expressivamente diferentes as opiniões entre os que têm emprego e salário e os que sobrevivem com as parcas contribuições da segurança social.
Não me parece que se possam constituir como factores de fortalecimento da confiança na democracia por parte dos cidadãos, as situações de pobreza e de pobreza extrema com que se confrontam dois milhões de portugueses.
Assim como julgo que este circo permanente de casos, denuncias, escutas, faces ocultas, frees quaisquer coisa, canudos e projectos, tvi e jornais de sexta, Mário Crespo e outros, se possam constituir como bons tónicos para o fortalecimento da confiança na democracia por parte dos cidadãos.
E que contributo podem dar o rol de promessas não cumpridas?
E as dramatizações em torno das finanças regionais e as sequentes expressões de cara de pau do ministro que no mínimo todos esperariam que se demitisse?
Vou seguir com atenção o estudo anunciado.