quarta-feira, 17 de março de 2010

Partidos


Para quem tem seguido estes textos, envoltos neste espojinho que por aqui sopra desde os finais de Outubro do ano passado, não é novidade a minha curiosidade sobre os processos de formação de opinião.
E por isso, volto de novo ao tema.
É actual a controvérsia sobre a liberdade garantida pelos partidos aos seus militantes. A este propósito caiu que nem sopa no mel a deliberação do ultimo congresso do PSD que alguns (carentes de manobra de diversão) denominaram de lei da rolha. Considero que a adesão a um partido, implica a alienação de parte da liberdade individual, o acto de adesão livre deve pressupor esse facto. Não é expectável que a adesão a um partido possa englobar a livre decisão de votar em quem entender. Quem o queira fazer tem duas possibilidades: não aderir ou demitir-se caso já tenha aderido.
Este entendimento não pressupõe nem engloba a aceitação de comportamentos tipo ditatorial, mesmo que estes ocorram no seio dos conclaves partidários. A liberdade de participação deve estar garantida nas fases de discussão, preparação e tomada de uma decisão mas não se deve perder a noção de que a construção de uma «ideia colectiva» implica o abandono de «ideias individuais».
Assim e dando a dimensão menor à questão da lei da rolha - todos os partidos - de uma ou de outra forma a aplicam, centro a minha preocupação num outro facto, esse sim, a que atribuo importância crucial: como é possível aceitar, militar e defender um partido que na sua actividade prática tudo faz contra elementares direitos de muitos dos seus apoiantes?
De forma mais directa: como é possível aceitar, militar e defender um partido que por força da sua actuação governamental nos força à greve, às manifestações e a outras formas de luta?
É que esta contradição não é só a negação da liberdade individual, mas mais do que isso, é a violentação da nossa condição social.
Dizem-me que os partidos são hoje interclassistas, não ideológicos e como tal enquadradores destas contradições . Se assim é, para que servem?
Evidentemente que quem difunde estas ideias (e têm-no feito com muita eficácia e eficiência) se situa num quadro de referências políticas e ideológicas de muita proximidade, que alguém designou como o «centrão»,.
Os partidos, embora alguns publicamente o neguem, são construções ideológicas de matrizes diferenciadas.
Abreviando concluo: o que há é muito boa gente (pelo menos na hora do voto) que ainda não percebeu ou se deixou iludir, ou já não tem capacidade de discernir, que aqueles a quem dá o seu voto, o vão usar contra si.
Eis o desgraçado resultado.

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