quarta-feira, 23 de abril de 2014

NO DIA MUNDIAL DO LIVRO

 

Dura há longos anos, este meu gosto.
Vem do tempo dos primeiros passos.
Dos tempos em que nem todos eles eram bem vistos, havendo mesmo alguns deles considerados perversos.
Confesso que cheguei a temer, nos tempos dos meus primeiros passos, que o meu gosto por eles tivesse conduzido acidentalmente  a algum contacto com algum deles, perverso.
Saía da carrinha da Gulbenkian, com eles bem apertadinhos junto ao peito e com medo que o guarda que por ali sempre cirandava me berrasse: «Alto aí! Que livros levas tu aí, gaiato?»
À luz do candeeiro a petróleo e pela noite dentro, quando todos os outros dormiam, devorava página a página.
Na semana seguinte, estavam prontos a entregar e a renovar a remessa.
Dessas primeiras leituras retenho Júlio Verne.
Como eu me encantei pela «Jangada» e pela «A Volta ao mundo em 80 dias».
O que eu sonhei com a ilha deserta de Robinson Crosué e o que eu temia os canibais que o apoquentavam. Isto, graças a Daniel Defoe com as suas «As aventuras de Robinson Crosué».
Depois, pouco depois, com a meninice e os primeiros passos já largados, as leituras deixaram de ser as possíveis através dos livros requisitados na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.
Naqueles tempos, os tempos eram curtos para se ser menino.
E passaram a ser escassas as leituras.
Estas, retomar-se-iam em breve.
A liberdade reacendeu a chama.
E as leituras passaram para Alves Redol (Gaibéus), Soeiro Pereira Gomes (Esteiros; Engrenagem); Urbano Tavares Rodrigues (Desta Água Beberei); Gabriel Garcia Marques (Cem anos de Solidão, Crónica de Uma Morte Anunciada); Pablo Neruda (Nasci para Nascer); Manuel Alegre (Praça da Canção) José Carlos Ary dos Santos (As Portas que Abril Abriu).
Percorreram-se outros caminhos, por força de outras razões e que saem do campo estrito da Literatura e aí é incontornável Karl Marx (O Capital, O 18 de Brumário); Álvaro Cunhal (A Revolução Portuguesa: o passado e o futuro); Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo».
De novo na Literatura, José Cardoso Pires (O Delfim); Manuel Tiago (Até Amanhã Camaradas; Estrela de Seis Pontas; Cinco Dias e Cinco Noites); Mário de Carvalho (Os alferes; Fantasia para dois Coronéis e uma Piscina; Era bom que trocássemos algumas ideias sobre o assunto).
Ernest Hemingway (O Velho e o Mar; Por Quem os Sinos Dobram).
Manuel da Fonseca (Cerromaior)
E José Saramago – que agora leio avidamente. Depois de «O Memorial do Convento» que adorei, parei inexplicavelmente, estupidamente, acrescento.
No retorno, li «Caim»; «Ensaio sobre a Lucidez» e «Levantado do Chão»
Num campo de mistura em que a Literatura não foi a razão primeira para a opção de leitura, tive o prazer de «descobrir» Eça de Queiroz (O Primo Basílio); Almeida Garrett (Viagens Na Minha Terra); Vergílio Ferreira (Aparição); Albert Camus (O Estrangeiro).

Pela casa (não consigo imaginar uma casa sem livros) ainda há muitos outros por ler, alguns – os especiais entre especiais, para reler- e muitos outros lidos, muitos de autores por quem fiz esta breve resenha outros de outros autores que não citei por não terem tido igual impacto ou por imperdoável esquecimento.
Para não cometer injustiças (ou para não lhes dar continuidade), tenho uns problemas por resolver (que quero resolver) com José Luís Peixoto.
Para terminar, um pequeno reparo na mesma linha. Tenho para ler, em lista de espera, João Tordo.
Dos novos escritores, julgo que seria injusto, terminar esta resenha sem falar de Ondjaki (os da minha rua).
Tudo isto, veio a propósito de sendo hoje o Dia do Livro, me apetecer homenagear aqueles que fazem deles, os nossos companheiros de sonhos, angústias e de viagens.
Bem hajam.
Viva o Livro.

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