quinta-feira, 4 de novembro de 2010

INDIGNAÇÃO



Ao longo da minha infância e adolescência, ouvi vezes sem conta o desabafo lastimoso de um familiar próximo que dizia, perante a dor de uma perda: «o meu chorar é seco. Já verti todas as lágrimas».
Revivi agora esta triste memória quando me confronto com uma certa incapacidade que começo a sentir, de me indignar e pergunto-me se, não terei já perdido ou secado a indignação.
Perante a avalanche de medidas penalizadoras para os trabalhadores e os desfavorecidos (e volta de novo a política económica e financeira e o orçamento) confrontamo-nos com uma outra de noticias sobre mordomias que nem sequer conhecíamos.
Publicita o «Público» (relemos por parecer incrível) que o total das remunerações em 2009 dos 12 membros do CA da REN foi de 3,152 milhões de euros. Se tivesse sido equitativa essa distribuição, cada uma dessas preciosidades arrecadou 262 667 Euros.
Numa outra, tomamos conhecimento que os quadros superiores da REFER suspensos (?) no âmbito do processo «Face Oculta» continuam a receber por inteiro todas as suas mordomias. A um deles foi necessário enviar a Policia para que restituísse a viatura de «serviço».
Ficámos também a saber que a administração da PT pretende pagar antecipadamente um dividendo excepcional que permitirá aos 15 maiores accionistas (95% do capital) pouparem 260 milhões de euros (que o Estado deixa de arrecadar).
É esta PT a do interesse estratégico para Portugal, lembramo-nos.
Anuncia-se pela enésima vez que vão acabar as acumulações de pensões e salários públicos, mas a verdade é que elas continuam escandalosamente (Não é Sr. Presidente, desinteressado da política???)
E vimos empresas públicas com estruturas tão densas, tão densas, que se fica com a curiosidade de saber como se articulam administradores, directores, gestores, directores de departamento, chefes de divisão, assessores, secretárias e motoristas.
E vemos agiotas dizerem que a culpa é do RSI.
E vemos estúpidos dizerem que a culpa é dos desempregados.
E vemos beatos retirarem o abono de família às famílias.
Ignorantes a aplaudirem o corte nos salários da função pública.
E vemo-los juntos, alienados, proclamarem que agora vão votar no empregado dos banqueiros.
Por isso, questiono-me por vezes: ainda mantenho a minha capacidade de indignação?.

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