segunda-feira, 30 de julho de 2012

CULTURAS…

 

Nas ruas da minha cidade, surgiram recentemente slogans , pinchados a vermelho, nos quais se  realça a cultura e se trata esta como condição “quase natural” inerente à própria cidade - entenda-se, esta cidade - e se condena a política de destruição “cultural” seguida pela maioria que ocupa o poder na Câmara Municipal.
São apelos e condenações em relação aos quais não tenho reservas de maior em subscrever, até porque se torna óbvio serem oriundas do mesmo espaço “cultural” que partilho.
No entanto, considero importante, por um lado esclarecer que «definição»  de cultura está em uso e por outro, qual a importância estratégica da segmentação  na critica à atividade da Câmara.
Todos conhecemos  inúmeras definições para o conceito de cultura.  Existirão, segundo apurado por estudiosos da temática, mais de centena e meia.
Em qual deles se enquadra o apelo?
Facilitando, reduzam-se as possibilidades a dois campos distintos (velha discussão académica).Um, em que aceitamos cultura, como conjunto de ideias, comportamentos, símbolos, práticas sociais (Cfr. Tylor) numa perspectiva muito próxima à Sociologia  e outro, em que entendemos cultura como forma elevada de manifestação  artística.
No primeiro campo, todos nos englobamos, no segundo, só alguns (mais, menos…de acordo e por razões que podem ficar para uma abordagem sequente). E nestes, uns integram-se como produtores e outros como consumidores, sendo certo que se podem acumular funções.
Não vejo mal ao mundo na partilha dos pressupostos dos dois campos.
O que me parece importante é, insinuando-se como «campo» dos dinamizadores dos protestos, o campo da produção e usufruição da cultura, procurar saber as razões da primazia para esta abordagem.
A cidade definha, mas não só culturalmente.
Definha política, económica e socialmente.
Os cidadãos  parecem cada vez mais alienados e as ruas e praças são a expressão dessa alienação.
Antes a cidade impunha-se, respeitava-se e dava-se ao respeito. Agora, são cada vez menos os que a respeitam porque cada vez menos ela se dá a respeitar.
Grafites em monumentos, mobiliário urbano destruído, lixo, ervas, estacionamento e trânsito caótico, noite como espaço (só) para o álcool e para as mais bizarras afirmações.
Isto, fazendo uma abordagem muito sintetizada do estado caótico a que conduziu a atual governação autárquica a nossa cidade.
Apetecia também perguntar aos «culturalistas» onde integram o usufruto, conservação e valorização patrimonial no seu conceito de cultura?
Numa altura em que aproxima (esperamos) o fim desta ruinosa gestão e que era importante estar a preparar e consolidar alternativa, creio que seria importante uma estratégia mais cuidada.
E, na minha opinião, ela devia passar por uma definição mais abrangente de  temas.
Quem não tem trabalho nem dinheiro que chegue para pagar a renda ou o empréstimo, quem conta os cêntimos para comprar o pão da manhã, quem deixou de tomar café (nos cafés), de frequentar as esplanadas, quem deixou de comprar o jornal, quem deixou a partilha de jantares com os amigos (porque não tem dinheiro) tem de momento, outras prioridades.
Convenhamos.

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