Na aldeia aonde volto sempre que posso, há uma figura de referência – como há em todas as aldeias e em todos os sítios deste mundo – um tanto ou quanto excêntrica e deveras enigmática.
Põe pose de filósofo e vai filosofando, regando a produção intelectual com tintinhos que os amigos lhe vão pondo na mesa onde se senta, palrando.
Sem ouvintes e sem tintinhos, usa a mesa para folhear jornais que muitos afirmam não saber ler.
Tem de nome José. Claro, Zé e de alcunha, que ninguém por ali se lembra as razões, Abóbora.
É, portanto, O Zé Abóbora.
O filósofo.
Está de serviço (quase permanente) durante quase toda a hora de «expediente» na taberna do João Vargas.
O Zé Abóbora tem sempre uma opinião sobre tudo e quase sempre, faz questão de discordar de quase tudo. Nem sei mesmo porque afirmei:«quase sempre».
Hoje de manhã atirei-lhe:«A continuar assim, sem chover, vamos ter seca».
Nah,… ripostou de imediato:«se continuar assim, as águas subterrâneas, porque precisam de oxigénio, virão para a superfície e irão para os ribeiros e ribeiras e depois para os rios, claro que depois as pessoas têm é de a ir buscar aí, porque ela não cai do céu».
Claro.
Paguei-lhe o merecido tintinho – depois de tão profunda tirada – mais que merecido e ainda mais porque saí dali a pensar:« Porque carga de águas (vindas das entranhas das terras ou das alturas dos céus) insistirão certas cabeças esgrouviadas em defender que a austeridade (asfixiante) é a solução para a «crise»?
Porque será?
Quererão imitar o Zé Abóbora e argumentar o impensável?
Julgo que não.
Até porque a maioria (hoje deu-me para a mania de deixar exceções) destes argumentadores, é bem mais estúpido que o filósofo da taberna do João Vargas.
A austeridade que receitam não é remédio para a crise, mas sim forma e meio para a destruição do estado social e para aniquilar direitos dos trabalhadores.
Quando o trabalho for ao custo da uva mijona e quando o trabalhador não tiver alternativas e tiver que aceitar a escravatura, então acabará a «crise».
Não estivesse o Zé Abóbora já cansado (ou embriagado?) e eu voltaria ainda ao seu escritório para lhe perguntar, uma outra coisa.
Porque é que os sonsinhos dos pregadores do sistema, face à convocação da Greve Geral pela CGTP, insistem em afirmar, que o faz, isolada?
A UGT quando trai e assina não está isolada? Isolada está a CGTP que mandatada pela razão e confortada com o apoio da mole imensa que encheu o Terreiro do Paço, assume as suas responsabilidades.
A Greve Geral não acrescenta problemas ao problema.
A Greve Geral é uma resposta ao problema.
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