terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Greve Geral continua nesta agenda...



Porque por aqui não se obedece a uma agenda «mediática» em cujo processo não sabemos se a agenda corresponde ao ritmo determinado pelos acontecimentos ou se à intenção de esta determinar os acontecimentos, volto à Greve Geral.
E volto por força de um artigo hoje publicado no Público, assinado por Miguel Gaspar e sob uma rubrica denominada «uma linha a mais», (julgo que serão mais…). É, apesar de tudo, um artigo interessante e com o mérito de fugir aos jargões habituais nos cronistas de serviço ao status quo.
Retive a afirmação de que foi inegável que foi uma grande Greve Geral, mas que não conseguiu capitalizar todo o descontentamento que existe em Portugal.
Tem razão o cronista, em parte, pois se capitalizou ou não, nem ele, nem ninguém o sabe. Mas sabemos e daí a razão parcelar que nem todos os descontentes puderam expressar o seu descontentamento fazendo greve.
Os reformados, os estudantes, os milhares de trabalhadores a recibo verde, os comerciantes e pequenos empresários, os militares e agentes das forças policiais, os trabalhadores com profissão liberal, os desempregados, entre muitos outros, não puderam manifestar o seu profundo descontentamento.
Não o puderam fazer através da Greve, mas muitos fizeram-no através das mais diversas expressões de solidariedade.
Afirma o cronista que o direito à greve não é um direito universal. Claro que não, como facilmente se constata pela verificação das situações de facto (não ser trabalhador por conta de outrem ou estar limitado legalmente - caso dos militares) ou por situações de condicionamento da livre opção individual (situações de evidente dano social imediato) mas tal constatação não pode ser usada para dar cobertura a interpretações através das quais se procura minimizar o direito à greve. O direito (?) que o cronista diz assistir aos que não querem fazer greve, não lhes pode dar o direito de obrigar os outros a não fazer greve. Não confundamos os conceitos, não existe um «direito» a não fazer greve, o que existe é o «direito» à greve, conquistado com a luta de gerações de trabalhadores ao longo da história.
Usufruir ou não dele, por força da livre interpretação de cada um, essa é outra questão.
Alude, o dito cronista, que o insucesso da greve também pode ser verificado pelo facto de rapidamente ter saído da «agenda» dos media. É caso para afirmar que fazem o mal e a escaramuça pois os ditos agendamentos são processos externos aos trabalhadores e às suas organizações sindicais.
Compara (o que só por perfeita ignorância pode ser comparado) os níveis de mobilização de voluntariado em torno do denominado projecto «Banco Alimentar» e o verificado quando da Greve e manifesta uma certa simpatia pelo que denomina de voluntariado social em detrimento do que ele também denomina de voluntariado político.
Opções. Por mim, prefiro não seguir o caminho da caridadezinha, o que não invalida o meu empenho nas acções de solidariedade social.
Conclui, afirmando que a greve geral foi uma oportunidade perdida e com uma analogia de um rio que desagua num lago e aí fica represo. Veremos.
Pode acontecer que esse rio seja de tal forma caudaloso que o lago não seja suficiente para reter as suas águas revoltas.

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